VITAL SIGNS



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WITCH HUNT  VITAL SIGNS  SUBDIVISIONS


VITAL SIGNS

Unstable condition,
A symptom of life,
In mental and environmental change

Atmospheric disturbance,
The feverish flux
Of human interface and interchange

The impulse is pure;
Sometimes our circuits get shorted
By external interference

Signals get crossed
And the balance distorted
By internal incoherence


A tired mind become a shape-shifter,
Everybody need a mood lifter,
Everybody need reverse polarity
Everybody got mixed feelings
About the function and the form
Everybody got to deviate from the norm

An ounce of perception,
A pound of obscure
Process information at half speed
Pause, rewind, replay,
Warm memory chip,
Random sample, hold the one you need

Leave out the fiction,
The fact is, this friction
Will only be worn by persistence

Leave out conditions,
Courageous convictions
Will drag the dream into existence


A tired mind become a shape-shifter,
Everybody need a soft filter,
Everybody need reverse polarity
Everybody got mixed feelings
About the function and the form
Everybody got to elevate from the norm...
SINAIS VITAIS

Condição instável,
Um sintoma de vida,
Em mudança mental e ambiental

Distúrbio atmosférico,
O fluxo febril
Da interface e do intercâmbio humano

O impulso é puro;
Às vezes nossos circuitos entram em curto
Por interferência externa

Sinais se cruzam
E o equilíbrio é deformado
Pela incoerência interna


Uma mente gasta se torna um metamorfo,
Todos precisam de um levantador de humor,
Todos precisam inverter a polaridade
Todos têm sentimentos confusos
Sobre a função e a forma
Todos têm que se desviar do padrão

Uma onça de percepção,
Uma libra de obscuridade
Processam a informação na metade da velocidade
Pausa, rebobinar, replay,
Chip de memória aquecido,
Amostra aleatória, pegue o que você precisa

Deixe a ficção de fora,
O fato é que, essa fricção
Só será usada pela persistência

Deixe as condições de fora,
Convicções corajosas
Arrastarão o sonho para a existência


Uma mente gasta se torna um metamorfo,
Todos precisam de um foco suave,
Todos precisam inverter a polaridade
Todos têm sentimentos confusos
Sobre a função e a forma
Todos têm que se sobrepor ao padrão...


Música por Geddy Lee e Alex Lifeson / Letra por Neil Peart


Metáforas tecnológicas que desenham a natureza humana, pontuando suas interações e reações

Fechando Moving Pictures, temos a faixa que define os novos caminhos que seriam trilhados pelo Rush na década de 1980: "Vital Signs". Constituída por fortíssimas influências e direcionamentos da flamejante new wave, essa composição especial destaca-se como outra marcante peça no conjunto de criações do trio, mesmo apresentando uma significativa quantidade de inovações musicais e líricas. A sétima canção do disco, sem dúvidas, funciona como uma verdadeira coleção das intenções da banda para os próximos anos.

De certa forma profética, "Vital Signs" revela muito dos elementos que seriam fortemente absorvidos pela música do Rush. Influências nítidas de bandas como Ultravox, Talking Heads e inegavelmente The Police fariam não somente Lifeson irromper uma Fender Telecaster para conseguir o tom nítido de Andy Summers, mas também Peart utilizar uma caixa fina e bateria eletrônica similares ao aparato de Stewart Copeland e Lee apresentar linhas de baixo nos versos marcadas por riffs mais angulares e melódicos. Com refrões muito enxutos e sintetizadores permeados por guitarras como o alicerce estrutural e textural, tudo acontece entre os toques secos do baterista - a pegada ska muito destacada e uma nova aplicação de influências do reggae, este ainda mais proeminente que no pequeno e marcante trecho de "The Spirit of Radio" (do anterior Permanent Waves, de 1980).

Nesse período, o Rush trazia como um dos seus traços permitir uma lacuna no grupo de composições, a fim de conceber uma canção inteiramente no estúdio e próximo do fim dos trabalhos (a fim de captar toda a espontaneidade e pressão do momento e do ambiente). Assim como "The Twilight Zone" (de 2112, 1976) e "Natural Science" (de Permanent Waves, 1980), "Vital Signs" nasceu dessa forma para Moving Pictures.

