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MANHATTAN PROJECT MARATHON TERRITORIES
MARATHON
It's not how fast you can go
The force goes into the flow
If you pick up the beat
You can forget about the heat
More than just survival
More than just a flash
More than just a dotted line
More than just a dash
It's a test of ultimate will
The heartbreak climb uphill
Got to pick up the pace
If you want to stay in the race
More than just blind ambition
More than just simple greed
More than just a finish line
Must feed this burning need -
In the long run...
From first to last
The peak is never passed
Something always fires the light
That gets in your eyes
One moment's high
And glory rolls on by
Like a streak of lightening
That flashes and fades
In the summer sky
Your meters may overload
You can rest at the side of the road
You can miss a stride
But nobody gets a free ride
More than high performance
More than just a spark
More than just the bottom line
Or a lucky shot in the dark -
In the long run...
You can do a lot in a lifetime
If you don't burn out too fast
You can make the most of the distance
First you need endurance -
First you've got to last...
It's not how fast you can go
The force goes into the flow
If you pick up the beat
You can forget about the heat
More than just survival
More than just a flash
More than just a dotted line
More than just a dash
It's a test of ultimate will
The heartbreak climb uphill
Got to pick up the pace
If you want to stay in the race
More than just blind ambition
More than just simple greed
More than just a finish line
Must feed this burning need -
In the long run...
From first to last
The peak is never passed
Something always fires the light
That gets in your eyes
One moment's high
And glory rolls on by
Like a streak of lightening
That flashes and fades
In the summer sky
Your meters may overload
You can rest at the side of the road
You can miss a stride
But nobody gets a free ride
More than high performance
More than just a spark
More than just the bottom line
Or a lucky shot in the dark -
In the long run...
You can do a lot in a lifetime
If you don't burn out too fast
You can make the most of the distance
First you need endurance -
First you've got to last...
MARATONA
Não é o quão rápido você pode ir
A força entra no fluxo
Se você pegar o ritmo
Pode esquecer o calor
Mais que sobrevivência
Mais que um instante
Mais que uma linha pontilhada
Mais que uma arrancada
É um teste de vontade final
O desgosto da subida íngreme
Tem que apertar o passo
Se quiser continuar na corrida
Mais que ambição cega
Mais que simples cobiça
Mais que uma linha de chegada
Deve alimentar essa necessidade ardente
A longo prazo...
Do primeiro ao último
O limite nunca é ultrapassado
Algo sempre dispara a luz
Que entra nos seus olhos
Um ponto alto do momento
E a glória passa
Como uma sequência de relâmpagos
Que brilham e desaparecem
Em um céu de verão
Seus medidores podem ficar sobrecarregados
Você pode descansar no acostamento
Você pode perder uma etapa
Mas ninguém consegue pegar carona
Mais do que alta performance
Mais do que uma faísca
Mais do que o ponto principal
Ou um tiro de sorte no escuro
A longo prazo...
Você pode fazer muito na vida
Se não se esgotar rápido demais
Pode aproveitar ao máximo a distância
Primeiro precisa de resistência -
Primeiro tem que durar...
Não é o quão rápido você pode ir
A força entra no fluxo
Se você pegar o ritmo
Pode esquecer o calor
Mais que sobrevivência
Mais que um instante
Mais que uma linha pontilhada
Mais que uma arrancada
É um teste de vontade final
O desgosto da subida íngreme
Tem que apertar o passo
Se quiser continuar na corrida
Mais que ambição cega
Mais que simples cobiça
Mais que uma linha de chegada
Deve alimentar essa necessidade ardente
A longo prazo...
Do primeiro ao último
O limite nunca é ultrapassado
Algo sempre dispara a luz
Que entra nos seus olhos
Um ponto alto do momento
E a glória passa
Como uma sequência de relâmpagos
Que brilham e desaparecem
Em um céu de verão
Seus medidores podem ficar sobrecarregados
Você pode descansar no acostamento
Você pode perder uma etapa
Mas ninguém consegue pegar carona
Mais do que alta performance
Mais do que uma faísca
Mais do que o ponto principal
Ou um tiro de sorte no escuro
A longo prazo...
