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VITAL SIGNS SUBDIVISIONS THE ANALOG KID
SUBDIVISIONS
Sprawling on the fringes of the city
In geometric order
An insulated border
In between the bright lights
And the far unlit unknown
Growing up it all seems so one-sided
Opinions all provided
The future pre-decided
Detached and subdivided
In the mass production zone
Nowhere is the dreamer
Or the misfit so alone
Subdivisions -
In the high school halls
In the shopping malls
Conform or be cast out
Subdivisions -
In the basement bars
In the backs of cars
Be cool or be cast out
Any escape might help to smooth
The unattractive truth
But the suburbs have no charms to soothe
The restless dreams of youth
Drawn like moths we drift into the city
The timeless old attraction
Cruising for the action
Lit up like a firefly
Just to feel the living night
Some will sell their dreams for small desires
Or lose the race to rats
Get caught in ticking traps
And start to dream of somewhere
To relax their restless flight
Somewhere out of a memory
Of lighted streets on quiet nights...
Sprawling on the fringes of the city
In geometric order
An insulated border
In between the bright lights
And the far unlit unknown
Growing up it all seems so one-sided
Opinions all provided
The future pre-decided
Detached and subdivided
In the mass production zone
Nowhere is the dreamer
Or the misfit so alone
Subdivisions -
In the high school halls
In the shopping malls
Conform or be cast out
Subdivisions -
In the basement bars
In the backs of cars
Be cool or be cast out
Any escape might help to smooth
The unattractive truth
But the suburbs have no charms to soothe
The restless dreams of youth
Drawn like moths we drift into the city
The timeless old attraction
Cruising for the action
Lit up like a firefly
Just to feel the living night
Some will sell their dreams for small desires
Or lose the race to rats
Get caught in ticking traps
And start to dream of somewhere
To relax their restless flight
Somewhere out of a memory
Of lighted streets on quiet nights...
SUBDIVISÕES
Espalhando-se pelas periferias da cidade
Em ordem geométrica
Uma fronteira isolada
Entre luzes brilhantes
E o desconhecido distante e obscuro
Crescer faz tudo parecer tão unilateral
Opiniões totalmente estabelecidas
O futuro pré-decidido
Separado e subdividido
Na zona de produção em massa
Não há lugar para os sonhadores
Ou para os fora de moda solitários
Subdivisões -
Nos corredores das escolas
Nos shopping centers
Se adapte ou fique de fora
Subdivisões -
Nos bares de porão
Na traseira dos carros
Seja legal ou fique de fora
Qualquer fuga pode ajudar a amenizar
A verdade pouco atraente
Mas os subúrbios não possuem charme para aliviar
Os sonhos inquietos da juventude
Atraídos como mariposas vagamos para a cidade
A eterna velha atração
Em busca de ação
Acesos como vaga-lumes
Apenas para sentir o pulsar da noite
Alguns venderão seus sonhos por pequenos desejos
Ou perderão a correria
Serão pegos em armadilhas que tiquetaqueiam
E começarão a sonhar com algum lugar
Para descansar seu voo inquieto
Em algum lugar que parte da lembrança
De ruas iluminadas em noites tranquilas...
Espalhando-se pelas periferias da cidade
Em ordem geométrica
Uma fronteira isolada
Entre luzes brilhantes
E o desconhecido distante e obscuro
Crescer faz tudo parecer tão unilateral
Opiniões totalmente estabelecidas
O futuro pré-decidido
Separado e subdividido
Na zona de produção em massa
Não há lugar para os sonhadores
Ou para os fora de moda solitários
Subdivisões -
Nos corredores das escolas
Nos shopping centers
Se adapte ou fique de fora
Subdivisões -
Nos bares de porão
Na traseira dos carros
Seja legal ou fique de fora
Qualquer fuga pode ajudar a amenizar
A verdade pouco atraente
Mas os subúrbios não possuem charme para aliviar
Os sonhos inquietos da juventude
Atraídos como mariposas vagamos para a cidade
A eterna velha atração
Em busca de ação
Acesos como vaga-lumes
Apenas para sentir o pulsar da noite
Alguns venderão seus sonhos por pequenos desejos
Ou perderão a correria
Serão pegos em armadilhas que tiquetaqueiam
E começarão a sonhar com algum lugar
Para descansar seu voo inquieto
Em algum lugar que parte da lembrança
De ruas iluminadas em noites tranquilas...
