10 MAI 2012
Após o recente review faixa a faixa de Clockwork Angels, o site Music Radar acaba de liberar uma ótima entrevista com o produtor Nick Raskulinecz, que revela grandes detalhes sobre o processo de concepção do novo álbum de estúdio do Rush.
O produtor Nick Raskulinecz fala sobre Clockwork Angels
"Quis que eles amassem seu álbum"
Nick Raskulinecz admite: ele é um fã do Rush descarado e extravagante. Mas embora o produtor vencedor do Grammy, conhecido por seus trabalhos com o Foo Fighters, Alice In Chains, Deftones, Stone Sour e Evanescence, entre outros, é considerado um dos admiradores mais fervorosos do power-trio canadense, quando chega a hora de sentar atrás da mesa (juntamente com a banda, Raskulinecz produziu o álbum Snakes & Arrows de 2007 e o seu próximo, o aguardado Clockwork Angels), ele é muito sério.
"Você sempre tem uma certa responsabilidade, não importa qual disco esteja produzindo", ele diz. "Você quer ajudar a banda a produzir o melhor disco possível e, com o Rush, isso pode ser uma tarefa muito difícil. Os fãs do Rush mantêm a banda muito querida em seus corações. E você quer honrar isso, e também quer empurrar a banda para frente permitindo que eles possam ser o melhor que puderem agora mesmo".
Ele faz uma pequena pausa e depois acrescenta uma gargalhada, "É claro, isso termina quando encerramos à noite. É quando sento com os caras e digo, 'Tudo bem, vamos falar sobre 1977!'"
As composições e acompanhamento para Clockwork Angels decorreram ao longo de três anos, quando Raskulinecz e o Rush trabalharam pela primeira vez no Blackbird Studios em Nashville, para então, em seguida, passarem um longo tempo no Revolution Recording em Toronto. Durante esse segundo período, um conceito, liderado pelo baterista Neil Peart, surgiu, resultando em um trabalho que é, em muitos aspectos, uma síntese perfeita dos épicos do grupo no final da década de setenta, associada a uma abordagem estilística mais moderna.
Na entrevista a seguir, Raskulinecz discute o making of de Clockwork Angels, um álbum que ele orgulhosamente afirma que o emociona tanto quanto produtor quanto fã.
Como você diria que a gravação de Clockwork Angels difere de Snakes & Arrows?
Quando me envolvi com Snakes & Arrows, entrava um pouco tarde na escola. Eles já tinham a maior parte do álbum escrito. Algumas canções já eram obras em andamento, e tudo já estava praticamente lá. Portanto o plano de aula estava em movimento, e ajudei a facilitar o que estavam fazendo. Já esse nós começamos do zero. Eles não falaram sobre fazer um álbum conceitual – isso veio mais tarde. Mas quando eu sentei com eles há três anos, disse, 'Quero ouvir um Rush descontrolado. Não quero focar em canções de três minutos e meio; não quero verso refrão, verso refrão - nada disso. Quero que vocês toquem, sem reservas. Vamos apenas fazer música'. E foi o que fizemos.
Como as canções foram apresentadas a você?
Geddy e Alex fizeram esboços. Eles fizeram demos e enviaram para mim e Neil, e todos nós falamos sobre elas. Eles enviaram três ou quatro músicas, e após seis ou sete meses enviaram mais algumas. Eles saíram em turnê durante um ano e meio, e não tivemos mais canções. Esse álbum esteve em andamento durante um bom tempo.
As músicas mudaram muito quando você foi para o estúdio com a banda? Eles fizeram jams sobre as canções e descobriram coisas novas?
Bem, devo dizer que cada canção nasceu de uma jam. Geddy e Alex ficaram em um quarto tocando com um metrônomo ou uma bateria simples. As músicas eram muito diferentes sem Neil. Portanto essa foi a primeira etapa das demos; a próxima etapa foi ter o Neil nas canções. As canções mudavam constantemente. Metade do álbum foi escrito ente 2008 e 2010. A segunda metade foi escrita durante duas semanas no estúdio. Enquanto eu e Neil nos dedicávamos à bateria em algumas canções prontas, Geddy e Alex foram iam para o subsolo a fim de trabalhar nas outras.
Porque a decisão de gravar algumas canções em Nashville terminando-as em Toronto?
Porque eles tinham que sair em turnê, e o plano era pegar as duas músicas que estavam mais desenvolvidas. Nesse momento, acho que Neil tinha em mente que o álbum seria conceitual. Caravan e Brought Up To Believe foram as que escolhemos – eles sentiram que eram as mais prontas. Eu trabalhava com o Stone Sour, e tirei uma semana se folga quando o Rush veio a Nashville para trabalhar nessas duas músicas. Depois que essas músicas foram para as rádios, freamos tudo enquanto a banda estava em turnê. Assim que deixaram a estrada, os caras tiraram alguns meses de descanso. Geddy reencontrou Alex em sua casa, onde fizeram mais algumas juntos, então definimos uma data para retornar ao estúdio. Nós ainda não tínhamos o álbum completo. Carnies, Wish Them Well, Headlong Flight, Seven Cities Of Gold e BU2B2 vieram mais tarde.
Houve alguma forma específica para a gravação das músicas?
Nós as fizemos de várias maneiras. Em algumas eles tocavam juntos, em outras individualmente, e outras foram feitas pedaço por pedaço. Mas todos os três estiveram juntos durante todo o processo. Por exemplo, poderíamos ter o baxo e bateria prontos, para então Alex e o engenheiro Rich Chycki irem trabalhar nas guitarras, enquanto eu me dirigia para outra sala gravar os vocais do Ged. Coisas diferentes foram acontecendo o tempo todo.
Quando o conceito de Neil foi apresentado, de que maneira isso afetou o que todos estavam fazendo?
