Lançamento: 01 de abril de 1976 | Tour Book
Voltar para DISCOGRAFIA
1. 2112 - 20:34 2. A Passage to Bangkok - 3:34 3. The Twilight Zone - 3:17 4. Lessons - 3:51 5. Tears - 3:31 6. Something for Nothing - 3:59 |
Eu fico acordado, olhando para a frieza de Megadon. Cidade e céu se tornam um, fundindo-se em um único plano, um vasto mar de contínuo cinza. As Luas Gêmeas, apenas duas esferas pálidas que traçam seus caminhos pelo céu de aço. Achava que tinha uma vida muito boa aqui, conectando minha máquina durante o dia, depois assistindo Templovisão ou lendo um Templo Jornal à noite.
Meu amigo Jon sempre disse que era melhor aqui do que sob as cúpulas das atmosferas dos Planetas Exteriores. Tivemos paz desde 2062, quando os planetas sobreviventes foram unidos sob a Estrela Vermelha da Federação Solar. O menos afortunado nos deu algumas luas novas.
Acreditei no que me contaram. Achei que era uma vida boa, achei que era feliz. Então encontrei algo que mudou tudo isso...
Anônimo, 2112
2112 (pronunciado twenty-one twelve) é o quarto álbum de estúdio do Rush, lançado no ano de 1976. Tido por muitos como uma das maiores obras da história do rock progressivo, ele consolida de vez o nome do power-trio canadense como uma das grandes bandas do rock de todos os tempos.
No começo, o Rush havia lançado seu primeiro disco com a formação Geddy Lee (vocais e baixo), Alex Lifeson (guitarras) e John Rutsey (bateria). O disco foi uma boa estreia, trazendo canções no estilo hard que apresentavam forte influência advinda da maior banda de rock do período, o Led Zeppelin.
Após a saída amistosa de Rutsey, Lee e Lifeson juntam-se ao baterista e letrista Neil Peart. A influência de Peart foi crucial para a banda, que apresentava nos trabalhos seguintes (Fly By Night e Caress Of Steel, ambos de 1975) uma gradual mudança de rumos, com composições mais longas e elaboradas.
Porém, mesmo já destilando trabalhos de altíssima qualidade lírica e musical, a banda não havia ainda conseguido emplacar em definitivo até a concepção de 2112.
Além de melhor produzido que os anteriores, 2112 é marcado por uma espécie de "mística". Desde o próprio som até todas as simbologias contidas na parte gráfica, o maior destaque ficava por conta da faixa título, uma suíte com mais de vinte minutos de duração dividida em sete partes. Nunca um simples trio de rock and roll havia ousado tanto.
A canção e o título desse álbum deram origem a uma imagem usada como logotipo do Rush desde então, o famoso Starman. O artista e desenhista de longa data da banda, Hugh Syme, é creditado pela criação.
"A imagem significa o homem contra as massas. A estrela vermelha simboliza qualquer mentalidade coletivista", esclarece Neil Peart.
"O homem é o herói da história", diz Hugh Syme. "Sua nudez representa apenas uma tradição clássica, expondo a pureza da pessoa e sua criatividade, sem a pompa de outros elementos, tais como o vestuário. A estrela vermelha é a estrela da Federação, um dos símbolos do Neil".
Com a chegada de 2112, muitas pessoas que ainda não conheciam o restante da obra dos canadenses passaram a buscar os álbuns anteriores, dado o forte impacto desse lançamento.
Ano de 1976, ponto crucial da curta vivência do Rush até então. Depois de sobreviverem à turnê Down The Tubes, surgida a partir do maravilhosamente poético ainda que parcamente aceito Caress Of Steel, os jovens do Grande Branco do Norte tinham uma decisão a tomar: continuar com sua própria visão de rock, ignorando a maior parte dos críticos especializados, podendo perder a base dos fãs que haviam consolidado com os trabalhos do álbum de estreia e de Fly By Night, ou baixar a guarda e aceitar todas as imposições. A gravadora ordenou que mais nenhuma canção épica fosse feita. O produtor sugeriu gentilmente que fossem criadas músicas de duração mais tradicional.
O trio descartou todas as recomendações e o resultado final foi 2112.
Os integrantes do Rush começaram a adquirir experiência nas composições e também nas atividades de estúdio. Apesar dos poucos anos de estrada, o acúmulo de conhecimento os fez saber exatamente como queriam o próximo disco. Contando mais uma vez com a ajuda do coprodutor Terry Brown, a banda concebe esse que é um de seus trabalhos mais aclamados. Logo após o lançamento de 2112, em 1976, Geddy Lee explicava em entrevista que naquele momento a banda queria conquistar algo na música semelhante ao que Ayn Rand havia conseguido com seu romance Anthem.