A supressão das individualidades em dimensões variadas
Signals, nono álbum de estúdio do Rush, tem início com "Subdivisions" - uma canção profunda, original, inteligente e tecnicamente brilhante. Lançada como single em maio de 1982 (quatro meses antes da liberação do álbum) a composição, que se tornou notavelmente popular, inaugura a nova proposta musical pensada pela banda para a década de 1980. Liricamente, Neil Peart alcança o amadurecimento de uma comunicação ainda mais forte com os fãs, algo que os músicos estavam nitidamente ansiosos por conseguir. Dessa forma, o baterista passaria a produzir letras menos abstratas, definindo como uma de suas principais preocupações a observação das complexas relações dos homens em sociedade - pontuando suas contradições, impasses e muitos dos seus dramas comuns. Por outro lado, o trio mergulhava de vez nas experimentações tecnológicas, abraçando os sintetizadores como parte integral de sua nova sonoridade. Após o estrondoso sucesso do anterior Moving Pictures, os canadenses surpreendem o mundo mais uma vez ao reinventar sua fórmula, a fim de atender primordialmente suas borbulhantes inquietações criativas.
Desde Fly By Night (1975), o Rush não entregava oito faixas em um único álbum, fato que já denota o momento singular. "Subdivisions" é constituída por um instrumental sinuoso, estabelecendo na introdução um dos muitos padrões de teclados que fundamentam quase toda construção. Jamais a banda havia utilizado sons eletrônicos de forma tão marcante, estes que envolvem aqui cerca de setenta e dois por cento da música, incluindo dois solos.
"O conceito de Signals foi bastante acidental (...) e 'Subdivisions' é a canção representante do álbum", explica Peart. "(...) A primeira música funciona como uma espécie de abertura para o resto do disco. 'Tom Sawyer' foi a que abriu Moving Pictures, e 'The Spirit of Radio' foi o mesmo para Permanent Waves. Dessa forma, seguimos um padrão nesse sentido".
"Estávamos de saco cheio da inatividade", continua. "Durante a mixagem de Exit... Stage Left, não havia muito para fazer, exceto dizer 'isso soa bem' ou 'isso não está legal'. Estava trabalhando em um pequeno estúdio, limpando e restaurando um velho kit de bateria da Hayman que estava encostado (...). Trabalhei algumas letras durante uns dias e 'Subdivisions' veio à tona, sendo uma exploração do passado de cada um de nós da banda (e provavelmente da maioria do nosso público)".
"Numa tarde, enquanto polia minha Ferrari 308 GTS (preta sobre vermelho; carro adorável), Alex e Ged voltaram do pequeno estúdio, armando um toca-fitas portátil na garagem para tocar pra mim as ideias musicais que tiveram. 'É um tanto estranho, né? Me deixe ouvir de novo'. Prestei bastante atenção, pegando as variações em 7/8 e 3/4 e percebendo o papel da guitarra na seção rítmica, enquanto os teclados assumiam a melodia retornando ao baixo, com a guitarra principal no refrão e o minimoog voltando para a ponte instrumental. 'Achei boa'. Eles sorriram".
"É uma canção muito incomum em termos líricos e musicais, mas com a qual conseguimos trabalhar. Foi composta em um momento em que não trabalhávamos de fato. Estávamos mixando um álbum ao vivo e começamos a brincar escrevendo uma nova canção, para nos divertir. Ela é muito séria em sua estrutura musical, talvez uma das mais complicadas que tivemos em termos de arranjos e percussão".
Geddy compôs a música nos teclados, referindo-se à ampla faixa de frequências como um "punch orgânico" feito em um Roland Jupiter-8, ao lado das tomadas com um Oberheim OB-X e um Minimoog. Como parte de um recomeço, Signals traz uma produção relativamente irregular, com os sintetizadores sufocando a guitarra de Alex Lifeson - fato inclusive reconhecido mais tarde pelo próprio baixista / tecladista.