Você pode fazer muito na vida
Se não se esgotar rápido demais
Pode aproveitar ao máximo a distância
Primeiro precisa de resistência -
Primeiro tem que durar...
O poder da perseverança
"Marathon", quarta faixa do álbum Power Windows, é sem dúvidas uma das canções mais admiráveis da carreira do Rush. Marcada por grande complexidade e virtuosismo em sua estrutura instrumental, a composição esbanja energia e sentimentos incrivelmente contagiantes, elementos que ajudam defini-la como uma verdadeira joia do power-trio canadense.
Sempre munida de muita criatividade e esmero, "Marathon" oferece técnica, rapidez e habilidade simplesmente exuberantes. Neil Peart, novamente, se mostra extremamente exímio em suas viradas inesperadas, oferecendo marcações em tempos constantemente complexos e cada vez mais desafiadoras. Geddy Lee traz com seu baixo e vocais uma combinação simultânea dificílima para qualquer ser humano comum realizar, enquanto Alex Lifeson nos leva a flutuar com suas guitarras cheias de emoção e repletas de sensações e significados, transportando o ouvinte diretamente para o cenário proposto. Certamente, a cada canção de Power Windows, o guitarrista se revela ainda mais genial: seus solos são sempre capazes capturar qualquer um que se permita mergulhar na temática.
Apesar de toda sofisticação de produção da canção (que conta também com trechos orquestrados ao lado de um grande coro de vozes), os integrantes afirmam que o processo de gravação de foi bastante tranqüilo para os padrões da banda:
"É engraçado. Sempre há uma música que você tem medo de fazer", afirma Lifeson. "Você acha que vai ser muito difícil, e com 'Marathon' foi dessa forma. Quando a compomos pensamos, 'Essa canção vai ser como arrancar um dente quando formos para o estúdio'. Por fim, acabou sendo bem tranquila. O solo foi provavelmente o mais fácil de todos que fiz no álbum".
"Marathon" contém seções variadas bastante diferenciadas. Em alguns momentos, os sintetizadores de Geddy soam como os instrumentos principais. Já em outros, as guitarras de Alex assumem essa posição. Durante o refrão, os teclados se apresentam mais proeminentes, enquanto nos versos e solos há uma precisa mistura entre os dois elementos.
"Inicialmente, achamos que seria de fato uma maratona, por ser composta por tantas partes e cada uma muito diferente da outra", diz Lifeson. "Mas, por incrível que pareça, foi apenas Bang! - voamos nas gravações. Todas as partes se uniram como um grande quebra-cabeças, e foi ótimo".
"O Rush ainda é rock'n'roll - gostamos de tocar pesado e rápido e isso foi algo que tínhamos que fazer o Peter [Collins] entender", observa Peart. "Tivemos que explicar para ele que 'Marathon' trazia uma longa parte instrumental em 7/8 no meio - algo sobre o qual ele não tinha compreensão. Era parte do nosso sistema de valores que tinha que permanecer em nossa música".
O coro de vozes e a orquestra que integram o final apoteótico de "Marathon" foram realizados em Londres. "Ao mesmo tempo que gravamos as porções de orquestra no Abbey Road, gravamos um coral para 'Marathon'", lembra Geddy. "Depois, seguimos para esse estúdio do tipo igreja [Angel Studios] em uma outra parte da cidade, onde esse coro maravilhoso cantou. Era de fato uma sala de som muito boa, e por isso Peter quis gravá-los lá".
