KEVIN J. ANDERSON FALA SOBRE O LIVRO "CLOCKWORK LIVES"



18 DE AGOSTO DE 2015 | POR VAGNER CRUZ

Escrito por Kevin J. Anderson e Neil Peart, Clockwork Lives é uma sequência para o best-seller Clockwork Angels (lançado no Brasil em 2014 pela editora Belas-Letras). Com chegada prevista para o dia 15 de setembro desse ano, o novo livro, que sairá pela canadense ECW Press, é descrito como Os Contos da Cantuária steampunk, continuando a explorar alguns dos locais e personagens do universo de Clockwork Angels. Anderson foi entrevistado recentemente pelo site SFFWorld, falando sobre a obra, sobre sua amizade com Peart e comentando alguns dos seus outros projetos. Confiram trechos da entrevista, em português.

De muitas maneiras, Clockwork Lives nos traz uma jornada que conta uma grande história por meio de histórias de outras pessoas. Como você teve essa ideia?

CLOCKWORK LIVES é como um Contos da Cantuária steampunk, explorando o universo e alguns dos personagens que criamos em CLOCKWORK ANGELS, mas não é uma continuação - é um livro próprio, e em muitos aspectos ainda mais amplo e mais rico que ANGELS (que eu ainda considero um dos melhores da minha carreira). Neil e eu ficamos curiosos com alguns personagens e situações, querendo explorá-los mais, porém não como uma continuação. Pensamos que talvez pudéssemos fazer uma história sobre a vendedora de livros, Mrs. Courier, que viaja para universos paralelos para conseguir livros que não estão disponíveis nesse... e pensamos na história do nervoso, incrédulo e agradável batedor de carteiras Guerrero, ou de Golson, o homem forte do circo steampunk, ou da advinha cigana autômata... no entanto, evitei que fosse apenas uma coleção de histórias. Queria alguma RAZÃO para que todas essas histórias fossem coletadas, e foi aí que a moldura narrativa (que é de fato o centro do livro) surgiu, com Miranda Peake - uma mulher que só quer uma vida tranquila e perfeita - que é forçada a atravessar o mundo para encher seu livro, a fim de ter ter sua vida de volta.

Você pode nos contar um pouco sobre sua protagonista Miranda Peake e por que você acha que ela é a personagem perfeita para amarrar toda a história?

Em CLOCKWORK ANGELS, meu protagonista Owen Hardy é um jovem, um sonhador vindo de uma cidade pequena com uma vida monótona que sonha com aventuras. CLOCKWORK LIVES gira em torno de Marinda, uma jovem difícil que havia desistido das coisas que queria em sua vida, a fim de cuidar do seu pai doente, e tudo o que ela queria é ter uma vida pacata, estável e contente. Porém, tudo lhe é tirado quando o testamento de seu pai é lido, o que faz com que perca a casa e herança, passando a sair pelo mundo reunindo histórias de pessoas que experimentaram a vida como ela nunca experimentou. Ela tem um crescimento de caráter tremendo ao longo das suas aventuras, e eu fiquei muito orgulhoso dela (mesmo que eu a tenha escrito!).

Tanto Clockwork Lives quanto Clockwork Angels são colaborações com o baterista e letrista do Rush, Neil Peart. Como isso aconteceu e como tem sido trabalhar com alguém que vem de um mundo diferente, como a música?

Neil e eu somos amigos desde que meu primeiro livro, RESURRECTION, INC., foi publicado. Ele foi inspirado no álbum "Grace Under Pressure" do Rush, há 27 anos. Escrevemos a história juntos, e ele fez o prefácio de uma das minhas compilações. Ele chegou a mim para que eu pudesse escrever a romantização do seu álbum conceitual de fantasia steampunk, CLOCKWORK ANGELS, que foi o verdadeiro começo dessa colaboração. Suas letras inspiraram muitas das minhas próprias histórias e romances, e foi uma ótima colaboração fazermos isso juntos. Estávamos ambos muito satisfeitos com a forma como a nossa visão se entrosa com a história e com o mundo, e estávamos muito ansiosos para pular de volta para esse mundo de CLOCKWORK LIVES.

Clockwork Angels foi uma joia para os fãs do Rush, com muitas referências obscuras para a banda. O que os fãs do Rush podem esperar de Clockwork Lives?

CLOCKWORK ANGELS veio diretamente da história do álbum, e os fãs do Rush estavam ansiosos para ver o background real de como as canções se encaixavam (embora, para ser claro, você pode desfrutar bastante do romance sem nunca ter ouvido falar do disco). Eu polvilhei incontáveis easter eggs do Rush ao longo de toda a prosa. CLOCKWORK LIVES é mais autônomo, sem um álbum de acompanhamento, mas ainda assim adorei usar várias referências às letras do Rush por toda parte. Os fãs vão ver acenos ao Necromancer, à Rocinante e Cygnus. Mas você não precisa saber nada sobre as canções de antemão; estas são apenas grandes histórias, aventuras maravilhosas - algumas incríveis, outras trágicas, outras inspiradoras.

Com o livro alquímico de Miranda sempre temos a história real de uma pessoa, o que traz uma questão de certa forma filosófica. Você diz no livro, "Algumas vidas podem ser resumidas em uma frase ou duas - outras vidas são épicos". Você acha que, até certo ponto, todos nós nos escondemos atrás de histórias não melhores mas diferentes do que realmente são?

Na verdade, essa frase destaca algo muito próximo e importante tanto para mim quanto para o Neil. Parece que algumas pessoas aproveitam bastante suas vidas, fazem coisas, realizam muito, vêem inúmeras lutas... terminam suas listas de tarefas com muitos anos de sobra e, em seguida, escrevem listas ainda mais longas. Outras pessoas, porém, apenas sentam e nunca se preocupam em fazer muitas coisas. Quando alguém escreve a história de tudo que fez na vida, você quer que tome apenas uma linha ou duas... ou quer que seja um épico?

Acho que é seguro dizer que o universo que você e Neil Peart criaram simplesmente implora por mais. Será que ainda teremos mais? Vocês já têm algumas ideias de onde a próxima jornada nos levará?

CLOCKWORK LIVES meio que nos pegou de surpresa. Sempre pensamos em visitar o mundo do Relojoeiro novamente, mas não fizemos quaisquer planos reais. Neil tinha grandes turnês, e eu tinha prazos importantes para livros. Dessa forma, pensava sobre isso no fundo da minha mente. Então, durante uma longa caminhada no Norte do Colorado, tive uma ideia e então uma cascata de ideias, e tudo veio com pressa (Rush) (sem trocadilhos).

Da mesma forma que CLOCKWORK ANGELS é uma história completa do início ao fim e sem qualquer necessidade óbvia para continuar a aventura de Owen Hardy, CLOCKWORK LIVES conta a história completa e satisfatória de Marinda Peake. E, no entanto, Neil fez um comentário muito interessante durante as revisões do conto do Percussionista, que provocou uma ideia. Talvez algum dia. Talvez.

Tradução: Vagner Cruz