PEART FALA SOBRE SUAS DEZ CANÇÕES PREFERIDAS COM O RUSH



13 DE NOVEMBRO DE 2014 | POR VAGNER CRUZ

Foto: John Arrowsmith / Rush.com. Arte por Ahmed Khalil / CBC Music
Em comemoração ao lançamento do box R40, o site da CBC Music vem disponibilizando uma série de matérias relacionadas ao Rush ao longo da semana. O músico canadense e amigo dos integrantes, Dave Bidini, iniciou o especial observando o legado de 40 anos do grupo em um ótimo artigo. Além disso, foram disponibilizados um concurso via Twitter para escolher o maior fã do Rush no Canadá (que ganhará o novo box), uma matéria que celebra os 40 anos da banda na cultura pop e uma lista com 40 fatos curiosos e importantes que abrangem toda a carreira dos músicos. Hoje foram liberados três vídeos, onde Neil Peart disseca seu kit de bateria, fala sobre seus livros (especialmente o mais novo deles, Far and Near), motociclismo e seu trabalho com o Rush, além de uma lista com os comentários do próprio baterista sobre suas dez canções preferidas com a banda, que você poderá conferir a seguir, inteiramente traduzida:

NEIL PEART NOS AJUDA A DESTRINCHAR AS DEZ MELHORES CANÇÕES DO RUSH
CBC Music - 13 de novembro de 2014 | Tradução: Vagner Cruz

10: "Xanadu"
Album: A Farewell to Kings (1977)


"Vou chamar essa de nossa fase experimental. Após 2112, éramos guitarra, baixo, bateria e ambição, e pensávamos que talvez devêssemos adicionar outro músico. Mas em seguida não, decidimos expandir nosso próprio arsenal, e assim os caras começaram a entrar em violões, os pedais de baixo foram saindo e eu comecei a expandir minha bateria, o que nos daria uma grande capacidade de orquestração. Esses álbuns subsequentes somos nós aprendendo a usar tudo aquilo, nos divertindo e experimentando, tão genuíno quanto pode ser. Quando olho para trás é como um sorriso indulgente. Mais tarde fizemos melhor, mas não havia nada de errado com aquilo. Descrevi esse período uma vez como jovem, tolo e corajoso".

9: "Time Stand Still"
Album: Hold Your Fire (1987)


"Uma canção que ainda gosto muito. Em certo sentido, ela é autobiográfica. É o lance de querer retardar as coisas e absorver o momento. Sinta esse momento um pouco mais intensamente, uma vez que não é possível ajustar o tempo para termos mais. Fico frustrado quando pessoas dizem que o tempo passou rápido. É porque você simplesmente não estava prestando atenção. Um dia é um dia, um mês é um mês e um ano é um ano. Para mim, tudo começou em 1986. Eu me lembro de sentar e escrever pois 1986 foi o melhor ano de todos. Dessa forma, se eu era capaz de pensar assim em 1986, agora sei ainda melhor como valorizar a passagem do tempo e a riqueza da experiência".

8: "YYZ"
Album: Moving Pictures (1981)


"Estávamos voando em Toronto em um avião particular e ouvimos o bipe do código morse, que se tornou a base rítmica da canção. Era uma trilha sonora sobre aeroportos, sobre a parte movimentada - a parte mais emocional, quando as pessoas se cumprimentam a todo momento e todas as lamentações. Foi algo consciente, uma tentativa de tecer alguns dos humores dos aeroportos".

7: "Red Barchetta"
Album: Moving Pictures (1981)


"Meu amigo (Richard Foster) havia publicado essa história na revista Road and Track, ambientada em um futuro distópico, onde certos carros eram proibidos. Ele utilizou um MGB na história, mas eu usei o meu carro dos sonhos, essa Ferrari vermelha... Foi tão cinematográfico para nós, e estávamos aprendendo a sermos concisos e a fazer também trilhas sonoras. É provavelmente uma das nossas melhores no sentido de curta metragem, e cada seção é um acompanhamento cinematrográfico para as letras. É uma das que ainda gosto muito e ótima para tocar ao vivo".

6: "Limelight"
Album: Moving Pictures (1981)


"Uma tentativa de esclarecer para mim e espero que para outros algo que aprendi: nunca reclamar, nunca explicar. Eu tento nunca reclamar, mas não posso ajudar senão explicar. Foi uma tentativa da minha parte de tentar me explicar como um introvertido, sentindo-me totalmente alienado com a "gaiola dourada" e tudo isso, e tem sido notável ao longo do tempo o fato de que músicos jovens chegam à mim dizendo o que a música significa para eles, enquanto enfrentaram a mesma transição em suas vidas. É a lei da oferta e da demanda: quando se é um músico jovem, você é todo oferta e não há demanda e, em seguida, assim que você consegue um pouco de popularidade, há a demanda, mas a oferta é a mesma, há ainda apenas você, e é uma transição muito difícil de resistir... Você pode não reclamar, mas outros músicos me dirão que 'pegaram' a canção".