"É a canção mais orientada ao trio, e com o mínimo de overdubs", continua o baixista. "Usamos bastante samplers, mas também uma seção real de cordas e coro. Buscamos trabalhar com Anne Dudley (que foi da banda Art of Noise e arranjadora no álbum Lexicon of Love, da banda ABC) no Abbey Road. Foi uma experiência tremenda ouvir trinta homens tocando nossa música. Peter queria acrescentar o coral, e nós já havíamos feito de tudo. A maioria das pessoas não nota, mas tudo isso está nos últimos trinta segundos. Eu estava lá, vi mulheres grávidas e homens mais velhos cantando nossa canção. Nunca vou esquecer. Você pode substituir coisas reais, mas às vezes é melhor não".
Conforme o próprio título da canção, a temática de "Marathon" propõe a atmosfera e as sensações de se correr uma maratona. Sendo a corrida mais longa do atletismo, sua distância oficial de 42,195 km é sempre marcada por muito esforço, desgaste, dificuldade e resistência. Buscando com afinco resistência, planejamento, força e meta, o atleta certamente terá chances reais de vencer a disputa. Porém, a proposta da composição vai mais além: "Marathon" nos oferece uma profunda, direta e sincera reflexão sobre os triunfos que podemos alcançar na vida. Toda a energia que a caracteriza provoca no ouvinte o levantar do espírito em um caráter extremamente positivo e profundamente otimista.
"Marathon" analisa nosso potencial para desejar, criar e realizar objetivos durante toda vida, refletindo sobre o poder da perseverança. As metáforas utilizadas na canção expõem nosso potencial como indivíduos. Neil Peart, mais uma vez, evoca a busca pelo entendimento sobre o ritmo da vida, pensando sobre ser paciente na luta por grandes feitos, maximizando a existência ao rejeitar um tempo de vida muito intenso e consequentemente efêmero. Não se trata de ambição ou ganância gratuitas, mas da alegria de se alcançar os sonhos mais íntimos e de se aproveitar o máximo da vida. Essa é, talvez, a maneira mais genuína de respeitarmos nossa natureza humana. Nosso diferencial entre as outras espécies é que portamos imaginação e emoções, atributos preciosos que devem ser utilizados como gatilhos para a realização daquilo que entendemos como nossa missão.
De certa forma, podemos compreender "Marathon" como um tema autobiográfico. A utilização do desafio extremo como uma metáfora para a vida, esta que é sempre pontuada por obstáculos e que deveria provocar a realização de objetivos pessoais como o maior foco, se encaixa perfeitamente na própria história dos três canadenses que, mesmo com situações adversas como simples garotos dos subúrbios canadenses, conseguiram vencer se tornando conhecidos em todo mundo. E tal feito só foi possível pelo estabelecimento de metas e pela busca incessante aliada à determinação, cuidado e cálculo, acreditando em seus sonhos e não permitindo que influências externas os desviassem das suas metas. Por outro lado, "Marathon" pode ser auto-explicativa no que tange o surgimento de pessoas geniais que realizam grandes feitos, mas que desaparecem tão rápido quanto sua explosão para o mundo.
"Marathon é sobre o triunfo, sobre o tempo e uma espécie de mensagem para mim, pois acho que a vida é muito curta para todas as coisas que quero fazer", diz Peart. "Há ali uma auto advertência dizendo que a vida é longa o bastante. Você pode fazer muitas coisas, apenas tomando cuidado para não se queimar querendo fazer todas de uma vez. 'Marathon' é uma canção sobre objetivos individuais e a busca por alcançá-los. É também sobre um provérbio chinês: 'Uma jornada de mil milhas começa com o primeiro passo'".
"Novamente, essa canção lida com poder - o poder que temos dentro de nós para nos forçar e nos conduzir em direção às metas que visamos", diz Lifeson. "Não é um caminho fácil na verdade, é sempre uma subida íngreme, mas depende muito da força interior que usamos para nos levar até o fim da estrada".
