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NOCTURNE FREEZE OUT OF THE CRADLE
FREEZE (PART IV OF "FEAR")
The city crouches, steaming
In the early morning half-light
The sun is still a rumor
And the night is still a threat
Slipping through the dark streets
And the echoes and the shadows
Something stirs behind me
And my palms begin to sweat
Sometimes I freeze - until the light comes
Sometimes I fly - into the night
Sometimes I fight - against the darkness
Sometimes I'm wrong - sometimes I'm right
Coiled for the spring
Or caught like a creature in the headlights
Into a desperate panic
Or a tempest of blind fury
Like a cornered beast
Or a conquering hero
The menace threatens, closing
And I'm frozen in the shadows
I'm not prepared to run away
And I'm not prepared to fight
I can't stand to reason
Or surrender to a reflex
I will trust my instincts
Or surrender to my fright
Sometimes we freeze - until the light comes
Sometimes we're wrong - and sometimes we're right
Sometimes we fight - against the darkness
Sometimes we fly - into the night
Blood running cold
Mind going down into a dark night
Of a desperate panic
Or a tempest of blind fury
Like a cornered beast
Or a conquering hero
Sometimes I freeze
Sometimes I fight
Sometimes I fly
Into the night
The city crouches, steaming
In the early morning half-light
The sun is still a rumor
And the night is still a threat
Slipping through the dark streets
And the echoes and the shadows
Something stirs behind me
And my palms begin to sweat
Sometimes I freeze - until the light comes
Sometimes I fly - into the night
Sometimes I fight - against the darkness
Sometimes I'm wrong - sometimes I'm right
Coiled for the spring
Or caught like a creature in the headlights
Into a desperate panic
Or a tempest of blind fury
Like a cornered beast
Or a conquering hero
The menace threatens, closing
And I'm frozen in the shadows
I'm not prepared to run away
And I'm not prepared to fight
I can't stand to reason
Or surrender to a reflex
I will trust my instincts
Or surrender to my fright
Sometimes we freeze - until the light comes
Sometimes we're wrong - and sometimes we're right
Sometimes we fight - against the darkness
Sometimes we fly - into the night
Blood running cold
Mind going down into a dark night
Of a desperate panic
Or a tempest of blind fury
Like a cornered beast
Or a conquering hero
Sometimes I freeze
Sometimes I fight
Sometimes I fly
Into the night
CONGELAMENTO (Parte IV da quadrilogia MEDO)
A cidade se agacha, fumegante
Na penumbra do início da manhã
O sol ainda é um rumor
E a noite ainda uma ameaça
Escorregando pelas ruas escuras
E os ecos e as sombras
Algo se agita atrás de mim
E minhas mãos começam a suar
Às vezes congelo - até que a luz venha
Às vezes voo - noite adentro
Às vezes luto - contra a escuridão
Às vezes estou errado - às vezes estou certo
Como uma mola espiral
Ou capturado como uma criatura sob faróis
Num pânico desesperado
Ou numa tempestade de fúria cega
Como um animal encurralado
Ou um herói conquistador
O perigo ameaça, se aproximando
E fico congelado nas sombras
Não estou preparado para fugir
E não estou preparado para lutar
Não posso perder a razão
Ou me render a um reflexo
Confiarei nos meus instintos
Ou me renderei ao meu pavor
Às vezes congelamos - até que a luz venha
Às vezes estamos errados - e às vezes estamos certos
Às vezes lutamos - contra a escuridão
Às vezes voamos - noite adentro
Sangue correndo frio
Mente desabando numa noite escura
De pânico desesperado
Ou de uma tempestade de fúria cega
Como um animal encurralado
Ou um herói conquistador
Às vezes congelo
Às vezes luto
Às vezes voo
Noite adentro
A cidade se agacha, fumegante
Na penumbra do início da manhã
O sol ainda é um rumor
E a noite ainda uma ameaça
Escorregando pelas ruas escuras
E os ecos e as sombras
Algo se agita atrás de mim
E minhas mãos começam a suar
Às vezes congelo - até que a luz venha
Às vezes voo - noite adentro
Às vezes luto - contra a escuridão
Às vezes estou errado - às vezes estou certo
Como uma mola espiral
Ou capturado como uma criatura sob faróis
Num pânico desesperado
Ou numa tempestade de fúria cega
Como um animal encurralado
Ou um herói conquistador
O perigo ameaça, se aproximando
