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FAITHLESS BRAVEST FACE GOOD NEWS FIRST
BRAVEST FACE
Though we might have precious little
It's still precious
I like that song
About this wonderful world
It's got a sunny point of view
And sometimes I feel it's true
At least for a few of us
I like that world
It makes a wonderful song
But there's a darker point of view
That's sadly just as true
For so many among us
In the sweetest child there's a vicious streak
In the strongest man there's a child so weak
In the whole wide world there's no magic place
So you might as well rise, put on your bravest face
I like that show
Where they solve all the murders
That heroic point of view
It's got justice and vengeance too
At least, so the story goes
I like that story -
Makes a satisfying case
But there's a messy point of view
That's sadly just as true
For so many among us
In softest voice there's an acid tongue
In the oldest eyes there's a soul so young
In the shakiest will there's a core of steel
On the smoothest ride there's a squeaky wheel
Though we might have precious little
It's still precious
Though we might have precious little
It's still precious
I like that song
About this wonderful world
It's got a sunny point of view
And sometimes I feel it's true
At least for a few of us
I like that world
It makes a wonderful song
But there's a darker point of view
That's sadly just as true
For so many among us
In the sweetest child there's a vicious streak
In the strongest man there's a child so weak
In the whole wide world there's no magic place
So you might as well rise, put on your bravest face
I like that show
Where they solve all the murders
That heroic point of view
It's got justice and vengeance too
At least, so the story goes
I like that story -
Makes a satisfying case
But there's a messy point of view
That's sadly just as true
For so many among us
In softest voice there's an acid tongue
In the oldest eyes there's a soul so young
In the shakiest will there's a core of steel
On the smoothest ride there's a squeaky wheel
Though we might have precious little
It's still precious
FACE CORAJOSA
Embora possamos ter muito pouco
Ainda assim é precioso
Eu gosto daquela música
Sobre esse mundo maravilhoso
Ela tem um ponto de vista ensolarado
E às vezes sinto que é verdade
Pelo menos para alguns de nós
Eu gosto daquele mundo
Ele produz uma música maravilhosa
Porém há um ponto de vista mais sombrio
Infelizmente tão verdadeiro
Para muitos entre nós
Na criança mais doce há um traço vicioso
No homem mais forte há uma criança bem fraca
No mundo inteiro não há local mágico
Portanto você deve se erguer, assuma sua face corajosa
Eu gosto daquele programa
Onde eles solucionam todos os assassinatos
Um ponto de vista heroico
Tem justiça e também vingança
Pelo menos assim diz a história
Eu gosto daquela história -
Que cria um caso satisfatório
Mas há um ponto de vista confuso
Infelizmente tão verdadeiro
Para muitos entre nós
Na voz mais suave há uma língua ácida
Nos olhos mais velhos há uma alma bem jovem
Na vontade mais vibrante há um âmago de aço
Na viagem mais suave há uma roda que range
Embora possamos ter muito pouco
Ainda assim é precioso
Embora possamos ter muito pouco
Ainda assim é precioso
Eu gosto daquela música
Sobre esse mundo maravilhoso
Ela tem um ponto de vista ensolarado
E às vezes sinto que é verdade
Pelo menos para alguns de nós
Eu gosto daquele mundo
Ele produz uma música maravilhosa
Porém há um ponto de vista mais sombrio
Infelizmente tão verdadeiro
Para muitos entre nós
Na criança mais doce há um traço vicioso
No homem mais forte há uma criança bem fraca
No mundo inteiro não há local mágico
Portanto você deve se erguer, assuma sua face corajosa
Eu gosto daquele programa
Onde eles solucionam todos os assassinatos
Um ponto de vista heroico
Tem justiça e também vingança
Pelo menos assim diz a história
Eu gosto daquela história -
Que cria um caso satisfatório
Mas há um ponto de vista confuso
Infelizmente tão verdadeiro
Para muitos entre nós
Na voz mais suave há uma língua ácida
Nos olhos mais velhos há uma alma bem jovem
Na vontade mais vibrante há um âmago de aço
Na viagem mais suave há uma roda que range
Embora possamos ter muito pouco
Ainda assim é precioso
O mundo não é tão maravilhoso - devemos encarar isso
A décima faixa de Snakes & Arrows é "Bravest Face". O Rush continua suas experimentações em outra belíssima canção atípica e robusta, mesclando trechos progressivos cadenciados, explosões sonoras, sutilezas do blues e do jazz e manifestações folk. Estendendo a temática do álbum, a banda sugere dessa vez a maneira como o mundo deve ser encarado e compreendido, evocando a coragem como elemento primordial para percepções e enfrentamentos.