"Acho que essa canção é muito próxima ao Neil. Ele fez muito ciclismo durante a última turnê. O maior inimigo que você tem na estrada é o tédio - mesmo que amemos o que fazemos, toda a rotina é cansativa. Seu objetivo era atingir 160 quilômetros com sua bicicleta, sempre que tivéssemos um dia de folga. Ele saía às seis ou sete da manhã e simplesmente desaparecia até às seis ou sete da noite. Ele tem essa força interna que o conduz à frente o tempo todo, e 'Marathon' realmente diz respeito à esse aspecto do seu caráter".
"Tento manter um processo linear de crescimento em várias direções diferentes na vida", afirma Peart. "Há alguns anos, tinha a sensação de estar andando suspenso na água - tentando me manter à tona sobre tudo o que as pessoas esperavam de mim. Ultimamente, tenho tido muito mais controle da minha vida, continuando a progredir constantemente ao longo de cinco vias diferentes, ao invés de tentar ir em uma única direção como um foguete".
O trecho "It's a test of ultimate will, the heartbreak climb uphill" ("É um teste de vontade final, o desgosto da subida íngreme") está ligado à Maratona de Boston, a mais famosa e tradicional corrida de longa distância realizada anualmente. Seu percurso é considerado um dos mais difíceis do mundo, principalmente devido às colinas Newton, uma série de quatro colinas no circuito que culminam com "Hearthbreak Hill", a maior e mais ascendente delas, com 600 metros de subida na altura dos quilômetros 31 e 32 da prova. "Hearthbreak" apresenta uma subida constante por mais de meio quilômetro, encontrando-se em uma altura da prova na qual os corredores já se encontram exaustos, a dez quilômetros do fim.
Neil diz que "Marathon" foi em parte inspirada por um lema citado pelo autor norte-americano Jack London (1876 - 1916), posteriormente utilizado por Ernest Hemingway. "Primeiro, deve durar", afirmação de um dos generais de Napoleão Bonaparte, inspirou London no trecho, "I shall not waste my days trying to prolong them. I shall use my time" ("Não vou perder meus dias tentando prolongá-los. Vou usar meu tempo"). Sem dúvidas, o mesmo reflete um dos principais pontos de observação da canção do Rush.
"Podemos contrastar a crença de Jack London, adaptada por Ernest Hemingway, citando o lema da estátua de um dos generais de Napoleão, 'Il faut d'abord durer' ('Em primeiro lugar é preciso durar'), ou a versão mais curta que prefiro, 'At first, to last' ('No começo, para durar'). Foi uma inspiração para 'Marathon'".
"Como escritor, Hemingway entendia que o mais importante era manter a reputação e a integridade. Felizmente, todos os outros frutos viriam a partir disso. Para nós como banda e até mesmo para mim como músico, esse era o objetivo idealista com o qual começamos".
"Eu achava que tudo o que você tinha a fazer era seu melhor e, mais cedo ou mais tarde, todas as suas recompensas viriam. Novamente, nem sempre é o caso. Mas para nós era assim".
"Fomos espremidos por período difíceis. Seguimos sem suporte das rádios e sem o benefício de um single de sucesso, além do suporte da mídia. No início, trabalhávamos sem parar, achando que iriamos sair, tocar e sermos bons nisso. E essa era a coisa mais importante. Se fôssemos conhecidos como uma boa banda tocando ao vivo, o resto viria naturalmente. E, pela primeira vez na vida moderna, causa e efeito se uniriam".
"Estivemos sob uma tremenda pressão, a fim de comprometer e de tornar nossa música mais comercial - escrevendo canções mais curtas e tornando-as o mais repetitivas e comerciais que pudéssemos. Contra toda a pressão que tem prevalecido, tomamos o curso das composições que queríamos e trabalhamos com as pessoas que queríamos".
"Pode soar um pouco egocêntrico, mas não é. É apenas dedicação aos valores que que nos puxavam à música quando éramos adolescentes, pois entendíamos a mesma como uma forma honesta de auto expressão. Então crescemos e nos deparamos com a desilusão de que as coisas não eram assim. Era um grande negócio, no qual os músicos tocavam música apenas por dinheiro, compondo para aparecer no denominador mais comum. Essa desilusão foi muito difícil para mim. Foi bom ter resistido a tudo isso, e ao mesmo tempo é parte do que me faz um idealista sobre a vida, porém cínico sobre as pessoas".