E fico congelado nas sombras
Não estou preparado para fugir
E não estou preparado para lutar
Não posso perder a razão
Ou me render a um reflexo
Confiarei nos meus instintos
Ou me renderei ao meu pavor
Às vezes congelamos - até que a luz venha
Às vezes estamos errados - e às vezes estamos certos
Às vezes lutamos - contra a escuridão
Às vezes voamos - noite adentro
Sangue correndo frio
Mente desabando numa noite escura
De pânico desesperado
Ou de uma tempestade de fúria cega
Como um animal encurralado
Ou um herói conquistador
Às vezes congelo
Às vezes luto
Às vezes voo
Noite adentro
Uma descrição poética sobre o enfrentamento dos medos
"Freeze" é a penúltima faixa de Vapor Trails. Sua construção intrincada e dramática remete, sem esforço, ao poderio inconfundível do Rush clássico. Trata-se de uma composição com roupagem estonteante e de ares sempre progressivos, algo que somente uma banda de grande entrosamento e com tanto tempo de estrada conseguiria fazer soar de maneira tão natural. Ao longo de cenários musicais distintos, as deslumbrantes guitarras de Alex Lifeson desaguam sensações hipnotizantes e incomuns, todas perfeitamente aliadas à bateria e linhas de baixo matematicamente calculadas. Todos os atributos são coroados por vocais magníficos de Geddy Lee, estes que lidam de forma fascinante com o medo do desconhecido e fobias.
"Paul Northfield incentivou nossas 'excentricidades' nas canções que surgiram mais tarde, como 'Freeze'", lembra Neil Peart. "As linhas de bateria me tomaram dois dias de trabalho e refinamento".
A complexidade musical marcante em "Freeze", que revive padrões rítmicos do mágico período de produções entre os álbuns Hemispheres (1978) e Moving Pictures (1981), é marcada por toques milimétricos e variados já nos primeiros momentos. A precisão da cozinha, totalmente sincopada, é acionada por padrões que não seguem um compasso em si. As paredes de guitarras dos refrões se revelam como um grande deleite, e a sensibilidade dos tambores ajuda a transmitir o panorama ideal para o tema. "Freeze" ainda reserva um belíssimo trecho instrumental, no qual Geddy, utilizando técnicas de sustain e vibrato, alcança notas extremamente agudas - similares àquelas que caracterizaram seus trabalhos com a banda no fim da década de 1970.
"Sentimos que o disco deveria ser o mais natural possível", diz Alex. "Fomos aprendendo a ser uma banda novamente. Pode ser algo difícil de se fazer quando se está envelhecendo, e após passar por um verdadeiro inferno".
"Estávamos loucos para trabalhar num compasso insano, pois não fazíamos isso há algum tempo", afirma Geddy. "Dessa forma, caímos nessa jam. Tive a ideia de construí-la digitalmente, totalmente em torno da letra. Quanto mais eu tocava no computador, mais estranho os compassos ficavam. Decidi que o baixo e a guitarra deveriam ser repetitivos e hipnóticos, jogando fora todas as regras de compasso: dei forma ao tempo de cada seção nos versos com o número de batidas necessárias para que encaixassem perfeitamente nos vocais. Por isso é tão difícil de contar a música - não há regras quanto à queda e adição das batidas. A seção intermediária veio de uma jam com baixo e guitarra, a qual deixamos praticamente intacta".
Tematicamente similar a "Between Sun & Moon" (de Counterparts, 1993), Neil Peart produz novamente versos excelsos para descrever sentimentos e atitudes humanas obscuras, dessa vez abordando a linha tênue da hesitação entre fugir ou encarar os medos - momento que define como congelamento. Após dezenove anos, "Freeze" surge para dar sequência à série Fear, esta que, originalmente, consistia numa trilogia de composições que abarcavam formas diferentes e complementares do sentimento. Perdurando por três álbuns subsequentes do começo da década de 1980, a série tem início em Moving Pictures, partindo em sentido inverso com a canção "Witch Hunt", que abordava as possibilidades catastróficas de grupos acuados e movidos pelo medo. Em seguida, no álbum Signals (1982), a parte II aparece com "The Weapon", expondo o medo na forma de opressão contra o indivíduo. Já a primeira parte é trabalhada em "The Enemy Within", de Grace Under Pressure (1984), trazendo os efeitos de medos e fobias no âmbito interno.
