PERMANENT WAVES



Lançamento: 14 de janeiro de 1980 | Tour Book
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HEMISPHERES  PERMANENT WAVES  MOVING PICTURES

1. The Spirit of Radio - 4:57
2. Freewill - 5:23
3. Jacob's Ladder - 7:28
4. Entre Nous - 4:37
5. Different Strings - 3:49
6. Natural Science - 9:16


Com melodias e letras incríveis, Permanent Waves traz 6 músicas cativantes e provocadoras da mente. Direto e conciso, este trabalho do Rush situa-se entre os melhores álbuns da história do Rock.

01 de janeiro de 1980 - O primeiro álbum da década é lançado. E de que maneira o Rush entra em sua segunda década de criação musical! Até este ponto, lidávamos com trabalhos épicos e artísticos, dos marcos conceituais Caress Of Steel e 2112 aos mágicos e inumanos esforços musicais mostrados em A Farewell To Kings e Hemispheres. Agora, o Rush atravessa a ponte dos anos setenta (década em que desenvolveram seu próprio estilo de peças musicais) caminhando em direção aos anos oitenta, introduzindo uma mostra de canções mais acessíveis comercialmente, porém não menos complexas e especiais.

Estaria aqui o Rush se vendendo? Absolutamente não. Eles estavam se refinando, se firmando. E os resultados os ejetariam de vez para o topo do mundo do rock. Permanent Waves foi a plataforma de lançamento para este sucesso. O cerne do álbum não contém mais do que seis faixas. Mas são seis faixas exuberantes – sem enxerto. Pura diversão energética.

A capa de Permanent Waves causou grande controvérsia para a banda, já que contém a famosa manchete de 04 de novembro de 1948 "Dewey defeats Truman" ["Dewey derrota Truman"]. Na disputa de Harry Truman com Thomas Dewey ao cargo de presidente dos Estados Unidos, Truman perdia na maioria dos estados nas primeiras projeções, indicando à princípio que os norte-americanos teriam Dewey como vencedor. Seguindo essa tendência, o jornal Chicago Tribune acabou por publicar uma matéria de forma prematura na manhã seguinte, dando a vitória a Dewey. Na verdade, como sabemos, Truman sagrou-se vencedor.

A foto da capa mostra ondas batendo e espirrando num paredão localizado em Galveston Seawall (Texas - EUA), local conhecido por ter sido destruído inúmeras vezes por furacões ao longo de sua história.

Permanent Waves marcou a transição da banda das faixas longas e épicas para músicas mais compactas, aumentando as aparições nas rádios e as vendas de ingressos.

Para gravar Permanent Waves, o Rush se mudou para um lugar chamado Lakewoods Farm em Ontário, Canadá. Nesse período, Peart se trancava numa cabana em contato com a fazenda, a fim de mergulhar no trabalho de composição e, enquanto preparava as letras nesse esplêndido isolamento, Lifeson brincava com suas guitarras e Geddy se acostumava com sua cada vez mais grandiosa coleção de instrumentos, predominantemente eletrônicos.

A primeira coisa que eles de fato juntaram foi uma instrumental com um título sem sentido: "Uncle Tounous" – basicamente uma junção de diferentes idéias e um teste para efeitos musicais. Não é possível encontrar "Uncle Tounous" em nenhum álbum da banda, pois a canção foi apenas o que alguns poderiam considerar um protótipo, idéias que foram incorporadas ou que formaram base para toda uma coleção de diferentes músicas e timbres.

As primeiras canções a serem finalizadas foram "The Spirit of Radio", "Freewill" e "Jacob’s Ladder". Essas e outras músicas do "Waves" seriam lançadas aos poucos, durante os shows que a banda havia marcado simultaneamente à gravação do álbum, incluindo apresentações britânicas em Stafford (Inglaterra).

A faixa do álbum que tomou mais tempo foi "Natural Science". O Rush terminou de fazer as demos de todo o álbum, menos a de uma faixa. Eles saíram de Lakewoods e foram para o Le Studio em Montreal (Canadá) a fim de começar a gravar definitivamente, mas ainda havia aquele vazio. Por um tempo pareceu que uma coisa na qual Peart estava trabalhando, baseada no romance medieval "Sir Gawain & The Green Knight" poderia preencher o espaço, mas não seria ela.

