GEDDY QUASE PRODUZIU MASTER OF PUPPETS, DO METALLICA



17 DE DEZEMBRO DE 2015 | POR VAGNER CRUZ

Geddy Lee conversou recentemente com o repórter Nathan Carson do site Noisey, comentando o último lançamento do Rush, o ao vivo R40 Live. Porém, a conversa acaba abrangendo outros tópicos bastante interessantes, como o envelhecimento que afeta a musicalidade, a diversão nas turnês, as mulheres em shows do Rush, o heavy metal e muito mais. Um dos pontos altos, sem dúvida, é quando o músico compartilha uma história envolvendo Metallica, confirmando rumores antigos de que foi convidado para ajudar produzir o álbum Master of Puppets, de 1986. Confiram o material completo, inteiramente traduzido para o Rush Fã-Clube Brasil.

Foto por Alyssa Herrman
RUSH AOS 40: AINDA QUEBRANDO BARREIRAS E FECHADO COM OS NERDS

Noisey / 07 de Dezembro de 2015
Por Nathan Carson


Gary Lee Weinrib, mais conhecido no mundo do rock como Geddy Lee, nasceu de sobreviventes do Holocausto nos subúrbios de Toronto. Juntou-se a uma versão novata do Rush em 1968 e, pouco tempo depois, saiu da escola para fazer sua carreira na música, conseguindo ir além de todos os sonhos e aspirações acessíveis. Venceu como Melhor Baixista do Rock da revista Guitar seis vezes. Sua banda gravou álbuns de ouro e platina mais do que qualquer outro grupo, seguindo os Beatles e os Rolling Stones. Foi homenageado como oficial da Ordem do Canadá, além de ter sido (carinhosamente) representado por Eric Cartman em South Park. Pessoalmente, sou fã do Rush desde que meu pai e eu pegamos a turnê R30 de brincadeira há uma década, e essa entrevista marca a primeira vez que conversei com um integrante da banda.

O Rush acaba de completar sua turnê sold-out de 40º aniversário - e Lee me disse por telefone na semana passada que havia muitas mulheres no público. O novo marco da banda é o ao vivo R40 Live, que capta artisticamente uma retrospectiva em três CDs e um DVD (ou em um único Blu-ray). Foi gravado e filmado em dois shows esgotados na cidade natal da banda, Toronto, no início desse verão, estreando em primeiro lugar na Top Albums da Billboard.

Em homenagem à ocasião, liguei para o baixista, tecladista, vocalista e mágico do prog para conversarmos sobre o R40 Live, sobre como ele está fechado com os nerds e porque o heavy metal era melhor nos anos setenta.

Noisey: Você já está cansado de falar do R40 Live?

Geddy Lee:
[Risos] Chegando lá.

De quem foi a ideia de tocar o set em ordem cronológica inversa nesses shows?

Foi minha. Comecei a ter um conceito de involução percolando minha mente quando compreendi que faríamos uma retrospectiva de 40 anos. Mas ele ainda não havia sido plenamente definido até me reunir com Dale Heslip, nosso diretor de arte e alguém com uma visão artística global. Eu e ele discutimos isso em um almoço rápido em julho do ano passado [2014], e a coisa nasceu bem ligeira em termos de conceitos básicos. Porém, logo após, tive a sensação de que não faríamos a turnê, e meio que arquivei o assunto. Não peguei nele novamente até a banda se reunir em novembro [de 2014], havendo um sinal verde para sairmos em turnê, mesmo sendo pequena. Foi aí que a ideia se espalhou, e fomos em frente com ela a todo vapor.

Houve resistência sobre a adição de todas aquelas canções épicas do segundo set, ou todos estavam fechados com elas?

É engraçado. No início, sentíamos que não conseguiríamos fazer algumas dessas canções, até repensarmos alguns aspectos delas ensaiando juntos. E, uma vez que fizemos isso, se tornaram bem divertidas de tocar [risos]. Elas acabaram sendo os azarões de toda a turnê, pois, para os fãs, eram certamente os momentos favoritos do show. E elas meio que se tornaram nossa parte favorita do show também, o que foi uma surpresa.

