WORKING MAN



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BEFORE AND AFTER  WORKING MAN  ANTHEM


WORKING MAN

I get up at seven, yeah,
and I go to work at nine.
I got no time for livin'.
Yes, I'm workin' all the time.

It seems to me
I could live my life
a lot better than I think I am.
I guess that's why they call me,
they call me the workin' man.

They call me the workin' man.
I guess that's what I am.

I get home at five o'clock,
and I take myself out a nice, cold beer.
Always seem to be wond'rin'
why there's nothin' goin' down here.

It seems to me
I could live my life
a lot better than I think I am.
I guess that's why they call me,
they call me the workin' man.

They call me the workin' man.
I guess that's what I am.

Well they call me the workin' man.
I guess that's what I am.
TRABALHADOR

Eu levanto às sete, yeah,
e vou para trabalho às nove.
Não tenho tempo pra viver.
Sim, trabalho o tempo todo.

Me parece que eu poderia
viver minha vida
muito melhor do que acho que estou vivendo.
Acho que é por isso que eles me chamam,
eles me chamam de o trabalhador.

Eles me chamam de o trabalhador.
Acho que é isso o que sou.

Chego em casa às cinco horas,
Pego para mim uma boa cerveja gelada.
Sempre pareço estar perguntando
por que não há nada acontecendo aqui embaixo.

Me parece que eu poderia
viver minha vida
muito melhor do que acho que estou vivendo.
Acho que é por isso que eles me chamam,
eles me chamam de o trabalhador.

Eles me chamam de o trabalhador.
Acho que é isso o que sou.

Bem, eles me chamam de o trabalhador.
Acho que é isso o que sou.


Música e Letra por Geddy Lee e Alex Lifeson


Os efeitos de uma vida aniquilada pelo trabalho

"Working Man" é a última faixa do álbum de estreia do Rush. A canção apresenta novamente a marcante pegada hard rock característica do disco, porém aprofundada por uma extensa jam instrumental munida por dois ótimos solos de guitarra. A composição evidencia a essência do que se tornaria o Rush nos próximos anos, apresentando uma viagem poderosa de força veloz transportada e liderada principalmente pelas belas investidas de Alex Lifeson em seu instrumento.

Liricamente, "Working Man" representa o trabalho mais interessante do disco, abordando de forma simples e direta a dura realidade de grande parte do proletariado. O tema utiliza a descrição de um protagonista frustrado pela labuta diária e repetitiva, avaliando o vazio de sua vida e a péssima utilização dos seus poucos momentos de descanso. Uma separação tradicional é proposta e dramatizada: o trabalho reflete uma necessidade econômica, porém pode ser alienante e opressor invadindo a vida particular ao suprimir o lazer, resultado do desânimo e frustração. O fim de cada verso deixa claro o desejo de escapar do estilo de vida cotidiano e rotineiro, estimulando reflexões através da própria falta de certeza ou expectativa representada. Isolamento é o tema chave, com o protagonista retornando para casa, mergulhando em uma cerveja e refletindo a própria vida que escapa por suas mãos.

Intencionalmente ou não, a canção representa sem esforço o conceito de alienação proposto pelo intelectual e revolucionário alemão Karl Marx (1818 - 1883). Alienação é a condição pisco-sociológica de perda da identidade individual ou coletiva decorrente de uma situação global de falta de autonomia. De acordo com a dialética de Marx, o processo leva o ser genérico do homem expresso pelo trabalho a converter-se em instrumento de sua sobrevivência, o que ocorre, primeiro, na relação do produtor com o produto e, em seguida, na relação do produtor com os consumidores do produto. A alienação transforma o operário em escravo de seu objeto, mas o processo não se detém aí, já que o trabalho é mercadoria que produz bens de consumo para outrem.

"Nossos pais estavam trabalhando duro naquela época", explica Lee. "A vida era uma verdadeira luta para a maioria das pessoas, e ninguém era rico. Você estava sempre pensando sobre seu futuro, e o tipo de vida que gostaria de viver. Eu me perguntava, 'Será que ter esse tipo de vida é o bastante para mim, onde tudo é trabalho, com uma cerveja no final do dia e um abraço dos filhos para fazer tudo novamente no dia seguinte? Essa canção, de certa forma, é uma espécie de ode ao cara que trabalhamos duro para não sermos. Queríamos ser músicos, e esse foi o nosso bilhete para fugir dessa realidade. Foi nossa fuga inevitável, inclusive de todos os amigos que tínhamos e do mundo que vivíamos... é difícil ouvir esse disco sem voltar no tempo. Esse primeiro álbum é um marco muito importante, é como se tivéssemos uma missão impossível naquele momento: achávamos que nunca teríamos um contrato, que nunca conseguiríamos fazer um disco. A primeira versão do álbum ficou muito ruim, e foi aí que conhecemos o cara que mudou nossas vidas, Terry Brown. E ele se tornaria nosso produtor nos próximos anos, nos ensinando muitas coisas sobre gravar discos. Ele salvou o álbum, sempre lembro dele quando penso no disco. Lembro da primeira sessão, quando pegamos as versões mal gravadas daquelas canções, e ele decidindo o que era aproveitável e aquilo que deveríamos apenas regravar".