"A letra ficou muito fora do contexto do resto do material, então o projeto foi arquivado. Mas isso nos deixou com um espaço em branco nos planos do disco. Assim, enquanto Alex e Geddy trabalhavam com overdubs, me isolei para tentar escrever alguma coisa", explicou Neil. "Por quatro dias me deparei com a frustração das folhas em branco, mas no terceiro dia algo começou a tomar forma, finalmente vindo a ser 'Natural Science', a faixa de conclusão do disco".

Permanent Waves foi mixado no Trident Studios durante a jornada britânica da banda, sendo finalmente lançado em janeiro de 1980. "The Spirit of Radio" e "Freewill" foram ouvidas pela primeira vez no Reino Unido durante os shows ocorridos no Bingley Hall e, significativamente, a primeira teve uma forte repercussão, quase de igual para igual com o clássico lançamento de "A Farewell To Kings" naquele país. A banda tocou por aproximadamente duas horas em cada apresentação, enfatizando o espetáculo com o seu fantástico show de luzes. Depois da primeira noite, a platéia inflou com notável reverência, como se tivessem sentido uma verdadeira experiência religiosa, mais do que um simples show de rock.

Para promover o lançamento de Permanent Waves, o Rush montou uma exaustiva agenda – como de praxe – a qual consistia em cobrir boa parte da América do Norte de janeiro até o meio de maio. Uma turnê européia foi negociada para começar logo depois.

Com o lançamento do álbum, em janeiro, os ingressos começaram a ser vendidos para shows pelo Canadá e Estados Unidos. Sobre as vendas, a banda teve um sucesso verdadeiramente espetacular com Permanent Waves, subindo nos rankings rapidamente e, finalmente, atingindo o top five nas três grandes publicações da época – Billboard, Cashbox e Record World.

Na Grã-Bretanha, "Waves" rapidamente alcançou o terceiro lugar. A banda, a gravadora e os empresários ficaram atônitos com a maneira com que o single "The Spirit of Radio" explodiu mundialmente. Na verdade, pela primeira vez o Rush ganhava um genuíno e certificado hit mundial. Poucas semanas antes, David Frickie, da revista Circus, lembrava de uma situação que ilustra como o Rush lidava com singles:

O DJ da CHOM-FM, de Montreal, realizou na época uma entrevista em sua rádio com Geddy Lee. Garimpando desesperadamente os álbuns do Rush no chão, ele finalmente olhava para Geddy com um sorriso nervoso. "E aí, vamos com um hit".

"Um hit?" Lee olhava genuinamente desafiado. "Não temos nenhum hit".

Mas certamente eles estavam fazendo de "The Spirit of Radio" um grande sucesso e, é claro, do álbum Permanent Waves também, o que indicou que os longos e difíceis anos de trabalho estavam enfim lhes pagando da melhor forma possível. Este tipo de aceitação era demonstrada nas espetaculares apresentações que aconteciam na América do Norte, com esgotamentos de ingressos sendo noticiados em poucas horas após o início das vendas em tudo quanto é lugar.

O fervor pelo Rush foi muito próximo do demonstrado num fato trágico ocorrido em janeiro daquele ano na cidade de Detroit. Um mês antes – dia 3 de dezembro – 11 fãs morreram no Riverfront Stadium em Cincinnati quando a multidão arrombou os portões num show do The Who. O Rush praticamente teve sua própria Cincinnati quando os ingressos para o show do dia 17 de fevereiro começaram a ser vendidos no grandioso Cobo Hall em Detroit no sábado, dia 12 de janeiro. Havia entre 1000 e 1500 jovens esperando na fila para comprar ingressos quando as bilheterias abriram às 8:30 da manhã – uma hora e meia antes da hora marcada. O gerente das bilheterias liberou as mesmas mais cedo por causa da multidão pois, alguns deles – de acordo com a polícia local – tinham esperado a noite inteira numa temperatura próxima de 0º C. Com oito policiais na vigia, a multidão arrombou as portas, quebrando os vidros em seis delas e também arrancando as persianas. Mais uma dúzia de policiais foi chamada para restaurar a ordem com o uso judicial de nightsticks – a versão americana mais compacta do cacetete. Para fazer com que as pessoas recuassem, eles batiam em suas pernas.

Por um tipo de sorte ou por um pequeno milagre ninguém foi gravemente ferido, apesar de muitos terem afirmado que foram cruelmente tratados. Por fim, todos os 20.029 ingressos foram vendidos.