Utilizando figuras vivas inerentes ao percurso de uma longa maratona, a faixa expõe que apenas a perseverança não basta para que tenhamos uma vida plena como seres humanos. É necessário definir e calcular metas, nos conhecendo interiormente e buscando aprimoramento através dos caminhos que traçamos para o alcance dos nossos desejos. Sonhos e objetivos jamais devem ser esquecidos, mesmo que alcancemos alguns deles ao longo da nossa trajetória. A vida é um empreendimento extremo de longo prazo e, enquanto respirarmos, temos em nossas mãos e mentes possibilidades reais de mais realizações e conhecimento, conquistas que continuarão nos afirmando como indivíduos capazes e de fato independentes.
© 2015 Rush Fã-Clube Brasil
MULHERN, T. OBRECHT, J. "Geddy Lee Of Rush: Rock's Leading Bassist - Alex Lifeson Of Rush: The Evolving Art Of Rock Guitar". Guitar Player. April 1986.
KREWEN, N. "Surviving With Rush / Drummer-Lyricist Neil Peart Looks Forward". Canadian Composer. April 1986.
SHARP, K. "A Parallax View / On Their Latest Opus, Power Windows, Rush Conduct An Extensive Study Of Power And Its Many Manifestations From Two Opposing Perspectives: Good And Evil". Music Express. December 1985.
PUTTERFORD, M. "Pane and Pleasure". Kerrang! Nº 107. November 14-27, 1985.
STERN, P. "Baroque Cosmologies In Their Past, The Boys Focus On 'The Perfect Song'". Canadian Musician. December 1985.
POPOFF, M. "Contents Under Pressure". Canada: ECW Press. 2004.
TELLERIA, E. "Merely Players Tribute". Quarry Music Books. 2002.
Carol S. PRICE, Robert M. "Mystic Rhythms: The Philosophical Vision of Rush". Borgo Press. 1999.
"Marathon", quarta faixa do álbum Power Windows, é sem dúvidas uma das canções mais admiráveis da carreira do Rush. Marcada por grande complexidade e virtuosismo em sua estrutura instrumental, a composição esbanja energia e sentimentos incrivelmente contagiantes, elementos que ajudam defini-la como uma verdadeira joia do power-trio canadense.
Sempre munida de muita criatividade e esmero, "Marathon" oferece técnica, rapidez e habilidade simplesmente exuberantes. Neil Peart, novamente, se mostra extremamente exímio em suas viradas inesperadas, oferecendo marcações em tempos constantemente complexos e cada vez mais desafiadoras. Geddy Lee traz com seu baixo e vocais uma combinação simultânea dificílima para qualquer ser humano comum realizar, enquanto Alex Lifeson nos leva a flutuar com suas guitarras cheias de emoção e repletas de sensações e significados, transportando o ouvinte diretamente para o cenário proposto. Certamente, a cada canção de Power Windows, o guitarrista se revela ainda mais genial: seus solos são sempre capazes capturar qualquer um que se permita mergulhar na temática.
Apesar de toda sofisticação de produção da canção (que conta também com trechos orquestrados ao lado de um grande coro de vozes), os integrantes afirmam que o processo de gravação de foi bastante tranqüilo para os padrões da banda:
"É engraçado. Sempre há uma música que você tem medo de fazer", afirma Lifeson. "Você acha que vai ser muito difícil, e com 'Marathon' foi dessa forma. Quando a compomos pensamos, 'Essa canção vai ser como arrancar um dente quando formos para o estúdio'. Por fim, acabou sendo bem tranquila. O solo foi provavelmente o mais fácil de todos que fiz no álbum".