Isso começou realmente vir à tona em Toronto. Quando tínhamos mais ou menos duas semanas por lá, enquanto Geddy e Alex escreviam mais músicas, nos entreolhamos e dissemos, 'Ei, isso está se transformando em algo. Está se interligando'. Então um dia Neil entrou na sala, dizendo: "Está feito. Eu terminei". Durante aproximadamente vinte minutos, Neil falou sobre a visão que teve para o conceito do álbum, e esse foi um dos momentos que jamais vou esquecer. Ouvindo-o, vendo-o falar – foi incrível! Queria que estivéssemos filmando para colocar no YouTube. E aí todo o álbum estava encaixado. Uma vez que Geddy e Al ouviram sobre onde Neil estava indo, eles agitaram músicas incríveis. Acho que Headlong Flight veio no dia seguinte.
Agora, como produtor, como você diz ao Rush que algo não está funcionando, que poderia ser melhor?
Eu faço exatamente isso. Eu sinto a música. Sinto no meu coração. Houve momentos que eu tive que andar na sala e dizer a Alex Lifeson que sua guitarra poderia estar melhor. Outras vezes eu ficava na sala de bateria com o Neil - eu tinha uma baqueta nas mãos - conversando com ele sobre certos preenchimentos e toques. O mesmo com Geddy - Fiz exatamente isso. Sim, eu sou um fã do Rush – eu curto o Rush pra cacete – mas se eu deixar isso atrapalhar, não estarei fazendo meu trabalho. Não posso deixar que isso manche minha objetividade como produtor. As vezes é difícil, especialmente quando nos tornamos amigos. As coisas ficam mais emocionais quando você conhece os caras. Mas você deve fazer o que tem que fazer, com a dose certa de paixão. O fundamental é que, como produtor, você tenha a intuição de saber quando algo está certo ou errado. Você não tem que pensar muito. Você apenas sabe.
Houve alterações notáveis no equipamento da banda desde seu último álbum?
Não muito. Utilizamos o kit DW da turnê do Neil, o mesmo que ele utilizou na turnê Time Machine. Aquilo soa incrível! Sábio da guitarra, invadimos a coleção do Alex, com todas as suas guitarras antigas e seus novos modelos Gibson Signature. Elas soam grandiosas. Alex as utilizou para alguns de seus solos. Sobre os amplificadores, lembro de termos usado um velho Marshall Plexi – haviam alguns Marshalls na verdade. Também utilizamos alguns Voxes, Bogners… algumas coisas diferentes. Geddy… ele usou seus amplificadores Orange. Sabe o que utilizamos nesse álbum diferentemente do anterior? O Moog Taurus 3 pedals. Em nosso último disco, utilizamos o original T-1s dos anos setenta que eles tinham. Deixe eu te dizer, a nova versão arrebenta!
Como foi o processo de mixagem?
[risos] É falar sobre nervos arruinados. Mixagem é muito diferente da gravação. Quando gravamos, estou julgando o que eles fazem; quando estamos mixando, eles me julgam! [risos] É um jogo completamente diferente. Basicamente, vou trabalhar numa canção durante sete ou oito horas, e então chamo os caras para uma rodada de comentários e ajustes. As vezes pode ser tão simples como 'aumente o volume da caixa' ou 'Aumente o volume da guitarra solo', ou pode ser 'Você se perdeu totalmente. Comece tudo de novo'. E com tudo já na metade. Gosto de mixar rápido. Acho que a energia que você consegue capturar nas primeiras horas se perde se você ficar nela durante muito tempo, especialmente nesse tipo de música – porque o Rush é um trio. Além disso, você não quer perder a canção. Você pode ouvir sobre o que uma canção tem que fazer bem rápido na maior parte do tempo.
Algumas canções mudaram radicalmente ou revelaram novos caminhos durante a mixagem?
Eu diria que todas elas. Eu ainda produzia enquanto mixava. Enquanto gravávamos, haviam coisas que eu definitivamente queria fazer na mixagem – efeitos diferentes, vocais… o trecho mediano de Clockwork Angels foi uma seção em compasso blues que definitivamente aconteceu durante a mixagem. A parte final de Seven Cities Of Gold, onde a bateria e a sessão rítmica somem no fade out com você sendo deixado com lindos e grandiosos acordes de guitarra aconteceu na mixagem. E esses caras conseguem ouvir e detectar tudo. Eles vêm sendo castigados no palco há anos, mas vou te dizer, o Geddy pode ouvir um peido de um rato do outro lado da sala! [risos] Eu poderia fazer o menor ajuste, o mínimo que fosse, e ele iria me pegar todas as vezes.
Nós já conversamos sobre o senso de responsabilidade que você sentiu sobre estar nesse álbum, mas você o sentiu como pressão?
Eu só não queria decepcioná-los, estive lá para eles em todos os sentidos, como um produtor deve estar. Queria que eles amassem o álbum deles, sentindo que fosse o maior disco que fizeram. O som, o sentimento... para o Rush ser Rush – isso é o que eu queria dar a eles.
Que tipo de pressão você acha que a banda sentiu?
É difícil dizer. Eu não sei… acho que eles só queriam fazer um grande álbum. Queriam estar felizes fazendo música. Acho que fizemos isso, e espero que todos os verdadeiros fãs do Rush lá fora curtam também, sem separar o quão alta é a materização ou fazendo análises sobre a forma de onda. Esse álbum me lembra o All The World's A Stage em alguns aspectos. Ele tem uma crueza e energia, e aquele nível de prática… Veja, esse é o fã em mim falando. Quando volto a ser produtor, quero ter certeza do que estão fazendo – tocando com crueza, atacando seus instrumentos. Acho que chegamos lá.