Praticamente na mesma época o Rush deixava claro na imprensa americana que eles eram muito preocupados com a questão da segurança de suas platéias nos shows. O Rush especificava em seus contratos que só deveriam ter lugares reservados – o que é um eufemismo dos promoters americanos para o fato de colocar tantas pessoas quanto possível sem apresentar nenhuma preocupação com a segurança.

Disse Geddy Lee: "É uma coisa de ignorante. É tratar as crianças como gado, o que elas não são. É uma coisa pela qual lutamos por um longo tempo, mas ninguém nunca te ouve. Eles precisam de uma tragédia horrível como essa (o incidente de Cincinnati no show do The Who) antes falar 'ah sim, talvez você esteja certo'. Nós reclamamos em muitos de nossos shows passados. Poderíamos pedir, por favor, que reservassem lugares individuais sempre, mas infelizmente ninguém prestava atenção nisso de fato até o acidente ter acontecido. Você nunca ouve falar de confusão em espetáculos com lugares reservados. Essa é a questão".

Neil Peart ecoou os sentimentos de Geddy: "Sou muito feliz por termos uma cláusula em nosso contrato que nos permite não aceitar cadeira livre. Tentei me engajar nesta causa na última turnê porque nos últimos anos tenho visto pessoas passarem por um verdadeiro sofrimento na frente do palco, sendo expulsas da platéia e sendo empurradas. É terrível de assistir".

Apesar da cláusula adicional contra a cadeira livre, o Rush ainda planejava levar multidões inacreditavelmente vastas na turnê americana, a maior que eles já haviam conseguido até então, provando assim que eles eram verdadeiramente uma banda de multidões.

Observemos alguns exemplos. Em Wichita eles levaram 7.300 pessoas ao Kansas Coliseum. Em Los Angeles, no Inglewood Forum, eles atraíram mais de 10.000 que pagaram um total de 102.000 dólares. Na seção da costa oeste da turnê o Rush levou mais de 41.000 fãs aos seus shows. O Cleveland Coliseum comportou uma platéia de 18.000 pessoas, em Edmonton foram 15.000, no Forth Worth (Texas) foram 13.000, e assim por diante. A banda tocou por quatro noites em Chicago, quatro em Nova York e duas em Seattle - todas de janeiro a maio. Talvez a área de maior destaque foi St. Louis. Eles foram os primeiros do rock a tocar por três noites seguidas numa grande casa de shows da cidade. E todos os ditos 30.000 habitantes viram essas estupendas apresentações.

Em apenas uma semana – mais precisamente do dia 13 ao dia 19 de fevereiro – o Rush conseguiu mais de meio milhão de dólares vendendo ingressos – 584.095 pra ser exato – com as notáveis séries de shows em St. Louis e em Detroit, conseguindo mais de 200.000 e 250.000 dólares, respectivamente.

O padrão foi repetido por todo o país. Mas se isso parece espetacular – e eles são – o mais surpreendente é que, mais tarde, Alex Lifeson diria que a turnê do Permanent Waves foi a primeira na qual a banda realmente lucrou. Isto era inquestionável devido à escala incomparável da verdadeira operação que foi essa turnê do Rush. Eles viajaram pela América do Norte com equipamentos, instrumentos e um show de luzes avaliado em 600 mil dólares, isso sem falar dos roadies (aproximadamente 20) – tudo transportado em quatro grandes caminhões, alguns ônibus e uma barraca astronomicamente equipada com tudo o que qualquer viajante dos anos 80 poderia desejar.

Se as estatísticas dessa turnê foram impressionantes, a mudança de atitude dos críticos do outro lado do Atlântico também surpreendeu. A banda era finalmente reconhecida na maior parte dos quarteirões como uma das mais sábias na estrada. Além disso, as letras de Peart e a incrível musicalidade do trio conseguiam enfim a atenção e admiração que já mereciam há muito tempo.

O show de Cleveland ficou marcado como uma das melhores performances de rock já vistas na cidade. "O Rush", disse o repórter, "não só cria como vive em padrões que todas as bandas oitentistas deveriam seguir".

Em Wichita, a crítica local delirou com a "musicalidade fenomenal" deles, enquanto em Calgary um repórter sentiu que o Rush havia mostrado para a público que "o rock estava longe da morte". Como um último exemplo, em St. Louis disseram que o Rush havia progredido "para uma das primeiras forças musicais e performáticas do mundo". O escritor adicionou que a banda havia entrado "num círculo elitista no pico do rock internacional".

