OUT OF THE CRADLE



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OUT OF THE CRADLE

It's not a place
It's a yearning
It's not a race
It's a journey

It's not an act
It's attraction
It's not a style
It's an action

It's a dream for the waking
It's a flower touched by flame
It's a gift for the giving
It's a power with a hundred names

Surge of energy, spark of inspiration
The breath of love is electricity
Maybe Time is bird in flight
Endlessly mocking
Here we come out of the cradle
Endlessly rocking
Endlessly rocking


It's a hand
That rocks the cradle
It's a motion
That swings the sky

It's method on the edge of madness
It's a balance on the edge of a knife
It's a smile on the edge of sadness
It's a dance on the edge of life

Endlessly rocking
FORA DO BERÇO

Não é um lugar
É um anseio
Não é uma corrida
É uma jornada

Não é um ato
É atração
Não é um estilo
É uma ação

É um sonho para os acordados
É uma flor tocada pela chama
É um presente aos generosos
É um poder com uma centena de nomes

Onda de energia, faísca de inspiração
O fôlego do amor é eletricidade
Talvez o Tempo seja um pássaro voando
Que zomba sem cessar
Aqui estamos fora do berço
Que embala sem cessar
Que embala sem cessar


É uma mão
Que balança o berço
É um movimento
Que embala o céu

É um método à beira da loucura
É um equilíbrio na ponta de uma faca
É um sorriso à beira da tristeza
É uma dança na beira da vida

Que embala sem cessar


Música por Geddy Lee e Alex Lifeson / Letra por Neil Peart


O amor é a força que renova a vida incessantemente

A canção que encerra Vapor Trails é "Out of the Cradle", uma peça hard rock com toques progressivos que apresenta movimentos maciços, intensos e fortemente emocionais. O fechamento para um dos álbuns mais sinceros da carreira do Rush.

De início sutil, "Out of the Cradle" se desdobra e se revela musicalmente a cada verso, culminando num ótimo entrelaçamento de guitarras ardentes, linhas de baixo dinâmicas, bateria extremamente medular e vocais sempre vibrantes e ecoantes. Consistente e implacável, trata-se de uma canção de estrutura relativamente simples para os padrões de criações da banda, mas que ainda assim consegue propor sutilezas técnicas e climas de extremo bom gosto. Toda a elaboração, que concluiria o definitivo e aclamado retorno dos admiráveis músicos, é ornada por um tema lírico muito inspirador.

"'Out of the Cradle' foi uma das primeiras canções a serem escritas para o álbum", lembra Neil Peart. "Durante o processo criativo, ela passou por algumas cirurgias sérias, tomando gradativamente essa abordagem descontraída. Esse período nos permitiu reexaminar as canções com o luxo da perspectiva, reparando e substituindo quaisquer peças que não estivessem sobrevivendo ao teste do tempo. Às vezes, uma canção já desenvolvida parece perder força, momento em que abandonamos nossa fé nela (força crítica). Essa sempre foi a nossa versão de 'seleção natural'"

"Essa começou com uma canção rock bem simples, vindo com linhas de baixo fora do topo para criar o ambiente e acordes se contrapondo de forma dinâmica"
, diz Geddy. "Se eu fosse um pianista, essas partes teriam sido feitas num piano. Porém, sendo eu baixista e por estarmos tentando utilizar o mínimo de teclados, usei o baixo para desempenhar a função".

"Out Of the Cradle" fecha o disco que representou uma das mais fortes e abruptas mudanças estilísticas do Rush desde Permanent Waves, de 1980. Com muitos símbolos, Peart se debruça novamente numa grande obra literária para revelar um pouco mais do homem que enfrentou uma longa e árdua caminhada, mutilado pelas as mortes de sua filha e esposa mas que reencontraria a afeição pela vida.

Essencialmente, a composição visita Out of the Cradle Endlessly Rocking, considerado por muitos como uma das mais fantásticas obras do poeta, ensaísta e jornalista norte-americano Walt Whitman (1819 - 1892) - autor que já havia inspirado o título da canção "The Body Electric", de Grace Under Pressure (1984). Originalmente intitulado A Child's Reminiscence (Lembrança de uma Criança) e em seguida A Word out of the Sea (Uma Palavra que Sai do Mar), Out of The Cradle faz parte da famosa coleção Leaves of Grass (Folhas de Relva), publicada pela primeira vez em 24 dezembro de 1859. Whitman tinha a música como uma das suas principais fontes de inspiração, e muitos dos seus quatrocentos poemas contêm termos musicais, nomes de instrumentos e de compositores. Ele insistia que a música era "maior do que a riqueza, maior do que os edifícios, navios, religiões e pinturas", sendo um poeta ardente que cantou a vida e também sobre si mesmo, reverenciado como um dos maiores mestres das palavras.