"Em alguns lugares-chave, houve muita ênfase colocada nos teclados", diz Alex. "A mixagem de 'Subdivisions' sempre foi uma decepção para mim. Lembro-me de empurrar os faders para cima [a fim de aumentar os níveis de guitarra na mixagem] e Terry sorrindo empurrando-os de volta para baixo".
Segundo Geddy, o pensamento da banda sobre sua música mais recente até então, comparativamente mais acessível, não fazia questão de méritos já consolidados como o individualismo e compassos peculiares. Porém, "Subdivisions" ainda aborda questões relativamente graves, e certamente utiliza assinaturas de tempo bastante complexas.
Com sua dinâmica percussão e o tom pesado de sintetizadores, a canção utiliza como o pano de fundo inicial a realidade padronizada e monótona dos subúrbios - cenário vivenciado pelos próprios integrantes enquanto frequentavam o ensino médio - a partir do qual Peart pondera as subdivisões através de perspectivas sociais, geográficas, filosóficas e econômicas. "'Subdivisions', uma exploração do nosso passado como crianças dos subúrbios", ele explica. "É claro que um grande número de fãs traz o mesmo tipo de passado - é algo universal desses dias".
Ao invés de nomear favoritas, Peart sente que suas melhores letras estão nas canções marcadas por realizações pessoais criativas. "'Subdivisions' marcou a primeira vez que pude ser gráfico e autobiográfico".
"Queríamos que o álbum soasse diferente, e queríamos que a capa também trouxesse uma sensação diferente", diz Geddy. "Quando conversamos sobre Signals, Hugh [Syme] teve uma ideia para um nível humano básico - territorial ou mesmo sexual. Foi assim que surgiu o projeto com o cão e o hidrante. Já o pequeno mapa no verso dispõe de subdivisões de faz-de-conta, com um monte de nomes bobos e lugares. Os pontos vermelhos representam todos os hidrantes, e a coisa toda traça uma série de territórios".
Literalmente, o termo subdivision refere-se, nos Estados Unidos e Canadá, às divisões de terras em lotes menores e similares para habitações, visando o incremento de vendas e desenvolvimento. Tais empreendimentos foram, ao longo da história, o primeiro passo para a formação de vários bairros e até mesmo de cidades nesses países. A canção, que parte dessa conjuntura integrante do capitalismo moderno, pode ser dividida em três momentos, provocando alguns dos paradoxos clássicos e pensamentos sobre ciclos da vida: desde jovens que se sentem constrangidos pela monotonia de suas vidas padronizadas em subúrbios e periferias - estes que voltam todas as suas expectativas para os grandes centros - até as inúmeras dificuldades e exigências da coletivização da vida adulta nas metrópoles, pressões que nos levam a idealizar novamente a vida em locais mais tranquilos e serenos.
Apesar da sonoridade notadamente modificada, "Subdivisions" continua as clássicas assinaturas de tempo progressivas da banda. Essas variações métricas ressaltam as realidades suburbanas marcadas por suas subdivisões convencionais, comparadas a uma espécie de fronteira isolada entre as grandes cidades e as regiões interioranas. Inicialmente, há o desagrado com esses locais marcados pelo tédio, isolamento, exclusão e falta de perspectivas, mas logo percebe-se a ambivalência irônica em deixá-los. O efeito geral é o sentimento de inquietação constante, desenhados por uma interminável variedade de compassos que evocam os pensamentos do observador sobre a vida sintética e demasiadamente ordenada, sufocante, convencional e estéril.
A letra de Peart traz opiniões sobre o reconhecimento de jovens presos a tradições em uma realidade que não admite questionamentos. Estes, muitas vezes, devem seguir caminhos traçados por seus pais ou pelas próprias determinações da sociedade, que através de mecanismos como ensino subserviente, pode apenas designar direções para atender determinados padrões e papéis sociais. Como produto, temos possíveis efeitos colaterais como a depressão e frustrações, provenientes das ambições pessoais que são suprimidas por moldes de como se pensar e agir. O refrão de "Subdivisions" expõe a grande quantidade de pressões que comprometem o sentimento de identidade dos indivíduos, especialmente entre os jovens, pois a negação dos moldes costumeiros e coercitivos pode provocar constrangimentos, ridicularização, rótulos e isolamento. Partindo desse prisma, a canção também descreve a busca da juventude pelo escape em ambientes novos e atraentes, mas que nem sempre irão refletir as melhores escolhas para suas vidas.