É claro que nem tudo era elogio. Um repórter do Kansas sentiu que o Rush era previsível (?), muito barulhento e muito dependente do visual e do espetáculo musical. Ele ainda adicionou que "de qualquer maneira, a casa havia caído para a banda".

No estado de Nova York, o editor do Rochester Democrat and Chronicle, Jack Garner, reservou uma menção especial para Geddy. Tendo acabado com a banda em geral, ele passou para os detalhes. "A coisa mais difícil de suportar é o vocalista e baixista Geddy Lee, cuja voz DEVE ser um gosto adquirido. Ele soa como Robert Plant do Led Zeppelin soaria se alguém pulasse da outra ponta de uma cadeira de balanço".

É certo dizer que o Rush não se preocupava muito com as críticas – tanto as boas quanto com as ruins. Eles vinham sendo absolvidos pelo público ao longo dos anos e não tinham nenhuma preocupação real com opiniões profissionais. E também, por um ponto de vista puramente físico, de acordo com o empresário Ray Danniels, a banda começou a turnê com aproximadamente 300 mil dólares em dívidas e, depois dela, pela primeira vez na carreira, estavam totalmente no lucro.

Danniels comentou com um repórter em Toronto que o Rush já poderia ter conseguido muito mais dinheiro e muito mais cedo, mas a insistência deles em fazer as coisas do jeito deles não os permitiu atingir tal feito. Ele disse que rapazes insistiam em tocar em lugares pequenos, em apresentações pouco lucrativas e em cidades que tinham sido fiéis a eles, preferindo retribuir esta lealdade com custos financeiros do que correr atrás do lucro na hora.

Depois de um show no Los Angeles Forum naquela turnê, o Rush foi arrastado para uma recepção local no mundo do business musical, onde um repórter observou que eles se mantinham afastados dos outros presentes, sem o mínimo interesse. Diziam que Neil olhava continuamente para a saída, Geddy se espremia num canto remoto e Alex se posicionava num espaço restrito onde as pessoas podiam vê-lo, mas não tocá-lo.

Mas por que? Ora, porque eles odeiam eventos como este. Geddy foi citado dizendo, sobre este evento em particular: "Quem são estas pessoas? Não estou nem aí se isto aqui é Los Angeles! Esse pessoal das rádios, da indústria fonográfica... eles nunca nos apoiaram para estarmos aqui. Nossos fãs sim. Fomos pressionados para ficar aqui e sorrir. Não devíamos estar aqui".

Simplesmente eles evitavam ser envolvidos pelo business musical e, se tivessem um tempo para gastar após uma apresentação, eles o gastariam primeiro falando com fãs e dando autógrafos do que se sentando com homens de negócios de gravadoras. Disse Neil: "Estamos descobrindo que é mais fácil dizer não. Isso pode ser um negócio muito sórdido e não consigo entender como as pessoas acabam se envolvendo com ele. Mas já sabemos o que devemos fazer".

Talvez Ray Danniels resumisse a atitude deles da melhor maneira quando disse: "Eles podem não ir a coquetéis e gostar, mas farão o melhor para os que os pagam".

Os fãs estavam pagando ao Rush na mesma moeda, fazendo com que Permanent Waves ganhasse disco de ouro nos Estados Unidos, disco de platina no Canadá e disco de prata na Grã-Bretanha – todos com apenas dois meses de lançamento. Além disso, em abril de 1980, a Sounds And Melody Maker publicou os resultados de sua pesquisa anual com os ouvintes. O Rush e cada um dos membros da banda ficaram entre os 10 primeiros em cada uma das respectivas categorias em ambas as pesquisas – um feito magnífico, enquanto a imprensa musical dizia que a nova banda de Johnny Rotten, Public Image Limited, era a única que valia a pena ouvir.

Entretanto, no meio da imprensa, havia certos especialistas em heavy metal que se entusiasmavam vigorosamente com Permanent Waves. Malcom Dome, da Record Mirror, disse que mesmo que o álbum não atingisse "a clássica elevação de 'Hemispheres', Lee, Lifeson e Peart tinham uma dúzia de razões para abrir um champanhe e celebrar a nova década". Dome também recomendou o álbum como uma resposta aos críticos que pensavam que o rock inteligente foi uma história inventada pelo senso de humor de críticos insanos. Se "Freewill" e "The Spirit of Radio" não causam absolutamente nada ao ouvinte, então esse deveria voltar e mergulhar no som chato do Genesis e do Eagles, acrescentou.