"Essas nossas composições de última hora sempre nos levaram para os mais diversos caminhos", explica Lee. "Você compõe e grava em um curto espaço de tempo, então o trabalho de pensar sobre a faixa acaba sendo mínimo. Eu adoro esse tipo de atitude. 'Vital Signs' também é percussora no sentido do nosso envolvimento com sequenciadores, sendo a primeira vez que Neil usou uma bateria eletrônica em um disco do Rush. Em Permanent Waves, sua bateria ainda era orgânica, sem os pads eletrônicos".

"Era tudo muito positivo e bacana no estúdio"
, lembra Lifeson. "Nos divertimos pra valer e creio que as canções do álbum expõem exatamente isso. Fomos beneficiados também por conseguirmos um tempo maior para compor dessa vez, estando mais preparados e seguros para criar mais um tema inteiramente no estúdio, o que rendeu 'Vital Signs'. Moving Pictures traz algumas músicas longas, mas buscávamos ser mais concisos em nossas partes. Utilizar efeitos e fazer meu som soar mais processado me possibilitou explorar outros espaços dentro da canção, e também criar diferentes texturas. Isso tornou nossa sonoridade mais livre e solta, principalmente no processo de composição. Foi um período muito divertido, pois fazíamos longos temas de vinte minutos baseados em ficção científica, o que se tornou chato demais. The Edge e Andy Summers estavam entre meus guitarristas favoritos na época, e me influenciaram bastante".

"Sim, foi influência do Police no começo. Seus ritmos, seus sons - foi tão emocionante quanto quando o Cream apareceu. Para nós, foi uma questão de usar essas novas influências da new wave de maneira melhorada, não degradando o que fazíamos. Quando Geddy veio com os teclados, parecia uma progressão natural - estávamos tentando expandir nossa paleta de sons. Como o Police, não queríamos estar limitados ao paradigma de power trio".


Inaugurando a disposição do Rush em incorporar a tecnologia para além de pontos sintetizados ocasionais, o que pode ser notado de imediato na introdução semi-experimental, "Vital Signs" também solidifica as tomadas menos extensas e já exploradas com destaque desde Permanent Waves, reunindo variadas influências musicais e também propondo uma espécie de renovação para a pegada lírica de Peart, esta que passaria a observar peculiaridades da natureza humana realçadas por metáforas e poesias sempre muito perspicazes.

Segundo o letrista, o tema de "Vital Signs" funciona primeiramente como uma espécie de resposta às terminologias dos eletrônicos e computadores, fazendo uso de vários desses elementos para tentar explicar algumas das características das relações, intervenções, influências e reações dos indivíduos com o ambiente e com os grupos nos quais estão inseridos.

"'Vital Signs' é eclética ao extremo", afirma Peart. "Musicalmente, ela resume uma grande variedade de influências, desde os anos 60. Liricamente, a canção é derivada da minha resposta à terminologia do 'papo tecnológico', o idioma de eletrônicos e computadores que muitas vezes parecem fazer um paralelo com a máquina humana, nas funções e inter-relações que empregam. É interessante, senão irrelevante, especular se impomos nossa natureza nas máquinas que construímos, ou se essas são regidas apenas pelas leis inescrutáveis da natureza, da mesma forma como nós (talvez as leis de Murphy?)".

