GEDDY LEE FALA SOBRE "R40 LIVE"



24 DE NOVEMBRO DE 2015 | POR VAGNER CRUZ

Geddy Lee conversou recentemente com o site Digital Trends sobre o novo R40 Live, material que acabou rendendo uma das melhores e mais abrangentes entrevistas dos últimos dias. Acompanhem o bate-papo, inteiramente traduzido pelo Rush Fã-Clube Brasil.

GEDDY LEE CONTA COMO O RUSH VOLTOU O RELÓGIO TRAZENDO UMA CANÇÃO DE CADA VEZ EM R40 LIVE

Digital Trends - The Audiophile / 20 de novembro de 2015 - Por Mike Mettler

"O segredo é: tudo se resume ao respeito".

Levou apenas cinco décadas, mas a banda que os geeks amam e guardam mais perto dos seus corações (mais do que qualquer outra), o Rush, finalmente chegou ao Rock and Roll Hall of Fame Hall em 2013. O grupo dos três leais canadenses - o baixista / vocalista Geddy Lee, o guitarrista Alex Lifeson e o baterista Neil Peart - há muito tempo definiu o modelo de interação virtuosa tanto nos discos quanto no palco. Mas Lee, vocalista icônico, continua relativamente não se incomodando com os elogios tardios pela carreira que continuam chegando.

"É realmente uma cortesia inacreditável ser incluído nessas coisas, e ser homenageado assim é uma grande honra", concorda Lee. "Não é algo sobre o qual fico pensando por aí. Porém, com certeza aprecio, ficando feliz que o trabalho que venho fazendo durante toda a minha vida tenha acrescentado alguma coisa".

R40 Live, lançado hoje em vários formatos pela Zoe / Rounder, foi filmado em 14 câmeras HD no Air Canada Centre, localizado na cidade natal da banda, Toronto, em junho passado - encapsulando valores fundamentais da sua triunfante turnê norte-americana de 40º aniversário, composta por 35 datas. O set list sempre aventureiro da R40 viu o Rush literalmente voltar passo a passo no tempo, desde os cilindros bramidores steampunk de "Headlong Flight" para a direção rítmica filosófica de "Roll The Bones", e da significação, atitude e orgulho implacável de "Tom Sawyer" para a irrevogável headbanger cósmica "2112".

Geddy (nascido Gary Lee Weinrib) e eu ficamos ao telefone enquanto ele esteve em Nova York recentemente, falando dos seus objetivos sonoros para a turnê, da sua admiração pelo som surround e sobre o futuro do Rush. Esse, meus amigos, é o verdadeiro espírito do rádio.

Digital Trends: Qual foi seu plano para um show que se movia essencialmente desde os dias de hoje, fazendo todo um caminho para 41 anos atrás?

Geddy Lee: Bem, eu tinha todo esse conceito de involução na minha cabeça. No verão de 2014, quando estávamos em pausa, estive com Dale Heslip, nosso diretor de arte e diretor de cinema, que também esteve muito envolvido com o design do nosso show.

Comecei a falar com ele sobre esse conceito de involução, este que poderia parecer adequado para uma turnê de aniversário - começando com os dias atuais e voltando lentamente no tempo em ordem cronológica inversa. E talvez houvesse uma maneira de levarmos o show inteiro nessa jornada. Assim, não seria apenas a música voltando no tempo, mas também o visual. Deveria ser um show sempre muito teatral, desde o início.

Ele simplesmente mergulhou nisso, e desenvolvemos algumas ideias muito rapidamente. Porém, em seguida, eu lhe diria que os caras não estariam interessados em sair em turnê, e que poderia não haver mesmo uma próxima - por isso a ideia foi colocada em uma prateleira, e seguimos com a vida.


Assim, em novembro do mesmo ano [2014], tivemos uma reunião com a banda e os caras aceitaram fazer uma pequena turnê de 35 shows. Então, limpamos a poeira da ideia e continuamos a desenvolvê-la.

Eu vi a turnê R40 no Prudential Center em Newark, Nova Jersey, em 27 de junho, chamando-a de efeito reverso do The Wall do Pink Floyd, pois vemos grandes pilhas de amplificadores que são constantemente levados, a fim de serem substituídos por coisas completamente diferentes ao longo de toda a noite.

