COUNTDOWN



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COUNTDOWN

Lit up with anticipation
We arrive at the launching site
The sky is still dark, nearing dawn
On the Florida coastline

Circling choppers slash the night
With roving searchlight beams
This magic day when super-science
Mingles with the bright stuff of dreams

Floodlit in the hazy distance
The star of this unearthly show
Venting vapours, like the breath
Of a sleeping white dragon

Crackling speakers, voices tense
Resume the final count
All systems check, T minus nine
As the sun and the drama start to mount

The air is charged - a humid, motionless mass
The crowds and the cameras,
The cars full of spectators pass
Excitement so thick - you could cut it with a knife
Technology - high, on the leading edge of life

The earth beneath us starts to tremble
With the spreading of a low black cloud
A thunderous roar shakes the air
Like the whole world exploding

Scorching blast of golden fire
As it slowly leaves the ground
Tears away with a mighty force
The air is shattered by the awesome sound

Like a pillar of cloud, the smoke lingers
High in the air
In fascination - with the eyes of the world
We stare...
CONTAGEM REGRESSIVA

Antecipadamente iluminado
Chegamos ao local de lançamento
O céu ainda escuro, aurora se aproxima
Na costa da Flórida

Helicópteros circulantes rasgam a noite
Com holofotes se movendo
Esse dia mágico onde a super-ciência
Mistura-se ao material brilhante dos sonhos

Iluminada na distância enevoada
A estrela desse show sobrenatural
Vapores soprando, como a respiração
De um dragão branco adormecido

Alto-falantes explodindo, vozes tensas
Resumem a contagem final
Todos os sistemas checados, faltando nove segundos
Enquanto o Sol e o drama começam a se elevar

O ar está carregado - uma massa úmida e imóvel
A multidão e as câmeras,
Carros cheios de expectadores passam
Excitação tão densa - você poderia cortá-la com uma faca
Tecnologia - alta, na vanguarda da vida

A terra abaixo de nós começa a tremer
Com o esparramar de uma nuvem negra baixa
Um rugido estrondoso balança o ar
Como se fosse o mundo todo explodindo

Estouro escaldante de fogo dourado
Enquanto ele lentamente sai do chão
Arranca com uma força poderosa
O ar é despedaçado por um som impressionante

Como um pilar de nuvem, a fumaça permanece
Alta no ar
No fascínio - com os olhos do mundo
Observamos fixamente...


Música por Geddy Lee e Alex Lifeson / Letra por Neil Peart
Dedicada e com agradecimentos aos astronautas Young & Crippen e a todo o pessoal da NASA por sua inspiração e cooperação


Detalhes de uma das mais notáveis conquistas tecnológicas da humanidade

"Countdown" encerra a jornada de Signals. A oitava e última canção do álbum traz uma descrição minuciosa das sensações experimentadas pelos integrantes do Rush na ocasião da missão STS-1, lançamento inaugural do ônibus espacial Columbia e o primeiro desse tipo, ocorrido no dia 12 de abril de 1981 no Cabo Canaveral, Flórida (EUA).

Após o convite especial de amigos da NASA, um adiamento e noites sem dormir entre shows da Moving Pictures Tour, os canadenses conseguiram testemunhar o aguardado evento. O jovem Neil Peart deixa o local tão entusiasmado que rapidamente expõe a ideia de escrever uma canção sobre o Columbia.

Estávamos lá! Não foi fácil, mas conseguimos! Fomos convidados há muito tempo para o primeiro lançamento e sempre juramos que estaríamos lá, não importando o que acontecesse. Pouco sabíamos!

Voamos para Orlando em 9 de abril, um dia de folga. Fomos para o hotel e dormimos até umas quatro da manhã, quando seguimos para a Base da Força Aérea perto do Cabo. Lá encontramos nosso homem de ligação, nos dirigindo em segurança até a zona VIP (Setor Vermelho A) na hora da alvorada. Permanecemos ali, ouvindo os anúncios enquanto o sol nascia. Tínhamos que tocar em Dallas naquela noite, então não podíamos demorar. Por fim, eles anunciaram que o lançamento seria adiado. Os computadores não estavam respondendo!

Bom, corremos para o carro e nosso bravo motorista voou no tráfego da estrada. Chegamos no aeroporto a tempo.

Na noite seguinte, tivemos um show em San Antonio, e depois fomos levados para um jato fretado voando direto para a Flórida novamente. Dessa vez, o lançamento ocorreu como previsto, e foi INCRÍVEL!! (Mais sobre isso na canção.) Corremos de volta para o avião e voamos para Fort Worth, onde tínhamos um show naquela noite. Felizmente o dia seguinte seria folga, então teríamos a chance para dormir um pouco!

