LIFESON COMENTA A EXISTÊNCIA DE MATERIAIS RAROS DO RUSH



23 DE JANEIRO DE 2009 | POR VAGNER CRUZ

Confiram a entrevista completa que Alex Lifeson concedeu recentemente ao repórter Skip Daly do site Modern Guitars, complementando a matéria de dezembro/2008 que trazia informações sobre a possível remasterização do álbum Vapor Trails. O material aborda assuntos como a expectativa de lançamento de fitas do Rush tocando antes de 1974, comentários sobre a ideia de uma turnê de b-sides, rumores sobre a despedida dos palcos e reflexões sobre o relacionamento com John Rutsey, baterista original falecido em maio do ano passado.

Skip: Você tem que me deixar "viajar" aqui por um momento. Sempre tive curiosidade sobre quais gravações ao vivo da banda que ainda não vimos. Vocês ainda possuem gravações no "cofre" dos primórdios da banda, gravadas da mesa, antes da chegada de Neil? Tenho dois livros sobre vocês que falam sobre canções antigas como "Slaughterhouse", "Run Willie Run", "Tale", etc. Há alguma chance de termos, em algum momento, um "Live from the Gasworks", um bootleg oficial ou qualquer outra coisa que possa oferecer uma percepção do som da banda no passado?

Alex: Sabe, é divertido falar sobre isso. Estava no meu estúdio... estou mudando e melhorando um pouco meu estúdio caseiro. Rich Chycki e eu temos experimentado um tipo de "modificação em conjunto" por lá. Estava limpando a sala dos fundos e havia esquecido de me livrar de um monte de coisas ao longo dos anos. Encontrei por acaso uma mala que estava guardada na última prateleira, e no fundo dela haviam algumas fitas, sem listas e sem marcações. Só consigo imaginar que são gravações de antes de 1974. Assim, seriam provavelmente provenientes do período entre 1970 e 1973 - gravações desse período. Devem conter canções como "Run Willie Run", "Slaughterhouse" e "Garden Road", e todas aquelas do começo que foram escritas e tocadas durante nossos dias de bares.

Uau! Tenho que dizer que acho que os fãs até comeriam isso, mesmo que fosse apenas algo para ser disponibilizado no site da banda de forma digital, como uma "série de bootlegs oficiais" ou coisa assim.

Isso, vou ver de que forma isso poderá ser disponibilizado. De qualquer forma, pode haver algo num futuro próximo.

Ainda sobre o assunto, tenho falado com um cara chamado Ian Grandy...

Oh sim...

...que foi o primeiro roadie do Rush. Ele diz que lembra que ajustou os três microfones para gravar a audição de Neil para a banda, em julho de 1974. Há alguma chance dessa gravação ainda existir? Esse é o tipo de coisa que os fãs do Rush gostariam muito de ouvir, apenas para fins históricos...

Não sei...

Será que provavelmente se perdeu nas brumas do tempo...?

Tenho quase certeza que sim, ou pode até mesmo ter tido algo gravado por cima. Não tínhamos como arcar com as despesas, então, se tivéssemos uma fita, ela provavelmente seria utilizada para um monte de gravações.

Vocês têm gravações documentadas de todas as turnês, mesmo que sejam apenas materiais gravados da mesa?

Certamente que houve gravações realizadas durante as passagens de som. Não sei se temos shows do começo da carreira.

Para colecionadores, a turnê do Caress of Steel é um grande buraco negro - ninguém tem nada dela. E há pessoas que morrem de curiosidade de saber como a banda soava até então. Como vocês tocavam? É isso... não seria fabuloso se vocês lançassem uma gravação de cada turnê do passado, talvez via rush.com?

Sim, só não sei se temos essas gravações disponíveis.

Existe um boato rolando, e acho que consigo adivinhar como você vai responder. Trata-se de um rumor afirmando que a próxima turnê será a última do Rush. É muito cedo pra você confirmar ou negar isso?

Bem, antes de tudo, o que você acha que vou responder?

Acho que você irá dizer "Bem, estamos vindo de uma longa turnê, então nesse momento estamos concentrados somente em descansar, e não estamos fazendo planos muito para frente"...

Aí está. Rumores são rumores. Acho que, pra começar, esse é um boato fácil...

Tem sido um boato anual desde 1985...

Você sabe, fizemos 120 shows. Estamos moídos. Temos trabalhado pesado desde quando Neil retornou daqueles momentos difíceis em sua vida, seguindo de forma sólida de 2001 até agora. Fizemos quatro turnês, um monte de DVDs, quatro discos... quero dizer com isso que temos trabalhado duro e queremos dar uma parada. Estamos cansados. Vamos tirar um ano de férias pelo menos. Não faremos nada até o próximo outono, no mínimo.

Agora, Ged e eu devemos nos reunir - na primavera ou a qualquer momento. Estamos há apenas cinco minutos um do outro. Vamos jogar conversa fora, gostamos de sentar juntos... amamos compor juntos - devemos começar a compor de forma casual e, quem sabe, podemos obter fluxos da essência e da direção na qual caminharemos. Mas tenho a sensação de que não vamos fazer nada até o próximo outono. Agora estamos apenas planejando. Temos uma lista de coisas que estamos muito animados para fazer. Isso inclui uma turnê, um novo disco e mais um monte de atividades diferentes. Queremos apenas uma pequena pausa, para estarmos completamente dedicados a ideia de continuar trabalhando.

Quem sabe quando será a última turnê - talvez a última turnê foi a última turnê! Você nunca sabe onde a vida te leva - isso foi algo que aprendi. Mas, com certeza, estamos fazendo muitos planos para o futuro, e acho que não está próximo o momento em que estaremos nos aposentando.

