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JACOB'S LADDER ENTRE NOUS DIFFERENT STRINGS
ENTRE NOUS
We are secrets to each other
Each one's life a novel
No-one else has read
Even joined in bonds of love
We're linked to one another
By such slender threads
We are planets to each other
Drifting in our orbits
To a brief eclipse
Each of us a world apart
Alone and yet together
Like two passing ships
Just between us
I think it's time for us to recognize
The differences we sometimes feared to show
Just between us
I think it's time for us to realize
The spaces in between
Leave room
For you and I to grow
We are strangers to each other
Full of sliding panels
An illusion show
Acting well-rehearsed routines
Or playing from the heart?
It's hard for one to know
We are islands to each other
Building hopeful bridges
On a troubled sea
Some are burned or swept away
Some we would not choose
But we're not always free
We are secrets to each other
Each one's life a novel
No-one else has read
Even joined in bonds of love
We're linked to one another
By such slender threads
We are planets to each other
Drifting in our orbits
To a brief eclipse
Each of us a world apart
Alone and yet together
Like two passing ships
Just between us
I think it's time for us to recognize
The differences we sometimes feared to show
Just between us
I think it's time for us to realize
The spaces in between
Leave room
For you and I to grow
We are strangers to each other
Full of sliding panels
An illusion show
Acting well-rehearsed routines
Or playing from the heart?
It's hard for one to know
We are islands to each other
Building hopeful bridges
On a troubled sea
Some are burned or swept away
Some we would not choose
But we're not always free
ENTRE NÓS
Somos segredos um para o outro
Cada vida um romance
Que ninguém leu
E mesmo unidos nos laços do amor
Estamos ligados uns aos outros
Pelas tais linhas tênues
Somos planetas um para o outro
À deriva em nossas órbitas
Para um breve eclipse
Cada um de nós um mundo à parte
Solitários e ainda juntos
Como dois navios que passam
Cá entre nós
Acho que já é tempo de reconhecermos
As diferenças que por vezes temos medo de mostrar
Cá entre nós
Acho que está na hora de percebermos
Que os espaços
Dão margem
Para eu e você crescermos
Somos estranhos um para o outro
Cheios de painéis deslizantes
Um show de ilusão
Atuando em rotinas bem ensaiadas
Ou jogando com o coração?
É difícil de saber
Somos ilhas um para o outro
Construindo pontes de esperança
Em um mar agitado
Algumas foram queimadas ou devastadas
Algumas não teríamos escolhido
Mas nem sempre estamos livres
Somos segredos um para o outro
Cada vida um romance
Que ninguém leu
E mesmo unidos nos laços do amor
Estamos ligados uns aos outros
Pelas tais linhas tênues
Somos planetas um para o outro
À deriva em nossas órbitas
Para um breve eclipse
Cada um de nós um mundo à parte
Solitários e ainda juntos
Como dois navios que passam
Cá entre nós
Acho que já é tempo de reconhecermos
As diferenças que por vezes temos medo de mostrar
Cá entre nós
Acho que está na hora de percebermos
Que os espaços
Dão margem
Para eu e você crescermos
Somos estranhos um para o outro
Cheios de painéis deslizantes
Um show de ilusão
Atuando em rotinas bem ensaiadas
Ou jogando com o coração?
É difícil de saber
Somos ilhas um para o outro
Construindo pontes de esperança
Em um mar agitado
Algumas foram queimadas ou devastadas
Algumas não teríamos escolhido
Mas nem sempre estamos livres
Somos diferentes, mas não temos que viver separados por isso
Finalizada a grande viagem musical proposta em "Jacob's Ladder", o álbum Permanent Waves reservaria, a partir de sua quarta faixa, uma agradável e tocante surpresa: duas canções curtas entrelaçadas formando um belo momento sobre relacionamentos. "Entre Nous" e "Different Strings" abordam pensamentos sobre as diferenças entre as pessoas, e a importância desse fato para o próprio fortalecimento das relações humanas.
"Entre Nous" é uma afável canção muito bem elaborada e bastante acessível ao ouvinte, que oferece uma bela melodia balanceada por tomadas elétricas e acústicas. Ela representa talvez o mais claro exemplo do momento de mudanças que o Rush atravessava com Permanent Waves, com Neil Peart agora refletindo sobre a natureza das relações pessoais e a dificuldade de se conhecer verdadeiramente alguém. A integração musical dos componentes da canção traz, de certa forma, uma metáfora sobre a maneira complexa dos próprios integrantes da banda interagirem entre si, dando vida ao que de fato é o Rush. "Entre Nous" ressalta a chance de crescimento no processo de convívio com outras pessoas, e Peart parte de seus próprios sentimentos e ligações com seu público para pensar nas preciosas singularidades individuais.