Com tantas variações musicais, "Bravest Face" desenvolve um atrito interessante entre versos acústicos e um impactante refrão. Geddy Lee apresenta outra ótima performance vocal, construída em tomadas inspiradíssimas que se adaptam perfeitamente aos momentos propostos. Já Alex Lifeson, por sua vez, permeia o ambiente com violões e guitarras que se alternam, preenchendo o cenário musical de forma heterogênea.
A letra de "Bravest Face" aborda as inevitáveis falhas daquilo que se julga perfeito. Seguindo essa dualidade, os vocais e as guitarras também refletem imperfeições de maneira proposital. Ao longo da canção, Lee alcança o ponto de ruptura de sua voz com suficiente controle em pequenos momentos, ao mesmo tempo que os violões de Lifeson apresentam algumas diminutas deformidades cuidadosamente colocadas. Tais elementos combinam letra e música incrivelmente, ações que recordam trechos de clássicos da banda, como "Discovery", terceira parte da antológica "2112" (1976), quando o herói começa a girar os botões e tocar as cordas da velha guitarra que acabara de encontrar, descobrindo que poderia fazer a sua própria música. No geral, "Bravest Face" é uma peça reflexiva, que mostra que o Rush continua sendo capaz de despertar uma vasta gama de percepções em suas criações.
"Fiz muitas coisas acústicas antes de preparar esse álbum, e minha cabeça acabou ficando presa nesse mundo", diz Lifeson. "Além disso, havia visto recentemente Tommy Emmanuel e Stephen Bennett tocando, e fiquei bastante tomado pelo que faziam. Stephen trouxe para mim a metade de um capotraste que eu nunca tinha visto antes, e achei aquilo muito legal. Você poderia movê-lo e ainda assim teria cordas abertas, demais! Usei isso em 'Bravest Face'. Acho que o dispositivo estava no quarto traste enquanto tocava na sétima casa com as principais cordas abertas. Foi algo engraçado".
"Quando estávamos trabalhando nessa música, Geddy saiu da sala por um momento. Eu continuei ali sentado e decidi usar esse capo no violão, começando a dedilhar. Nick disse, 'Ei, temos que gravar isso!', e então gravou e inseriu na canção. Foi uma daquelas coisas arriscadas - por isso acabei dando o crédito a Stephen no disco, pois ele, de certa forma, me levou a pensar diferente. Também tive um encontro com David Gilmour, e essa foi a primeira vez que o vi tocar pessoalmente. Fui até ele e disse olá, e ele se mostrou muito interessado, um cara encantador. Conversamos bastante sobre o poder da investida acústica em termos de composição, porque essa nunca mente. Compor no violão sempre te conta se a ideia tem mérito e se deve continuar nela".
"O solo em 'Bravest Face' é super limpo", continua o guitarrista. "Foi feito com minha Gibson 335 e um amplificador Vox AC30. Foi super divertido, pois eu nunca iria chegar numa sonoridade parecida com essa. Foi necessário todo um processo diferente de pensamento, e eu adorei. Continuaria mais e mais, mas Nick disse, 'Conseguimos!'".
"As guitarras de Snakes & Arrows incorporam vários estilos e sonoridades, e 'Bravest Face' traz, entre outras, uma roupagem blues. Esse material foi tão tranquilo e divertido de fazer - raramente toco assim! Foi uma ótima oportunidade para relaxar. As ideias nessa canção e em 'The Way The Wind Blows' surgiram praticamente ao mesmo tempo, e grande parte disso se deve à fantástica seleção de amplificadores no Allaire, o estúdio de Nova York onde gravamos o álbum. O engraçado é que eu tinha a intenção de capturar todas as guitarras no meu estúdio caseiro. Reservamos doze dias para fazer as faixas de bateria e esperávamos conseguir a maior quantidade de faixas de baixo possíveis, mas em sete dias terminamos todas elas. Amamos a energia daquele lugar e achamos que deveríamos continuar por lá. Minha intenção não era a de fazer as guitarras ali - eu só estava com dois instrumentos e um amplificador. Mas todo o resto estava ao redor - amplificadores alinhados, microfonados e prontos para utilização. Cheguei fazer uma ligação apavorada para que minhas outras coisas fossem enviadas para Nova York, mas por fim cancelei. Nick havia trazido um monte de amps com ele".
