CEILING UNLIMITED



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ONE LITTLE VICTORY  CEILING UNLIMITED  GHOST RIDER


CEILING UNLIMITED

It's not the heat
It's the inhumanity
Plugged into the sweat of a summer street
Machine gun images pass
Like malice through the looking glass


The slackjaw gaze
Of true profanity
Feels more like surrender than defeat
If culture is the curse of the thinking class
If culture is the curse of the thinking class

ceiling unlimited
world so wide
turn and turn again

feeling unlimited
still unsatisfied
changes never end


The vacant laugh
Of true insanity
Dressed up in the mask of Tragedy
Programmed for the guts and glands
Of idle minds and idle hands


I rest my case -
Or at least my vanity
Dressed up in the mask of Comedy
If laughter is a straw for a drowning man
If laughter is a straw for a drowning man

ceiling unlimited
windows open wide
look and look again

feeling unlimited
eyes on the prize
changes never end

winding like an ancient river
the time is now again

hope is like an endless river
the time is now again
TETO ILIMITADO

Não é o calor
É a desumanidade
Ligada ao suor de uma rua no verão
Imagens metralhadas passam
Como a malícia através do espelho


O olhar pasmo
De verdadeira profanação
Parece mais se render do que derrotar
Caso a cultura seja a maldição da classe pensante
Caso a cultura seja a maldição da classe pensante

teto ilimitado
mundo tão amplo
mude e mude de novo

sentimento ilimitado
ainda insatisfeito
mudanças nunca acabam


A risada vaga
De verdadeira insanidade
Vestida com a máscara da Tragédia
Programada para as vísceras e glândulas
De mentes ociosas e mãos ociosas


Dou como encerrado -
Ou pelo menos a minha vaidade
Vestida com a máscara da Comédia
Caso o riso seja uma palha para um homem que se afoga
Caso o riso seja uma palha para um homem que se afoga

teto ilimitado
janelas bem abertas
olhe e olhe de novo

sentimento ilimitado
olhos no prêmio
mudanças nunca acabam

sinuosa como um rio antigo
a hora é agora de novo

esperança é como um rio sem fim
a hora é agora de novo


Música por Geddy Lee e Alex Lifeson / Letra por Neil Peart


Mesmo cientes da grandeza do Universo, insistimos em restringir nossas percepções

"Ceiling Unlimited" é a segunda faixa de Vapor Trails- uma grande detonação de energia. Equilibrada em peso, brilhantismo, melodia e acessibilidade, continua a sensação iniciada na anterior "One Little Victory": o Rush, com um Neil Peart renascido, tinha ainda muito a oferecer e a surpreender.

Urgência, fúria e pulsação definem sua introdução feroz. Uma pegada otimista passeia todo o ambiente, notável por um dos grooves mais certeiros entre baixo e bateria já criados pelos canadenses. Os versos complementam magistralmente os sentimentos líricos, com gotas de notas pesadas saturando e envolvendo a deslumbrante atmosfera.

Geddy Lee dosa seus vocais entre graves e agudos com incrível flexibilidade. Além da voz, sua maravilhosa perícia musical é revelada novamente em seu instrumento, propondo uma postura bastante agressiva e inovadora enquanto se diverte com notas e riffs. O refrão é uma constante explosão de cores e sentimentos, e a roupagem provocada pelos overdubs de guitarras e vozes é muito positiva.

A introdução de "Ceiling Unlimited", quando repetida e cantada, é o embarque numa viagem sonora repleta camadas ecoando frases edificantes. O estopim para o ápice vem de uma virada matadora na bateria, introduzindo a seção instrumental que traz a predominância entusiástica do baixo revestido da técnica flamenca. O trecho se funde à parede sonora, desvelando um ótimo solo de guitarra que, apesar de descontraído, traduz emoções fortemente simbólicas para a canção. O fluxo segue com versos animadores e pontes de vocalizações agudas que se apoiam em mais overdubs, onde a experiência se recolhe em fade out, concluindo uma das investidas mais empolgantes da vasta carreira do trio.

