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PRESTO
if I could wave my magic wand...
I am made from the dust of the stars
and the oceans flow in my veins
here I hide in the heart of the city
like a stranger coming out of the rain
the evening plane rises up from the runway
over constellations of light
I look down into a million houses
and wonder what you're doing tonight
if I could wave my magic wand
I'd make everything all right
I'm not one to believe in magic
But I sometimes have a second-sight
I'm not one with a sense of proportion
When my heart still changes overnight
I had a dream of a winter garden
a midnight rendezvous
silver, blue, and frozen silence
what a fool I was for you
I had a dream of the open water
I was swimming away out to sea
so deep I could never touch bottom
what a fool I used to be
if I could wave my magic wand
I'd set everybody free
I'm not one to believe in magic
Though my memory has a second-sight
I'm not one to go pointing my finger
When I radiate more heat than light
don't ask me
I'm just improvising
my illusion of careless flight
can't you see
my temperature's rising
I radiate more heat than light
don't ask me
I'm just sympathizing
my illusions a harmless flight
can't you see
my temperature's rising
I radiate more heat than light
if I could wave my magic wand...
I am made from the dust of the stars
and the oceans flow in my veins
here I hide in the heart of the city
like a stranger coming out of the rain
the evening plane rises up from the runway
over constellations of light
I look down into a million houses
and wonder what you're doing tonight
if I could wave my magic wand
I'd make everything all right
I'm not one to believe in magic
But I sometimes have a second-sight
I'm not one with a sense of proportion
When my heart still changes overnight
I had a dream of a winter garden
a midnight rendezvous
silver, blue, and frozen silence
what a fool I was for you
I had a dream of the open water
I was swimming away out to sea
so deep I could never touch bottom
what a fool I used to be
if I could wave my magic wand
I'd set everybody free
I'm not one to believe in magic
Though my memory has a second-sight
I'm not one to go pointing my finger
When I radiate more heat than light
don't ask me
I'm just improvising
my illusion of careless flight
can't you see
my temperature's rising
I radiate more heat than light
don't ask me
I'm just sympathizing
my illusions a harmless flight
can't you see
my temperature's rising
I radiate more heat than light
PRESTO
se eu pudesse mexer minha varinha mágica...
eu sou feito do pó das estrelas
e os oceanos fluem em minhas veias
me escondo aqui no centro da cidade
como um estranho saindo da chuva
o avião do entardecer decola da pista
sobre constelações de luz
olho para um milhão de casas lá embaixo
e me pergunto o que você está fazendo esta noite
se eu pudesse mexer minha varinha mágica
faria tudo certo
Não sou de acreditar em mágica
Mas às vezes tenho vidências
Não sou alguém com senso de proporção
Uma vez que meu coração muda de um dia para o outro
sonhei com um jardim de inverno
um encontro à meia-noite
prata, azul e um silêncio gélido
que tolo eu fui pra você
sonhei com o mar aberto
nadava para longe do mar
tão fundo e nunca pude tocar o fundo
que tolo eu costumava ser
se eu pudesse mexer minha varinha mágica
libertaria todo mundo
Não sou de acreditar em mágica
Embora minha memória tenha vidências
Não sou de ir apontando o dedo
Uma vez que irradio mais calor do que luz
não me pergunte
só estou improvisando
minha ilusão de um voo descuidado
não consegue ver
minha temperatura subindo
eu irradio mais calor do que luz
não me pergunte
só estou me compadecendo
minhas ilusões de um voo inofensivo
não consegue ver
minha temperatura subindo
eu irradio mais calor do que luz
se eu pudesse mexer minha varinha mágica...