John Gill sugeriu na Sounds que este era o álbum que concluía os álbuns do Rush. "Permanent Waves mostra um Rush saudável e leve como nunca e com um olhar precisamente voltado para o futuro. Já se foram os dias de longos épicos e mitos de ficção científica - eles tomaram o espaço do estilo dos anos 80, espertos, inspiradores, cheios de energia e conscientes". Gill sugeriu que "Permanent Waves" se tornava a posição definitiva de Neil Peart como letrista – "Esse é o álbum mais filosófico do Rush até hoje, sem a assistência de alegorias próximas das prateleiras da Dark They Were and Golden Eyed" – a última loja existente em Londres especializada em livros e revistas de ficção científica, cuja maior parte estava ao lado da parapsicologia.

Steve Gett, da Melody Maker, focou-se nas faixas de menor duração, sugerindo que se o Rush continuasse com os "enormes contos sobre buracos negros no espaço", poderiam atingir um ponto do qual não conseguiriam mais evoluir. Gett considerou que "Hemispheres" foi a etapa final de uma fase particular da banda e que "Permanent Waves" marcou o início de um novo tempo. Entretanto, Gett também chamou a atenção acerca dos novos temas líricos de Peart, mostrando prazer em vê-los não mais artificiais como no passado, percebendo que o letrista não passava mais suas mensagens através da fantasia de Tolkien. "Mas", alertou Gett, "o que ele escreve agora parece ter opiniões implícitas sobre a sociedade, e alguém pode especular se os fãs entendem ou se preocupam com o que ele está tentando dizer. Tenho certeza de que os ouvintes são mais ligados num solo de guitarra do Lifeson do que num verso erudito".

Naturalmente, foi deixada para a NME a tarefa de entrar com todas as armas atirando no meio dos quatro maiores jornais de música do Reino Unido; porém devemos lembrar do crítico Paul Du Noyer, que fez um esforço considerável para separar o que ele considerou serem as partes boas do álbum, antes de atacar as partes que considerava ruins. Basicamente, essa questão ferveu até que se atingisse a aceitação das canções como exemplo de seu gênero, mas ao mesmo tempo uma visão excessivamente guardiã e preconceituosa acerca das letras e atitudes de Peart germinava. O álbum, disse Du Noyer, "pode servir somente para consolidar a enorme popularidade do Rush, pois traz inegavelmente uma produção superior e é um hard rock poderoso e sofisticado. Com as limitações do gênero, é uma coisa inventiva, com um grau de inteligência e sensibilidade que não é encontrado em muitos de seus rivais". Sobre as letras, Du Noyer achou que eles eram "a essência da arte, entretanto definidos – mais parecidos com os primeiros esforços hesitantes de um garoto de em média 13 anos que está profundamente mergulhado em Rod McKuen". E, tanto quanto as letras se tornavam próximas de qualquer tipo de crítica social ou filosófica, Du Noyer cada vez mais tinha menos certeza. Ele descrevia o "estado reacionário orgulhoso" da banda como turbulento e superficial – "um cachorro doente e reclamão do jantar de Platão, Milton Friedman e Patience Strong".

Nos Estados Unidos as críticas foram igualmente proporcionais, com John Swenson da Creem ficando contente ao lado dos que os odiavam. "Criticá-los", ele escreveu se referindo aos seus esforços anteriores, "era como ir pescar sem ter água. Mas este cruel trio canadense fez algo tão marcante que não poderei mais segurar minha língua – depois de sete tentativas, o Rush finalmente conseguiu fazer um bom álbum". Você deve achar que a idéia de bom de Swenson provavelmente não corresponderia à da maioria das pessoas. No contexto do "Waves", ele taxa como bom algo que não o faria esquecer os Rolling Stones, mas o deixaria orgulhoso pelo fato de o Emerson, Lake and Palmer ter parado de usar os seus sintetizadores flutuantes. "Isso", ele disse, "é um Art Rock em toda a sua pretensão e glória desesperadamente autojustificada – e o vocalista Geddy Lee ainda soa como Jerry Vale a 78 rpm". A sua última cartada – numa crítica que consistiu em nada além de cartadas – foi: "A banda agora aponta um pouco acima do Uriah Heep no 'rockômetro', um avanço substancial".

Já David Fricke, da Rolling Stone, foi um pouco mais além. Ele escreveu: "É fácil criticar o que você não consegue entender, o que pelo menos explica em parte porque o power trio canadense sofreu tanto nas mãos dos jornalistas desde o álbum de estréia da banda, em 1974". Frickie distribuiu elogios por todo lado e concluiu sua matéria com uma das mais perceptivas observações já feitas por um jornalista sobre o assunto Rush.