"Aproximadamente quatro meses depois de iniciar nossas sessões de composição, passamos um mês descansando e, ao voltarmos, tocamos juntos por duas semanas", lembra Geddy. "Aquelas foram as jams mais inspiradas que já experimentei com Alex. Tocamos muitas coisas nas quais fomos bem sucedidos, incluindo a base para essa canção. Os refrões soaram melhor quando decidi por um registro mais agudo, mas acabamos perdendo os graves conforme seguíamos. Dessa forma, a cada refrão sucessivo, fui adicionando uma oitava no baixo. O primeiro refrão traz um baixo mais agudo, o segundo tem a mesma linha duplicada por um registro médio e o último refrão vem com três oitavas. Dessa forma, a faixa vai ficando cada vez mais cheia conforme segue".

"Além disso, essa música traz também uma espécie de 'solo de baixo' que tive permissão para fazer. Quis trocar com Alex, mas ele estava bem 'anti-solo' de guitarra no momento, não querendo entrar nessa".

"Houve um certo relaxamento no álbum sob vários aspectos, pois foi gravado num ambiente de jams. Há muitas linhas de baixo... tomei muita liberdade com as mesmas. Muitas dessas canções, como 'Ceiling Unlimited', têm três partes de baixo sendo tocadas ao mesmo tempo. Não há nenhuma outra banda na terra que permita isso - não há um produtor no mundo que deixaria um baixista correr desenfreadamente por todas as faixas
[risos]. Assim, temos sempre muitos baixos, com Alex sendo muito favorável a eles".

"Na verdade, a maior parte do meu estilo das composições no baixo agora é escrevê-las enquanto estou tocando acordes. Isso ocupa bastante espaço, e Alex gostou da ideia fazia pois não precisava ser um guitarrista base, permitindo-lhe entrar na canção por um ângulo diferente. Esse fato nos libertou, em termos de criarmos coisas que soassem mais revigoradas".


Com diversas inspirações artísticas e literárias (o que fica bastante claro na segunda faixa), Vapor Trails também é marcante por trazer temas humanos associados à fenômenos naturais singulares. Como na canção Presto (do álbum de mesmo nome de 1989), Peart utiliza a metáfora de uma visão aérea para representar o ampliar de percepções. Ceiling unlimited (teto ilimitado), um termo meteorológico e aeronáutico utilizado nos Estados Unidos, define a curiosa formação de uma camada de nuvens que se posiciona bem próxima da superfície, liberando totalmente o céu acima dela. Ao voar de avião em um dia de teto ilimitado, a visão pura do céu pode ser muito inspiradora - uma observação ampla de parte do vasto mundo que se estende à frente. Aliando o cenário às suas experiências pessoais, Peart produz uma letra que trata basicamente da tendência humana em restringir o olhar para um campo imediatamente mais próximo, mesmo integrando um mundo gigantesco e de inúmeras realidades. A violência, a crueldade e as tristezas podem nos causar visões generalizantes e limitantes, porém a elevação do pensamento coerente ajuda na compreensão do quão grande, dinâmico e esperançoso o mundo ainda pode se revelar.

"A TV do ônibus estava sintonizada no Weather Channel", lembra Peart. "Olhando para a previsão, notei a leitura de 'Ceiling Unlimited'. Foi daí que veio o título da canção".

A frase inicial "It's not the heat, it's the humanity" ("Não é o calor, é a desumanidade") foi retirada de um diálogo do filme norte-americano A Lenda dos Beijos Perdidos (Brigadoon), de 1954. Dirigido pelo cineasta também norte-americano Vincent Minnelli (1903 - 1986), o fantástico conto musical mostra as incríveis férias de dois nova-iorquinos interpretados pelos atores Gene Kelly (1912 - 1996) e Van Johnson (1916 - 2008). Eles descobrem uma mística vila escocesa chamada Brigadoon, que decorre a vida de 100 em 100 anos em apenas um único dia. Nela, o personagem de Kelly, Tommy Albright, e uma camponesa chamada Fiona Campbell, interpretada por Cyd Charisse (1922 - 2008), compartilham o amor de uma vida inteira mesmo sabendo que ele durará apenas 24 horas. Em um dos trechos do filme, o personagem de Johnson, Jeff Douglas, conversa com Albright em um bar lotado. Albright diz, "Está calor aqui", e Douglas responde, "Não é o calor, é a humanidade".