eu sou feito do pó das estrelas
e os oceanos fluem em minhas veias
me escondo aqui no centro da cidade
como um estranho saindo da chuva
o avião do entardecer decola da pista
sobre constelações de luz
olho para um milhão de casas lá embaixo
e me pergunto o que você está fazendo esta noite
se eu pudesse mexer minha varinha mágica
faria tudo certo
Não sou de acreditar em mágica
Mas às vezes tenho vidências
Não sou alguém com senso de proporção
Uma vez que meu coração muda de um dia para o outro
sonhei com um jardim de inverno
um encontro à meia-noite
prata, azul e um silêncio gélido
que tolo eu fui pra você
sonhei com o mar aberto
nadava para longe do mar
tão fundo e nunca pude tocar o fundo
que tolo eu costumava ser
se eu pudesse mexer minha varinha mágica
libertaria todo mundo
Não sou de acreditar em mágica
Embora minha memória tenha vidências
Não sou de ir apontando o dedo
Uma vez que irradio mais calor do que luz
não me pergunte
só estou improvisando
minha ilusão de um voo descuidado
não consegue ver
minha temperatura subindo
eu irradio mais calor do que luz
não me pergunte
só estou me compadecendo
minhas ilusões de um voo inofensivo
não consegue ver
minha temperatura subindo
eu irradio mais calor do que luz
O equilíbrio da empatia e da compaixão pelo peso da razão
"Presto", sexta canção do álbum homônimo, é uma das peças mais emocionantes e especiais no décimo terceiro trabalho de estúdio do Rush. Combinando uma temática comovente e introspectiva com tomadas fortemente acústicas, sua estrutura crescente desemboca em um cenário elétrico de atmosfera incrivelmente tocante e fascinante, refletindo um brilho mágico que transporta o ouvinte em uma viagem capaz de despertar sensações sempre vívidas.
De imediato, o que fica claro em "Presto" é o retorno da evidência dos violões, nuance não destacada pelos músicos desde Permenent Waves (1980). Na canção, esses elementos acabam propondo um direcionamento levemente folk, fato que reflete claramente a mudança das intenções da banda. Como destaque, um solo de guitarra grandioso e emocional é apresentado por Alex Lifeson, esse que consegue se ajustar perfeitamente à temática proposta. Performances vocais magníficas, texturas de sintetizadores suaves e flutuantes, linhas de baixo incrivelmente versáteis e bateria sempre sensível e precisa completam as qualidades dessa linda obra.
"Voltamos ao processo de composição com guitarra, baixo e bateria pela primeira vez em anos", diz Peart. "Nos últimos álbuns do Rush, a maioria das canções tiveram início quando estávamos sentados em torno da plataforma de teclados de Geddy, e a influência desses instrumentos poderia ser ouvida em algumas das nossas progressões de acordes. Em Presto, as composições foram inspiradas com mais frequência por riffs de guitarra ou baixo, e seguimos em frente com isso para as bases dos nossos próprios arranjos".
"De certa forma, esse álbum foi uma verdadeira reação contra a tecnologia", reconhece Geddy. "Eu estava ficando doente e cansado de trabalhar com computadores e sintetizadores. Felizmente, foi o Rupert. Estávamos unidos em nossa rebelião, decidindo por uma abordagem mais orgânica. Fizemos um pacto sobre ficarmos longe de cordas, pianos e órgãos - afastados da tecnologia digital. No fim, não pudemos resistir em usá-la como cores".
"Os teclados podem ser uma ferramenta de composição passiva, e queríamos algo mais forte e menos pastoral. Eu compus muito no baixo, o que me fez lembrar dos velhos tempos".
"Com Presto, decidimos que a guitarra iria desempenhar um papel mais preponderante novamente, e que os teclados ficariam em segundo plano", diz Alex. "Percebemos que o núcleo da banda é guitarra, baixo e bateria, e que esses elementos são os mais importantes - os que realmente merecem ser desenvolvidos".
Um traço comum que atravessa todas as fases do Rush é o trabalho lírico por vezes enigmático de Neil Peart, sempre carregado com ricas imagens repletas de pensamentos. Seu cuidado e esmero com as mesmas é impressionante, provocando ponderações profundas e variadas nos ouvintes. Ao contrário dos discos anteriores Grace Under Pressure (1984), Power Windows (1985) e Hold Your Fire (1987), Presto parece trazer uma abrangência maior de temas, sem direcionar uma única mensagem principal. O conteúdo das letras se mostra mais humanista e emocional, retomando alguns dos aspectos gerais de álbuns mais antigos como Permanent Waves (1980) e Signals (1982). "Liricamente falando, eu estava consciente de que talvez estivéssemos trilhando por um lado mais pesado nos últimos anos", diz Peart. "Com Presto, tomei uma abordagem um pouco mais solta para as coisas. As canções trazem histórias próprias e mensagens que não estão, obrigatoriamente, ligadas a um tema geral".