Assisti a esse DVD e pude perceber que há faixas que realmente se destacam. Uma delas é "Mission". Sempre adorei essa canção, e essa versão é bem diferente na parte sonora - as guitarras estão bem reforçadas, trazendo um som abundante e agradável. Ela me fez pensar sobre se podemos esperar que vocês visitem mais canções da era Power Windows / Hold Your Fire no futuro. Seria interessante ouvir algumas dessas marcantes dos álbuns da "era teclado", sendo beneficiadas pela abordagem atual da banda.

Sim, tenho refletido sobre a mesma coisa, e espero que possamos pensar em algumas dessas para a próxima vez que sairmos. Há grandes canções naqueles álbuns e seria muito bom enfrentá-las. E, como você mesmo disse, com essa nova abordagem sonora e um som mais robusto na guitarra.

Isso... há canções como "Marathon", ou outras marcantes como "Middletown Dreams"...

"Grand Designs"...

Exatamente! Sempre amei aquelas canções, mas as gravações estão de forma óbvia enraizadas nos anos 80 em termos de produção.

Totalmente.

Falando um pouco de setlists - você poderia nos dar uma luz sobre canções específicas que QUASE fizeram parte dos sets das turnês mais recentes, mas que no final NÃO foram tocadas? Há outras raridades sobre as quais a banda tenha cogitado ressuscitar, e talvez até ensaiado, mas que no final não fizeram parte do set?

Bem, para essa última turnê conversamos sobre "A Farewell To Kings". Falamos sobre "The Camera Eye" várias vezes, porque parece ser a favorita dos fãs no que temos ciência. Ged e eu sentamos antes da turnê Vapor Trails para ouvir "Camera Eye", mas não estávamos prontos para atacá-la. Acho que a maneira que fizemos com as canções nessa turnê, como "Circumstances", "Entre Nous" e "Ghost Of A Chance" é, provavelmente, o melhor exemplo - o tipo de vida nova que sopramos nas canções por estarmos um pouco desapontados com os arranjos. Porém, tocar as mesmas agora (tantos anos depois) de maneira um pouco diferente é algo ótimo - como se nunca tivéssemos considerado-as antes.

Olhe! Olhe! Isso seria fantástico. É divertido mencionar "os pedidos dos fãs" e eu devo também participar, já que sou o cara que mantém o site para pedidos de fãs rushpetition.com.

Oh, ok...você é o cara!

Sim, eu sou. Espero que vocês tenham encontrado utilidade naquilo. Foi provavelmente nomeado errado, parecendo uma "petição". Isso nunca foi destinado a ser algo desagradável...

De forma alguma. Na verdade é muito útil. Estamos mudando nossas opiniões sobre essas canções - coisas que não teríamos considerado no passado. Agora, de repente, com o sucesso que sentimos que tivemos reorganizando essas faixas para tocar ao vivo, seria excitante considerar algumas dessas antigas que não estão perto dos nossos corações. Suponho que poderíamos trazê-las para um pouco mais perto.

Vamos mudar de assunto de novo. Em maio passado os fãs do Rush ficaram tristes ao receber a notícia da morte de John Rutsey. Você ainda tinha contato com John? É sempre um mistério saber o que ele fez depois de deixar a banda. Ele chegou a ir a algum show de vocês depois de ter saído? Ele e Neil chegaram a se encontrar ou ter contato?

Não, não tenho certeza se Neil e John se conheceram. Não me lembro se ele já veio a um dos nossos shows. Ele poderia, mas nunca veio aos bastidores nem nada. Nos vimos bem pouco depois dele deixar a banda - de vez em quando voltávamos para casa, íamos numa festa ou na casa de alguém e acontecia dele aparecer.

Não foi um desentendimento ou algo parecido. Ele não queria fazer o que estávamos fazendo, então saiu. Na verdade, naquele último ano, em 1973, tivemos um baterista substituto durante um período, pois John estava bem doente. Tínhamos alguns shows pra fazer, e então rolava um contato com esse baterista substituto. Seu nome era Jerry Fielding. John retornou, mas, quando a perspectiva de excursionar e todas essas coisas foram acontecendo de repente, todas as boas oportunidades, ele disse que não estava dentro - algo que foi bem estranho, pois estávamos muito excitados com aquilo. Era o sonho se tornando realidade. Porém, ele não queria fazer parte.

Quando ele decidiu deixar a banda, já tínhamos fechado alguns meses para tocar em clubes, rolando uma discussão. Tivemos bons momentos juntos. John e eu éramos amigos de infância, mas deixamos muitas coisas para trás quando caímos na estrada. E fomos longe. Isso mudou toda a natureza da relação com nossos amigos, uma vez que estávamos nos mudando ou casando. Tudo mudou. Via John às vezes até 1976, e então não o vi mais nem ouvi falar dele por dez anos. Depois passamos a nos encontrar muito pouco. Durante uns meses saímos para jantar, e então perdi o contato com ele novamente por mais três ou quatro anos. Não ouvi sua voz até aproximadamente 1991 - recebi apenas uma ligação em todo esse tempo. E com Ged foi ainda menos. Acredito que eles provavelmente não tenham tido qualquer contato nos últimos trinta anos. Foi assim que tudo ocorreu. Não houve ressentimentos - todo mundo tocou sua vida à sua maneira.

Ficamos muito tristes ao saber que ele faleceu. Era inevitável - ele tinha diabetes desde a juventude e pagou um alto preço, tal como para com muitas pessoas, infelizmente. É triste, como sempre, saber do falecimento de um amigo seu. Porém, para ser honesto, não estávamos mais tão próximos.