"Marathon" contém seções variadas bastante diferenciadas. Em alguns momentos, os sintetizadores de Geddy soam como os instrumentos principais. Já em outros, as guitarras de Alex assumem essa posição. Durante o refrão, os teclados se apresentam mais proeminentes, enquanto nos versos e solos há uma precisa mistura entre os dois elementos.
"Inicialmente, achamos que seria de fato uma maratona, por ser composta por tantas partes e cada uma muito diferente da outra", diz Lifeson. "Mas, por incrível que pareça, foi apenas Bang! - voamos nas gravações. Todas as partes se uniram como um grande quebra-cabeças, e foi ótimo".
"O Rush ainda é rock'n'roll - gostamos de tocar pesado e rápido e isso foi algo que tínhamos que fazer o Peter [Collins] entender", observa Peart. "Tivemos que explicar para ele que 'Marathon' trazia uma longa parte instrumental em 7/8 no meio - algo sobre o qual ele não tinha compreensão. Era parte do nosso sistema de valores que tinha que permanecer em nossa música".
O coro de vozes e a orquestra que integram o final apoteótico de "Marathon" foram realizados em Londres. "Ao mesmo tempo que gravamos as porções de orquestra no Abbey Road, gravamos um coral para 'Marathon'", lembra Geddy. "Depois, seguimos para esse estúdio do tipo igreja [Angel Studios] em uma outra parte da cidade, onde esse coro maravilhoso cantou. Era de fato uma sala de som muito boa, e por isso Peter quis gravá-los lá".
"É a canção mais orientada ao trio, e com o mínimo de overdubs", continua o baixista. "Usamos bastante samplers, mas também uma seção real de cordas e coro. Buscamos trabalhar com Anne Dudley (que foi da banda Art of Noise e arranjadora no álbum Lexicon of Love, da banda ABC) no Abbey Road. Foi uma experiência tremenda ouvir trinta homens tocando nossa música. Peter queria acrescentar o coral, e nós já havíamos feito de tudo. A maioria das pessoas não nota, mas tudo isso está nos últimos trinta segundos. Eu estava lá, vi mulheres grávidas e homens mais velhos cantando nossa canção. Nunca vou esquecer. Você pode substituir coisas reais, mas às vezes é melhor não".
Conforme o próprio título da canção, a temática de "Marathon" propõe a atmosfera e as sensações de se correr uma maratona. Sendo a corrida mais longa do atletismo, sua distância oficial de 42,195 km é sempre marcada por muito esforço, desgaste, dificuldade e resistência. Buscando com afinco resistência, planejamento, força e meta, o atleta certamente terá chances reais de vencer a disputa. Porém, a proposta da composição vai mais além: "Marathon" nos oferece uma profunda, direta e sincera reflexão sobre os triunfos que podemos alcançar na vida. Toda a energia que a caracteriza provoca no ouvinte o levantar do espírito em um caráter extremamente positivo e profundamente otimista.
"Marathon" analisa nosso potencial para desejar, criar e realizar objetivos durante toda vida, refletindo sobre o poder da perseverança. As metáforas utilizadas na canção expõem nosso potencial como indivíduos. Neil Peart, mais uma vez, evoca a busca pelo entendimento sobre o ritmo da vida, pensando sobre ser paciente na luta por grandes feitos, maximizando a existência ao rejeitar um tempo de vida muito intenso e consequentemente efêmero. Não se trata de ambição ou ganância gratuitas, mas da alegria de se alcançar os sonhos mais íntimos e de se aproveitar o máximo da vida. Essa é, talvez, a maneira mais genuína de respeitarmos nossa natureza humana. Nosso diferencial entre as outras espécies é que portamos imaginação e emoções, atributos preciosos que devem ser utilizados como gatilhos para a realização daquilo que entendemos como nossa missão.