"Presto não traz uma mensagem temática", afirma o baterista. "Não há nenhum manifesto, embora existam muitos segmentos e uma forte motivação de olhar para a vida hoje, tentando agir dentro dela".
Presto expõe metáforas diversas ligadas aos jovens, à esperança, à ação e reação. "Bem, estamos ficando mais velhos", diz Lifeson. "Felizmente um pouco mais sábios, talvez começando a olhar para as coisas de forma mais ampla. Acho que esse álbum lida com essas coisas, além de pensar sobre o mundo como um lugar muito grande, havendo muitas coisas maravilhosas nele".
"Acho que é muito difícil descrever todas as coisas que te levam a compor sobre determinados assuntos", diz Geddy. "Sei que Neil é impulsionado pelas coisas que acontecem ao seu redor e pelo que acontece no mundo. Ele sempre está viajando, pensando e examinando, passando por muitas coisas diferentes assim como nós, e é difícil dizer de onde vêm tudo isso. Sim, há algumas canções que nos chegam pela raiva. Alguns temas, penso eu, exigem a raiva de vez em quando, algo que acredito que contribua de alguma forma para um bom rock".
"As letras de Neil estão muito mais sinceras", continua. "Atualmente, elas estão mais orientadas pela experiência. Acho que lidam com a vida. Entendo as mesmas como inspiradas - acredito que ainda são ambiciosas. Ele sempre escreveu coisas boas, mas agora sinto que estão mais emocionais".
Em Presto, as canções de Peart, compreensivelmente, se mostram mais otimistas e repletas de energia, refletindo acima de tudo sua grande sede pela vida. Sendo um ciclista ávido, viajante e aventureiro nesse período, há uma sensação de olhos muito atentos por todo o trabalho. "Outro tema do álbum é a resposta", ele diz, "a ideia de que você não atravessa a vida somente olhando para as coisas. Não importa se você rodou o mundo todo - você pode ter visto várias coisas, mas se não as sentiu, não esteve lá".
O nome Presto, derivado do italiano, pode ser sinônimo de "rápido", "imediatamente", "depressa" ou "prontamente" em várias línguas, também se referindo ao andamento dito "extremamente rápido" na música erudita. Além disso, o termo é utilizado por alguns mágicos como algo próximo à palavra mística abracadabra - uma idealização de encantamento em números ilusionistas. Assim, podemos entendê-la no contexto do álbum como o núcleo primordial dos seus vários assuntos tratados, conforme as ilusões, reações e sensações que experimentamos individualmente. Metaforicamente, essas emoções não surgiriam como uma magia elaborada, sobre a qual é necessário tempo, estudo, concentração ou até mesmo uma reunião de ingredientes. Elas aparecem de imediato, bastando apenas estímulos externos específicos para que aflorem.
Curiosamente, a palavra quase foi utilizada pelo Rush em um trabalho anterior. De acordo com Geddy Lee, Presto seria o título do álbum ao vivo mais recente até então, A Show Of Hands. Mesmo após o lançamento em 1988, o termo ainda continuava entre eles, com a banda decidindo, por fim, nomear dessa forma seu novo trabalho de estúdio. Ao mesmo tempo, Neil começou a elaborar uma canção de mesmo nome.
"O título 'Presto' esteve muito perto de ser utilizado para o álbum ao vivo", afirma Geddy. "Decidimos por 'A Show of Hands', mas o outro continuou conosco, pois ainda gostávamos muito dele. Assim, foi sugerido para esse novo disco e, ao mesmo tempo, Neil estava pensando em uma música com o mesmo título. Esse título, portanto, veio bem antes da música".
Muito além do que a primeira impressão de uma canção que retrata apenas lembranças de um amor perdido, "Presto" utiliza variadas imagens poéticas para pensar sobre os inúmeros problemas e dificuldades enfrentadas pelas pessoas, reconhecendo nossa incapacidade, como indivíduos, de resolver essas questões. Através de um desencadear de memórias pessoais idealizadas, a música se revela como uma exaltação sincera à empatia, à compaixão e à racionalidade.