A ideia original para se atingir algo tão universal veio de Peart. Instigado pelas leituras da filosofia racionalista de Rand, ele escreveu mais um épico sobre liberdade de expressão. "Não havia percebido enquanto estava fazendo. Quando a história ficou pronta, vi que os paralelos com Anthem eram óbvios. Entretanto não queria ser apontado como plagiador, então decidi creditar Rand na ficha técnica do disco".
Peart começou a trabalhar nas letras enquanto seu entusiasmo foi contagiando gradualmente os outros dois integrantes. Levaram seis meses preparando o material. Enquanto o baterista concentrava-se naturalmente nas letras, Lee e Lifeson proviam a música.
Ao final desse período, o Rush entrava no Toronto Sound Studio com Brown, levando mais um mês para colocar a nova obra no vinil. É importante salientar que 2112, assim como os álbuns anteriores, foi escrito pelo Rush enquanto ainda estavam na estrada. Os contratos assinados e a agenda estafante de shows não permitia aos rapazes muito tempo livre.
Ao ouvir 2112 finalizado, percebe-se de imediato que a banda utilizou menos colagens do que em seus discos anteriores. Eles aprenderam que era muito importante, se não essencial, serem capazes de reproduzir o mesmo som realizado no estúdio no palco – tentando não correr o risco de desapontar os fãs mais devotos.
Como o nome do disco indica, a faixa-título se passa no futuro, no ano de 2112, quando o mundo está sob o domínio de uma ditadura pseudorreligiosa aplicada pelos Sacerdotes dos Templos de Syrinx. Estes comandavam a sociedade no esquema do despotismo benevolente e lógico. Qualquer coisa que não fosse lógica não teria lugar nessa conjuntura.
A sociedade é retratada na história como sem alma e alegria, desprovida de qualquer forma de arte. O herói do conto descobre um artefato antigo - uma guitarra - que, para seu espanto, produz um som até então inédito, a música. Ele leva sua descoberta até os sacerdotes convencido de que estes também ficariam surpresos, porém concluem que a música é algo ilógico, não podendo ser de uso comum. O instrumento é destruído.
Miseravelmente o herói se afasta, carregando consigo um sonho de um mundo diferente daquele comandado pelos sacerdotes. Entristecido, descobre que o planeta dos seus sonhos é real e que as coisas podem mudar.
O encerramento da peça traz uma voz fantástica e explosiva, que declama "Attention all planets of the Solar Federation - we have assumed control", uma das mais arrepiantes e mais poderosas finalizações de canções já realizadas.
2112, um álbum diferente e controverso, gerou muitas opiniões opostas ao longo dos anos. Alguns críticos o classificaram como o exemplo definitivo do Rush – raivosos capitalistas de extrema direita. E os fatos não mudaram, mesmo quando Peart disse pra um repórter logo após o lançamento que "humanitários são exatamente iguais a ditadores".
O lançamento de 2112 era a grande virada do Rush nos Estados Unidos. A revista Billboard descreveu o álbum de forma no mínimo curiosa, destacando-o como "um Heavy Metal Rock pesado e esmagador de um trio que soa como vários outros grupos, mas que se destaca principalmente por causa da semelhança bizarra entre a voz de Geddy Lee com a de Robert Plant e por trazerem uma musicalidade superior em relação a maioria das outras bandas. Muito divertido – mas o grupo, que já possui um grande número de fãs, precisará de um som um pouco mais distinto para progredirem". Já a canadense Cashbox reconheceu que o álbum era "um válido e melódico conto de coisas que possivelmente possam vir a acontecer".
Até onde a banda tinha ciência, 2112 foi uma conquista e tanto. Neil classificou o álbum como sendo de primeira linha, uma realização das metas que a banda tinha imposto pra si quando se reuniram pela primeira vez. Ele também acrescentou um pouco mais tarde que 2112 tinha sugado o Rush e que havia esgotado, temporariamente, o estoque da banda para novas ideias.
Em junho de 1976, o Rush tocou três noites no Massey Hall, em Toronto. Inicialmente programados para fazer os dias 11 e 12, o promotor, Martin Onret, foi forçado a adicionar uma terceira noite no dia 13 para satisfazer a demanda colossal.
Isso não era nenhuma surpresa. Quando aquele junho chegou, 2112 já havia vendido 160.000 cópias na América do Norte. Vale lembrar que os álbuns Rush e Caress Of Steel já haviam recebido ouro pelas vendas no Canadá, e o trio havia terminado uma turnê de dois meses nos EUA tocando em mais de cinquenta cidades, sendo a atração principal na maioria delas.
Na ocasião do show no Massey Hall, uma tempestade de granizo rasgou os céus de Toronto. Mas, julgando pelo som que foi gravado naqueles shows, o Rush conseguiu superar todas as forças da natureza. O resultado daqueles três shows foi o álbum ao vivo All The World’s A Stage, lançado em setembro de 1976.