A repetição do título por uma voz profunda reforça a enfática atuação de Geddy sobre o anseio por liberdade percebido em um ambiente invariável, preenchido apenas pelas exigências da conformidade, superficialidade e ortodoxia. "Subdivisions" soa como uma avaliação preocupada e realista que convida ao reconhecimento e ação, pensando profundamente sobre as pressões do meio que intimidam crenças, sonhos e valores pela manutenção de grupos sociais de anseios transitórios. Trata-se de um olhar sobre o poder opressivo das relações em sociedade, exaltando a defesa da autenticidade e a individualidade em ambientes cada vez mais hostis.
O segundo momento lírico de "Subdivisions" desenha o futuro, a vida adulta que traz principalmente a agitação profissional - imersa na rotina e em outros tipos de subdivisões que lhes são inerentes, como o tempo, responsabilidades, cobranças e compromissos. Quando jovens, somos atraídos pelas emoções e apelos exemplificados pelas metrópoles como mariposas que buscam fontes luminosas nas noites. Porém, o entusiasmo dá lugar à constância da selvagem dinâmica do capital, observação curiosa similar àquela surgida em "The Camera Eye" (do anterior Moving Pictures), que reforça a renovação de algumas das clássicas convicções anteriores de Peart. A vida não é o que se imaginava - as armadilhas do tempo nos levam a perder outras experiências valiosas pelos cronogramas rigorosos que nos são impostos. Os jovens buscam naturalmente a ação e um ritmo de vida dinâmico, algo que os subúrbios geralmente não podem oferecer, mas depois de serem tragados pela intensidade do amadurecimento novos sonhos podem brotar em suas mentes, trazendo o desejo oposto por ambientes mais harmoniosos, que ofereçam a tranquilidade e estabilidade do passado.
O vídeo promocional para "Subdivisions" tornou-se um dos mais notáveis já produzidos pela banda, por retratar fielmente todas as pontuações da canção. As cenas foram filmadas na cidade de Toronto, com trechos que mostram o centro e também o vasto subúrbio em Scarborough. As tomadas escolares foram gravadas no L'Amoreaux Collegiate Institute, e o jovem que protagoniza a história é Dave Glover, um estudante local (na época com dezessete anos) que havia realmente se mudado do interior para Scarborough. Nos instantes finais, ele aparece jogando compulsivamente o jogo Tempest, grande sucesso lançado pela Atari no ano de 1981. Já as cenas noturnas foram filmadas na gigantesca Yonge Street (ou Highway 11), famosa rua arterial de Toronto. Em alguns momentos, é possível notar os letreiros luminosos da Sam the Record Man, uma conhecida loja de discos do país. Por muitas décadas, os dois grandes neons que giravam em sua fachada representaram um verdadeiro símbolo para os amantes canadenses da música.
Durante muito tempo, acreditou-se ser de Mark Dailey (locutor da estação City-TV de Toronto) a voz misteriosa do refrão de "Subdivisions". Dailey sempre afirmou em entrevistas que não se lembrava de ter participado desse projeto, sendo sua voz verdadeiramente muito parecida com a de Peart. Anos mais tarde, o baterista confirmou em uma entrevista que ele mesmo fez o trecho.
Novamente, Peart prega a não-conformidade de uma vida coletiva, criticando as pressões sociais para que os indivíduos se encaixem em padrões a fim de cumprirem papéis determinados. De certa forma, "Subdivisions" expõe a vida e os posicionamentos tomados pela própria banda ao longo de sua carreira - jovens canadenses suburbanos que conseguiram alcançar seus sonhos negando consensos forçados, popularidade, modismos, futilidades e outros apelos, defendendo seus pontos de vista sempre longe do lugar comum. A sabedoria da banda consegue estender suas experiências pessoais na observação de tópicos como a segregação, a divisão de classes, exclusão social e as dificuldades do mundo do trabalho. O perfeccionismo, a complexidade, a originalidade e a entrega dos músicos fazem de "Subdivisions", certamente, um dos mais poderosos hinos da história do Rush.
