THE ENEMY WITHIN (PART I OF FEAR)



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THE ENEMY WITHIN (PART I OF FEAR)

Things crawl in the darkness
That imagination spins
Needles at your nerve ends
Crawl like spiders on your skin

Pounding in your temples
And a surge of adrenaline
Every muscle tense -
To fence
The enemy within

I'm not giving in
To security under pressure
I'm not missing out
On the promise of adventure
I'm not giving up
On implausible dreams -
Experience to extremes -
Experience to extremes


Suspicious-looking stranger
Flashes you a dangerous grin
Shadows across your window -
Was it only trees in the wind?

Every breath a static charge-
A tongue that tastes like tin
Steely-eyed outside to hide the enemy within...

To you - is it movement or is it action?
It is contact or just reaction?
And you - revolution or just resistance?
Is it living, or just existence?
Yeah, you - it takes a little more persistence
To get up and go the distance...
O INIMIGO INTERNO (Parte I da quadrilogia 'MEDO')

Coisas rastejam na escuridão
Que a imaginação tece
Agulhas em suas terminações nervosas
Rastejando como aranhas em sua pele

Martelando suas têmporas
Um surto de adrenalina
Cada músculo tenso -
Para evitar
O inimigo interno

Não estou desistindo
Da segurança sob pressão
Não estou perdendo
A promessa de aventura
Não vou desistir
Dos sonhos improváveis -
Experiência aos extremos -
Experiência aos extremos


Um estranho de aparência suspeita
Lança-te um sorriso perigoso
Sombras em sua janela -
Foram apenas árvores ao vento?

Cada suspiro uma carga estática -
Uma língua com gosto de metal
Olhos de aço por fora para esconder o inimigo interno...

Pra você - isso é movimento ou ação?
É contato ou apenas reação?
E você - revolução ou apenas resistência?
É vida ou apenas existência?
Sim, você - é preciso um pouco mais de persistência
Pra se levantar e ir longe...


Música por Geddy Lee e Alex Lifeson / Letra por Neil Peart


Um olhar sobre as verdadeiras raízes do medo

"The Enemy Within" é a quarta faixa de Grace Under Pressure. Após experimentarmos no disco temas como as pressões cotidianas, luto e a esperança de libertação, temos nessa composição a batalha do indivíduo na contramão dos seus medos. Completando a trilogia decrescente Fear (que mais tarde se tornaria uma quadrilogia), "The Enemy Within" aborda novamente o medo, porém agora como um inimigo interno bastante perigoso. Neil Peart oferece outra criação de grande maestria, apresentando uma visão hipnótica e certeira de uma mente perturbada, mergulhando no lado mais íntimo e obscuro do ser humano.

Fear foi idealizada em 1981. Na época do álbum Moving Pictures, o baterista já havia trabalhado nas letras das três partes que a compõem. É interessante perceber que, ao experimentarmos "The Enemy Within", entendemos de fato sua intenção: a de ponderar sobre diferentes faces do medo. Nessa primeira parte, temos o medo afetando a vida do indivíduo e limitando suas potencialidades ("The Enemy Within"). Na parte dois, observamos o medo sendo utilizado contra o indivíduo ("The Weapon", do anterior Signals). Já na terceira ("Witch Hunt", de Moving Pictures), nos deparamos com as possibilidades catastróficas de pessoas acuadas e movidas por esse sentimento. Fear traz, como ideia geral, as raízes e consequências do medo.

"É a parte um da trilogia, mas a última a aparecer", explica Neil. "Cada um dos três últimos álbuns trouxeram uma parte. Comecei a pensar em todas ao mesmo tempo, mas elas acabaram aparecendo na ordem que é mais fácil de entender. Em outras palavras, 'Witch Hunt' foi a primeira, tratando dessa mentalidade como regra de multidões, olhando para o que acontece com pessoas quando se reúnem em torno do medo, fazendo coisas estúpidas e horríveis. Foi algo fácil de lidar e entender, pois você vê muitos desses exemplos na vida real, bem como na ficção e filmes. A segunda parte foi 'The Weapon', que abordou a forma como pessoas usam seus medos contra você como uma arma, o que demorou um pouco mais para vir, mas que consegui organizar em meus pensamentos com as imagens que queria usar, reunindo todas elas. E então veio 'The Enemy Within', que foi a mais difícil, pois quis olhar para a maneira como o medo me afeta, porém sendo mais do que apenas sobre mim. Não gosto de ser introspectivo. Acho que defino minha primeira regra como, 'nunca ser introspectivo'. Porém, quis escrever sobre a minha pessoa de uma forma universal, querendo encontrar coisas em mim que acho que se aplicam".

"A ideia geral foi esboçada ao mesmo tempo, mas a chave era ser capaz de explicar esses três conceitos de medo. (...) 'Witch Hunt' traz um lado já bem documentado da natureza humana; você vê o tempo todo - por isso foi a primeira. Escrevi o primeiro e o segundo verso de 'The Enemy Within' há cerca de quatro anos, mantendo-os arquivados desde então".

"A evolução da trilogia foi algo realmente estranho. Não é tão misteriosa e inteligente quanto parece - foi mais acidental. Na época do Moving Pictures, eu já havia esboçado as três em um livro de anotações, conversando com os outros caras sobre elas e sobre o que pretendia. O mais fácil pra mim foi esclarecer as ideias para 'Witch Hunt', sendo um conceito mais simples de abordar. Então veio 'The Weapon', pois meu pensamento me levou a esse ponto. Porém, alguns trechos da letra e até mesmo versos para 'The Enemy Within' já tinham sido escritos há bastante tempo, além dos títulos já fixados sobre os quais eu já sabia o que queria falar. 'The Enemy Within' acabou sendo a mais difícil de tratar, por isso foi a última"
.