Com a frase "If I could wave my magic wand..." ["Se eu pudesse mexer minha varinha mágica..."], "Presto" tem início justificando seu título e definindo seu teor fortemente introspectivo, trazendo como maior intenção o traçar de uma linha tênue entre a razão e nosso poderoso imaginativo. As afirmações iniciais situam o ser humano por uma perspectiva puramente científica e racional, evidenciando uma espécie de dualismo vivido pelo narrador da letra.
O trecho "I am made from the dust of the stars" ["Eu sou feito do pó das estrelas"] baseia-se em uma afirmação do renomado astrônomo norte-americano Carl Sagan (1934 - 1996), proveniente da sua famosa série televisiva Cosmos (1980), na qual abordava variados temas relacionados à ciência, como a história da Terra, evolução, origens da vida e do sistema solar. Segundo Sagan, algumas partes do nosso ser acabam por mostrar de onde viemos, defendendo que "somos feitos de matéria estelar", resumindo o fato de que os átomos de carbono, nitrogênio e oxigênio em nossos corpos, assim como os átomos de todos os outros elementos pesados, surgiram em gerações anteriores de estrelas há mais de 4,5 bilhões de anos. A seguir, Peart reconhece novamente (como fez na faixa "High Water" do anterior Hold Your Fire) o aparecimento da vida na água há milhões de anos, além das nossas inegáveis conexões com esse meio, ideia perfeitamente expressada na frase "And the oceans flow in my veins" ["E os oceanos fluem em minhas veias"].
As imagens seguintes de "Presto" definem sua profunda viagem. A natureza dos aeroportos e aviões, algo já visitado pela banda em composições anteriores, aparecem novamente (como no prólogo não utilizado para a "Fly By Night" de 1975 e em "YYZ", instrumental de Moving Pictures, 1981). O protagonista da canção, que decola em um voo ao entardecer, acaba mergulhando em seus pensamentos após observar os pequenos pontos de luz da cidade que sobrevoa (fato que pode afirmar que as constantes viagens da banda durantes suas longas turnês por várias cidades e países continuam a fomentar ideias em Peart). Essas cenas o fazem lembrar de um amor perdido, imaginando como seria maravilhoso poder utilizar uma varinha mágica para voltar no tempo, a fim de corrigir todos os erros do passado.
Seus pensamentos continuam a fluir como um grande turbilhão durante o voo. Ainda contando com a influência das imagens aéreas que recebe, o protagonista passa a imaginar um encontro romântico com seu antigo amor sob um luar silencioso e também a aventura de nadar em mar aberto, mas logo sendo apanhado pelo reconhecimento dos seus erros e culpas. Como uma série de reflexões que vão se interligando, o Peart mergulha seu protagonista na ótica de que, se realmente tivesse poderes mágicos, poderia retornar para reparar todas as suas falhas.
O que fica claro em "Presto", além da inclinação incansável de Peart em se preocupar com o mundo e com as pessoas ao seu redor, é a expressão da sua sinceridade e racionalidade na aceitação de ser incapaz de ajudar a todos. Diferente do exercício puramente utópico de canções como "Closer to the Heart" (de A Farewell to Kings, 1977), o baterista busca trabalhar novamente pelo ponto de vista do equilíbrio, nivelando seus pensamentos quiméricos pela dura verdade da impossibilidade (como fez em "Second Nature", de Hold Your Fire). Além de sentimentos como a empatia e a compaixão, "Presto" também traz o reconhecimento de imperfeições.
A imaginação do protagonista acaba levando-o ao campo da fantasia, onde idealiza a solução de todos os problemas do mundo através de um simples passe de mágica. Ele justifica suas linhas de pensamento como improvisações ou compadecimento, admitindo não possuir as respostas para os inúmeros impasses da humanidade. O trecho "I'm not one to go pointing my finger, when I radiate more heat than light" ["Não sou de ir apontando o dedo, uma vez que irradio mais calor do que luz"] refere-se ao mesmo assumindo não dispor do poder para iluminar outras mentes, preferindo não acusar ou não se envolver muito profundamente em certas situações, reconhecendo a fragilidade que traz de agir mais pelo impulso ou pelo calor das emoções - o que, de fato, não trará as soluções. Esse ponto de vista, no qual sabe que suas reações geralmente não são as mais acertadas, é chamado por ele de "vidência" ["second-sight"]. Tomados por sentimentos como indignação, impulsividade ou raiva, é notório que as nossas capacidades racionais se tornam reduzidas, possibilitando atitudes impensadas. O alcance da luz (sabedoria), portanto, é sempre o mais difícil.