Segundo Peart, a ideia da série surgiu após uma conversa com um homem idoso que conheceu por acaso, este que dizia que não achava que a vida era governada pelo amor, razão, dinheiro ou pela busca da felicidade - mas sim pelo medo. Ele defendia que as ações da maioria das pessoas são motivadas, por exemplo, pelo medo sentir fome, pelo medo de ser ferido, pelo medo de estar sozinho, medo de ser roubado, etc., afirmando que as mesmas não fazem escolhas com base na esperança de que algo bom irá acontecer, mas com medo de algo ruim.
Mesmo com a trilogia já concluída, Peart decide retomar a investida, possivelmente movido por seus próprios dramas. Nas três partes originais, é notória sua dedicação em tentar expressar o âmbito espacial e algumas faces do medo, observando desdobramentos em grupos de pessoas afetadas, indivíduos oprimidos e aqueles perturbados internamente. Tais características são analisadas separadamente, mas podem ser interligadas representando até mesmo as causas e consequências umas das outras. A motivação primordial da sequencia inversa foi a facilidade que o letrista encontrou para tratar do primeiro tema lançado (olhando de fora e para dentro), e "Freeze" acaba funcionando como um adendo - uma sugestão de enfrentamento motivada pelas experiências particulares vividas em seu exílio.
De acordo com o criador da psicanálise Sigmund Freud (1856 - 1939), o medo é um sentimento normal que sinaliza situações que exigem atitude de fuga ou ataque, onde o organismo se prepara para uma ação rápida, forte e intensa. Trata-se de um dispositivo fundamental para a proteção da espécie, emergindo diante de algo iminente e apropriado à situação vivida. Já as fobias refletem medos desequilibrados e desproporcionais, estes que causam enorme angústia e que inclusive paralisam o indivíduo, impedindo-o de manifestar sua atitude natural de defesa. Os agentes disparadores podem ser provenientes de qualquer situação que aponte a perda do controle, mesmo que o verdadeiro motivo não esteja no objeto externo escolhido pelo inconsciente para incendiar a crise, mas em algo mais profundo não acessível à consciência do afetado. Contudo, a identificação desse objeto pode não ser visível (dada a intensidade dos sintomas envolvidos), revelando-se assim como um significante enigmático ainda mais assustador por não ter rosto nem nome.
Freud classificou as fobias como sintomas relacionados às defesas de situações que despertam sentimentos de angústia intensa, estando relacionadas à experiências traumáticas passadas imaginárias ou reais. O verdadeiro objeto do medo pode ser desconhecido, recalcado nas profundezas do inconsciente, e por isso o psiquismo escolhe algo disponível no mundo real para transferir a intensidade de tais sensações assustadoras não acessíveis para a consciência. Diante de situações particularmente ameaçadoras, a mente procura se defender com o esquecimento sendo seu primeiro movimento, desligando a aflição da memória consciente. Tal mecanismo, contudo, não consegue finalizar esses elementos, cuja intensidade pede caminho para poder ser descarregada em algum componente do mundo externo, escolhido geralmente de forma associativa por lembrar a situação esquecida.
De acordo com a afirmação do psicanalista francês Jean Laplanche (1924 - 2012), a fobia é uma consequência de um resíduo irresolvido da história de vida do indivíduo, este que foge do objeto fóbico até onde pode. Porém, tal angústia insuportável pode, em algum um momento, paralisar a própria vida, causando prejuízos ainda maiores. Nesse momento é importante reconhecer que algo está errado, buscando o enfrentamento dos medos e compreendendo os motivos reais dos temores. Segundo o próprio Peart, foi preciso muito trabalho para controlar ataques de pânico desde um acidente sofrido na infância, quando alguns adolescentes quase o levaram a se afogar, impedindo-o de subir em uma balsa após estar exausto por ter nadado antes com eles.
Quando o medo aluga a mente, acaba levando o indivíduo a abrir mão de boa parte da sua própria existência. Pensar no teor de "Freeze" traz a lembrança de que a vida começa com o fim dessas zonas de conforto. Encarar os medos amplia os horizontes, e Peart, antes congelado nas profundezas escuras de uma vida devastada, escolheu transpor as marés paralisantes enfrentando seus demônios, buscando retomar seu rumo.
A carta que representa "Freeze" no tarô é o Oito de Espadas. Ela mostra o momento em que o indivíduo percebe que tem argumentos para defender suas ideias, reconhecendo suas armas, suas capacidades e perdendo o medo de enfrentar certas situações que temia. Ela fala de luta, do uso de competência, do esforço de libertação através de uma evolução interior resultante de suas atividades mentais. Como lição de vida sugere mudança: abandono de hábitos e de formas de pensamento e sentimentos, partindo para uma vida com novas sequências.