Desde Fly By Night (1975), o Rush não entregava oito faixas em um único álbum, fato que já denota o momento singular. "Subdivisions" é constituída por um instrumental sinuoso, estabelecendo na introdução um dos muitos padrões de teclados que fundamentam quase toda construção. Jamais a banda havia utilizado sons eletrônicos de forma tão marcante, estes que envolvem aqui cerca de setenta e dois por cento da música, incluindo dois solos.
"O conceito de Signals foi bastante acidental (...) e 'Subdivisions' é a canção representante do álbum", explica Peart. "(...) A primeira música funciona como uma espécie de abertura para o resto do disco. 'Tom Sawyer' foi a que abriu Moving Pictures, e 'The Spirit of Radio' foi o mesmo para Permanent Waves. Dessa forma, seguimos um padrão nesse sentido".
"Estávamos de saco cheio da inatividade", continua. "Durante a mixagem de Exit... Stage Left, não havia muito para fazer, exceto dizer 'isso soa bem' ou 'isso não está legal'. Estava trabalhando em um pequeno estúdio, limpando e restaurando um velho kit de bateria da Hayman que estava encostado (...). Trabalhei algumas letras durante uns dias e 'Subdivisions' veio à tona, sendo uma exploração do passado de cada um de nós da banda (e provavelmente da maioria do nosso público)".
"Numa tarde, enquanto polia minha Ferrari 308 GTS (preta sobre vermelho; carro adorável), Alex e Ged voltaram do pequeno estúdio, armando um toca-fitas portátil na garagem para tocar pra mim as ideias musicais que tiveram. 'É um tanto estranho, né? Me deixe ouvir de novo'. Prestei bastante atenção, pegando as variações em 7/8 e 3/4 e percebendo o papel da guitarra na seção rítmica, enquanto os teclados assumiam a melodia retornando ao baixo, com a guitarra principal no refrão e o minimoog voltando para a ponte instrumental. 'Achei boa'. Eles sorriram".
"É uma canção muito incomum em termos líricos e musicais, mas com a qual conseguimos trabalhar. Foi composta em um momento em que não trabalhávamos de fato. Estávamos mixando um álbum ao vivo e começamos a brincar escrevendo uma nova canção, para nos divertir. Ela é muito séria em sua estrutura musical, talvez uma das mais complicadas que tivemos em termos de arranjos e percussão".
Geddy compôs a música nos teclados, referindo-se à ampla faixa de frequências como um "punch orgânico" feito em um Roland Jupiter-8, ao lado das tomadas com um Oberheim OB-X e um Minimoog. Como parte de um recomeço, Signals traz uma produção relativamente irregular, com os sintetizadores sufocando a guitarra de Alex Lifeson - fato inclusive reconhecido mais tarde pelo próprio baixista / tecladista.
"Em alguns lugares-chave, houve muita ênfase colocada nos teclados", diz Alex. "A mixagem de 'Subdivisions' sempre foi uma decepção para mim. Lembro-me de empurrar os faders para cima [a fim de aumentar os níveis de guitarra na mixagem] e Terry sorrindo empurrando-os de volta para baixo".
Segundo Geddy, o pensamento da banda sobre sua música mais recente até então, comparativamente mais acessível, não fazia questão de méritos já consolidados como o individualismo e compassos peculiares. Porém, "Subdivisions" ainda aborda questões relativamente graves, e certamente utiliza assinaturas de tempo bastante complexas.
Com sua dinâmica percussão e o tom pesado de sintetizadores, a canção utiliza como o pano de fundo inicial a realidade padronizada e monótona dos subúrbios - cenário vivenciado pelos próprios integrantes enquanto frequentavam o ensino médio - a partir do qual Peart pondera as subdivisões através de perspectivas sociais, geográficas, filosóficas e econômicas. "'Subdivisions', uma exploração do nosso passado como crianças dos subúrbios", ele explica. "É claro que um grande número de fãs traz o mesmo tipo de passado - é algo universal desses dias".