"Ao fim de um álbum, é impossível prever quais faixas serão populares de verdade ou não, e geralmente ficamos surpresos com canções como 'Vital Signs'. Na época, era uma composição bem transicional. Todos tinham sentimentos diversos sobre ela, mas ao mesmo tempo expressava algo essencial que eu queria dizer. É uma canção que tem um bom casamento entre vocais e letra, com o qual fiquei muito feliz. Porém, precisou de tempo para ser entendida por nosso público, pois era ritmicamente muito diferente para nós e exigia que as pessoas respondessem de uma forma ritmicamente diferente. Não havia nela uma regra de compasso: era toda em contratempos, do começo ao fim, havendo também uma reflexão da influência do reggae e de áreas mais refinadas da new wave, estas que tivemos que colocar debaixo do guarda-chuva para fazer acontecer. A música levou três horas pra acertarmos, era um tipo de bebê pra gente. Continuamos a tocá-la e não desistimos. Ainda acho que representa uma culminação - a melhor combinação de música, letra e ritmo que fizemos. Ela abre várias abordagens musicalmente, desde ser simples e mínima e se tornar muito interessante ao vivo. Tudo que queríamos na música está lá, logo, ela é muito especial".

"Foi muito fácil de compor"
, lembra Geddy. "Escrevemos no estúdio em cerca de cinco minutos. Apenas juntamos as partes rapidamente, algo que foi muito divertido de fazer. Ainda é muito divertida de tocar, sendo o lado mais peculiar do som do Rush. Acho que há sempre essa necessidade - a de dar diversidade ao seu som".

Moving Pictures é uma espécie de ponto de partida para o Rush, trazendo ênfase na melodia vocal e no fluxo rítmico intensificado. "É o primeiro álbum que tivemos de fato permissão para respirar, na medida que o ritmo segue", afirma o vocalista. "Nos prendemos a um groove ou momento, e ficamos por lá".

"Foi a primeira vez que fiz algo assim, pois quase sempre gravo minhas guitarras duas vezes para um som melhor, mais encorpado"
, explica Lifeson. "Dessa vez, buscamos um som particular e mais individual. É muito limpo e brilhante".

A forma mais concisa da maioria das canções do álbum também afetou as letras de Peart. Elas estão mais finamente trabalhadas que nos discos anteriores, o que levou o letrista a perceber que a disciplina de escrever versos lhe fez passar um longo período sendo "gótico e decorativo sobre as coisas". Tendo em vista os romancistas ingleses que leu quando jovem, como Jane Austen e Thomas Hardy, seu estilo lhe parecia excessivo agora.

Conforme "Vital Signs" é construída, Peart libera novamente seus plenos poderes na bateria, pontuando e enfatizando o cantar apaixonado de Lee. Essa sinergia explica o porquê das canções do Rush ressoarem tão profundamente na inspiração de tantas pessoas. Ao atuar com palavras, Peart mostra estar intimamente familiarizado com a abrangência dos seus significados, trazendo preenchimentos e toques sempre de acordo com as sublimes vocalizações criadas pelo baixista. Por sua parte, Geddy explica que o processo de composição é uma "colaboração feliz", e que não canta as ideias de Peart a menos que as ame de verdade, podendo assim colocar seu "coração e alma" no desempenho. Esses poderes combinados criam um impacto orgânico único no ouvinte, similar à essência não-musical e sem adornos de um tratado filosófico.

Partindo das terminologias essencialmente eletrônicas, talvez influenciadas pela paixão pela ciência e tecnologia e também pelas inovações dos vários equipamentos e recursos utilizados pela banda no estúdio, Peart examina e descreve de forma bastante introspectiva o maravilhoso fluxo das relações humanas, observando algumas de suas infinitas dinâmicas internas e externas. O letrista se empenha (de maneira incomum e detalhadamente magistral) na leitura de emoções, mal-entendidos e memórias que constituem nossa natureza imprevisível. Enquanto "The Camera Eye" trazia a agitação e a solidão das vidas que compõem as multidões nas grandes cidades, "Vital Signs" capta aspectos psicológicos como um vigoroso frenesi elétrico, estes que fluem como uma corrente de elétrons dentro de um pequeno chip de silício. Trata-se, portanto, de um incrível olhar para o homem como um complexo maquinário hi-tech.

