EMOTION DETECTOR



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EMOTION DETECTOR

When we lift the covers from our feelings
We expose our insecure spots
Trust is just as rare as devotion -
Forgive us our cynical thoughts
If we need too much attention -
Not content with being cool
We must throw ourselves wide open
And start acting like a fool
If we need too much approval
Then the cuts can seem too cruel

Right to the heart of the matter
Right to the beautiful part
Illusions are painfully shattered
Right where discovery starts
In the secret wells of emotion
Buried deep in our hearts


It's true that love can change us
But never quite enough
Sometimes we are too tender
Sometimes we're too tough
If we get too much attention
It gets hard to overrule
So often fragile power turns
To scorn and ridicule
Sometimes our big splashes
Are just ripples in the pool

Feelings run high
DETECTOR DE EMOÇÃO

Quando abrimos as tampas dos nossos sentimentos
Revelamos nossos pontos inseguros
Confiança é tão rara quanto a devoção -
Perdoe-nos por nossos pensamentos cínicos
Se precisamos de muita atenção -
Não contentes em sermos legais
Temos que nos abrir totalmente
E começar a agir como tolos
Se precisamos de muita aprovação
Então os cortes podem parecer bem cruéis

Direto ao cerne da questão
Direto à parte bela
Ilusões são dolorosamente despedaçadas
Exatamente onde começa a descoberta
Nos poços secretos da emoção
Enterrada no fundo dos nossos corações


É verdade que o amor pode nos mudar
Mas nunca o bastante
Às vezes somos muito sensíveis
Às vezes muito duros
Se tivermos muita atenção
Fica mais difícil de ignorar
Tantas vezes o frágil poder se transforma
Em desprezo e escárnio
Às vezes nossos grandes mergulhos
São apenas ondulações na piscina

Sentimentos em alta


Música por Geddy Lee e Alex Lifeson / Letra por Neil Peart


O poder das emoções e dos relacionamentos

"Emotion Detector" é a penúltima canção do álbum Power Windows, uma peça cativante e de melodias marcantes desenhada por performances instrumentais bastante vigorosas e dinâmicas, que traz como tema o poder e a importância das emoções na vida e nas relações entre as pessoas.

"Lidamos com o poder que temos uns sobre os outros em nossos relacionamentos cotidianos", explica Alex Lifeson. "É de fato assustador que alguns poucos tenham tanto poder em suas mãos [como o presidente dos Estados Unidos na época, Ronald Reagan]. Porém, é assim que as coisas são, e não há absolutamente nada que possamos fazer sobre isso. Há poder em muitas mãos - bons e ruins - e, de fato, todos têm um pouco de poder, seja aquele que sua esposa ou namorada pode ter sobre você e vice-versa. Isso é algo que discutimos nessa canção".

A introdução de "Emotion Detector" destaca novamente os sintetizadores, estes que continuam realizando belíssimos duetos com as guitarras - jamais se confrontando e sempre se completando. Linhas de baixo ousadíssimas acompanhadas por percussões eletrônicas incrivelmente apuradas destacam a obra, que é coroada por outro solo profundo e comovente de Lifeson, certamente um dos mais belos de todo o álbum.

"'Emotion Detector' traz um dos meus solos favoritos", afirma o guitarrista. "Há nele sentimentos profundos combinados à uma articulação tensa que acabam tornando-o bem fluido".