Ao invés de nomear favoritas, Peart sente que suas melhores letras estão nas canções marcadas por realizações pessoais criativas. "'Subdivisions' marcou a primeira vez que pude ser gráfico e autobiográfico".
"Queríamos que o álbum soasse diferente, e queríamos que a capa também trouxesse uma sensação diferente", diz Geddy. "Quando conversamos sobre Signals, Hugh [Syme] teve uma ideia para um nível humano básico - territorial ou mesmo sexual. Foi assim que surgiu o projeto com o cão e o hidrante. Já o pequeno mapa no verso dispõe de subdivisões de faz-de-conta, com um monte de nomes bobos e lugares. Os pontos vermelhos representam todos os hidrantes, e a coisa toda traça uma série de territórios".
Literalmente, o termo subdivision refere-se, nos Estados Unidos e Canadá, às divisões de terras em lotes menores e similares para habitações, visando o incremento de vendas e desenvolvimento. Tais empreendimentos foram, ao longo da história, o primeiro passo para a formação de vários bairros e até mesmo de cidades nesses países. A canção, que parte dessa conjuntura integrante do capitalismo moderno, pode ser dividida em três momentos, provocando alguns dos paradoxos clássicos e pensamentos sobre ciclos da vida: desde jovens que se sentem constrangidos pela monotonia de suas vidas padronizadas em subúrbios e periferias - estes que voltam todas as suas expectativas para os grandes centros - até as inúmeras dificuldades e exigências da coletivização da vida adulta nas metrópoles, pressões que nos levam a idealizar novamente a vida em locais mais tranquilos e serenos.
Apesar da sonoridade notadamente modificada, "Subdivisions" continua as clássicas assinaturas de tempo progressivas da banda. Essas variações métricas ressaltam as realidades suburbanas marcadas por suas subdivisões convencionais, comparadas a uma espécie de fronteira isolada entre as grandes cidades e as regiões interioranas. Inicialmente, há o desagrado com esses locais marcados pelo tédio, isolamento, exclusão e falta de perspectivas, mas logo percebe-se a ambivalência irônica em deixá-los. O efeito geral é o sentimento de inquietação constante, desenhados por uma interminável variedade de compassos que evocam os pensamentos do observador sobre a vida sintética e demasiadamente ordenada, sufocante, convencional e estéril.
A letra de Peart traz opiniões sobre o reconhecimento de jovens presos a tradições em uma realidade que não admite questionamentos. Estes, muitas vezes, devem seguir caminhos traçados por seus pais ou pelas próprias determinações da sociedade, que através de mecanismos como ensino subserviente, pode apenas designar direções para atender determinados padrões e papéis sociais. Como produto, temos possíveis efeitos colaterais como a depressão e frustrações, provenientes das ambições pessoais que são suprimidas por moldes de como se pensar e agir. O refrão de "Subdivisions" expõe a grande quantidade de pressões que comprometem o sentimento de identidade dos indivíduos, especialmente entre os jovens, pois a negação dos moldes costumeiros e coercitivos pode provocar constrangimentos, ridicularização, rótulos e isolamento. Partindo desse prisma, a canção também descreve a busca da juventude pelo escape em ambientes novos e atraentes, mas que nem sempre irão refletir as melhores escolhas para suas vidas.
A repetição do título por uma voz profunda reforça a enfática atuação de Geddy sobre o anseio por liberdade percebido em um ambiente invariável, preenchido apenas pelas exigências da conformidade, superficialidade e ortodoxia. "Subdivisions" soa como uma avaliação preocupada e realista que convida ao reconhecimento e ação, pensando profundamente sobre as pressões do meio que intimidam crenças, sonhos e valores pela manutenção de grupos sociais de anseios transitórios. Trata-se de um olhar sobre o poder opressivo das relações em sociedade, exaltando a defesa da autenticidade e a individualidade em ambientes cada vez mais hostis.