"A primeira vez que me envolvi com o Rush foi quando eles estavam fazendo seu primeiro álbum", lembra Terry Brown. "Eles haviam gravado um grupo de oito faixas durante à noite em um estúdio em Toronto, mas não sabiam o que fazer com aquelas canções ou como de mixá-las, então me ligaram. Adicionamos três músicas novas, 'What You're Doing"', 'Before And After' e 'Working Man', e mixamos o álbum em três dias. Tivemos ótimos momentos e, por fim, me perguntaram se eu gostaria de integrar um trabalho de longo prazo".

"Working Man" foi marcante por ter sido a composição escolhida pela diretora de DJs norte-americana Donna Halper, da rádio WMMS-FM em Cleveland, Ohio, para integrar sua lista regular da programação, o que foi definitivo para o crescimento da popularidade da jovem banda nos EUA. "Working Man" chamou a atenção dos fãs de hard rock na cidade e também da classe trabalhadora, e tal popularidade resultou em um contrato de gravação que levou a Mercury Records a lançar o disco naquele país. Halper inclusive é creditada no encarte, ao receber um agradecimento especial por sua participação na história da banda.

"Graças às execuções das canções da banda na rádio WMMS (que era uma estação muito influente, inspiração para muitas outras rádios nos EUA), pessoas de outras cidades começaram a notar o Rush", lembra Donna Halper. "Eu não diria que foi uma reação imediata, mas algo que foi sendo construído e que cresceu muito rapidamente. Tenho orgulho de ter feito parte disso. Os garotos estavam muito surpresos, pois já tentavam há muito tempo terem reconhecimento em Toronto e acabaram conseguindo amor e respeito numa cidade dos EUA, angariando muitos e muitos fãs. Tudo isso a partir do trabalho de duas pessoas: Bob Roper, que teve a iniciativa de me enviar o álbum, e eu mesma, por ter enxergado um grande potencial neles, influenciando a todos na WMMS para que tocassem o álbum, dando todo o suporte. Os fãs fizeram o resto".

"Bob Roper, representante da A&M records do Canadá, me enviou o disco da banda, e eu nunca havia ouvido falar deles"
, continua. "Coloquei a agulha na faixa mais longa e percebi que seria um disco perfeito para a Cleveland daquela época. Pedi a um dos DJs que trabalhavam comigo para tocar alguma coisa do álbum naquela noite para ver como se sairia. O DJ Denny Sanders constatou que 'Working Man' agitou bastante a reação do público de colarinho azul. Eles perguntavam sobre onde poderiam comprar o disco e, logicamente, não faziam ideia de que nós só tínhamos uma cópia. Liguei para os agentes Ray Danniels e Vic Wilson, onde chegamos a um acordo para recebermos uma caixa daqueles discos em Cleveland. Todos se esgotaram em poucos dias".

"A grande questão é que ninguém havia ouvido falar do Rush (na verdade, havia outra banda de Montreal chamada Mahogany Rush, e houve certa confusão com o nome). Mas, principalmente, confundiam os vocais, pois Geddy soava muito parecido com Robert Plant, e por isso alguns ouvintes ligavam para a rádio perguntando se algum novo disco do Led Zeppelin estava saindo. Explicávamos que não era o Led Zeppelin, e sim uma nova banda do Canadá. Portanto, quanto mais pessoas ouviam 'Working Man' e 'Finding My Way' (tocávamos também 'Here Again'), todos iam aos poucos se sentindo mais confortáveis com o fato de que se tratava do Rush, nascendo também o desejo nos fãs de comprarem o álbum".


Nesse período, o baterista John Rutsey decidiu deixar a banda. Além dos problemas de saúde (Rutsey era diabético), o jovem músico não estava certo se queria ingressar numa vida que certamente começaria após a oportunidade da realização de uma turnê norte-americana e de seus desdobramentos subsequentes.

"Ele era diabético, mas estava se cuidando bem na época", lembra Geddy. "Acho que essa não foi a razão principal dele deixar a banda. Acredito que tenha sido uma combinação de coisas. Não acho que uma vida em turnês o atraía de fato sob alguns aspectos. Ele meio que se esquivou e acho que ele poderia assumir o compromisso que seria necessário a partir dali".

Portanto, com a saída de Rutsey e prestes a excursionar pelos EUA, Geddy e Alex estavam à procura de um baterista, sendo avisados da existência de um talentoso jovem canadense recém chegado da Europa, que tocava numa banda local chamada J.R. Flood. Foram à sua procura.

"Minha primeira lembrança deles é de como estavam assustados quando vieram para Cleveland pela primeira vez", diz Donna Halper. "Eles eram apenas meninos (tinham aproximadamente vinte anos, eram muito inocentes e não haviam viajado muito). Eles nunca haviam tocado para um público fora do seu país. Só haviam tocado no Canadá, mais precisamente em sua cidade natal, Toronto. Estavam preocupados sobre se conseguiriam tocar. Eu os encorajei, todos nós os encorajamos, eles se saíram muito bem. Eles estavam muito nervosos, preocupados sobre a possibilidade de não se saírem bem o suficiente para impressionar os americanos. Fomos tranquilizando eles, e os fãs gostaram imediatamente, inclusive saíram do show cantando as canções".

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