© 2016 Rush Fã-Clube Brasil
"Freeze" é a penúltima faixa de Vapor Trails. Sua construção intrincada e dramática remete, sem esforço, ao poderio inconfundível do Rush clássico. Trata-se de uma composição com roupagem estonteante e de ares sempre progressivos, algo que somente uma banda de grande entrosamento e com tanto tempo de estrada conseguiria fazer soar de maneira tão natural. Ao longo de cenários musicais distintos, as deslumbrantes guitarras de Alex Lifeson desaguam sensações hipnotizantes e incomuns, todas perfeitamente aliadas à bateria e linhas de baixo matematicamente calculadas. Todos os atributos são coroados por vocais magníficos de Geddy Lee, estes que lidam de forma fascinante com o medo do desconhecido e fobias.
"Paul Northfield incentivou nossas 'excentricidades' nas canções que surgiram mais tarde, como 'Freeze'", lembra Neil Peart. "As linhas de bateria me tomaram dois dias de trabalho e refinamento".
A complexidade musical marcante em "Freeze", que revive padrões rítmicos do mágico período de produções entre os álbuns Hemispheres (1978) e Moving Pictures (1981), é marcada por toques milimétricos e variados já nos primeiros momentos. A precisão da cozinha, totalmente sincopada, é acionada por padrões que não seguem um compasso em si. As paredes de guitarras dos refrões se revelam como um grande deleite, e a sensibilidade dos tambores ajuda a transmitir o panorama ideal para o tema. "Freeze" ainda reserva um belíssimo trecho instrumental, no qual Geddy, utilizando técnicas de sustain e vibrato, alcança notas extremamente agudas - similares àquelas que caracterizaram seus trabalhos com a banda no fim da década de 1970.
"Sentimos que o disco deveria ser o mais natural possível", diz Alex. "Fomos aprendendo a ser uma banda novamente. Pode ser algo difícil de se fazer quando se está envelhecendo, e após passar por um verdadeiro inferno".
"Estávamos loucos para trabalhar num compasso insano, pois não fazíamos isso há algum tempo", afirma Geddy. "Dessa forma, caímos nessa jam. Tive a ideia de construí-la digitalmente, totalmente em torno da letra. Quanto mais eu tocava no computador, mais estranho os compassos ficavam. Decidi que o baixo e a guitarra deveriam ser repetitivos e hipnóticos, jogando fora todas as regras de compasso: dei forma ao tempo de cada seção nos versos com o número de batidas necessárias para que encaixassem perfeitamente nos vocais. Por isso é tão difícil de contar a música - não há regras quanto à queda e adição das batidas. A seção intermediária veio de uma jam com baixo e guitarra, a qual deixamos praticamente intacta".
Tematicamente similar a "Between Sun & Moon" (de Counterparts, 1993), Neil Peart produz novamente versos excelsos para descrever sentimentos e atitudes humanas obscuras, dessa vez abordando a linha tênue da hesitação entre fugir ou encarar os medos - momento que define como congelamento. Após dezenove anos, "Freeze" surge para dar sequência à série Fear, esta que, originalmente, consistia numa trilogia de composições que abarcavam formas diferentes e complementares do sentimento. Perdurando por três álbuns subsequentes do começo da década de 1980, a série tem início em Moving Pictures, partindo em sentido inverso com a canção "Witch Hunt", que abordava as possibilidades catastróficas de grupos acuados e movidos pelo medo. Em seguida, no álbum Signals (1982), a parte II aparece com "The Weapon", expondo o medo na forma de opressão contra o indivíduo. Já a primeira parte é trabalhada em "The Enemy Within", de Grace Under Pressure (1984), trazendo os efeitos de medos e fobias no âmbito interno.
Segundo Peart, a ideia da série surgiu após uma conversa com um homem idoso que conheceu por acaso, este que dizia que não achava que a vida era governada pelo amor, razão, dinheiro ou pela busca da felicidade - mas sim pelo medo. Ele defendia que as ações da maioria das pessoas são motivadas, por exemplo, pelo medo sentir fome, pelo medo de ser ferido, pelo medo de estar sozinho, medo de ser roubado, etc., afirmando que as mesmas não fazem escolhas com base na esperança de que algo bom irá acontecer, mas com medo de algo ruim.