"O problema do Rush nunca foi a competência. Eles simplesmente não tocam música da moda. Se não conseguissem se manter nos seus próprios padrões certamente seriam diferentes, e vale lembrar que a banda está entre as melhores no seu gênero. E, se a posição no top five de 'Permanent Waves' é um exemplo, este é o gênero musical no qual os críticos não incluiriam nessas listas".

E este é exatamente o ponto no qual a banda estava tentando chegar com o álbum e seu título. Peart disse que Permanent Waves era pra ser uma crítica sarcástica à imprensa britânica que, por ser semanal, procurava desesperadamente por novas pessoas para escrever sobre. Como resultado, a mesma derrubava ou erguia alguém como "o novo Deus". Estranhamente, ao mesmo tempo, Peart mostrou que o título não tinha nada a ver com a New Wave, algo que realmente o intrigava. Por exemplo, mais de uma vez ele disse à imprensa que Johnny Rotten tinha sido um frontman de enorme carisma e poder com o Sex Pistols. Disse Geddy Lee, sobre o mesmo assunto do título do álbum: "No meu ponto de vista, New Wave, Old Wave, Yellow Wave – é tudo a mesma coisa. A água não vai e vem. A onda sim".

Para somar, a atitude da banda com relação à imprensa é talvez revelada na parte da capa que mostra um jornal voando com o vento. O banner no topo da primeira página é um clássico na história dos jornais norte-americanos. Refere-se ao resultado da eleição presidencial de 1948 e o jornal mostra o resultado errado. Ainda assim, se o Rush não gostasse da imprensa escrita britânica e das atitudes da maioria dos seus membros, não poderiam negar que tiveram completa cobertura quando a nova turnê naquele país foi anunciada.

Foi revelado que o Rush teria uma agenda de um mês excursionando pela Grã-Bretanha em junho de 1980. Eles abriram no Southampton Gaumont (1 e 2 de junho), seguido de cinco noites no Hammersmith Odeon em Londres (de 4 a 8 de junho), Glasgow Apollo (10 e 11), Newcastle City Hall (12 e 13), Leeds Queen Hall (15), Chester Deeside Leisure Centre (16), Manchester Apollo (18 e 18), Birmingham Odeon (20), Leicester De Montfort Hall (21) e Brighton Centre (22). No momento em que a turnê foi anunciada, a procura por ingressos já era recorde. Simplesmente através de especulações via cartas ou informações boca a boca, os ingressos para as duas primeiras noites no Hammersmith Odeon se esgotaram, assim como de ambos os shows no Glasgow Apollo. O Newcastle City Hall noticiou que na época em que os shows foram anunciados eles já tinham cartas suficientes para encher a casa de espetáculos. Neste meio tempo a banda estava encerrando o quinto mês da turnê norte-americana, já pensando no que fariam para seu próximo álbum ao vivo. É interessante lembrar que se aproximava o momento de outro álbum ao vivo – tendo os rapazes curtido muito o sucesso de All The World’s a Stage, lançado quatro anos antes. Poderia ser também que a banda estivesse se sentindo cansada tanto mentalmente quanto fisicamente após o esforço considerável para compor Permanent Waves, seguido da frenética turnê na América do Norte.

Entretanto, assim como Peart relembrou no fim da turnê, alguma coisa mudou a mente deles sobre o próximo álbum. "Foi anunciado que pretendíamos gravar e lançar um segundo álbum ao vivo, mas uma inesperada carga de ambição e entusiasmo gerou uma resolução no último minuto: jogamos a cautela pela janela para divagar na composição de um novo trabalho. As razões para tal são difíceis de se colocar no papel, são de certo modo instintivas, mas todos estávamos nos sentindo muito bem e nosso Departamento de Pesquisa e Desenvolvimento (as passagens de som) vinha sendo muito espirituoso e interessante. Então se sentiu que o hiato criativo gerado por um álbum ao vivo não era necessário naquele momento e que seria mais satisfatório e mais bem situado embarcar na aventura de mais um novo álbum de estúdio".