Exatamente. Todas as empresas de amplificadores entraram no espírito desse conceito, estando dispostos a compartilhar o que queríamos fazer. Elas ficaram muito ansiosas e felizes por produzir essas peças vintage para nós.

Eu diria que foi um feito notável. Todos os envolvidos com o show realmente conseguiram. Desde nossos competentes marceneiros [Cliff Sharpling e John Renner] até os caras que construíram os cenários e os designers de iluminação - todos conseguiram. Foi realmente um trabalho de amor para todos.

Vocês tinham cinco décadas de material para definir o set. Foi necessário reorganizar certas músicas como o material mais antigo para se adequarem, a fim de serem tocadas soando mais atuais?

Bem, sim, você tenta revigorar se puder algo que soa datado. Algumas canções são apenas baixo, bateria e guitarra, e você simplesmente as deixa roqueiras. Outras canções têm um pouco mais de tecnologia envolvida e, assim, tivemos que ver se havia uma maneira de trazê-las para a atualidade.

Decidimos fazer "Jacob's Ladder" [de Permanent Waves, 1980], que tinha alguns sons de teclado datados e que não haviam resistido ao teste do tempo, em comparação ao que conseguimos agora. Meu programador de teclados, Jim Burgess [da Saved by Technology] trabalhou muito duro nela - e acho que trabalhou ainda mais duro por gostar muito dessa música! (risadas de ambos).

Ele montou uma variedade de sons para eu testar, e realmente todas as opções me surpreenderam. Acho que contribuímos com uma versão muito mais interessante dela - acredito que tenha elevado e melhorado a anterior.

Um dos meus momentos favoritos foi conseguir ver "Losing It", que nunca havia sido tocada ao vivo até essa turnê. Em Nova Jersey, vocês tiveram o Jonathan Dinklage, que era parte da seção de cordas da turnê Clockwork Angels, vindo com o violino elétrico. Em Toronto, vocês trouxeram o colaborador original da canção, Ben Mink. O quão grandioso foi isso?

Oh sim, foi de fato um grande momento! E Johnny também fez um trabalho incrível. Ele é um violinista incrível.

Ben esteve totalmente destruidor lá em cima. Você podia ver as cordas voando do seu arco após o solo.

Foi um grande momento para vários de nossos fãs também, por ser uma das canções que sempre esteve no topo das listas das "mais pedidas". Era uma música estranha de fazermos, pois nunca a havíamos tocado. Originalmente, não há nenhuma parte de baixo nessa. Assim, tive que compor o mesmo, sendo necessário encontrar um arranjo que soasse confortável. Além disso, conhecíamos alguns bons violinistas também (risos).


Falando de "Losing It", agora teremos a mesma numa mixagem de alta resolução com 96-kHz/24-bit e som surround na nova versão para Signals [1982], que foi lançado no formato blu-ray em High Fidelity Pure Audio há alguns meses. Dessa forma, estou querendo saber o que você acha do som surround atualmente.

Acho que é uma maneira de avivar de fato alguns dos materiais que as pessoas acham que conhecem, dando-lhes outra dimensão. E, para os audiófilos em particular, o mesmo consegue levá-los em uma viagem interessante. Essa é, de fato, a motivação real por trás disso.

Isso é algo que vai continuar? Temos agora seis álbuns de estúdio do Rush remixados em surround, e acho que vocês poderiam continuar trabalhando com isso por todo o catálogo.

Oh sim, acho que continuaremos.

Legal. Então, posso pedir a você que Power Windows [1985] seja o próximo? Isso é permitido?

É permitido.

Boa! Acho que "Manhattan Project" seria muito especial de se ouvir em surround.

Sim, essa seria ótima.

Steven Wilson expressou para mim seu interesse em remixar os álbuns do Rush em 5.1, por ele mesmo.

Fantástico! Sim, adoraríamos tê-lo fazendo isso para nós.

OK, vou repassar essa ideia ao empresário de Steven, pois também acho que seria ótimo. A alta resolução é a melhor maneira de se ouvir a música do Rush?

Depende do fã. Alguns não são audiófilos; eles apenas adoram as músicas. Só querem curti-las ou ouvi-las no carro, ou onde quer que estejam.