"Vital Signs" é bastante abrangente, abordando temas como as facetas da mente e do livre-arbítrio, bem como nossa capacidade de buscar sonhos com base em valores fundamentais. A questão, prenunciada em "Something For Nothing" (2112, 1976) traduz algumas das formas de se alcançar essas aspirações. Na primeira canção, Peart se comunica vigorosamente com a necessidade óbvia do trabalho para alcance de sonhos, porém em "Vital Signs" especifica outras virtudes que devem ser desenvolvidas e totalmente engajadas para que tenham chances de realização. O ritmo peculiar e relativamente livre é bem apropriado para enquadrar um apelo apaixonado, que sugere o evitar do vício da conformidade através da coragem e persistência.

A canção tem início com versos que descrevem alguém em conflito, lutando com questões internas bastante inquietantes. A sensação de modernidade corresponde de imediato às intenções do letrista, com palavras seletas descrevendo muito bem os momentos de incertezas. A instabilidade aparece como uma condição da vida, dentro e fora de nós. Há a instituição das dualidades que seriam marcantes nos conceitos de Peart, aqui representadas pelo ambiente que muda por nossas perspectivas, e pelo ambiente que força e que molda nossas escolhas.

O indivíduo é projetado como alguém abalado por impasses relacionais, talvez provocados e exacerbados pelo meio. Ele é autoconsciente o suficiente para saber que suas expectativas não aconteceram como o esperado, descrevendo suas questões de maneira acurada através da tecnologia, que o ajuda nesse autoconhecimento. Inicialmente há o romantismo - no fundo ele acredita que nós, seres humanos, somos muito capazes, e que nossos sentimentos são sempre válidos. Porém, reações impulsivas e precipitadas nos causam algo proposto como uma espécie de curto circuito, que sabota as questões criando incoerências e confusões internas, resultado da incompreensão da situação real.

O refrão de "Vital Signs" é disposto de maneira contundente - interpretamos precariamente nossos próprios sinais e os sinais que chegam até nós. Para Peart, devemos ao menos tentar encarar as inúmeras situações relacionais que compõem nossa vivência de maneira objetiva, de modo a evitar mal-entendidos, substituindo reações impulsivas pela escuta empática. Uma mente cansada pode alterar percepções, influenciando o estado de espírito e provocando descontrole. Pensamentos vem e vão, e a chave é reconhecê-los antes que os mesmos influenciem comportamentos contrários aos nossos valores reais.

Ao longo da canção, as virtudes implícitas são a autenticidade e a autodeterminação, uma correlação com o estado desejável da não-conformidade (o que não é novidade, tendo que em vista que tais elementos se encontram bem estabelecidos no quadro de aplicações do letrista). Parte do que torna compreensíveis e convincentes as lições idealistas e de esperança de "Vital Signs" é o retrato desafiador da condição humana, que Peart esboça em seus repetidos apelos para que nos desviemos dos padrões e que nos elevemos sobre eles.

"Vital Signs" propõe uma perseguição de sonhos e ideais sem desculpas. A fonte dos nossos impasses internos é o "atrito" - a resistência da realidade por barreiras físicas e psicológicas, de autolimitações que reduzem a vitalidade por nossa própria prostração. Mas há também, externamente, os valores, julgamentos e comportamentos de outras pessoas, muitos dos quais também vindo à tona como manifestações de dramas internalizados. Para superar o atrito, precisamos de persistência. O esforço constante desgasta as forças opostas, sendo portanto a resistência o ponto fundamental na longa viagem da vida. A inspiração deve estar presente, mas é o suor que transforma os sonhos em realidade. A coragem é invocada para que possamos superar nossos medos, bem como as ameaças do mundo ao redor.

Peart estimula o ouvinte a buscar pensamentos reflexivos sobre as melhores formas de viver, observando circunstâncias, momentos e sonhos em uma completa interação. "Vital Signs", sob inúmeros aspectos musicais e líricos, define a tomada de direção do Rush dali para frente, como um olhar para o futuro que sempre pontuará a gloriosa carreira da banda.

© 2015 Rush Fã-Clube Brasil

BANASIEWICZ, B. "Rush Visions: The Official Biography". Omnibus Press, 1987.
PRICE, Carol S. PRICE, Robert M. "Mystic Rhythms: The Philosophical Vision of Rush". Borgo Press, 1999.