De certa forma, podemos compreender "Marathon" como um tema autobiográfico. A utilização do desafio extremo como uma metáfora para a vida, esta que é sempre pontuada por obstáculos e que deveria provocar a realização de objetivos pessoais como o maior foco, se encaixa perfeitamente na própria história dos três canadenses que, mesmo com situações adversas como simples garotos dos subúrbios canadenses, conseguiram vencer se tornando conhecidos em todo mundo. E tal feito só foi possível pelo estabelecimento de metas e pela busca incessante aliada à determinação, cuidado e cálculo, acreditando em seus sonhos e não permitindo que influências externas os desviassem das suas metas. Por outro lado, "Marathon" pode ser auto-explicativa no que tange o surgimento de pessoas geniais que realizam grandes feitos, mas que desaparecem tão rápido quanto sua explosão para o mundo.
"Marathon é sobre o triunfo, sobre o tempo e uma espécie de mensagem para mim, pois acho que a vida é muito curta para todas as coisas que quero fazer", diz Peart. "Há ali uma auto advertência dizendo que a vida é longa o bastante. Você pode fazer muitas coisas, apenas tomando cuidado para não se queimar querendo fazer todas de uma vez. 'Marathon' é uma canção sobre objetivos individuais e a busca por alcançá-los. É também sobre um provérbio chinês: 'Uma jornada de mil milhas começa com o primeiro passo'".
"Novamente, essa canção lida com poder - o poder que temos dentro de nós para nos forçar e nos conduzir em direção às metas que visamos", diz Lifeson. "Não é um caminho fácil na verdade, é sempre uma subida íngreme, mas depende muito da força interior que usamos para nos levar até o fim da estrada".
"Acho que essa canção é muito próxima ao Neil. Ele fez muito ciclismo durante a última turnê. O maior inimigo que você tem na estrada é o tédio - mesmo que amemos o que fazemos, toda a rotina é cansativa. Seu objetivo era atingir 160 quilômetros com sua bicicleta, sempre que tivéssemos um dia de folga. Ele saía às seis ou sete da manhã e simplesmente desaparecia até às seis ou sete da noite. Ele tem essa força interna que o conduz à frente o tempo todo, e 'Marathon' realmente diz respeito à esse aspecto do seu caráter".
"Tento manter um processo linear de crescimento em várias direções diferentes na vida", afirma Peart. "Há alguns anos, tinha a sensação de estar andando suspenso na água - tentando me manter à tona sobre tudo o que as pessoas esperavam de mim. Ultimamente, tenho tido muito mais controle da minha vida, continuando a progredir constantemente ao longo de cinco vias diferentes, ao invés de tentar ir em uma única direção como um foguete".
O trecho "It's a test of ultimate will, the heartbreak climb uphill" ("É um teste de vontade final, o desgosto da subida íngreme") está ligado à Maratona de Boston, a mais famosa e tradicional corrida de longa distância realizada anualmente. Seu percurso é considerado um dos mais difíceis do mundo, principalmente devido às colinas Newton, uma série de quatro colinas no circuito que culminam com "Hearthbreak Hill", a maior e mais ascendente delas, com 600 metros de subida na altura dos quilômetros 31 e 32 da prova. "Hearthbreak" apresenta uma subida constante por mais de meio quilômetro, encontrando-se em uma altura da prova na qual os corredores já se encontram exaustos, a dez quilômetros do fim.
Neil diz que "Marathon" foi em parte inspirada por um lema citado pelo autor norte-americano Jack London (1876 - 1916), posteriormente utilizado por Ernest Hemingway. "Primeiro, deve durar", afirmação de um dos generais de Napoleão Bonaparte, inspirou London no trecho, "I shall not waste my days trying to prolong them. I shall use my time" ("Não vou perder meus dias tentando prolongá-los. Vou usar meu tempo"). Sem dúvidas, o mesmo reflete um dos principais pontos de observação da canção do Rush.