Em "Bravest Face", Peart traz outro excelente trabalho percussivo de variações intensas, dando um forte destaque ao bumbo em alguns momentos. O tilintar acústico de Alex se posiciona nos canais esquerdos durante os versos, acentuados pela ambientação discreta e centrada dos pratos, com a inteligência do baterista funcionando novamente como a âncora do trio virtuoso.
"A bateria em 'Bravest Face' segue os vocais bem de perto, tanto se enquadrando quanto acentuando os mesmos", explica Neil. "Tentei ficar longe dos pratos splash nessa canção - muito porque, por mais que goste deles, me parecem também um tanto quanto 'comuns' ultimamente - no caso de estarem lá em demasia (Booujze concorda com isso). No entanto, trouxe um pequeno capricho que há muito tempo procurava um lugar para encaixar - um staccato, um tipo de splash sufocado que mostra um pouco do que Gene e Buddy costumavam fazer. Coloquei um desses no começo do segundo verso, e sempre que ouço me faz rir".
Em "Bravest Face", Peart avança nas observações propostas ao longo de Snakes & Arrows. A partir de percepções pessoais reveladas nas canções anteriores, há a compreensão do mundo como um lugar belo e ao mesmo tempo imperfeito, apontando a coragem como atributo imprescindível para se encarar a verdadeira realidade. Resgatando as ideias da quarta faixa "The Larger Bowl" e materializando o posicionamento da anterior "Faithless", o letrista reforça que a concretização da esperança e do amor na vida somente se dará pela compreensão, aceitação e ações concretas. Toda construção instrumental é envolta por uma beleza triste, porém inspiradora, afirmando ao ouvinte que o discernimento sempre o levará a lugares mais altos.
Afastando-se novamente do teor religioso e da ideia de que há um lugar melhor para além do presente, a canção remonta com sarcasmo dosado as inúmeras histórias que afirmam belos desfechos, confrontando as mesmas com as tragédias e deformidades cotidianas da vida. Indo além, uma linha de pensamento paralela aborda as insistentes ilusões e dificuldades de se conhecer e aceitar a realidade para além da superfície, exortando a necessidade essencial da coragem e do enfrentamento - um convite à personalidade no encarar das variadas situações que compõem a vivência humana. "Bravest Face", portanto, traz um grito de socorro sobre a passividade e apatia características em grande parte das pessoas.
Nada é verdadeiramente, corretamente ou totalmente representado por aquilo que é percebido quando consideramos o primeiro olhar e as aparências. Percepções iniciais podem ser - e muitas vezes são - enganadoras, impregnadas pelos valores que desejamos e que obscurecem verdades que são varridas para algum canto da alma. O mundo não é o mesmo idealizado em filmes, música e TVs, mas um lugar confuso, estranho e onde as coisas não são como aparentam ser. Contamos histórias e cantamos canções para tentar encapsular o caminho que desejamos, acreditamos em ideais de justiça que prevalecem e nos confortamos nisso - mas a realidade é que não há nada tão puro. Peart traz em "Bravest Face" uma de suas técnicas líricas mais marcantes: a utilização de pensamentos dicotômicos, e eles surgem aqui para expor os dois lados da moeda: os pontos positivos e os negativos.
Uma aparência superficial nunca irá expor a história completa, e o melhor que podemos fazer é encarar o mundo como ele é de fato, assumindo nossa face corajosa e enfrentando a realidade. A canção mostra um tipo de verificação - há sempre algo além do que simplesmente percebemos. Apreciamos elementos que idealizam uma visão romântica das coisas, deixando de lado verdades por belas mentiras. É preciso mais coragem para encarar incoerências, imperfeições e injustiças, e assim começarmos a moldar uma nova existência. "Bravest Face" é mais um grande exemplo da poesia incrível de Neil Peart, afirmando o Rush como uma banda que consegue primar por intensa emoção aliada aos elementos que acreditam - jamais abrindo mão mão dessa qualidade. Por fim, uma célebre frase do cientista e astrônomo norte-americano Carl Sagan (1934 - 1996) parece sintetizar o cerne dessa composição: "Prefiro a verdade dura à fantasia consoladora".