"Utilizei a palavra 'Presto' de forma irônica, como se eu tivesse um poder para acertar as coisas", diz Neil. "Essa canção reflete a mim mesmo e a vida como um tema, embora eu tenha criado todo um cenário. Utilizei a ironia como uma ferramenta nesse álbum, e na maior parte das vezes tive o cuidado de não dramatizar a situação. Quando você ingressa na verdadeira ficção, ela acaba sendo utilizada para explicar a verdade e a realidade".
Quem nunca sonhou em ter uma varinha mágica para tornar tudo perfeito? Com esse símbolo, "Presto" lista o desejo que eventualmente idealizamos de retomar e resolver os nossos próprios erros cometidos e todos os problemas do mundo, mas logo reconhecendo que somos totalmente incapazes de alcançar tais feitos. O balançar da varinha imaginária expõe perfeitamente a distância entre intenções e capacidade, mas esse olhar racional não deve nos afastar de sentimentos como empatia e compaixão sobre todas as vidas que sofrem imersas em incertezas, decepções, mágoas, tristezas e dores, negando os pré-julgamentos e indiferença.
Certamente, "Presto" é mais um fantástico trabalho na carreira dos canadenses, uma viagem melódica emocionante que trata de pensamentos, lembranças, sentimentos e sonhos de alguém nas alturas. A canção é um belo exemplo do caminho que o trio iria traçar a partir dali, deixando para trás todas as tendências e experimentações visitadas durante a maior parte década de 1980 para voar em direção ao mais orgânico, ao começo de um retorno às raízes. Porém, como de costume, essa volta teria um formato novo e revigorado. Sem dúvidas, mais um toque de mágico de uma trajetória mágica.
"Presto é um tipo de renovação para mim", diz Geddy, "uma renovação de energia e uma perspectiva positiva, tanto em termos musicais quanto em termos pessoais".
© 2015 Rush Fã-Clube Brasil
WILDING, P. "The Meaning Of Lifeson". Kerrang! #266. November 25, 1989.
COBURN, B. "Geddy Lee On Rockline For Presto". Rockline. December 4, 1989.
ANDERSON, B. "Rush Remains Canada's Top Pop Export". Canadian Press. January 3, 1990.
MILKOWSKI, B. "Rush In Revolution". Guitar World. March 1990.
SURKAMP, D. "Seeking Platinum For The 8th Time". St. Louis Post-Dispatch. March 1, 1990.
KREWEN, N. "Presto Change-O". Canadian Musician. April 1990.
"Presto", sexta canção do álbum homônimo, é uma das peças mais emocionantes e especiais no décimo terceiro trabalho de estúdio do Rush. Combinando uma temática comovente e introspectiva com tomadas fortemente acústicas, sua estrutura crescente desemboca em um cenário elétrico de atmosfera incrivelmente tocante e fascinante, refletindo um brilho mágico que transporta o ouvinte em uma viagem capaz de despertar sensações sempre vívidas.
De imediato, o que fica claro em "Presto" é o retorno da evidência dos violões, nuance não destacada pelos músicos desde Permenent Waves (1980). Na canção, esses elementos acabam propondo um direcionamento levemente folk, fato que reflete claramente a mudança das intenções da banda. Como destaque, um solo de guitarra grandioso e emocional é apresentado por Alex Lifeson, esse que consegue se ajustar perfeitamente à temática proposta. Performances vocais magníficas, texturas de sintetizadores suaves e flutuantes, linhas de baixo incrivelmente versáteis e bateria sempre sensível e precisa completam as qualidades dessa linda obra.
"Voltamos ao processo de composição com guitarra, baixo e bateria pela primeira vez em anos", diz Peart. "Nos últimos álbuns do Rush, a maioria das canções tiveram início quando estávamos sentados em torno da plataforma de teclados de Geddy, e a influência desses instrumentos poderia ser ouvida em algumas das nossas progressões de acordes. Em Presto, as composições foram inspiradas com mais frequência por riffs de guitarra ou baixo, e seguimos em frente com isso para as bases dos nossos próprios arranjos".