"Entre Nous" aborda a importância de se transcender diferenças, sem menosprezar personalidades, características e pontos de vista. A canção utiliza uma técnica chamada word-painting, que consiste em investidas musicais que imitam significados de palavras ou frases. As diferenças descritas no tema são refletidas nas pausas vocais do refrão, após "just between us", "time for us recognize", "spaces in between" e "leave room", representando pontos de separação. A maior mensagem da canção propõe o respeito pelas diferenças, expressada em elementos musicais que, mesmo separados, criam uma unidade: os versos elétricos e o refrão acústico estão estreitamente relacionados, além da guitarra e do sintetizador unidos na ponte, isenta de solos individuais.
"Em 'Entre Nous', queríamos ter um som de doze cordas, mas o B-45 que eu estava usando trazia uma rachadura no corpo, além do braço estar cedendo. A afinação parecia não estar funcionando", lembra Alex Lifeson. "Assim, tentamos uma combinação de uma afinação padrão com uma afinação Nashville em dois violões: juntos, eles se aproximaram da sonoridade de um doze cordas. Tudo o que tocamos ficou claro, e por isso fizemos".
A admiração de Neil pela escritora Ayn Rand reaparece na canção, utilizando novamente elementos de sua obra como ponto de partida para suas ideias essenciais. O romance A Nascente (The Fountainhead, de 1943), traz a expressão Entre Nous ('Entre Nós' em francês) algumas vezes, uma espécie de bordão do personagem secundário Guy Francon que influencia diretamente o título e o teor da composição. Na história, Rand apresentava, pela primeira vez, o arquiteto intransigente Howard Roark, uma figura humana cujas atitudes e posturas na vida revelariam o maior objetivo de sua escrita: o homem ideal, o homem tal qual "poderia e deveria ser". Nesta obra, a autora expõe uma das ideias mais desafiadoras já narradas em um livro de ficção - a de que o ego do homem é a nascente do progresso humano.
"Acho que tudo o que faço tem Howard Roark incluso. A pessoa para a qual escrevo é Howard Roark", explica Peart. "Ele faz o papel modelo para mim – exatamente a maneira que vivo. É intuitivo, ou instintivo, de uma idiotice intrínseca ou o que seja; já tinha feito suas escolhas e sofrido por elas. Para um jovem músico contestador de 20 anos, 'A Nascente' foi uma revelação, uma afirmação e uma inspiração. Apesar de ter crescido na órbita de Ayn Rand e, amplamente, para fora dela, sua obra foi um primeiro passo, uma primeira estação, um ponto de partida em preto e branco de uma jornada para a política e para uma filosofia mais elaborada. Mais do que tudo, foi a noção de individualismo que eu precisava - a ideia do que eu sentia, acreditava, gostava e queria. Foi importante e válido".
Repleta de belíssimas metáforas, "Entre Nous" reflete sobre as formas nas quais as pessoas se mostram e se percebem. Todos possuem vidas diferentes, trazendo consigo, logicamente, experiências diferentes. Não importa o que façamos, nunca conheceremos a vida de alguém por completo e, mesmo que tenhamos fortes ligações estabelecidas, estas poderão ser rompidas devido a variadas circunstâncias, às quais estamos sujeitos. Mesmo pautada em raízes progressivas bem trabalhadas, "Entre Nous" traz estruturas musicais bastante convencionais, no que se refere às costumeiras criações do Rush. O que percebemos claramente é a ênfase em seu profundo tema, além da entrega vocal feita por Lee.
Segundo Peart, o conhecimento de outra vida é tão estranho quanto estar em outro planeta, pois cada indivíduo é um universo. Conseguimos perceber apenas uma pequena fração da essência de outras pessoas, e essas diminutas mostras verdadeiras são tão raras quanto o contemplar um eclipse. Pessoas trazem camadas como painéis deslizantes, que expõem apenas ilusões do que elas realmente são. Sempre fomos doutrinados a agir de determinadas formas em nossas relações sociais, na maioria das vezes aprendendo por convenções a não revelar quem de fato somos. Os homens são seres separados que constroem conexões em vários graus que, em alguns casos, podem ser destruídas.