Inicialmente, a banda esperava que a conclusão do trabalho nessa faixa ocorreria sem maiores problemas. Porém, os integrantes se surpreenderam pela grande complexidade que a composição apresentou durante todo o processo de concepção, principalmente no que se refere à combinação com o solo de guitarra. "Há sempre uma canção como 'Emotion Detector', que achávamos que seria tranquila de se preparar, mas que acaba se tornando bastante difícil", explica Lifeson. "Foi muito, muito duro conseguirmos o clima certo. Ela nunca soou da forma que imaginávamos. Essa canção tinha, originalmente, um solo completamente diferente, um pouco mais trabalhado. Decidimos deixá-lo de lado para seguir com as outras partes, levando uns quatro ou cinco dias nisso, com Neil não se sentindo bem com o resultado. Ele não achava que o primeiro solo se encaixava com aquilo que a música declarava, e decidimos examinar novamente, quando acabei dando-lhe uma outra dinâmica. Uma coisa é você compor novamente a guitarra base, onde sempre se tem coisas a mirar. Agora, se divorciar de um solo que estava na sua cabeça há mais de três meses para se chegar a algo totalmente diferente é bem difícil. Mas acabei ficando satisfeito com o resultado como um todo".

"Emotion Detector" é uma canção madura e bastante cativante, marcada por climas e refrão bastante intensos que expõem destacadamente todo poderio e competência vocal de Geddy Lee, que novamente consegue interpretar com maestria toda a intensidade das imagens e sensações das palavras de Peart. O tema da faixa marca mais uma vez o ponto de vista individual, trazendo preciosas observações comuns aos humanos, mas sempre difíceis de serem definidas.

"Neil fala muito sobre nós mesmos nas letras, como em 'Emotion Detector'", afirma Lifeson. "Nós três estamos lá, mas ele sempre procura uma forma de utilizar termos universais em suas composições, o que faz com que a música não soe tão reflexiva".

"Emotion Detector" lança olhares abrangentes sobre o poder das emoções, do amor e dos relacionamentos gerais entre as pessoas, pontuando a natureza e a importância vital dessa dinâmica para nossa existência. Diferentemente de canções como "Vital Signs" (de Moving Pictures, 1981) e "Chemistry" (de Signals, 1982), nas quais Peart tratava das conexões humanas utilizando abordagens mais complexas e metafóricas, em "Emotion Detector" ele apresenta uma poesia mais direta para externar seus pensamentos sobre o tema.

"Novamente, de acordo com o tema geral poder, quis lidar com o poder das emoções e com o poder do amor de uma maneira específica", explica Peart. "Quis olhar também para os relacionamentos, para a dinâmica dos mesmos, sobre como funcionam e como as pessoas se inter-relacionam - mostrando como às vezes é completo e bem sucedido, e às vezes desconectado e incompleto. Além disso, o ponto de comparação ou a justaposição entre a experiência e a desilusão também foi parte importante, quando você cresce cheio de inocência e ilusões sobre a vida e, de repente, começa a ser atingido por seus golpes terríveis quando adulto, a partir dos quais você se desilude com as pessoas e com outras coisas, e com tudo isso podendo causar uma reação negativa na sua vida e em sua visão de mundo".

"Porém, a parte positiva que quis apontar é que é justamente aí que o conhecimento começa, com essa experiência. A certeza de que você vai se desiludir é algo triste, e não é muito agradável negociar a inocência pela experiência. Fazer essa transição é uma parte muito difícil da vida. Muitas pessoas nunca terão sucesso nisso, pois não aceitam o que a experiência lhes ensina como verdade. Consequentemente, a inocência torna-se uma falsa fachada para elas, atrás da qual continuam vivendo. Dessa forma, quis fazer basicamente uma declaração sobre a desilusão, dizendo que todos nós teremos que enfrentá-la. A desilusão está aí, é dolorosa, mas também traz o conhecimento e uma forma de ver as coisas. Se você colocar de lado as ilusões como parte do crescimento, então elas se tornarão bagagens de infância que você deverá deixar para trás".


"Emotion Detector" observa a dinâmica das emoções. Apresentando diversas reflexões, as emoções não funcionam somente como uma parte integral da interação relacional humana e do processo adaptativo da pessoa ao ambiente, mas também como um sistema de adequação do homem aos contextos sociais. Trata-se de experiências subjetivas que envolvem o indivíduo por completo - sua mente e corpo - a partir de reações complexas desencadeadas por estímulos ou pensamentos que envolvem reações orgânicas e sensações pessoais, nomeadamente reações observáveis como excitações fisiológicas, interpretações cognitivas e experiências subjetivas.