© 2016 Rush Fã-Clube Brasil
A décima faixa de Snakes & Arrows é "Bravest Face". O Rush continua suas experimentações em outra belíssima canção atípica e robusta, mesclando trechos progressivos cadenciados, explosões sonoras, sutilezas do blues e do jazz e manifestações folk. Estendendo a temática do álbum, a banda sugere dessa vez a maneira como o mundo deve ser encarado e compreendido, evocando a coragem como elemento primordial para percepções e enfrentamentos.
Com tantas variações musicais, "Bravest Face" desenvolve um atrito interessante entre versos acústicos e um impactante refrão. Geddy Lee apresenta outra ótima performance vocal, construída em tomadas inspiradíssimas que se adaptam perfeitamente aos momentos propostos. Já Alex Lifeson, por sua vez, permeia o ambiente com violões e guitarras que se alternam, preenchendo o cenário musical de forma heterogênea.
A letra de "Bravest Face" aborda as inevitáveis falhas daquilo que se julga perfeito. Seguindo essa dualidade, os vocais e as guitarras também refletem imperfeições de maneira proposital. Ao longo da canção, Lee alcança o ponto de ruptura de sua voz com suficiente controle em pequenos momentos, ao mesmo tempo que os violões de Lifeson apresentam algumas diminutas deformidades cuidadosamente colocadas. Tais elementos combinam letra e música incrivelmente, ações que recordam trechos de clássicos da banda, como "Discovery", terceira parte da antológica "2112" (1976), quando o herói começa a girar os botões e tocar as cordas da velha guitarra que acabara de encontrar, descobrindo que poderia fazer a sua própria música. No geral, "Bravest Face" é uma peça reflexiva, que mostra que o Rush continua sendo capaz de despertar uma vasta gama de percepções em suas criações.
"Fiz muitas coisas acústicas antes de preparar esse álbum, e minha cabeça acabou ficando presa nesse mundo", diz Lifeson. "Além disso, havia visto recentemente Tommy Emmanuel e Stephen Bennett tocando, e fiquei bastante tomado pelo que faziam. Stephen trouxe para mim a metade de um capotraste que eu nunca tinha visto antes, e achei aquilo muito legal. Você poderia movê-lo e ainda assim teria cordas abertas, demais! Usei isso em 'Bravest Face'. Acho que o dispositivo estava no quarto traste enquanto tocava na sétima casa com as principais cordas abertas. Foi algo engraçado".
"Quando estávamos trabalhando nessa música, Geddy saiu da sala por um momento. Eu continuei ali sentado e decidi usar esse capo no violão, começando a dedilhar. Nick disse, 'Ei, temos que gravar isso!', e então gravou e inseriu na canção. Foi uma daquelas coisas arriscadas - por isso acabei dando o crédito a Stephen no disco, pois ele, de certa forma, me levou a pensar diferente. Também tive um encontro com David Gilmour, e essa foi a primeira vez que o vi tocar pessoalmente. Fui até ele e disse olá, e ele se mostrou muito interessado, um cara encantador. Conversamos bastante sobre o poder da investida acústica em termos de composição, porque essa nunca mente. Compor no violão sempre te conta se a ideia tem mérito e se deve continuar nela".
"O solo em 'Bravest Face' é super limpo", continua o guitarrista. "Foi feito com minha Gibson 335 e um amplificador Vox AC30. Foi super divertido, pois eu nunca iria chegar numa sonoridade parecida com essa. Foi necessário todo um processo diferente de pensamento, e eu adorei. Continuaria mais e mais, mas Nick disse, 'Conseguimos!'".
"As guitarras de Snakes & Arrows incorporam vários estilos e sonoridades, e 'Bravest Face' traz, entre outras, uma roupagem blues. Esse material foi tão tranquilo e divertido de fazer - raramente toco assim! Foi uma ótima oportunidade para relaxar. As ideias nessa canção e em 'The Way The Wind Blows' surgiram praticamente ao mesmo tempo, e grande parte disso se deve à fantástica seleção de amplificadores no Allaire, o estúdio de Nova York onde gravamos o álbum. O engraçado é que eu tinha a intenção de capturar todas as guitarras no meu estúdio caseiro. Reservamos doze dias para fazer as faixas de bateria e esperávamos conseguir a maior quantidade de faixas de baixo possíveis, mas em sete dias terminamos todas elas. Amamos a energia daquele lugar e achamos que deveríamos continuar por lá. Minha intenção não era a de fazer as guitarras ali - eu só estava com dois instrumentos e um amplificador. Mas todo o resto estava ao redor - amplificadores alinhados, microfonados e prontos para utilização. Cheguei fazer uma ligação apavorada para que minhas outras coisas fossem enviadas para Nova York, mas por fim cancelei. Nick havia trazido um monte de amps com ele".