O teor de "Entre Nous", mesmo definido, é naturalmente abrangente. A canção pode significar o florescimento do amor entre duas pessoas a um próximo nível, um crescimento mútuo e aprendizado. Por outro lado, pode ilustrar a avaliação de uma relação de muitos anos, com pessoas completamente diferentes aprendendo com suas divergências e expandindo seus horizontes. Nunca conheceremos por completo uns aos outros, porém, a mensagem da canção afirma que, o que importa de fato, é que aprendamos com nossas diferenças. Todos trazemos variadas origens e pontos de vista para serem defendidos, mas nem sempre conseguimos alcançar o atributo de partilha-lhos.
O núcleo da composição reconhece que a verdade nem sempre irá agradar. A letra traz vários trechos que nos encorajam a descobrir "as diferenças que temos medo de mostrar". Não somos iguais e nem sempre concordamos. Todos carregamos aspectos de nós mesmos que gostaríamos de melhorar, o que não representa um completo desastre. Esconder fatos toma mais energia do que reconhecê-los.
"É uma frase francesa, que significa 'Between Us'", explica Peart. "Foi destinada a ser algo como uma carta - na verdade, uma carta pessoal que lida com relações pessoais tanto de homens com mulheres e de homens com homens. Numa escala maior, penso também nas relações sociais entre indivíduos e grupos de pessoas - todos os grupos e todas as subdivisões que compõem a sociedade".
"A canção diz basicamente: vamos parar de nos enganar. Somos diferentes - vamos admitir isso. E pensei bastante nas neuroses e inseguranças das pessoas de hoje, o que vem do fato de que elas trazem bizarrices. Acredito que você tenha que enfrentar e aceitar suas falhas e também aceitar seus pontos fortes, o que é igualmente importante. Muitas pessoas se envergonham dos seus pontos fortes como se fossem fraquezas. É bem triste. Eu gosto das pessoas que se olham e dizem que são muito diferentes. É quase impossível para nós nos compreendermos. Acho que não importa o quanto tempo você conhece uma pessoa - você ainda pode se surpreender com elas".
"Há momentos quando você olha para elas e diz, 'Eu não sei o que você está pensando'. Você não pode entrar numa pessoa, é absolutamente impossível. Assim, essa é outra parte importante da música - sobre como somos afastados de fato".
"Entre Nous" enfatiza que a heterogeneidade revela espaços para o crescimento, uma chance de interações genuínas, ao invés de apresentarmos falsas frentes na esperança de evitar conflitos. A franqueza sobre nossas fraquezas e discordâncias pode ser difícil, mas a sinceridade e o respeito devem ser sempre cuidados. "Entre Nous" oferece um pensamento alternativo ao que seria comumente pensado - as diferenças deixam de ser barreiras e se tornam pontes que aproximam pessoas.
"Eu sou um individualista, acredito na grandeza das pessoas como indivíduos. Isso não significa ser anti-populista ou anti-humano. Quando as luzes no palco se acendem atrás de nós, olho para a plateia com todos aqueles pequenos círculos, sentindo que cada um deles é de fato uma pessoa. Cada pessoa é uma história, e elas trazem circunstâncias de vida que nunca serão repetidas. Todas aquelas pessoas têm um livro inteiro sobre suas vidas, desde o momento em que nasceram, cresceram, o que fizeram e o que querem fazer, seus relacionamentos com os outros, seus romances e casamentos. Eles são indivíduos, e isso é o que quero frisar. Não são uma mera multidão, um público – não são uma classe inferior de degenerados. Eles são indivíduos".
"Estou sempre tocando para o indivíduo. Não toco para um público - para o ideal sem rosto da comercialidade ou para algum outro denominador comum. São pessoas que temos lá todas as noites, que sabem tudo o que tenho que fazer. Se eu não fizer, eles sabem que não fiz".
Permanent Waves, reflete o definitivo avanço de uma nova fase no desenvolvimento do Rush. Os temas fantásticos se despediam, dando lugar às fortes batidas concretas da realização emocional e da integridade que iriam percorrer, a partir dali, todas as palavras musicalmente trabalhadas.
© 2015 Rush Fã-Clube Brasil
LADD, J. "An Interview with Neil Peart". Interview conducted by Jim Ladd. March 1980.
BIAMONTE, N. "Contre Nous" in "Rush and Philosophy: Heart and Mind United (Popular Culture and Philosophy)". Chicago: Open Court, 2011.
MODERN DRUMMER. "Interview: Neil Peart". April 1984.
TELLERIA, R. "Merely Players Tribute". Quarry Music Books, 2002.