A canção ressalta a capacidade das emoções em nos tornar poderosos, mas ao mesmo tempo frágeis. Peart realiza um trabalho muito interessante sobre as vulnerabilidades e inseguranças constantemente enfrentadas nas relações humanas, especialmente no que tange o ego. O letrista utiliza imagens profundas e lúcidas sobre nossa natureza emocional e de como a mesma funciona quando externada. No primeiro momento da canção, temos a abordagem dos riscos que assumimos quando desistimos de parte da nossa reputação, a fim de agir de maneira diferente do que verdadeiramente somos e acreditamos na busca pela aceitação. Por outro lado, Peart pondera sobre os momentos em que expressamos verdadeiramente nossos sentimentos, algo que fatalmente acaba expondo nossas fragilidades. "Emotion Detector", portanto, expõe dois olhares: quem realmente somos é quem tentamos ser, quando criamos a ilusão sobre como desejamos ser percebidos.

Notavelmente, "Emotion Detector" enfatiza que nossos sentimentos são essenciais. Por vezes, definimos um fino verniz que cobre nossas emoções genuínas e as escondem de outras pessoas, ou uma fina camada que protege nossa fachada de sentimentos mais profundos como a raiva e ressentimentos. Para uma descoberta profunda de quem somos verdadeiramente, precisamos de um "detector de emoção", que revelará de fato nossa essência. Indo além, a canção também pondera as complicações das relações amorosas, quando assumimos riscos revelando nossos sentimentos a alguém, atitude que não garante que receberemos o mesmo em troca - um impacto que pode ser bastante doloroso.

Neil Peart nos faz pensar com o Rush sobre a interface das nossas relações, uma espécie de superfície que delimita conexões e onde podemos tirar e inserir muito do que pretendemos mostrar ou esconder dos outros. No que se refere à "parte bela" (as verdadeiras emoções), quando conseguimos descobrir, compreender e aceitar quem somos de fato, todas as ilusões que trazemos sobre nós mesmos (e elaborada para os outros) são fortemente abaladas. A imagem que oferecemos depende até certo ponto de nós mesmos, por estar ao alcance da nossa consciência, da nossa inteligência e da nossa sensibilidade. Não podemos controlar completamente o que pensam de nós, mas podemos certamente condicionar muitos desses pensamentos, encaminhando-os em um determinado sentido. A canção afirma que nossos sentimentos são essenciais, mas "às vezes nossos grandes mergulhos" podem não ser a prova real de quem nós somos verdadeiramente.

Se não mantivermos nossas emoções bem estruturadas, as chances de sobrevivência se tornam bastante reduzidas. Naturalmente, somos seres com uma biologia elaborada e de emoções bem refinadas como altruísmo, solidariedade e compaixão. Porém, é imprescindível que essas atividades emocionais sejam harmonizadas e equilibradas com o uso da racionalidade e do pensamento analítico e investigativo. Cultivando a tolerância e respeitando as diferenças individuais, a fim de termos um convívio pacífico, teremos todas as chances possíveis para sobreviver em épocas tão difíceis quanto as que nos aguardam no futuro.

© 2015 Rush Fã-Clube Brasil

LADD, J. "Innerview - Neil Peart / Innerview With Jim Ladd". 1986.
BLACKETT, M. "Alex Lifeson: Different Strings". Guitar Player. September 2007.
BASHE, P. "Grand Designs For The Future / After Talk Of A Breakup, The Canadian Trio's Vital Signs Look Good". International Musician And Recording World. December 1985.
PUTTERFORD, M. "Pane and Pleasure". Kerrang! Nº 107. November 14-27, 1985.
LOPES, Rosimeri B. "As Emoções". Psicologado. Setembro de 2011.