Durante aquele outono a banda embarcou numa turnê de costa a costa em sua terra nativa, o Canadá, e na sequência continuaram pelo noroeste dos Estados Unidos, tocando também mais cinco datas na Califórnia. Esses últimos shows mostravam o quanto o Rush havia crescido, atraindo um total de 45 mil pessoas nas cinco apresentações. Anteriormente só haviam tocado em pequenos clubes nos EUA.
Nessa altura o trio se encontrava numa posição um tanto curiosa em relação ao público que comparecia aos shows nos Estados Unidos. Eles estavam indo bem no oeste e meio-oeste, capazes de serem a atração principal data após data em locais respeitáveis. Mas no leste – em áreas como Nova York e Massachusetts – tinham pouco poder de atração. Dada a intenção de conquistarem todo o país de um jeito ou de outro, decidiram tentar alguma coisa na parte oriental durante dezembro de 1976. Foram convidados especiais da banda britânica Foghat em Nova York e Massachusetts e do Aerosmith em Montreal.
Na austera cidade de Chicago, Illinois, a banda havia conseguido trazer anteriormente o máximo de 1400 pessoas. Já em dezembro de 1976 foram a atração principal num lugar para 4 mil pessoas - data que havia se esgotado com duas semanas de antecedência.
Em Indianápolis, um dos territórios mais fortes para o Rush, o trio fechou uma apresentação com três bandas - Bob Seger e Atlanta Rhythm Section abriram - atraindo um número espetacular de 18 mil pessoas.
No dia 30 de dezembro em Hamilton, Ontário, o Rush tocou para 3300 pessoas - a capacidade total de público - com mais 2 mil sendo deixadas do lado de fora numa temperatura abaixo de zero. Em poucos dias, a banda esgotou os ingressos para o show de véspera de ano novo no Toronto Centre Bowl, tendo mais uma data no mesmo local - também com ingressos esgotados - em 3 de Janeiro de 1977. Mais de 14 mil pessoas pagaram para estar nessa apresentação, o que confirmou que o Rush já era a banda líder em atração de público no Canadá.
O ano de 1977 começou praticamente do mesmo jeito que se encerrou o de 1976, com o Rush na estrada tocando por toda parte, entre Houston, Texas e Pittsburgh, Pennsylvania. Vale observar que nesse momento havia um novo senso de confiança dentro da banda. Eles colecionavam álbuns de ouro em todos os lugares e tinham expandido sua esfera de operações ao vivo por todo o território norte-americano. Alex Lifeson disse, no final de 1976: "Acho que estivemos na estrada por quatro anos e de vez em quando tínhamos um tempinho de folga". O guitarrista admitiu que era simplesmente impossível dividir os compromissos agendados em turnês separadas. Todas as datas pareciam estar ligadas umas nas outras.
Mesmo assim, em 1977, o trio estava com seus planos bem adiantados, dando a si mais tempo para trabalhar em seus álbuns, ao invés de ter que escrevê-los nos breaks que tinham na estrada.
Um dos planos da banda para o futuro foi anunciado ao final de 1976: ir para o Reino Unido na metade de 1977 para de gravar seu próximo disco. Os fãs britânicos concluíram que, se isso realmente acontecesse, poderiam ter a esperança de tê-los tocando em alguns shows por lá - os primeiros fora da América do Norte.
A decisão de tentar gravar na Inglaterra era bem interessante. A banda nunca havia gravado fora de Toronto.
No final de 1976, o trio tentou trabalhar no Electric Ladyland Studios em Nova York - mesmo plano traçado por Jimi Hendrix e imortalizado em seu álbum Electric Ladyland, de 1968. No entanto foram forçados a descartar tudo o que haviam gravado porque estavam insatisfeitos com os resultados.
O estúdio preferido para o novo álbum na época parecia ser o AIR de George Martin na Oxford, em Londres. Era um dos mais recomendados do país e teria sido uma escolha natural. Provavelmente foi também uma espécie de 'retorno pra casa' para Peart, já que quando vivia em Londres trabalhava perto dali, na Carnaby Street, vendendo souvenirs para os turistas.
FICHA TÉCNICA
Alex Lifeson - guitars
Neil Peart - percussion
Geddy Lee - bass and vocals
Produced by Rush and Terry Brown
Engineered by Terry Brown
Arrangements by Rush and Terry Brown
Recorded and mixed at Toronto Sound Studios, Toronto, Ontario
Roadmaster - Howard (Herns) Ungerleider
Roadcrew - Major Ian Grandy, L.B.L.B., Skip (Detroit Slider) Gildersleeve
Graphics - Hugh Syme
Photography - Yosh Inouye, Gérard Gentil (Band)
Management by Ray Danniels, SRO Management, Inc., Toronto
Executive Production - Moon Records
A very special thank you to Ray, Vic, Terry, Howard, Ian, Liam, Skip, and Hugh for sharing the load.
Special thanks to ......(insert your name here)
Special guest Hugh Syme - keyboards on 'Tears'
Mercury/Polygram, March 1976
© 1976 Mercury Records © 1976 Anthem Entertainment