Out of the Cradle Endlessly Rocking inicia a sessão Sea-Drift (Detritos do Mar) de Leaves of Grass, na qual o poeta condensa temas como amor, morte e perda situando todos em um único ambiente litorâneo. A obra que inspirou Peart, refletindo a natureza do seu próprio drama, é baseada numa experiência intensamente pessoal de Whitman que, visitando sua infância, afirma nas entrelinhas o triunfo da vida sobre a morte. Recriando uma experiência pretérita, ele apresenta imagens de uma criança que se torna um homem e um homem que se torna um poeta, revelando o desenvolvimento da sua própria consciência através de um processo no qual a memória desempenha um papel primordial.

Whitman narra um menino que caminha sozinho à noite numa praia, testemunhando duas aves que preparam seu ninho e passando a observá-las diariamente. Porém, numa manhã, a fêmea não retorna ao local, e o macho passa a clamar incansavelmente. O lamento cria um despertar no garoto, algo que o maravilha ao reconhecer o impacto do meio natural sobre a alma humana e sobre sua própria compreensão. Levado às lágrimas, ele suplica à natureza que lhe dê uma palavra superior a todas e, como uma senhora idosa que balança o berço, o mar sussurra a palavra morte em seus ouvidos, este que se funde ao canto do pássaro. Conforme retratado no poema, a infância de Whitman sempre esteve associada à Long Island (Nova York) e, consequentemente, à cultura local ligada ao mar - o berço que embala sem cessar - a metáfora essencial para sua construção.

A palavra morte lhe parece deliciosa, puramente por representar um pré-requisito para um renascimento - o segredo revelado. Trata-se de um despertar dual para Whitman, tanto à respeito da mortalidade quanto para a poesia, oferecendo-lhe uma espécie de evolução perceptiva sobre o mundo ao seu redor, com passado e o presente sempre se relacionando. Temos, portanto, a aceitação pura e consciente da morte como a conclusão básica do ciclo da vida.

Utilizando figuras notáveis, Peart traça na canção algumas de suas percepções pós-trágicas sobre a existência, tomando como base os desdobramentos da obra de Whitman. Mesmo representando o caminho mais difícil de ser trilhado pelo ser humano, ele entende que a compreensão da morte pode levar à verdadeira maturidade emocional. Para alguém interessado em encontrar o lugar do indivíduo no Universo, essa assimilação é o meio para se alcançar uma perspectiva: enquanto nossos pensamentos possam parecer profundos e únicos, continuamos sendo meros pontos de uma grandeza infinita. Trata-se de ir mais além de si mesmo, considerando o todo.

Através de uma composição lírica cativante e instigante, o baterista busca absorver inspirações na própria natureza, esta que pode prover respostas para conceitos fundamentais - uma tábula rasa na qual tanto o poeta quanto o letrista puderam se projetar. Porém, na canção, mesmo com a compreensão implícita do complexo existencial, há o destaque do elemento catalisador que trouxe o músico de volta à tona: o amor, este que é percebido como um sentimento multifacetado, perigoso e às vezes doloroso, porém arrebatador.

A carta do tarô que representa "Out of the Cradle" é O Louco, um jovem leve e solto que caminha em direção a um precipício. A imagem traz sensações de inquietude e atividade, ou mudanças ao que está estagnado. Simboliza o desligamento da matéria, uma história a ser vivida, o continuar vivendo a vida sabendo que algo surpreendente poderá acontecer - aceitando esse fato despreocupadamente. Pode ser interpretada como a curiosidade de se experimentar coisas novas ou até mesmo um pouco de confusão, além de uma busca que foi sufocada durante muito tempo ou um conselho de seguir a espontaneidade, estando aberto e receptivo a aceitar o papel de aprendiz na vida.

As intenções de "Out of the Cradle" enlaçam o poema e a canção, representando nos dois casos uma metáfora para a vida e para o eterno fluxo do Universo. Evoca percepções que partiram de perdas, mas que olham para o amor de forma grandiosa e espetacular. Intencionalmente, a composição exprime conclusão, com Peart completando a entrega integral que revela sua história e seu processo de cura, confirmando seu retorno com uma nota de esperança revitalizada por seu encontro com Carrie Nuttall, que lhe inspirou e lhe salvou. Todas as experiências profundas que surgem para avaliar uma consciência trágica são naturalmente determinantes e essenciais, permeando e revigorando a própria vida. "Out of the Cradle" é outra grande canção rock, que encerra o capítulo mais dramático de uma carreira gloriosa, celebrando a inconstância e fugacidade da vida, que de fato nos embala sem cessar.

"Decidimos encerrar o disco com 'Out of the Cradle" de última hora", diz Geddy. "Acho que o sentimento e a forma como a canção termina parecem resumir nossos sentimentos sobre a música e sobre a vida: de fato, temos que continuar".

© 2016 Rush Fã-Clube Brasil

CORYAT, K. "Track By Track: Geddy Lee On Rush's Vapor Trails". Bass Player. July 2002.
PEART, N. "Behind The Fire - The Making Of Vapor Trails". The Vapor Trails Tour Book. 2002.
PIPHER, G. "Geddy Lee Of Rush". CNN.Com, June 3, 2002.