"The Enemy Within" incorpora fortes influências do ska em seus versos. Seu tempo é retido em alguns momentos, com Lifeson proporcionando ótimos acordes mais lentos e não-convencionais. O refrão e a ponte utilizam abordagens mais próximas ao hard rock e, na seção instrumental que segue a marcante frase "Experience to extremes", há uma aproximação ao synth-pop. O clima empolgante provoca reflexões e intimidade em torno do medo, paradoxos que o Rush trabalha de forma certeira. Geddy exibe um trabalho excepcional em suas linhas vocais, conseguindo transmitir todo tormento interior descrito na letra.

A canção é bastante ocupada por um baixo majestoso, com a guitarra em posição de perseguição à batida. Segundo Lifeson, durante o primeiro intervalo instrumental, sua intenção foi dividir o instrumento em uma linha mais grave e outra numa harmonia maior, tentando obter um efeito balalaica através de sua Stratocaster.

"'The Enemy Within' é uma canção com linhas de baixo muito ocupadas", explica Alex. "O baixo marcha de fato, portanto a guitarra está mais voltada para a batida. No primeiro intervalo instrumental, após Geddy cantar 'Experience to extremes', eu divido a guitarra ao meio, fazendo uma linha mais grave e outra harmônica mais alta. Tentei trazer um efeito balalaica, utilizando um rápido vai e vem na Stratocaster preta".

A primeira parte de Fear sugere a verdadeira raiz do medo: ele está dentro de nós. Não existe mais inimigos ou perigos externos - nós somos o nosso próprio carcereiro, o inimigo interno. As coisas que parecem rastejar na escuridão são de fato fantasmas que carregamos, sempre envoltos por proteções que nós mesmos fiamos por nossa imaginação. O processo dos medos se materializa, principalmente, na escravidão às instituições externas. Como de costume, Peart descreve sensações de maneira genial, expressando com perturbadoras imagens de autoanálise o medo imaginativo, refletido como aranhas andando sobre a pele, o sangue pulsando nas têmporas, a adrenalina sendo derramada na corrente sanguínea, a tensão dos músculos, os arrepios e formigamentos. O indivíduo está pronto para ser atingido pelo inimigo que, na verdade, é ilusório, psicológico e que já tem seu lugar internamente, mantendo todas as ambições aprisionadas. Passamos a agir na defensiva para o mundo ou para qualquer investida externa ("A tongue that tastes like tin, steely-eyed outside to hide the enemy within" - "Uma língua com gosto de metal, olhos de aço por fora para esconder o inimigo interno"), porém o ataque que recebemos é apenas do nosso próprio medo, este que nos leva a abandonar o risco da autenticidade pessoal quando passamos a nos refugiar em uma existência de denominadores comuns.

O quarto verso mostra a paranoia em ação. Tudo ao redor nos parece assustador ou suspeito, como sombras na janela de árvores ao vento, ou a estranheza de algum desconhecido que apenas nos lança um sorriso. Todas essas percepções são, na verdade, espelhos que refletem nossas próprias suspeitas de perigo.

O refrão de "The Enemy Within" traz um jogo de palavras muito interessante, onde Peart expõe o pessimismo de alguém inseguro e completamente tomado pelo medo. O indivíduo pensa previamente em segurança nos momentos de pressão e em aventuras somente como promessas, além de considerar seus sonhos como improváveis. Buscamos somente sensações de conformidade e segurança - uma vida calma e que jamais contesta padrões. Porém a consciência, eventualmente, nos incomoda para nos lembrar que não estamos nos arriscando o suficiente.

Por fim, cada um de nós carrega um padrão de comportamento subconsciente, com o qual experiências passam a se tornar uma segunda natureza: fazemos coisas sem pensar, como o 'piloto automático' que temos para executar tarefas mais cotidianas. O Rush nos leva a pensar que, por termos medo de expormos nosso verdadeiro eu, o deixamos adormecido - como que completamente mergulhados no mecanismo de estímulo-resposta behaviorista. Vivemos ou apenas existimos? Estamos de fato vivos como seres humanos? Nossas opções se inclinam à conformidade ou à revolução?

"The Enemy Within" avalia círculos concêntricos do medo: o medo do novo, do estranho, do inferno imaginário, do sofrimento - e também da grandeza potencial. A canção pensa em fobias e outras situações que assustam as pessoas, causando paranoia e preocupação. Porém, há aqui um conselho claro sobre viver tentando superar esses temores pessoais, o que certamente nos levará à outro nível de desenvolvimento.

© 2015 Rush Fã-Clube Brasil

PRICE, Carol S. PRICE, Robert M. "Mystic Rhythms: The Philosophical Vision of Rush". Borgo Press, 1999.
LADD, J. "Innerview with Jim Ladd - Neil Peart". 1984.
SHARP, K. "Grace Under Fire - Rush Percussionist Neil Peart Ponders The Meaning Of Life And Other Assorted Topics During This Exclusive, In-Depth Interview". June 1984.
THE SOURCE. "A Total Access Pass To Rush". Nbc's Young Adult Network Radio Broadcast. June 8, 1984.
OBRECHT, J. "Playback: The Making Of An Album / Rush "Grace Under Pressure" - By Alex Lifeson". Guitar Player. August 1984.