Na época em que a banda foi para o Reino Unido, apesar de terem decido não preparar o novo álbum ao vivo, achava-se que a estrutura que montaram para gravar as cinco noites no Hammersmith Odeon e os shows em Glasgow, Manchester e Newcastkle poderia ser aproveitada sem grandes problemas. Então eles as gravaram e o plano era que esse material fosse lançado junto com as gravações da turnê norte-americana de 1981 – pensam à frente esses caras – e talvez um álbum ao vivo pudesse ser extraído dele – um álbum ao vivo que poderia dar vida aos padrões exatos que o Rush se impõe.

Brian Harrigan, sobre a Permanent Waves Tour:

Fui assistir a banda duas vezes no Hammersmith Odeon – poderia ter ido às cinco noites, mas não consegui os ingressos – e na primeira apresentação me senti um pouco preocupado porque eles estavam talvez saindo do caminho. Mas no segundo show percebi que eles não estavam não. Ao invés disso, os rapazes trabalhavam duro organizando o set, tentando integrar o novo material com as cataclísmicas coisas mais antigas. Tornou-se uma boa turnê para o Rush, todos diziam – mas era algo que estava muito além deles quando fui aos bastidores falar com a banda. O camarim parecia em ordem, apesar de super ocupado. Não havia nenhuma insanidade particular acontecendo – somente uma terrível quantidade de pessoas, além do normal. Havia requerido uma entrevista com Alex e estava dando uma volta ao redor dos camarins, enquanto os roadies escoltavam fãs, seis naquele momento, felizes e alinhados como um bando de soldados britânicos num evento militar. Os autógrafos foram dados, os seis sortudos foram retirados sábia e eficientemente, e a próxima meia dúzia foi levada à presença dos ídolos com igual precisão. Você tinha que admirar o jeito que isto era feito – sem empurra-empurra e com todos sendo atendidos.

Significava para mim quase eras de espera quando finalmente chegou a hora da entrevista, me deparando de frente com Neil Peart. É claro que eu achava que entrevistas são feitas em revezamento, mas perguntei a Neil novamente. Não importa – todos falavam bem.

Encontramos uma sala deserta e, com apenas alguns minutos de conversa, era Peart quem trazia à tona aquele assunto já gagá sobre a entrevista da NME com Miles e toda aquela sujeira cripto-fascista. Fiquei muito surpreso, pois aquele fato era só história.

"Eu olho de volta para aquilo e ainda não consigo acreditar" ele disse, chacoalhando a cabeça. "Estávamos só tendo uma boa conversa, discutindo nossas visões políticas, e fiquei surpreso com o jeito que isso foi parar no papel. Acho que esse assunto não me aborrece muito agora, pois estou um pouco cansado de falar sobre isso. Quer dizer, não sei o que falar sobre isso – você diz o que você gosta sobre o todo, você sabe o suficiente sobre a banda para ter a sua opinião".

Ele refrescou sua aparência quando falamos sobre o sucesso crescente da banda por todo o mundo e, particularmente, nos Estados Unidos onde, como havia ouvido, as rádios estavam tocando suas músicas em quantidade significativa pela primeira vez. Disse Neil:

"Estamos vendo os resultados de todo o trabalho duro que fizemos ao longo dos anos. Nos dedicamos tanto para nos estabelecermos na Grã-Bretanha que quando chegamos aqui esperávamos mesmo ter uma boa turnê. Não quero que isso soe convencido, mas esperávamos shows lotados e uma boa resposta do público. Trabalhamos bastante e agora estamos vendo os resultados. É claro que se fizéssemos um show ruim não esperaria uma boa resposta, mas ficaria muito surpreso se fizéssemos um show ruim hoje em dia. Acho que a maioria dos DJs agora está sendo forçada a tocar as nossas músicas na América do Norte porque as pessoas ligam pedindo. Para mim isso é o ideal. Não gosto que nosso material toque nas rádios porque o produtor da gravadora é o melhor amigo ou o cunhado do DJ. Quero que eles toquem porque eles estão dentro do sistema, ou melhor ainda, quero que toquem porque os fãs querem ouvir. É bem prazeroso agora ter uma resposta das rádios e da imprensa norte-americana, mas não posso dizer que estamos muito empolgados com isso. É legal, mas não vamos começar a celebrar porque algum DJ finalmente nos descobriu – todos eles tiveram muitas chances nesses oito anos, quando precisávamos muito deles. É legal ter este feedback, mas não posso dizer que precisamos muito disso agora que temos um público como o que tivemos no Hammersmith e como muitos outros que conseguimos na América do Norte. Sabe, é tremendamente prazeroso se dar bem na Grã-Bretanha. Não é o mercado mais importante do mundo em termos de vendas de discos, mas temos um relacionamento muito especial com este país. Vivi aqui por um tempo, gravamos alguns álbuns e gostamos muito de experimentar a lealdade dos fãs. Você não pode ter um relacionamento melhor que este".