Lembro de pensar comigo mesmo enquanto voávamos para Fort Worth, após alguns dias sem dormir: "Temos que gravar uma canção sobre isso!". Foi algo incrível de se testemunhar, realmente uma experiência única na vida. Só espero que a canção consiga chegar perto de capturar a excitação e o nervosismo que sentimos naquela manhã.


O primeiro lançamento de um ônibus espacial na história ocorreu às sete da manhã, quando o Columbia partiu da Plataforma 39A - no complexo de lançamento 39 do Kennedy Space Center - levando os astronautas John Young e Robert Crippen, aos quais "Countdown" acabou sendo dedicada. O objetivo principal da missão era testar o novo veículo, verificando seus sistemas gerais e acompanhando a ascendência e retorno à Terra em uma aterrissagem segura. Todos os objetivos foram atingidos.

"Enquanto eles desenvolviam o lançamento do ônibus espacial, alguém conseguiu um acesso VIP para nós", lembra Geddy Lee. "Na época, o diretor do Centro Espacial Kennedy nos guiou em um passeio, nos mostrando todo o processo. Ele foi muito simpático e era muito interessado em sua atividade. Foi um tipo de curiosidade mútua. Mantivemos contato e, quando chegou o momento do lançamento, fomos convidados".

"Foi algo incrível, um acontecimento esplêndido de se testemunhar"
, diz Alex Lifeson. "Nunca ouvi algo tão alto na minha vida. Minha calça se agitava, você podia sentir o chão vibrar, e isso aconteceu à cinco quilômetros - era o mais próximo que você poderia ficar. Dessa forma, decidimos fazer alguma coisa sobre isso no próximo álbum".

"Countdown" reflete o constante entusiasmo da banda com as maravilhas da tecnologia, incluindo o uso da mesma em sua música. A composição apresenta padrões destacados de sintetizadores, similares àqueles utilizados na faixa de abertura, "Subdivisions", sendo isenta de solos de guitarra como "New World Man". O instrumental também apresenta inúmeras amostras gravadas das atividades de lançamento do Columbia, incluindo o som de helicópteros, as vozes na central de controle da missão e dos astronautas. Peart, por sua vez, baseia grande parte de sua percussão rufando na caixa, soando "militarmente". A música é construída em efeitos crescentes, a fim de sublinhar a emoção gradativa e singular da ocasião retratada. Em meio às amostras de áudio da narrativa - desde a preparação, a ignição e a partida - ritmos alternados em 6/4 e 7/8 aumentam as sensações de excitação e tensão em torno dessa notável aplicação de vanguarda científica e tecnológica.

Um dos grandes destaques musicais de "Countdown" é o ótimo solo de teclado idealizado por Geddy. "Acho que nunca mais vou fazer isso - uma pequena improvisação nos teclados. Limito-me ao básico no instrumento".

"É mais uma coisa de sentimento do que esforço consciente", diz Alex. "Na nossa forma de compor, já temos a letra ou uma ideia daquilo que a canção vai ser, o que define o clima da mesma. Ao alterar compassos, você tem o poder de mudar todo o efeito da música. Acho que, na verdade, vamos para essas mudanças sem um esforço consciente, essas que tornam a música mais complexa. Essa influência veio do movimento progressivo britânico, de bandas como o Yes e Genesis - eles exerceram grande influência sobre nós. Acho que estamos sempre escolhendo algo que tenha efeitos sobre a forma de se ouvir músicas. Enquanto você conseguir ouvir essas coisas e aplicá-las, estará crescendo. Em vários momentos, algumas bandas travam em coisas e ficam por lá até o fim. Eles fazem dois ou três discos da mesma forma, sendo os seus mais populares, e é isso para eles".

Curiosamente, Ayn Rand, uma das mais notáveis influências para as primeiras composições de Peart, participou de forma semelhante do lançamento da missão Apollo 11 em 1969, como convidada especial. Ela ficou igualmente entusiasmada com o evento, principalmente pela evidência da grandeza do homem. "Eu tinha ciência de que esse espetáculo não era um produto da natureza inanimada como a aurora boreal, ou do acaso, ou da sorte. Era inconfundivelmente humano - o "humano" significando grandeza. Um propósito e um esforço longo, sustentado e disciplinado que conseguiu essa série de momentos, com o homem sendo bem-sucedido".

Peart busca descrever com "Countdown" um salto à frente no desenvolvimento do homem. Cada frase nasce de uma impecável interpretação vocal de Geddy, capaz de transportar o ouvinte para o momento, provocando sensações do calor, da emoção e das vibrações desse grande marco na história da humanidade.