Mesmo com a trilogia já concluída, Peart decide retomar a investida, possivelmente movido por seus próprios dramas. Nas três partes originais, é notória sua dedicação em tentar expressar o âmbito espacial e algumas faces do medo, observando desdobramentos em grupos de pessoas afetadas, indivíduos oprimidos e aqueles perturbados internamente. Tais características são analisadas separadamente, mas podem ser interligadas representando até mesmo as causas e consequências umas das outras. A motivação primordial da sequencia inversa foi a facilidade que o letrista encontrou para tratar do primeiro tema lançado (olhando de fora e para dentro), e "Freeze" acaba funcionando como um adendo - uma sugestão de enfrentamento motivada pelas experiências particulares vividas em seu exílio.
De acordo com o criador da psicanálise Sigmund Freud (1856 - 1939), o medo é um sentimento normal que sinaliza situações que exigem atitude de fuga ou ataque, onde o organismo se prepara para uma ação rápida, forte e intensa. Trata-se de um dispositivo fundamental para a proteção da espécie, emergindo diante de algo iminente e apropriado à situação vivida. Já as fobias refletem medos desequilibrados e desproporcionais, estes que causam enorme angústia e que inclusive paralisam o indivíduo, impedindo-o de manifestar sua atitude natural de defesa. Os agentes disparadores podem ser provenientes de qualquer situação que aponte a perda do controle, mesmo que o verdadeiro motivo não esteja no objeto externo escolhido pelo inconsciente para incendiar a crise, mas em algo mais profundo não acessível à consciência do afetado. Contudo, a identificação desse objeto pode não ser visível (dada a intensidade dos sintomas envolvidos), revelando-se assim como um significante enigmático ainda mais assustador por não ter rosto nem nome.
Freud classificou as fobias como sintomas relacionados às defesas de situações que despertam sentimentos de angústia intensa, estando relacionadas à experiências traumáticas passadas imaginárias ou reais. O verdadeiro objeto do medo pode ser desconhecido, recalcado nas profundezas do inconsciente, e por isso o psiquismo escolhe algo disponível no mundo real para transferir a intensidade de tais sensações assustadoras não acessíveis para a consciência. Diante de situações particularmente ameaçadoras, a mente procura se defender com o esquecimento sendo seu primeiro movimento, desligando a aflição da memória consciente. Tal mecanismo, contudo, não consegue finalizar esses elementos, cuja intensidade pede caminho para poder ser descarregada em algum componente do mundo externo, escolhido geralmente de forma associativa por lembrar a situação esquecida.
De acordo com a afirmação do psicanalista francês Jean Laplanche (1924 - 2012), a fobia é uma consequência de um resíduo irresolvido da história de vida do indivíduo, este que foge do objeto fóbico até onde pode. Porém, tal angústia insuportável pode, em algum um momento, paralisar a própria vida, causando prejuízos ainda maiores. Nesse momento é importante reconhecer que algo está errado, buscando o enfrentamento dos medos e compreendendo os motivos reais dos temores. Segundo o próprio Peart, foi preciso muito trabalho para controlar ataques de pânico desde um acidente sofrido na infância, quando alguns adolescentes quase o levaram a se afogar, impedindo-o de subir em uma balsa após estar exausto por ter nadado antes com eles.
Quando o medo aluga a mente, acaba levando o indivíduo a abrir mão de boa parte da sua própria existência. Pensar no teor de "Freeze" traz a lembrança de que a vida começa com o fim dessas zonas de conforto. Encarar os medos amplia os horizontes, e Peart, antes congelado nas profundezas escuras de uma vida devastada, escolheu transpor as marés paralisantes enfrentando seus demônios, buscando retomar seu rumo.
A carta que representa "Freeze" no tarô é o Oito de Espadas. Ela mostra o momento em que o indivíduo percebe que tem argumentos para defender suas ideias, reconhecendo suas armas, suas capacidades e perdendo o medo de enfrentar certas situações que temia. Ela fala de luta, do uso de competência, do esforço de libertação através de uma evolução interior resultante de suas atividades mentais. Como lição de vida sugere mudança: abandono de hábitos e de formas de pensamento e sentimentos, partindo para uma vida com novas sequências.
© 2016 Rush Fã-Clube Brasil
CONSIDINE, J. D. "Rush: Chronicles". Guitar Legends / Rush Special Collector's Edition. December 2007.
CORYAT, K. "Track By Track: Geddy Lee On Rush's Vapor Trails". Bass Player. July 2002.
PEART, N. "Behind The Fire - The Making Of Vapor Trails". The Vapor Trails Tour Book. 2002.