Neil ainda mantinha suas opiniões abertas com relação ao fato do próximo álbum ser ao vivo ou de estúdio. Mal sabia ele que o ponto de glória máximo do Rush estava prestes a chegar.

FICHA TÉCNICA

Geddy Lee: Bass Guitars, Oberheim polyphonic; OB-1; Mini Moog; and Taurus pedal synthesizers, vocals

Alex Lifeson: Six and twelve string electric and acoustic guitars, Taurus pedals

Neil Peart: Drums, tympani, timbales, orchestra bells, tubular bells, wind chimes, bell tree, triangle, crotales

Produced by Rush and Terry Brown
Arrangements by Rush and Terry Brown
Recorded at Le Studio, Morin-Heights, Quebec, during September and October 1979
Engineered by Paul Northfield
With general assistance from Robbie Whelan
Mixed at Trident Studios, Soho, London, in November 1979
Engineered by Terry Brown
Assisted by Adam Moseley, Craig Milliner, and Geddy Lee, with cameo appearances by Stev S. Hort

Special featured guest: Hugh Syme, piano on "Different Strings"
Inspiration and vocal coaching by Daisy the Dog
Steel drums by Erwig Chuapchuaduah

Art Direction and graphics by Hugh Syme
Cover concept by Hugh Syme and Neil Peart
Photography by Fin Costello, Flip Schulke and Deborah Samuel
Cover girl couturiére: Ou la la
Colour colaboration: Peter George
Pilot of Juliet Foxtrot Kilo: Mike Deere
Management by Ray Danniels, SRO Management, Inc., Toronto
Executive Production: Moon Records
Road manager, lighting director, and assistant to Mr. Shreve: Howard (Herns) Ungerleider
Stage manager: Michael (Lurch) Hirsh
Concert sound engineer: Ian (the Weez) Grandy
Stage right technician: Liam (Punjabi) Birt
Stage left technician: Skip (Slider) Gildersleeve
Centre stage technician: Larry (Shrav) Allen
Guitar and synthesizer maintenance: Tony (Jack Secret) Geranios
Electrical technician: Ted (Theo) McDonald
Stage Monitor mixer: Gred (Gordie) Connolly
Projectionist: Harry (Tex) Dilman
Personal Shreve: Sam (Shreve) Charters
Concert sound by National Sound and Electrosound (U.K.)
Concert lighting by See Factor International
Concert rigging by Bill Collins

All of the above was transported by the skilled hands of: Tom (Whitney) Whittaker, Pat (No. 9) Lines, Arthur (Mac) MacLear, Gene Guido, and Tim Lewis

Honourable mentions: Moe Kniffman, Nick Kotos, George (Ike) Guido, Bob (Puppy) Cross, John LeBlanc, Bill Churchman, Dave (Shreve 1) Donne, Fuzzy Frazer, Dave Burman, Helmut, Nick Prince, Graham (Wild Man) Hewitt, Sgt. Rock & Easy Co., Second City Television, Lakewoods Farm, The Sound Kitchen, Lefty, D.K.D., Steve Herns, Le Studio: Andre, Yael, Pam, Kim, Carole, and Roger, Andre & La Barratte, the Wines & Crew, FM & Crew, Wireless & Crew, The Maxoids, Marvin Gleicher, Brian Robertson, Jimmy Bain, Michael Schenker, the Projectors, Peter Mensch, the P.M., Bob (the Grove) Snelgrove, the inmates of the Great Fog, Gerry Griffin, Lee Scherer, and their families and friends at NASA, Henry Spencer and baby, Le Mont St. Michael, the Montcalm, vin-du-hairface, volleyball, Space Invaders (10p), euchre, Malibu Grand Prix, hockey--Steve Shutt and Larry Robinson, thansk for the sticks!, M*A*S*H, The Jack Secret Show, Rickey, Lucy, and Ethel, (Where's Fred?), Neal and Larry at the Percussion Centre, all at Oak Manor and all at Trident. Ho-Hoo!

We express our appreciationto the fine people and instruments of Gibson, Moog, Tama drums, Rickenbacker, and Sunn amplification

Mercury, January 1, 1980
© 1980 Mercury Records © 1980 Anthem Entertainment