MYSTIC RHYTHMS



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EMOTION DETECTOR  MYSTIC RHYTHMS  FORCE TEN


MYSTIC RHYTHMS

So many things I think about
When I look far away
Things I know - things I wonder
Things I'd like to say
The more we think we know about
The greater the unknown
We suspend our disbelief
And we are not alone -

Mystic rhythms - capture my thoughts
And carry them away
Mysteries of night
Escape the light of day
Mystic rhythms - under northern lights
Or the African Sun
Primitive things stir
The hearts of everyone


We sometimes catch a window
A glimpse of what's beyond
Was it just imagination
Stringing us along?
More things than are dreamed about
Unseen and unexplained
We suspend our disbelief
And we are entertained

Mystic rhythms - capture my thoughts
And carry them away
Nature seems to spin
A supernatural way
Mystic rhythms - under city lights
Or a canopy of stars
We feel the powers
And we wonder what they are
We feel the push and pull
Of restless rhythms from afar
RITMOS MÍSTICOS

Penso em tantas coisas
Quando olho para longe
Coisas que sei - coisas que me pergunto
Coisas que gostaria de dizer
Quanto mais achamos que sabemos
Maior o desconhecido
Suspendemos nossa descrença
E não estamos sozinhos -

Ritmos místicos - capturem meus pensamentos
E os levem para longe
Mistérios da noite
Fogem da luz do dia
Ritmos místicos - sob as luzes do norte
Ou do sol africano
Coisas primitivas mexem
Com o coração de todos


Às vezes pegamos uma janela
Um vislumbre do que está além
Foi apenas a imaginação
Nos enganando?
Mais coisas além do que sonhamos
Invisíveis e inexplicáveis
Suspendemos nossa descrença
E ficamos entretidos

Ritmos místicos - capturem meus pensamentos
E os levem para longe
A natureza parece girar
De forma sobrenatural
Ritmos místicos - sob as luzes da cidade
Ou um toldo de estrelas
Sentimos os poderes
E queremos saber o que são
Sentimos o impulso e a atração
Dos ritmos agitados que vêm de longe


Música por Geddy Lee e Alex Lifeson / Letra por Neil Peart


O intrigante poder do desconhecido

"Mystic Rhythms" é a canção que conclui o álbum Power Windows. O título mostra-se bastante apropriado para este que se apresenta como um trabalho muito singular no conjunto de composições da banda. Temos aqui, definitivamente, uma das composições mais mágicas e excêntricas que o Rush já realizou.

A melhor maneira de descrever "Mystic Rhythms" é sua capacidade essencial de provocar sensações hipnóticas nos ouvintes, brilhando a proposta dos canadenses em tentar novas explorações. Neil Peart, a partir de suas linhas percussivas constituídas por padrões exímios e incomuns, guia intensamente os sintetizadores atmosféricos e as melódicas linhas de baixo de Geddy Lee, além das tocantes guitarras texturais de Alex Lifeson exploradas em dedilhados brilhantes. Por fim, os vocais nos causam um grande impacto imaginativo, refletindo todo o cenário de introspecção proposto.

Os elementos eletrônicos que ocorrem em "Mystic Rhythms" não se limitam somente aos teclados. Neil e seu técnico antigo técnico de bateria, Larry Allen, visitaram um grande número de lojas de música em Londres, buscando alugar alguns instrumentos de percussão de origens africanas e indígenas. Eles levaram um dia inteiro experimentando esses novos elementos, separando os sons que seguiam aprovando. Por fim, os escolhidos foram gravados para serem disparados no kit de bateria eletrônica Simmons. Era a tecnologia sendo utilizada para capturar sonoridades mais antigas e até mesmo primitivas, estas que se tornariam muito importantes para toda a dinâmica da canção. Assim, Neil conseguiu uma atmosfera bastante exótica ao lado de seus companheiros, completada ainda por outros sons nitidamente orientais. É difícil definir todos os estilos musicais e elementos empregados em "Mystic Rhythms", mas podemos facilmente concluir que estes funcionaram perfeitamente, ajudando a criar uma intensa e perfeita combinação entre letra e música.

"Provavelmente, 'Mystic Rhythms' foi a faixa mais sintética de todo o disco", diz Geddy. "Tudo nela passa por algo sintetizado. Passamos um dia inteiro fazendo samplers de tambores africanos, tablas indianas, rototoms e todos os tipos de sons bizarros. Encontramos quatro adequados, e os armazenamos em um AMS que era disparado por Neil em seu kit Simmons SDS-7. Há um som de guitarra muito original também. É um violão Ovation passando pelo amplificador e saindo com um som sintetizado".

"Com 'Mystic Rhythms', tudo o que fizemos nos parecia apropriado para aquilo que a canção dizia, e achei ótimo equilibrar nosso disco com diferentes estilos e texturas. Esse foi, de fato, os motivos por trás dessa sonoridade"
, explica o baixista.