O segundo momento lírico de "Subdivisions" desenha o futuro, a vida adulta que traz principalmente a agitação profissional - imersa na rotina e em outros tipos de subdivisões que lhes são inerentes, como o tempo, responsabilidades, cobranças e compromissos. Quando jovens, somos atraídos pelas emoções e apelos exemplificados pelas metrópoles como mariposas que buscam fontes luminosas nas noites. Porém, o entusiasmo dá lugar à constância da selvagem dinâmica do capital, observação curiosa similar àquela surgida em "The Camera Eye" (do anterior Moving Pictures), que reforça a renovação de algumas das clássicas convicções anteriores de Peart. A vida não é o que se imaginava - as armadilhas do tempo nos levam a perder outras experiências valiosas pelos cronogramas rigorosos que nos são impostos. Os jovens buscam naturalmente a ação e um ritmo de vida dinâmico, algo que os subúrbios geralmente não podem oferecer, mas depois de serem tragados pela intensidade do amadurecimento novos sonhos podem brotar em suas mentes, trazendo o desejo oposto por ambientes mais harmoniosos, que ofereçam a tranquilidade e estabilidade do passado.
O vídeo promocional para "Subdivisions" tornou-se um dos mais notáveis já produzidos pela banda, por retratar fielmente todas as pontuações da canção. As cenas foram filmadas na cidade de Toronto, com trechos que mostram o centro e também o vasto subúrbio em Scarborough. As tomadas escolares foram gravadas no L'Amoreaux Collegiate Institute, e o jovem que protagoniza a história é Dave Glover, um estudante local (na época com dezessete anos) que havia realmente se mudado do interior para Scarborough. Nos instantes finais, ele aparece jogando compulsivamente o jogo Tempest, grande sucesso lançado pela Atari no ano de 1981. Já as cenas noturnas foram filmadas na gigantesca Yonge Street (ou Highway 11), famosa rua arterial de Toronto. Em alguns momentos, é possível notar os letreiros luminosos da Sam the Record Man, uma conhecida loja de discos do país. Por muitas décadas, os dois grandes neons que giravam em sua fachada representaram um verdadeiro símbolo para os amantes canadenses da música.
Durante muito tempo, acreditou-se ser de Mark Dailey (locutor da estação City-TV de Toronto) a voz misteriosa do refrão de "Subdivisions". Dailey sempre afirmou em entrevistas que não se lembrava de ter participado desse projeto, sendo sua voz verdadeiramente muito parecida com a de Peart. Anos mais tarde, o baterista confirmou em uma entrevista que ele mesmo fez o trecho.
Novamente, Peart prega a não-conformidade de uma vida coletiva, criticando as pressões sociais para que os indivíduos se encaixem em padrões a fim de cumprirem papéis determinados. De certa forma, "Subdivisions" expõe a vida e os posicionamentos tomados pela própria banda ao longo de sua carreira - jovens canadenses suburbanos que conseguiram alcançar seus sonhos negando consensos forçados, popularidade, modismos, futilidades e outros apelos, defendendo seus pontos de vista sempre longe do lugar comum. A sabedoria da banda consegue estender suas experiências pessoais na observação de tópicos como a segregação, a divisão de classes, exclusão social e as dificuldades do mundo do trabalho. O perfeccionismo, a complexidade, a originalidade e a entrega dos músicos fazem de "Subdivisions", certamente, um dos mais poderosos hinos da história do Rush.
© 2015 Rush Fã-Clube Brasil
SHARP, K. "Grace Under Fire". Music Express Magazine. June 1984.
ARMBRUSTER, G. "Geddy Lee Of Rush". Keyboard Magazine. September 1984.
KREWEN, N. "Presto Change-O". Canadian Musician Magazine. April 1990.
GETT, S. "Rush: In The Beginning". Sounds Fan Library. January 1983.
LING, D. "The Albums That Saved Prog: Signals and "It's Prog, Jim..."". PROG Magazine / February 2014 - Issue #43.
STEVENSON, J. "Neil Peart". Jam!Showbiz. March 26, 2010.