DIFFERENT STRINGS



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DIFFERENT STRINGS

Who's come to slay the dragon -
Come to watch him fall?
Making arrows out of pointed words
Giant killers at the call
Too much fuss and bother
Too much contradiction and confusion
Peel away the mystery
Here's a clue to some real motivation

All there really is
The two of us
And we both know why we've come along
Nothing to explain
It's a part of us
To be found within a song


What happened to our innocence-
Did it go out of style?
Along with our naiveté -
No longer a child
Different eyes see different things
Different hearts beat on different strings
But there are times
For you and me
When all such things agree
CADÊNCIAS DIFERENTES

Quem veio matar o dragão -
Veio assisti-lo cair?
Fazendo flechas com palavras pontiagudas
Gigantes assassinos na chamada
Muito barulho e incômodo
Muita contradição e confusão
Desvende o mistério
Eis aqui uma dica para uma motivação verdadeira

Tudo que realmente existe
Somos nós dois
E ambos sabemos por quê progredimos
Nada para explicar
É parte de nós
A ser encontrada dentro de uma canção


O que aconteceu com nossa inocência -
Será que saiu de moda?
Junto com nossa ingenuidade -
Não somos mais crianças
Olhos diferentes veem coisas diferentes
Corações diferentes batem em cadências diferentes
Mas há momentos
Para você e eu
Que todas essas coisas concordam


Música por Geddy Lee e Alex Lifeson / Letra por Geddy Lee


Diferenças que podem aproximar

Como uma espécie de complemento lírico para a anterior "Entre Nous", temos na quinta faixa de Permanent Waves a introspectiva "Different Strings". Trazendo uma abordagem não-convencional ainda mais leve e atmosférica, a canção consiste em uma pequena balada rock muito bem estruturada que expõe um momento ímpar não somente no disco, mas também em toda a carreira do trio. Definitivamente, o Rush iniciava a travessia da ponte que os levaria para outros territórios musicais.

Com letra escrita por Geddy Lee, "Different Strings" é um trabalho experimental bastante sereno, munido de texturas sofisticadas e melodias que marcam um passo à frente do grupo. O cenário apresenta proezas acústicas bastante eloquentes, ao lado de um surpreendente piano e linhas vocais tocantes - todos esses elementos são unidos por linhas de baixo quase líricas e percussão muito sensível. "Em 'Different Strings', os harmônicos são fundamentais", afirma Geddy. "A linha de baixo é muito simples - somente pontuando o ritmo - mas, entre as notas, apareço com dois harmônicos em duas cordas (diferentes) no quinto traste". Breaks de guitarra evocam ainda mais sensações na canção, intensificadas no surpreendente final em fade-out com um solo de fúria controlada simplesmente genial.

"Adoro a sensação dessa canção", diz Alex Lifeson. "Ela me lembra soldados sentados ao redor de um piano em um pub cheio de fumaça na Inglaterra durante a guerra. É o tipo de solo que gosto de tocar, emotivo e blueseiro. O único problema é que ele foi adicionado no último minuto, começando a acontecer de fato quando a canção termina, o que foi infeliz".

"Os sons acústicos iniciais foram conseguidos em uma guitarra Gibson modelo Howard Roberts, passando por um Delay Analógico Loft", explica o guitarrista.

Assim como "Tears" (de 2112, 1976) e "Madrigal" (de A Farewell to Kings, 1977), "Different Strings" foi concebida especialmente para ser uma composição de estúdio, uma peça de produção para testar os instintos musicais mais ornados da banda. Esse tipo de canção liberava os músicos da prática usual de comporem com o foco em execuções ao vivo que, no caso do Rush, sempre precisa perseguir a disciplina de uma banda com três integrantes.

"Normalmente, produzimos uma canção por álbum para nunca ser tocada ao vivo", explica Lifeson. "Assim como 'Madrigal', 'Different Strings' é uma dessas".

Hugh Syme, artista responsável pelos temas gráficos dos discos do trio, aparece como convidado especial ao piano em "Different Strings", assim como ocorrido em "Tears", quando emprestou seus talentos trazendo elementos produzidos no Mellotron.

Inicialmente, "Different Strings" evoca sensações de tempos passados, funcionando como uma pequena lembrança de uma fase que ficava para trás. Expressões como dragões, flechas e gigantes, apesar de representarem na canção apenas metáforas para os momentos conflituosos de uma relação, podem simultaneamente marcar um ponto final para os épicos de ficção e fantasia, ainda muito presentes no álbum imediatamente anterior Hemispheres, de 1978.

"Different Strings" compõe a mesma natureza temática de "Entre Nous", dessa vez com Geddy trazendo pensamentos sobre as relações humanas de forma ainda mais íntima que a composição de Peart. Trata-se do reconhecimento das diferenças como uma de nossas mais importantes características, em uma escala mais aproximada.

O diálogo proposto por Geddy traz um tom apaziguador entre duas pessoas, um acordo que busca a gentileza, o carinho e que preza pela leveza no lugar do conflito. Com a compreensão que, por sermos diferentes, nossas percepções, reações e escolhas serão diferentes, a maturidade e o respeito pela individualidade passam a ser o elemento fundamental para uma relação sólida e duradoura.

"Different Strings" apresenta uma possível referência ao ensaio Self Reliance, concebido em 1841 pelo filósofo e escritor norte-americano Ralph Waldo Emerson (1803-1882). Apesar de Geddy jamais ter se pronunciado à respeito, a letra faz um nítido contraponto com o seguinte trecho da obra: "Trust thyself: every heart vibrates to that iron string" ["Acredite em si mesmo: todo coração vibra com aquela corda de aço"]. Na linha "Different hearts beat on different strings" ["Corações diferentes batem em cordas (ou cadências) diferentes"], observamos a semelhança.

Temos nessa pequena porém marcante canção uma verdadeira mostra da maturidade alcançada pelo Rush. Os canadenses aceitam o desafio dos novos tempos, disciplinando suas composições para faixas menores, mais diretas e ainda conseguindo abrir novas frentes ao longo do caminho. "Different Strings" é uma canção que exemplifica a grande sensibilidade da banda em criar melodias que provocam diferentes reações, sempre acreditando no potencial e na capacidade humana de superar seus dramas e de escrever sua própria história.

© 2015 Rush Fã-Clube Brasil

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