Bem, elas nunca haviam sido tocadas voltando no tempo.

Não. E também, após a complexidade do primeiro set, tínhamos um pouco de descanso tocando essas canções de meados dos anos setenta [risos].

Nos deparamos com muitas de suas canções soando mais pesadas ao vivo que nos álbuns, especialmente faixas com sintetizadores como "Between the Wheels" e "Subdivisions", que estão pesadíssimas com os teclados diminuídos. E "Jacob's Ladder", que está mais metal nesse set atual. Vocês também conseguem sentir esse peso no palco?

Sim, acho que essas canções têm melhorado com o tempo. Elas acabaram assumindo um tipo de peso diferente. Acho que na época as compomos, achávamos que eram muito complexas, de um jeito ou de outro. Mas, no contexto das canções modernas, elas acabam ficando mais livres de alguns aspectos, deixando de trazerem camadas tão densas. Em comparação e no contexto dessas músicas, elas saem muito mais pesadas.

Vocês são quase contemporâneos ao Led Zeppelin e Black Sabbath. Houve algum momento nas fases de composições onde disseram, "Vamos chegar na coisa mais pesada que pudermos"?

[Risos] Bem, de vez em quando buscamos 'o mais pesado'. É verdade. Sei que tivemos momentos de Counterparts onde queríamos soar bem pesados. Mas, para nós, é difícil sermos pesados ao longo de dez, doze minutos de canção, pois acabamos ficando entediados, e as dinâmicas parecem sofrer depois de algum tempo. Então, nos arrependeríamos disso invariavelmente, tendo um pouco de luz ou sombra em meio a todo aquele peso.

É engraçada a definição de rock como sendo algo apenas para jovens, esta que ficou enraizada em nós por tanto tempo. Vi Robin Trower e Uli Roth recentemente - desde que seu corpo aguente, a musicalidade continua melhorando. Mas parece que a capacidade vocal muda em nível fisiológico.

Sim, a idade pode afetar negativamente, apenas pelo fato de que a mesma não permite que você faça o que quer fazer ou o que já foi capaz de fazer. Mas, se a genética tem sido boa, isso não é um fator. A experiência melhora a qualidade do que você está tocando. Sinto que as versões das canções que estamos entregando agora são tão boas quanto qualquer coisa que já fomos capazes de fazer. Você nunca consegue recuperar o que abandonou em canções gravadas há 35 anos. Há um certo tipo de ferocidade que vem junto com a juventude. Há irregularidades em nossos discos que ouço agora, e que temos suavizado. É provável que algumas pessoas não gostem disso.

Seus álbuns mais recentes têm sido bem mais comuns e emocionais sonoramente. E, ao mesmo tempo, sua voz está aquecida e amadurecida. Parecem mais acessíveis para mim.

Certo. Mas, se você não é chegado ao Rush, provavelmente nunca será chegado. Mas OK. Não me sinto incomodado com a polarização que a música do Rush tende a provocar. Isso é bom.

Um dos momentos mais bonitos que eu já vi em um show do Rush foi a várias turnês atrás, bem na hora da frase "Meek shall inherit the Earth"- vocês pareciam meio desconcentrados, com Alex propositalmente errando o arpejo e você se solidarizando, com vocês apenas sorrindo um para o outro.

[Risos] Bem, gostamos de nos divertir, e você não pode esconder algo que deu errado. Lembro-me de um fã que se aproximou, contando sobre algum show em que estavam e no qual as coisas saíram dos trilhos por uns dez segundos, em uma parte muito complicada. O fã estava muito feliz por estar lá testemunhando isso. Esses acidentes no palco são um tipo de apreciação diferente. É tudo sobre o inesperado. Eles também mostram que não somos robôs lá em cima. Não estamos tocando para um gravador. Somos humanos, e vamos ferrar com tudo de vez em quando.

Ao que tudo indica, vocês não fizeram quaisquer reparos para o áudio do R40 Live. Parece bem honesto.