Outros fãs vão mais fundo e são mais técnicos, por isso é bom ter essas opções. Nós vivemos nesse mundo, no qual você quer ter a opção de decidir como deseja que a música lhe seja entregue.

Muitas pessoas ouvem coisas digitalmente e via universo Spotify. O que você acha disso?

É inevitável. É o que está aí. Alguns desses são melhores distribuidores de música que outros. Todas essas empresas tratam o músico muito mal. Particularmente, não gosto de como a composição e produção de um disco tornou-se banalizada. Os mesmos se tornaram desvalorizados, e isso é uma vergonha. Eles podem se arrepender no futuro, mas não há nada que você possa fazer. As pessoas querem conveniência.

Os músicos não estão fazendo dinheiro como antes. Como resultado, os orçamentos de gravação estão drasticamente reduzidos e, assim, as pessoas têm que ser mais inteligentes sobre como fazer discos que soem bem.

Como as pessoas podem fazer isso hoje em dia? Qual seria seu conselho para elas?

Acho que a maior parte do seu trabalho de preparação tem que ser feito em casa. Você tem que tentar construir um sistema caseiro que tenha aspirações de alta qualidade, sonoramente falando. Você pode gravar analogicamente em sua garagem, e transferir para o digital mais tarde. Há uma série de maneiras de seguir, mas você tem que estar bem preparado, e com mais recursos.

Alex tocou principalmente com uma variedade de guitarras Gibson durante todo o set R40. Como você decidiu que baixos utilizar, tendo em vista que se movia para lá e para cá com vários a todo tempo?

Bem, você sabe que sou um músico da Fender, e me apaixonei pelos baixos da Fender pré-CBS. Assim, trouxe um monte desses para a turnê. Trouxe alguns outros também.

Certo, vi você com o Rickenbacker double-neck em "Xanadu" [de A Farewell To Kings, 1977].

Sim, trouxe de volta os Rickenbackers, mas também alguns instrumentos que nunca toquei em turnê. Usei alguns Gibsons Thunderbirds [um de 1964 e outro de 1967] - eles são fantásticos! Usei um antigo Hofner Solid Body de 1961. O primeiro baixo que utilizei foi um Precision [Fender], por isso foi legal trazê-lo para fechar o círculo. Me diverti muito mostrando meus instrumentos vintage, vendo como o som deles se mesclavam com a música do Rush. Funcionou muito bem.

Existe alguma faixa que você sentiu que soou melhor depois de utilizar esses baixos antigos?

Sim - se você ouvir "Roll The Bones", é meu Precision de 1959. É uma verdadeira raridade, sendo um baixo Olympic White com matching headstock, e que soa fantástico. É bem claro como um baixo Precision deve ser.

Acho que muitas pessoas ainda não devem saber que é você quem faz o rap da versão original de "Roll The Bones" de 1991.

É verdade (risos).

Como aconteceu a sequência do rap com as participações especiais de Peter Dinklage, Tom Morello, Paul Rudd e Jason Segel no telão? Vocês entraram em contato com eles pessoalmente?

Ficou entre eu mesmo, a gestão e Allan [Weinrib, diretor executivo e irmão de Geddy]. Enviamos recados para as pessoas que achávamos que iriam entrar no espírito da coisa. Várias responderam positivamente, nos enviando um pouco de diversão. Foi um projeto muito legal.

"Get busy with the facts" - Adorei ver como tudo foi tocado. Enfim, conseguiremos ver vocês chegando à R50? Isso seria possível?

Bem, ninguém pode responder essa pergunta.

Você gostaria de continuar em frente e ver até onde o Rush vai? 

Eu certamente, mas nem todos. Nem todo mundo pensa da mesma foma que eu.

Bem, esperamos ver vocês de volta aos palcos em algum momento.

Sim, isso seria ótimo. Eu também espero.

O Rush é uma das poucas bandas a ter exatamente a mesma formação há mais de 40 anos. Qual o segredo?

O segredo é, não há segredo! Trata-se apenas de três pessoas que se respeitam, e que têm vontade de fazer as coisas que são necessárias para ficarem juntas. Tudo se resume ao respeito.

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