ALEX LIFESON EM ENTREVISTA PARA A REVISTA BIZZ



23 DE MAIO DE 2016 | POR VAGNER CRUZ

Alex Lifeson concedeu uma entrevista na edição de junho de 2007 da antiga revista brasileira Bizz. Na época, o guitarrista do Rush falou sobre o recém-lançado álbum Snakes & Arrows, além de relembrar a passagem da banda no Brasil em 2002 e emitir opiniões sobre críticos musicais e o punk rock. Acompanhe a transcrição do material.

TEMPO DE MUDANÇA
Fãs sob controle, críticos calados e disco com violões. Só não pela para Alex Lifeson, começar a ouvir punk rock...


Bizz - Junho de 2007
Por Sávio Vilela | Transcrição: Vagner Cruz

BIZZ: Snakes & Arrows é o primeiro disco com inéditas em cinco anos. Porque a demora?

Alex Lifeson:
Nesse período fizemos duas turnês e lançamos três DVDs. Foram cinco anos bem atarefados. E como queríamos celebrar nosso aniversário com a turnê de 30º aniversário, mantivemos o foco nisso. Só depois é que nos concentramos no novo álbum, cujas composições começamos a escrever há cerca de um ano. Foi bem divertido trabalhar com o produtor Nick Raskulinecz. Ele é bem mais jovem que nós, gravou os últimos álbuns do Foo Fighters e nos influenciou bastante. Estamos nisso há muito tempo - sabemos o que fazer, como queremos que os instrumentos soem e tudo mais. Mas é legal ter alguém no estúdio que mude a dinâmica e nos leve a dar um passo além. Isso faz diferença.

Pra mim, o disco soa como o Rush de sempre, porém com mais violões.

Compus todas as faixas no violão, o que dá um abordagem diferente. Antigamente era assim que trabalhávamos. A Farewell to Kings, por exemplo, foi todo criado em violões. Retomamos essa forma de compor que funciona. As partes mais importantes de um música ficam mais evidentes e a mesma se torna mais orgânica, o que te dá possibilidades que não são possíveis com uma guitarra.

Você se lembra do Brasil?

Nunca vou esquecer da nossa primeira vez aí. Sempre quisemos ir e, desde os anos 80, volta e meia nos ofereciam para tocar em festivais. Mas queríamos fazer o nosso próprio show. Finalmente, na turnê Vapor Trails, conseguimos três apresentações: Porto Alegre, São Paulo e Rio. Foi uma experiência fantástica, uma das melhores de minha vida. Tocar em São Paulo para 60 mil pessoas foi um loucura e o nosso maior público até aquele momento. Você via todo mundo cantando cada letra de cada música! Não fazíamos ideia que tínhamos tantos fãs no Brasil.

Vocês abriram os shows com "Tom Sawyer". A faixa era o tema de abertura da serie Profissão: Perigo na TV brasileira. Aquele riff está grudado na cabeça de um monte de gente...

[Risos] Excelente! Só soubemos disso depois dos shows. Acho que abrir nossas apresentações no Brasil com essa música foi um golpe de sorte.

Vocês receberam os royalties?

Temos de verificar [risos].

Não faltam críticos pegando no pé do Rush. Recentemente vocês foram eleitos a maior banda guilty pleasure. Se você pudesse dar uma lição aos críticos e sair incólume, o que você faria?

Veja só você... mais de 30 anos depois, aqui estamos eu, Geddy e Neil. Fizemos várias turnês mundiais, vendemos pra cacete em tudo quanto é lugar, temos um disco que acabou de sair... eu não sei, mas todos esse críticos ainda têm emprego? Nós vencemos essa batalha.

Bom, eu não faria nada. Todo mundo tem direito a ter sua opinião estando ela certa ou não. Às vezes, chateia um pouco ler algumas criticas. Mas na maioria das vezes é só bobagem, uma tentativa do critico mostrar o quão espertinho ele é. Se fosse algo construtivo do tipo "essa musica é ruim por isso, e poderia ter ficado melhor assim ou assado"... mas não. Quase sempre é "eles são uma merda porque são nerds virtuosos". Assim, pouco me importa. O que conta é que somos honestos com o que fazemos e temos um monte de fãs que dividem essa experiência conosco.

A banda é conhecida por ter um culto feveroso a seu redor. Algum fã já fez uma loucura para conseguir um autógrafo ou um souvenir?

Não consigo me lembrar de nada nesse sentido. Algumas pessoas querem um pouco de seu tempo, outras são um pouco mais agressivas. Você lida com elas como pode. No Brasil, todo mundo foi bastante educado. E quase todos traziam presentes. Ganhei coisas lindas. Não há nada como os fãs do Rush, principalmente agora com a Internet. Nos sites de fãs da banda você percebe como é impressionante a rede que criaram entre eles - é como uma grande família.

Se num belo dia você fosse nocauteado e desaprendesse a tocar guitarra... ainda assim teria uma banda?

[Risos] Que pergunta louca! Provavelmente não. Como tenho outros interesses além da música, a última coisa que faria, se um dia desaprendesse de tocar, seria montar uma banda.

Bom, depois do punk, qualquer um pode montar uma banda...

Putz, verdade... Bem, punk rock não é exatamente o meu estilo preferido...

O punk nivelou as coisas por baixo?

Não, não. Tem muita energia nesse formato, e foi importante para história da musica como um todo.