Assim como em "Subdivisions", o Rush lançou um vídeo de divulgação para "Countdown", trazendo algumas imagens da banda tocando intercaladas com tomadas da sala de controle do Centro Espacial Kennedy durante a contagem regressiva e lançamento do Columbia, seguindo de perto a descrição lírica. Da mesma forma que a canção, a produção visual consegue capturar a intensidade dos momentos em que os lançamentos de ônibus espaciais eram uma grande novidade, acumulando por isso uma incrível atenção da mídia.

O Rush conseguiu acesso não somente às fitas sonoras originais, que foram utilizadas na gravação da canção, mas também aos vídeos produzidos pela própria NASA. Como consequência, os astronautas Young & Crippen, além de outros funcionários, assistiram a shows da banda como convidados especiais. "Temos alguns amigos na NASA que nos enviaram um filme do lançamento do Columbia, que utilizamos na versão visual da canção", diz Alex. "Ele mostra o ônibus decolando, realmente seguindo a letra".

"Havia muitas pessoas na área limite"
, continua o guitarrista. "Quando decolou, todos gritavam e você não conseguia ouvir ninguém. Em seguida, ocorreram muitos aplausos sólidos, por uns dez minutos. Foi ótimo. Além disso, o filme que conseguimos para 'Countdown' traz imagens excelentes, coisas que você não vê normalmente. Há os disparos na ignição, o ônibus explodindo e subindo. Havia outra câmera que quase mostrava o cockpit".

"'Countdown' é uma recriação da experiência de termos presenciado o primeiro lançamento do Columbia na Flórida"
, lembra Neil. "Temos alguns amigos na NASA e conseguimos as fitas com os sons reais - que foram utilizados no disco - e um lote inteiro de filmagens originais que também usaremos em nossas projeções no telão, durante os shows".

Liricamente, "Countdown" seria o início definitivo das investidas do Rush em torno de canções-documentário, algo que seria explorado em vários momentos futuros. "'Countdown' não funcionou naquele momento, mas nos levou à frente", reconhece o letrista. "Foi a primeira tentativa de um documentário, pegando a vida real e colocando em uma canção".

A composição consegue pintar um quadro ao descrever as imagens impactantes de momentos marcantes. Porém, em 01 de fevereiro de 2003, aconteceria o aterrador desastre com o Columbia, ocorrido durante a fase de reentrada na atmosfera terrestre a apenas dezesseis minutos de tocar o solo, no regresso da missão STS-107 - o acidente causou a destruição total da nave e a perda dos sete astronautas que compunham a tripulação. Embora a "Countdown" permaneça conceitualmente esperançosa e inspiradora, ela acaba se tornando também um memorial que, de certa forma, se associando ao cerne de Signals - após os sonhos juvenis, esbarramos nas fronteiras e realidades da maturidade, principalmente refletidas na transitoriedade da vida.

Temos em Signals o mergulho definitivo do Rush em uma nova era, onde a banda assume por completo a tecnologia como parte integrante de sua sonoridade. Liricamente, a conclusão do disco expõe uma estrutura cíclica: começando nos subúrbios temos, a partir da contemplação de fuga desses locais, a exploração de fatores humanos universais como a aceitação, divisões, os sonhos, ligações emocionais, as pressões da maturidade, os poderes de governos e religiões, as expectativas da humanidade e os dramas da velhice, ponderações que culminam em uma fuga real para as estrelas. "A construção de grandes conceitos é tão fora de moda atualmente", diz Neil. "Algumas pessoas, e acredito que não haverão muitas, serão perspicazes o suficiente para capturar essas intenções no disco".

© 2015 Rush Fã-Clube Brasil

BANASIEWICZ, B. "Rush Visions: The Official Biography". Omnibus Press, 1987.
BERTI, J. "Rush and Philosophy: Heart and Mind United (Popular Culture and Philosophy)". Chicago: Open Court, 2011.
PEART, N. "Stories From Signals". 1982.
SUTHERLAND, J. "Rush: New World Men". Record Review Magazine. February 1983.
GETT, S. "Rush: Success Under Pressure". Cherry Lane Music. January 1985.
QUILL, G. "Neil Peart: New World Man". Music Express Magazine. September / October 1982.
BAHADUR, R. "Rush Takes Off: The Geddy Lee Interview". Scene Entertainment Weekly Magazine. October 28th - November 3rd, 1982.
STIX, J. "Alex Lifeson of Rush: Still in School". Guitar For The Practicing Musician. July 1984.