Tivemos sorte ao gravarmos duas noites. Acho que estávamos mais tensos na primeira. Porém, na segunda, meio que nos vingamos da noite anterior, tocando muito bem. Lembro-me que, depois do show, me senti muito grato pela fita estar rolando, pois é muito raro você capturar uma noite daquelas para um álbum ao vivo. Assim, essas coisas ajudam a evitar qualquer tipo de trabalho de reparação, pois você fez o certo.

Alguma vez você já pensou em fazer um álbum solo que fosse todo em sintetizadores?

Todo em sintetizadores? Não. Acho que não conseguiria suportar. Sintetizadores não são tão bons para o senso de humor. É como estar na frente do seu laptop por oito horas seguidas. Você não se sente tão engraçado no final [risos].

Estava lendo os comentários da Amazon sobre o R40 Live, e meu favorito foi, "Meu esposo adora!!!".

[Risos] Obrigado, esposo!

Você já percebeu como mais mulheres têm vindo aos shows do Rush nos últimos dez anos? Parece que algo mudou mesmo.

Sim, tenho notado. E, de fato, um amigo meu me disse que, em um dos nossos shows este ano, havia uma fila de verdade no banheiro das mulheres, o que é louco. Quebrando novas barreiras! Meu sinal favorito na turnê anterior foi o de um grupo de mulheres que se agarravam a um banner gigante que dizia, "Caçadoras de Mitos - Mulheres que Amam o Rush".

Weird Al teve um álbum no topo das paradas recentemente, e o Rush com turnês de ingressos esgotados. Parece que nunca foi ruim ser nerd, e vocês são ícones para os nerds em toda parte. Como se sentem com isso?

[Risos] Estou fechado com eles! Não tenho problemas com o amor nerd. É muito bom. Você os vê em filmes. Os nerds são aqueles que nos fazem ganhar o dia atualmente. Você não pode ter um thriller de espionagem sem o nerd para tomar o controle da missão, garantindo que tudo aconteça.

Eu nunca tentaria encaixar o Rush em um gênero ou categoria, mas acho que podemos concordar que a banda tem um apelo à sensibilidade do metal. Que tipo de metal atrai o Rush?

Bem, eu não ouço muito metal. Mesmo que haja um aspecto em nosso som que possa ser bem metal, eu o atribuiria ao metal do começo, na forma que o Zeppelin era considerado metal e na forma que o Black Sabbath e o Blue Cheer eram metal. Esse é o tipo de tradição do metal que assumimos. Eu gosto do Metallica, tenho grande respeito por eles. Mas você não vai ouvir muito speed metal ou death metal na minha casa.

Ouvi um boato de que você foi convidado para ajudar produzir Master of Puppets do Metallica. É verdade?

É meio que verdade. Voltando naqueles dias, houve uma conversa com Lars [Ulrich] sobre trabalhar com eles. Acho que foi antes do Master of Puppets. Eu tinha amigos na equipe de gestão deles e conheci Lars na Inglaterra. Lembro-me de tê-los visto aqui em Toronto, quando tocaram no Masonic Temple. Foi quando o baixista original ainda estava com eles [Cliff Burton], sabe, antes da tragédia. Conversamos sobre isso e eu gostava muito da banda na época. Mas nunca nos reunimos.

Parece que vocês têm feito praticamente tudo o que foi possível. Existe algum motivo para usar até mesmo fórmulas pop-rock em um álbum no futuro? Vocês poderiam jogar todo o cuidado ao vento e apenas serem loucos se quisessem?

Acho que sim. Mas sinto que fazemos isso [risos]. Digo, compomos o tipo de música que queremos ouvir - não sentimos restrições quando compomos. E há sempre novas metas. Sempre há a aspiração de fazer algo melhor do que fizemos no passado, aperfeiçoando o conceito do que é o Rush. Se tivermos a sorte de entrar no estúdio para compor um novo disco, acho que isso irá aparecer novamente.

Em "Headlong Flight" você canta, "I wish that I could live it all again". Honestamente, o que você faria diferente se tivesse chance?

Hum, boa pergunta. Acho que iria focar mais no tom que cantava no... [risos]... começo da carreira.

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