Concluindo o motivo temático central de Power Windows, "Mystic Rhythms" aborda o poder do desconhecido e da imaginação. Neil tenta capturar, de uma forma geral, a série de percepções íntimas que geralmente não conseguimos descrever, exaltando o sentimento de admiração ao experimentarmos sensações que parecem ir muito além de nós - que acabam dominando nossos pensamentos nos levando para dimensões longínquas. Como a proposta anterior em "Emotion Detector", é interessante observar que o letrista começa a mergulhar também em temas como o comportamento humano instintivo, este que seria inclusive um dos conceitos centrais do próximo álbum da banda.

"Mystic Rhythms" lida com o senso de mistério da vida e com o fato dos seres humanos ainda conhecerem muito pouco sobre o Universo, apontando como é tentador suspender a descrença em prol do quão agradável, reconfortante ou intrigante pode parecer estar aberto à possibilidade de forças invisíveis ou místicas agindo de longe.

"Essa canção lida com um poder do tipo cósmico, o poder que nos faz cair em frustração e na procura desesperada quando olhamos para as estrelas e não conseguimos sequer formular uma ideia do que está lá", diz Alex. "É o tal desconhecido. Trata-se de um poder intrínseco que sempre esteve lá e ainda estará lá por muito tempo, mesmo depois de virmos e irmos".

Novamente, percebemos de maneira clara que a banda se afasta dos apegos a elementos como o objetivismo em suas letras - as referências de Peart à filosofia randiana diminuíam. Em "Mystic Rhythms", o baterista nos oferece uma visão de quase adoração da natureza.

Com sua estrutura instrumental incomum, "Mystic Rhythms" expressa observações sobre o funcionamento do universo baseado em ritmos e padrões constantes, como se toda a natureza estivesse interligada e equilibrada por elementos mecânicos e movimentos básicos - acontecendo inclusive com nós mesmos. A construção da canção é subdividida de maneira metódica e precisa, especialmente no que tange à percussão, o que ajuda na compreensão do seu teor misterioso. Temos, nessa canção, fatores que se combinam para evocar um cenário que nos leva a pensar sobre tudo o que há ao nosso redor, sobre os quais, inevitavelmente, fazemos inúmeros questionamentos metafísicos a nós mesmos. Trata-se da ação do poder do desconhecido sobre nossas mentes, este que surge quando somos surpreendidos por nossas próprias ponderações em torno dos obscuros fundamentos e das origens do exuberante e grandioso Universo que nos cerca.

O Rush nunca apreciou a produção de vídeos para suas canções. Segundo Geddy, o ouvinte acaba perdendo o elemento imaginativo com o oferecimento desse tipo de material. Porém, durante os ensaios para a turnê Power Windows, o trio acabou concordando em realizar dois trabalhos visuais para o álbum: "The Big Money" e "Mystic Rhythms", este último se tornando certamente um dos melhores clipes de toda a carreira da banda. Dirigido por Gerald Casale, vocalista da banda new wave Devo, "Mystic Rhythms" traz uma grande variedade de imagens e objetos surreais intercalados com a banda em ação. São apresentadas, destacadamente, algumas esculturas mecânicas autômatas criadas pelo artista britânico Paul Spooner: "The Dream", de 1984, que mostra uma mulher dormindo em sua cama e "Hell's Kitchen", de 1980, que surge durante os trinta segundos finais.

"Hell's Kitchen" é considerada uma das mais importantes esculturas desse tipo. Totalmente talhada à mão, ela possui aproximadamente 2 metros de altura, pesando aproximadamente 130 kg e sendo propriedade de Marvin Yagoda, dono do Marvin's Marvelous Mechanical Museum em Farmington Hills, Michigan (EUA). Esse trabalho pode ajudar na compreensão de "Mystic Rhythms". Segundo o próprio Spooner, sua escultura mostra uma cachoeira de pessoas descendo quando o inferno se abre. Lá, encontramos alguns demônios experimentando prazeres simples - uns tomando café, outros jogando sinuca, preparando alimentos, bebendo cerveja, etc. Quando o inferno se fecha, o céu é revelado sobre o crânio, no qual percebemos alguns adoradores juntos em prece, estagnados em uma vida sem prazeres. Dessa forma, o simbolismo da divindade fica claro nessa representação, sendo aqui apresentado como algo presente apenas na mente das pessoas. E, o mais interessante, é que toda a grande estrutura é operada por um sistema muito complexo de engrenagens, não visíveis para o mundo exterior.

"Mystic Rhythms", assim como nossa própria natureza instintiva, provoca pensamentos sobre a existência e sobre os intangíveis segredos do mundo. Por vezes, inevitavelmente, recorremos à imaginação, à ciência, à filosofia e às religiões para saciar nossas curiosidades, dúvidas e inquietações. Assim, essa belíssima canção pode ser resumida em um pensamento do estudioso norte-americano Joseph Campbell (1904-1987), "Dizem que o que todos procuramos é um sentido para a vida. Não penso que seja assim. Penso que o que estamos procurando é a experiência de estarmos vivos, de modo que nossas experiências de vida, no plano puramente físico, tenham ressonância no interior do nosso ser e em nossa realidade mais íntima".

© 2015 Rush Fã-Clube Brasil

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