"De certa forma, esse álbum foi uma verdadeira reação contra a tecnologia", reconhece Geddy. "Eu estava ficando doente e cansado de trabalhar com computadores e sintetizadores. Felizmente, foi o Rupert. Estávamos unidos em nossa rebelião, decidindo por uma abordagem mais orgânica. Fizemos um pacto sobre ficarmos longe de cordas, pianos e órgãos - afastados da tecnologia digital. No fim, não pudemos resistir em usá-la como cores".
"Os teclados podem ser uma ferramenta de composição passiva, e queríamos algo mais forte e menos pastoral. Eu compus muito no baixo, o que me fez lembrar dos velhos tempos".
"Com Presto, decidimos que a guitarra iria desempenhar um papel mais preponderante novamente, e que os teclados ficariam em segundo plano", diz Alex. "Percebemos que o núcleo da banda é guitarra, baixo e bateria, e que esses elementos são os mais importantes - os que realmente merecem ser desenvolvidos".
Um traço comum que atravessa todas as fases do Rush é o trabalho lírico por vezes enigmático de Neil Peart, sempre carregado com ricas imagens repletas de pensamentos. Seu cuidado e esmero com as mesmas é impressionante, provocando ponderações profundas e variadas nos ouvintes. Ao contrário dos discos anteriores Grace Under Pressure (1984), Power Windows (1985) e Hold Your Fire (1987), Presto parece trazer uma abrangência maior de temas, sem direcionar uma única mensagem principal. O conteúdo das letras se mostra mais humanista e emocional, retomando alguns dos aspectos gerais de álbuns mais antigos como Permanent Waves (1980) e Signals (1982). "Liricamente falando, eu estava consciente de que talvez estivéssemos trilhando por um lado mais pesado nos últimos anos", diz Peart. "Com Presto, tomei uma abordagem um pouco mais solta para as coisas. As canções trazem histórias próprias e mensagens que não estão, obrigatoriamente, ligadas a um tema geral".
"Presto não traz uma mensagem temática", afirma o baterista. "Não há nenhum manifesto, embora existam muitos segmentos e uma forte motivação de olhar para a vida hoje, tentando agir dentro dela".
Presto expõe metáforas diversas ligadas aos jovens, à esperança, à ação e reação. "Bem, estamos ficando mais velhos", diz Lifeson. "Felizmente um pouco mais sábios, talvez começando a olhar para as coisas de forma mais ampla. Acho que esse álbum lida com essas coisas, além de pensar sobre o mundo como um lugar muito grande, havendo muitas coisas maravilhosas nele".
"Acho que é muito difícil descrever todas as coisas que te levam a compor sobre determinados assuntos", diz Geddy. "Sei que Neil é impulsionado pelas coisas que acontecem ao seu redor e pelo que acontece no mundo. Ele sempre está viajando, pensando e examinando, passando por muitas coisas diferentes assim como nós, e é difícil dizer de onde vêm tudo isso. Sim, há algumas canções que nos chegam pela raiva. Alguns temas, penso eu, exigem a raiva de vez em quando, algo que acredito que contribua de alguma forma para um bom rock".
"As letras de Neil estão muito mais sinceras", continua. "Atualmente, elas estão mais orientadas pela experiência. Acho que lidam com a vida. Entendo as mesmas como inspiradas - acredito que ainda são ambiciosas. Ele sempre escreveu coisas boas, mas agora sinto que estão mais emocionais".
Em Presto, as canções de Peart, compreensivelmente, se mostram mais otimistas e repletas de energia, refletindo acima de tudo sua grande sede pela vida. Sendo um ciclista ávido, viajante e aventureiro nesse período, há uma sensação de olhos muito atentos por todo o trabalho. "Outro tema do álbum é a resposta", ele diz, "a ideia de que você não atravessa a vida somente olhando para as coisas. Não importa se você rodou o mundo todo - você pode ter visto várias coisas, mas se não as sentiu, não esteve lá".