Em "Bravest Face", Peart traz outro excelente trabalho percussivo de variações intensas, dando um forte destaque ao bumbo em alguns momentos. O tilintar acústico de Alex se posiciona nos canais esquerdos durante os versos, acentuados pela ambientação discreta e centrada dos pratos, com a inteligência do baterista funcionando novamente como a âncora do trio virtuoso.
"A bateria em 'Bravest Face' segue os vocais bem de perto, tanto se enquadrando quanto acentuando os mesmos", explica Neil. "Tentei ficar longe dos pratos splash nessa canção - muito porque, por mais que goste deles, me parecem também um tanto quanto 'comuns' ultimamente - no caso de estarem lá em demasia (Booujze concorda com isso). No entanto, trouxe um pequeno capricho que há muito tempo procurava um lugar para encaixar - um staccato, um tipo de splash sufocado que mostra um pouco do que Gene e Buddy costumavam fazer. Coloquei um desses no começo do segundo verso, e sempre que ouço me faz rir".
Em "Bravest Face", Peart avança nas observações propostas ao longo de Snakes & Arrows. A partir de percepções pessoais reveladas nas canções anteriores, há a compreensão do mundo como um lugar belo e ao mesmo tempo imperfeito, apontando a coragem como atributo imprescindível para se encarar a verdadeira realidade. Resgatando as ideias da quarta faixa "The Larger Bowl" e materializando o posicionamento da anterior "Faithless", o letrista reforça que a concretização da esperança e do amor na vida somente se dará pela compreensão, aceitação e ações concretas. Toda construção instrumental é envolta por uma beleza triste, porém inspiradora, afirmando ao ouvinte que o discernimento sempre o levará a lugares mais altos.
Afastando-se novamente do teor religioso e da ideia de que há um lugar melhor para além do presente, a canção remonta com sarcasmo dosado as inúmeras histórias que afirmam belos desfechos, confrontando as mesmas com as tragédias e deformidades cotidianas da vida. Indo além, uma linha de pensamento paralela aborda as insistentes ilusões e dificuldades de se conhecer e aceitar a realidade para além da superfície, exortando a necessidade essencial da coragem e do enfrentamento - um convite à personalidade no encarar das variadas situações que compõem a vivência humana. "Bravest Face", portanto, traz um grito de socorro sobre a passividade e apatia características em grande parte das pessoas.
Nada é verdadeiramente, corretamente ou totalmente representado por aquilo que é percebido quando consideramos o primeiro olhar e as aparências. Percepções iniciais podem ser - e muitas vezes são - enganadoras, impregnadas pelos valores que desejamos e que obscurecem verdades que são varridas para algum canto da alma. O mundo não é o mesmo idealizado em filmes, música e TVs, mas um lugar confuso, estranho e onde as coisas não são como aparentam ser. Contamos histórias e cantamos canções para tentar encapsular o caminho que desejamos, acreditamos em ideais de justiça que prevalecem e nos confortamos nisso - mas a realidade é que não há nada tão puro. Peart traz em "Bravest Face" uma de suas técnicas líricas mais marcantes: a utilização de pensamentos dicotômicos, e eles surgem aqui para expor os dois lados da moeda: os pontos positivos e os negativos.
Uma aparência superficial nunca irá expor a história completa, e o melhor que podemos fazer é encarar o mundo como ele é de fato, assumindo nossa face corajosa e enfrentando a realidade. A canção mostra um tipo de verificação - há sempre algo além do que simplesmente percebemos. Apreciamos elementos que idealizam uma visão romântica das coisas, deixando de lado verdades por belas mentiras. É preciso mais coragem para encarar incoerências, imperfeições e injustiças, e assim começarmos a moldar uma nova existência. "Bravest Face" é mais um grande exemplo da poesia incrível de Neil Peart, afirmando o Rush como uma banda que consegue primar por intensa emoção aliada aos elementos que acreditam - jamais abrindo mão mão dessa qualidade. Por fim, uma célebre frase do cientista e astrônomo norte-americano Carl Sagan (1934 - 1996) parece sintetizar o cerne dessa composição: "Prefiro a verdade dura à fantasia consoladora".
© 2016 Rush Fã-Clube Brasil