"Podemos contrastar a crença de Jack London, adaptada por Ernest Hemingway, citando o lema da estátua de um dos generais de Napoleão, 'Il faut d'abord durer' ('Em primeiro lugar é preciso durar'), ou a versão mais curta que prefiro, 'At first, to last' ('No começo, para durar'). Foi uma inspiração para 'Marathon'".
"Como escritor, Hemingway entendia que o mais importante era manter a reputação e a integridade. Felizmente, todos os outros frutos viriam a partir disso. Para nós como banda e até mesmo para mim como músico, esse era o objetivo idealista com o qual começamos".
"Eu achava que tudo o que você tinha a fazer era seu melhor e, mais cedo ou mais tarde, todas as suas recompensas viriam. Novamente, nem sempre é o caso. Mas para nós era assim".
"Fomos espremidos por período difíceis. Seguimos sem suporte das rádios e sem o benefício de um single de sucesso, além do suporte da mídia. No início, trabalhávamos sem parar, achando que iriamos sair, tocar e sermos bons nisso. E essa era a coisa mais importante. Se fôssemos conhecidos como uma boa banda tocando ao vivo, o resto viria naturalmente. E, pela primeira vez na vida moderna, causa e efeito se uniriam".
"Estivemos sob uma tremenda pressão, a fim de comprometer e de tornar nossa música mais comercial - escrevendo canções mais curtas e tornando-as o mais repetitivas e comerciais que pudéssemos. Contra toda a pressão que tem prevalecido, tomamos o curso das composições que queríamos e trabalhamos com as pessoas que queríamos".
"Pode soar um pouco egocêntrico, mas não é. É apenas dedicação aos valores que que nos puxavam à música quando éramos adolescentes, pois entendíamos a mesma como uma forma honesta de auto expressão. Então crescemos e nos deparamos com a desilusão de que as coisas não eram assim. Era um grande negócio, no qual os músicos tocavam música apenas por dinheiro, compondo para aparecer no denominador mais comum. Essa desilusão foi muito difícil para mim. Foi bom ter resistido a tudo isso, e ao mesmo tempo é parte do que me faz um idealista sobre a vida, porém cínico sobre as pessoas".
Utilizando figuras vivas inerentes ao percurso de uma longa maratona, a faixa expõe que apenas a perseverança não basta para que tenhamos uma vida plena como seres humanos. É necessário definir e calcular metas, nos conhecendo interiormente e buscando aprimoramento através dos caminhos que traçamos para o alcance dos nossos desejos. Sonhos e objetivos jamais devem ser esquecidos, mesmo que alcancemos alguns deles ao longo da nossa trajetória. A vida é um empreendimento extremo de longo prazo e, enquanto respirarmos, temos em nossas mãos e mentes possibilidades reais de mais realizações e conhecimento, conquistas que continuarão nos afirmando como indivíduos capazes e de fato independentes.
© 2015 Rush Fã-Clube Brasil
MULHERN, T. OBRECHT, J. "Geddy Lee Of Rush: Rock's Leading Bassist - Alex Lifeson Of Rush: The Evolving Art Of Rock Guitar". Guitar Player. April 1986.
KREWEN, N. "Surviving With Rush / Drummer-Lyricist Neil Peart Looks Forward". Canadian Composer. April 1986.
SHARP, K. "A Parallax View / On Their Latest Opus, Power Windows, Rush Conduct An Extensive Study Of Power And Its Many Manifestations From Two Opposing Perspectives: Good And Evil". Music Express. December 1985.
PUTTERFORD, M. "Pane and Pleasure". Kerrang! Nº 107. November 14-27, 1985.
STERN, P. "Baroque Cosmologies In Their Past, The Boys Focus On 'The Perfect Song'". Canadian Musician. December 1985.
POPOFF, M. "Contents Under Pressure". Canada: ECW Press. 2004.
TELLERIA, E. "Merely Players Tribute". Quarry Music Books. 2002.
Carol S. PRICE, Robert M. "Mystic Rhythms: The Philosophical Vision of Rush". Borgo Press. 1999.