A frase "Like malice through the looking glass" ("Como a malícia através do espelho") foi inspirada na história infantil Alice no País dos Espelhos (Through The Looking Glass), livro de 1871 do romancista britânico Lewis Carroll (1832 - 1898). Continuação do célebre Alice no País das Maravilhas (Alice's Adventures in Wonderland), de 1865, a heroína mirim deve agora ultrapassar vários obstáculos (estruturados como etapas de um jogo de xadrez) para se tornar rainha. À medida que ela avança no tabuleiro, surgem outros tantos personagens instigantes e enigmáticos. Carroll, apaixonado por crianças, elaborou as duas narrativas como um contraponto que ridicularizava a compostura exigida às histórias moralistas que costumavam ser lidas para os pequenos súditos da Inglaterra vitoriana.

Um dos trechos mais interessantes em "Ceiling Unlimited" é a frase "If culture is the curse of the thinking class" ("Caso a cultura seja a maldição da classe pensante"). Inspirada em um famoso pensamento do escritor holandês Oscar Wilde (1854 - 1900), "Work is the curse of the drinking classes" ("O trabalho é a maldição das classes bêbadas"), que refuta a máxima "Drink is the curse of the working class" ("A bebida é a maldição da classe trabalhadora") do intelectual e revolucionário alemão Karl Marx (1818 - 1883), traz também uma visão irônica alicerçada em um jogo de palavras que sugere uma avaliação igualmente apropriada e diferente do fato social ao qual se refere.

O trecho final "Winding like an ancient river, the time is now again. Hope is like an endless river, the time is now again" ("Sinuoso como um rio antigo, a hora é agora de novo. A esperança é como um rio sem fim, a hora é agora de novo") está ligado ao mapa do delta do rio Mississippi e ao título da obra Of Time and the River, escrita em 1935 pelo romancista norte-americano Thomas Wolfe (1900 - 1938). Trata-se de uma autobiografia fictícia, na qual Wolfe utiliza o nome Eugene Gant detalhando sua juventude e seu amadurecimento como escritor. Numa busca desesperada por realizações, ele inicia sua caminhada a partir de uma pequena cidade da Carolina do Norte para o resto do mundo, passando pela Universidade de Harvard, Nova York e seguindo enfim para a Europa. Ao longo de 896 páginas de ambição e paixão corajosa, Wolfe analisa a passagem do tempo e a natureza do processo criativo, lentamente abraçando em paixão a vida urbana, reconhecendo-a como uma provação necessária para o nascimento do seu gênio imaginativo. Com um teor majestoso e duradouro similar à jornada de Peart, Of Time and River traz uma expressiva intensidade emocional, iluminando verdades universais sobre arte, vida, cidades, países, o passado e o presente.

"Thomas Wolfe foi utilizado em Ceiling Unlimited", afirma Peart. "O título do livro Time And The River, associado a um olhar para o mapa do delta do Mississippi, me sugeriram as frases 'winding like an ancient river' e 'hope is like an endless river'".

A carta de tarô que ilustra "Ceiling Unlimited" é a Estrela. Algumas de suas interpretações, segundo o jogo, indicam pureza, entrega às influências naturais e à confiança no destino. Além disso, representa plenitude e sensibilidade poética, intuição, bondade, espírito compassivo, convalescença, esperança, idealismo, imortalidade e plenitude - influência moral da ideia sobre as formas.

A Estrela apresenta um mapa, um caminho descrito no céu conforme ensinavam os antigos navegadores. Um dos seus mais marcantes significados, que se relaciona diretamente com os acontecimentos ligados ao baterista e à canção, aponta para uma profunda queda que, simbolicamente, representa a noite mais escura, mas que na qual é possível vislumbrar as estrelas por completo. "Ceiling Unlimited", a partir de uma observância sobre o alcance de percepções, revela um mergulho nas profundezas da essência humana que, enfrentando medos, deixa para trás o que foi para ser o que é. Trata-se de um convite à esperança e aprendizagem, fundamentos para seguirmos adiante percorrendo mais um trecho do longo caminho.

© 2016 Rush Fã-Clube Brasil

PEART, N. "Behind The Fire - The Making Of Vapor Trails". The Vapor Trails Tour Book . 2002.
CORYAT, K. "Track By Track: Geddy Lee On Rush's Vapor Trails". Bass Player. July 2002.
CANTIN, P. "Peart Reveals Literary Inspirations Behind Rush Album". Jam!Showbiz. May 31, 2002.