"Entre Nous" é uma afável canção muito bem elaborada e bastante acessível ao ouvinte, que oferece uma bela melodia balanceada por tomadas elétricas e acústicas. Ela representa talvez o mais claro exemplo do momento de mudanças que o Rush atravessava com Permanent Waves, com Neil Peart agora refletindo sobre a natureza das relações pessoais e a dificuldade de se conhecer verdadeiramente alguém. A integração musical dos componentes da canção traz, de certa forma, uma metáfora sobre a maneira complexa dos próprios integrantes da banda interagirem entre si, dando vida ao que de fato é o Rush. "Entre Nous" ressalta a chance de crescimento no processo de convívio com outras pessoas, e Peart parte de seus próprios sentimentos e ligações com seu público para pensar nas preciosas singularidades individuais.
"Entre Nous" aborda a importância de se transcender diferenças, sem menosprezar personalidades, características e pontos de vista. A canção utiliza uma técnica chamada word-painting, que consiste em investidas musicais que imitam significados de palavras ou frases. As diferenças descritas no tema são refletidas nas pausas vocais do refrão, após "just between us", "time for us recognize", "spaces in between" e "leave room", representando pontos de separação. A maior mensagem da canção propõe o respeito pelas diferenças, expressada em elementos musicais que, mesmo separados, criam uma unidade: os versos elétricos e o refrão acústico estão estreitamente relacionados, além da guitarra e do sintetizador unidos na ponte, isenta de solos individuais.
"Em 'Entre Nous', queríamos ter um som de doze cordas, mas o B-45 que eu estava usando trazia uma rachadura no corpo, além do braço estar cedendo. A afinação parecia não estar funcionando", lembra Alex Lifeson. "Assim, tentamos uma combinação de uma afinação padrão com uma afinação Nashville em dois violões: juntos, eles se aproximaram da sonoridade de um doze cordas. Tudo o que tocamos ficou claro, e por isso fizemos".
A admiração de Neil pela escritora Ayn Rand reaparece na canção, utilizando novamente elementos de sua obra como ponto de partida para suas ideias essenciais. O romance A Nascente (The Fountainhead, de 1943), traz a expressão Entre Nous ('Entre Nós' em francês) algumas vezes, uma espécie de bordão do personagem secundário Guy Francon que influencia diretamente o título e o teor da composição. Na história, Rand apresentava, pela primeira vez, o arquiteto intransigente Howard Roark, uma figura humana cujas atitudes e posturas na vida revelariam o maior objetivo de sua escrita: o homem ideal, o homem tal qual "poderia e deveria ser". Nesta obra, a autora expõe uma das ideias mais desafiadoras já narradas em um livro de ficção - a de que o ego do homem é a nascente do progresso humano.
"Acho que tudo o que faço tem Howard Roark incluso. A pessoa para a qual escrevo é Howard Roark", explica Peart. "Ele faz o papel modelo para mim – exatamente a maneira que vivo. É intuitivo, ou instintivo, de uma idiotice intrínseca ou o que seja; já tinha feito suas escolhas e sofrido por elas. Para um jovem músico contestador de 20 anos, 'A Nascente' foi uma revelação, uma afirmação e uma inspiração. Apesar de ter crescido na órbita de Ayn Rand e, amplamente, para fora dela, sua obra foi um primeiro passo, uma primeira estação, um ponto de partida em preto e branco de uma jornada para a política e para uma filosofia mais elaborada. Mais do que tudo, foi a noção de individualismo que eu precisava - a ideia do que eu sentia, acreditava, gostava e queria. Foi importante e válido".
Repleta de belíssimas metáforas, "Entre Nous" reflete sobre as formas nas quais as pessoas se mostram e se percebem. Todos possuem vidas diferentes, trazendo consigo, logicamente, experiências diferentes. Não importa o que façamos, nunca conheceremos a vida de alguém por completo e, mesmo que tenhamos fortes ligações estabelecidas, estas poderão ser rompidas devido a variadas circunstâncias, às quais estamos sujeitos. Mesmo pautada em raízes progressivas bem trabalhadas, "Entre Nous" traz estruturas musicais bastante convencionais, no que se refere às costumeiras criações do Rush. O que percebemos claramente é a ênfase em seu profundo tema, além da entrega vocal feita por Lee.
Segundo Peart, o conhecimento de outra vida é tão estranho quanto estar em outro planeta, pois cada indivíduo é um universo. Conseguimos perceber apenas uma pequena fração da essência de outras pessoas, e essas diminutas mostras verdadeiras são tão raras quanto o contemplar um eclipse. Pessoas trazem camadas como painéis deslizantes, que expõem apenas ilusões do que elas realmente são. Sempre fomos doutrinados a agir de determinadas formas em nossas relações sociais, na maioria das vezes aprendendo por convenções a não revelar quem de fato somos. Os homens são seres separados que constroem conexões em vários graus que, em alguns casos, podem ser destruídas.