O nome Presto, derivado do italiano, pode ser sinônimo de "rápido", "imediatamente", "depressa" ou "prontamente" em várias línguas, também se referindo ao andamento dito "extremamente rápido" na música erudita. Além disso, o termo é utilizado por alguns mágicos como algo próximo à palavra mística abracadabra - uma idealização de encantamento em números ilusionistas. Assim, podemos entendê-la no contexto do álbum como o núcleo primordial dos seus vários assuntos tratados, conforme as ilusões, reações e sensações que experimentamos individualmente. Metaforicamente, essas emoções não surgiriam como uma magia elaborada, sobre a qual é necessário tempo, estudo, concentração ou até mesmo uma reunião de ingredientes. Elas aparecem de imediato, bastando apenas estímulos externos específicos para que aflorem.
Curiosamente, a palavra quase foi utilizada pelo Rush em um trabalho anterior. De acordo com Geddy Lee, Presto seria o título do álbum ao vivo mais recente até então, A Show Of Hands. Mesmo após o lançamento em 1988, o termo ainda continuava entre eles, com a banda decidindo, por fim, nomear dessa forma seu novo trabalho de estúdio. Ao mesmo tempo, Neil começou a elaborar uma canção de mesmo nome.
"O título 'Presto' esteve muito perto de ser utilizado para o álbum ao vivo", afirma Geddy. "Decidimos por 'A Show of Hands', mas o outro continuou conosco, pois ainda gostávamos muito dele. Assim, foi sugerido para esse novo disco e, ao mesmo tempo, Neil estava pensando em uma música com o mesmo título. Esse título, portanto, veio bem antes da música".
Muito além do que a primeira impressão de uma canção que retrata apenas lembranças de um amor perdido, "Presto" utiliza variadas imagens poéticas para pensar sobre os inúmeros problemas e dificuldades enfrentadas pelas pessoas, reconhecendo nossa incapacidade, como indivíduos, de resolver essas questões. Através de um desencadear de memórias pessoais idealizadas, a música se revela como uma exaltação sincera à empatia, à compaixão e à racionalidade.
Com a frase "If I could wave my magic wand..." ["Se eu pudesse mexer minha varinha mágica..."], "Presto" tem início justificando seu título e definindo seu teor fortemente introspectivo, trazendo como maior intenção o traçar de uma linha tênue entre a razão e nosso poderoso imaginativo. As afirmações iniciais situam o ser humano por uma perspectiva puramente científica e racional, evidenciando uma espécie de dualismo vivido pelo narrador da letra.
O trecho "I am made from the dust of the stars" ["Eu sou feito do pó das estrelas"] baseia-se em uma afirmação do renomado astrônomo norte-americano Carl Sagan (1934 - 1996), proveniente da sua famosa série televisiva Cosmos (1980), na qual abordava variados temas relacionados à ciência, como a história da Terra, evolução, origens da vida e do sistema solar. Segundo Sagan, algumas partes do nosso ser acabam por mostrar de onde viemos, defendendo que "somos feitos de matéria estelar", resumindo o fato de que os átomos de carbono, nitrogênio e oxigênio em nossos corpos, assim como os átomos de todos os outros elementos pesados, surgiram em gerações anteriores de estrelas há mais de 4,5 bilhões de anos. A seguir, Peart reconhece novamente (como fez na faixa "High Water" do anterior Hold Your Fire) o aparecimento da vida na água há milhões de anos, além das nossas inegáveis conexões com esse meio, ideia perfeitamente expressada na frase "And the oceans flow in my veins" ["E os oceanos fluem em minhas veias"].
As imagens seguintes de "Presto" definem sua profunda viagem. A natureza dos aeroportos e aviões, algo já visitado pela banda em composições anteriores, aparecem novamente (como no prólogo não utilizado para a "Fly By Night" de 1975 e em "YYZ", instrumental de Moving Pictures, 1981). O protagonista da canção, que decola em um voo ao entardecer, acaba mergulhando em seus pensamentos após observar os pequenos pontos de luz da cidade que sobrevoa (fato que pode afirmar que as constantes viagens da banda durantes suas longas turnês por várias cidades e países continuam a fomentar ideias em Peart). Essas cenas o fazem lembrar de um amor perdido, imaginando como seria maravilhoso poder utilizar uma varinha mágica para voltar no tempo, a fim de corrigir todos os erros do passado.