5: "Subdivisions"
Album: Signals (1982)


"Bastante autobiográfica, claro. Foi um passo importante para nós, a primeira canção escrita baseada em teclados. O lado positivo disso: as pessoas não percebem que Alex e eu fizemos a seção rítmica. Dessa forma, foi a primeira vez que eu e ele estivemos em sintonia, um com o instrumento do outro, enquanto Geddy tocava teclados. Foi uma ótima e nova maneira de nos relacionarmos, também um bom exemplo para aprendermos a entrar em mudanças de tempo mais fluidas e, novamente, é maravilhosa de tocar ao vivo. É um desafio e sempre gratificante tocá-la decentemente".

4: "La Villa Strangiato (An Exercise in Self-Indulgence)"
Album: Hemispheres (1978)


"Essa é o cérebro de Alex, e cada seção da canção são diferentes sonhos que ele nos contava e nós dizíamos, 'pára, pára'. Foram esses sonhos bizarros que ele insistia em contar com todos os detalhes que acabaram se tornando uma brincadeira entre Geddy e eu. 'La Villa Strangiato' significa cidade estranha, e havia muita coisa acontecendo nela. Há uma seção big band que foi totalmente para mim, pois sempre quis tocar nessa abordagem. E há a música de desenho animado. Tivemos problemas mais tarde, pois utilizamos uma de um cartoon da década de 1930".

3: "2112"
Album: 2112 (1976)


"Fizemos três álbuns em 18 meses desde o momento que entrei na banda... Quando fizemos 2112, tivemos um mês para escrever, ensaiar e gravar, e por isso foi feito na mais crua das circunstâncias, mas com muita convicção e entusiasmo. Estávamos muito irritados naquele momento. Tivemos os três primeiros álbuns vendendo quase o mesmo e nossa gravadora estava nos riscando da lista, até chamamos nossa turnê de 'Turnê pelo Cano', quando tocávamos em clubes noturnos ruins e em brechas que surgiam. Achávamos que estávamos praticamente liquidados e ficávamos loucos com isso. As pessoas diziam coisas como, 'vocês deveriam mudar seu material, e realmente precisam de um single', e eu ia ouvindo essas que soavam como um veneno para mim, dizendo, 'Oh sim!' E revidamos. O conto fala sobre o indivíduo contra a opressão, que éramos nós mesmos, e de como nos sentíamos. E funcionou. Nosso sucesso comercial com uma canção de 20 minutos no lado um. Ela falou".

2: "Tom Sawyer"
Album: Moving Pictures (1981)


"Estávamos na fazenda de Ronnie Hawkins que havíamos alugado para o verão, a fim de fazermos a composição e a pré-produção. Colaborei na letra de Pye Dubois do Max Webster, e ele costumava me dar grandes livros clássicos para exercitar a expansão poética. Sou bom em impor ordens, por isso peguei sua letra e adicionei um pouco das minhas próprias imagens, estrutura, temas e todas essas coisas. Essa canção nos encontra em um momento de muita confiança, onde estávamos aprendendo a fazer canções que tivessem apenas seis minutos, ao invés de 12, 15 e utilizando os mesmos padrões de arranjo. A bateria é muito detalhada, mas quando vamos para o meio, para o momento estranho, foi improvisação. Eu me perdi e perfurei meu caminho para sair dali e, de alguma forma, voltei para a canção. E essa improvisação se tornou uma nova parte... É uma daquelas peças-chave que eu amo, sendo de fato um erro do qual tive sorte de ter saído".

1: "The Spirit of Radio"
Album: Permanent Waves (1980)


"Estávamos trabalhando em uma fazenda no interior, na parte oeste de Ontário, fazendo viagens pendulares nos fins de semana. Eu me lembro de chegar em casa bem tarde com a rádio CFNY no ar, e de como eu coroava a escarpa com todas as luzes abaixo de Hamilton e da Península do Niágara, onde eu morava na época, com uma fantástica combinação de canções daquela época. E o lema da CFNY era, "o espírito do rádio". A canção em si, musicalmente, é um alternar entre as estações de rádio, com uma seção reggae no final, o segundo verso é a new wave, e toco como um baterista punk lá. Foi tudo intencional".