O teor de "Entre Nous", mesmo definido, é naturalmente abrangente. A canção pode significar o florescimento do amor entre duas pessoas a um próximo nível, um crescimento mútuo e aprendizado. Por outro lado, pode ilustrar a avaliação de uma relação de muitos anos, com pessoas completamente diferentes aprendendo com suas divergências e expandindo seus horizontes. Nunca conheceremos por completo uns aos outros, porém, a mensagem da canção afirma que, o que importa de fato, é que aprendamos com nossas diferenças. Todos trazemos variadas origens e pontos de vista para serem defendidos, mas nem sempre conseguimos alcançar o atributo de partilha-lhos.
O núcleo da composição reconhece que a verdade nem sempre irá agradar. A letra traz vários trechos que nos encorajam a descobrir "as diferenças que temos medo de mostrar". Não somos iguais e nem sempre concordamos. Todos carregamos aspectos de nós mesmos que gostaríamos de melhorar, o que não representa um completo desastre. Esconder fatos toma mais energia do que reconhecê-los.
"É uma frase francesa, que significa 'Between Us'", explica Peart. "Foi destinada a ser algo como uma carta - na verdade, uma carta pessoal que lida com relações pessoais tanto de homens com mulheres e de homens com homens. Numa escala maior, penso também nas relações sociais entre indivíduos e grupos de pessoas - todos os grupos e todas as subdivisões que compõem a sociedade".
"A canção diz basicamente: vamos parar de nos enganar. Somos diferentes - vamos admitir isso. E pensei bastante nas neuroses e inseguranças das pessoas de hoje, o que vem do fato de que elas trazem bizarrices. Acredito que você tenha que enfrentar e aceitar suas falhas e também aceitar seus pontos fortes, o que é igualmente importante. Muitas pessoas se envergonham dos seus pontos fortes como se fossem fraquezas. É bem triste. Eu gosto das pessoas que se olham e dizem que são muito diferentes. É quase impossível para nós nos compreendermos. Acho que não importa o quanto tempo você conhece uma pessoa - você ainda pode se surpreender com elas".
"Há momentos quando você olha para elas e diz, 'Eu não sei o que você está pensando'. Você não pode entrar numa pessoa, é absolutamente impossível. Assim, essa é outra parte importante da música - sobre como somos afastados de fato".
"Entre Nous" enfatiza que a heterogeneidade revela espaços para o crescimento, uma chance de interações genuínas, ao invés de apresentarmos falsas frentes na esperança de evitar conflitos. A franqueza sobre nossas fraquezas e discordâncias pode ser difícil, mas a sinceridade e o respeito devem ser sempre cuidados. "Entre Nous" oferece um pensamento alternativo ao que seria comumente pensado - as diferenças deixam de ser barreiras e se tornam pontes que aproximam pessoas.
"Eu sou um individualista, acredito na grandeza das pessoas como indivíduos. Isso não significa ser anti-populista ou anti-humano. Quando as luzes no palco se acendem atrás de nós, olho para a plateia com todos aqueles pequenos círculos, sentindo que cada um deles é de fato uma pessoa. Cada pessoa é uma história, e elas trazem circunstâncias de vida que nunca serão repetidas. Todas aquelas pessoas têm um livro inteiro sobre suas vidas, desde o momento em que nasceram, cresceram, o que fizeram e o que querem fazer, seus relacionamentos com os outros, seus romances e casamentos. Eles são indivíduos, e isso é o que quero frisar. Não são uma mera multidão, um público – não são uma classe inferior de degenerados. Eles são indivíduos".
"Estou sempre tocando para o indivíduo. Não toco para um público - para o ideal sem rosto da comercialidade ou para algum outro denominador comum. São pessoas que temos lá todas as noites, que sabem tudo o que tenho que fazer. Se eu não fizer, eles sabem que não fiz".
Permanent Waves, reflete o definitivo avanço de uma nova fase no desenvolvimento do Rush. Os temas fantásticos se despediam, dando lugar às fortes batidas concretas da realização emocional e da integridade que iriam percorrer, a partir dali, todas as palavras musicalmente trabalhadas.
© 2015 Rush Fã-Clube Brasil
LADD, J. "An Interview with Neil Peart". Interview conducted by Jim Ladd. March 1980.
BIAMONTE, N. "Contre Nous" in "Rush and Philosophy: Heart and Mind United (Popular Culture and Philosophy)". Chicago: Open Court, 2011.
MODERN DRUMMER. "Interview: Neil Peart". April 1984.
TELLERIA, R. "Merely Players Tribute". Quarry Music Books, 2002.