Seus pensamentos continuam a fluir como um grande turbilhão durante o voo. Ainda contando com a influência das imagens aéreas que recebe, o protagonista passa a imaginar um encontro romântico com seu antigo amor sob um luar silencioso e também a aventura de nadar em mar aberto, mas logo sendo apanhado pelo reconhecimento dos seus erros e culpas. Como uma série de reflexões que vão se interligando, o Peart mergulha seu protagonista na ótica de que, se realmente tivesse poderes mágicos, poderia retornar para reparar todas as suas falhas.
O que fica claro em "Presto", além da inclinação incansável de Peart em se preocupar com o mundo e com as pessoas ao seu redor, é a expressão da sua sinceridade e racionalidade na aceitação de ser incapaz de ajudar a todos. Diferente do exercício puramente utópico de canções como "Closer to the Heart" (de A Farewell to Kings, 1977), o baterista busca trabalhar novamente pelo ponto de vista do equilíbrio, nivelando seus pensamentos quiméricos pela dura verdade da impossibilidade (como fez em "Second Nature", de Hold Your Fire). Além de sentimentos como a empatia e a compaixão, "Presto" também traz o reconhecimento de imperfeições.
A imaginação do protagonista acaba levando-o ao campo da fantasia, onde idealiza a solução de todos os problemas do mundo através de um simples passe de mágica. Ele justifica suas linhas de pensamento como improvisações ou compadecimento, admitindo não possuir as respostas para os inúmeros impasses da humanidade. O trecho "I'm not one to go pointing my finger, when I radiate more heat than light" ["Não sou de ir apontando o dedo, uma vez que irradio mais calor do que luz"] refere-se ao mesmo assumindo não dispor do poder para iluminar outras mentes, preferindo não acusar ou não se envolver muito profundamente em certas situações, reconhecendo a fragilidade que traz de agir mais pelo impulso ou pelo calor das emoções - o que, de fato, não trará as soluções. Esse ponto de vista, no qual sabe que suas reações geralmente não são as mais acertadas, é chamado por ele de "vidência" ["second-sight"]. Tomados por sentimentos como indignação, impulsividade ou raiva, é notório que as nossas capacidades racionais se tornam reduzidas, possibilitando atitudes impensadas. O alcance da luz (sabedoria), portanto, é sempre o mais difícil.
"Utilizei a palavra 'Presto' de forma irônica, como se eu tivesse um poder para acertar as coisas", diz Neil. "Essa canção reflete a mim mesmo e a vida como um tema, embora eu tenha criado todo um cenário. Utilizei a ironia como uma ferramenta nesse álbum, e na maior parte das vezes tive o cuidado de não dramatizar a situação. Quando você ingressa na verdadeira ficção, ela acaba sendo utilizada para explicar a verdade e a realidade".
Quem nunca sonhou em ter uma varinha mágica para tornar tudo perfeito? Com esse símbolo, "Presto" lista o desejo que eventualmente idealizamos de retomar e resolver os nossos próprios erros cometidos e todos os problemas do mundo, mas logo reconhecendo que somos totalmente incapazes de alcançar tais feitos. O balançar da varinha imaginária expõe perfeitamente a distância entre intenções e capacidade, mas esse olhar racional não deve nos afastar de sentimentos como empatia e compaixão sobre todas as vidas que sofrem imersas em incertezas, decepções, mágoas, tristezas e dores, negando os pré-julgamentos e indiferença.
Certamente, "Presto" é mais um fantástico trabalho na carreira dos canadenses, uma viagem melódica emocionante que trata de pensamentos, lembranças, sentimentos e sonhos de alguém nas alturas. A canção é um belo exemplo do caminho que o trio iria traçar a partir dali, deixando para trás todas as tendências e experimentações visitadas durante a maior parte década de 1980 para voar em direção ao mais orgânico, ao começo de um retorno às raízes. Porém, como de costume, essa volta teria um formato novo e revigorado. Sem dúvidas, mais um toque de mágico de uma trajetória mágica.
"Presto é um tipo de renovação para mim", diz Geddy, "uma renovação de energia e uma perspectiva positiva, tanto em termos musicais quanto em termos pessoais".
© 2015 Rush Fã-Clube Brasil
WILDING, P. "The Meaning Of Lifeson". Kerrang! #266. November 25, 1989.
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