ROLL THE BONES



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BRAVADO  ROLL THE BONES  FACE UP


ROLL THE BONES

Well, you can stake that claim -
Good work is the key to good fortune
Winners take that praise
Losers seldom take that blame
If they don't take that game
And sometimes the winner takes nothing
We draw our own designs
But fortune has to make that frame

We go out in the world and take our chances
Fate is just the weight of circumstances
That's the way that lady luck dances

Roll the bones

Why are we here?
Because we're here
Roll the bones
Why does it happen?
Because it happens
Roll the bones

Faith is cold as ice -
Why are little ones born only to suffer
For the want of immunity
Or a bowl of rice?
Well, who would hold a price
On the heads of the innocent children
If there's some immortal power
To control the dice?

We come into the world and take our chances
Fate is just the weight of circumstances
That's the way that lady luck dances

Roll the bones...

Jack - relax.
Get busy with the facts.
No zodiacs or almanacs,
No maniacs in polyester slacks.
Just the facts.
Gonna kick some gluteus max.
It's a parallax - you dig?
You move around
The small gets big. It's a rig
It's action - reaction -
Random interaction.
So who's afraid
Of a little abstraction?
Can't get no satisfaction
From the facts?
You better run, homeboy -
A fact's a fact
From Nome to Rome, boy.

What's the deal? Spin the wheel.
If the dice are hot - take a shot.
Play your cards. Show us what you got -
What you're holding.
If the cards are cold,
Don't go folding.
Lady Luck is golden;
She favors the bold. That's cold
Stop throwing stones -
The night has a thousand saxophones.
So get out there and rock,
And roll the bones.
Get busy!
ROLE OS DADOS

Bem, você pode defender aquela afirmação -
O bom trabalho é a chave para a boa sorte
Ganhadores aceitam o louvor
Perdedores raramente aceitam a culpa
Embora eles não aceitem esse jogo
E às vezes os ganhadores não ganham nada
Traçamos nossos próprios planos
Mas a sorte tem que fazer a armação

Saímos pelo mundo e aproveitamos nossas chances
O destino é apenas o peso das circunstâncias
É assim que a dona sorte dança

Role os dados

Por que estamos aqui?
Porque estamos aqui
Role os dados
Por que acontece?
Porque acontece
Role os dados

A fé é fria como gelo -
Por que os pequenos só nascem para sofrer
Pela falta de imunidade
Ou por uma tigela de arroz?
Bem, quem colocaria um preço
Na cabeça de crianças inocentes
Se há um poder imortal
Para controlar o dado?

Viemos ao mundo e aproveitamos nossas chances
O destino é apenas o peso das circunstâncias
É assim que a dona sorte dança

Role os dados...

Camarada - relaxe.
Se ocupe com os fatos.
Sem zodíacos ou almanaques,
Sem maníacos em calças de poliéster.
Só os fatos.
Vá chutar uns glúteos.
É uma paralaxe - saca?
Você anda por aí
O pequeno fica grande. É uma fraude
É ação - reação -
Interação aleatória.
Então, quem tem medo
De um pouco de abstração?
Não consegue se satisfazer
Com os fatos?
É melhor você correr, parceiro -
Um fato é um fato
Aqui em qualquer lugar, garoto.

Qual é o problema? Gire a roleta.
Se os dados estão quentes - arrisque.
Jogue suas cartas. Nos mostre o que tem -
O que está segurando.
Se as cartas estão frias,
Não desista.
A Dona Sorte é dourada;
Ela favorece os corajosos. É cruel
Pare de ficar atirando pedras -
A noite tem mil saxofones.
Então vá lá e detone,
E role os dados.
Se ocupe!


Música por Geddy Lee e Alex Lifeson / Letra por Neil Peart


Na certeza da aleatoriedade, mantenha seus dados rolando

"Roll The Bones" é a terceira faixa do álbum homônimo de 1991. No geral, trata-se de outra composição bastante melódica e muito bem estruturada, munida de vocais serenos, linhas de baixo embriagantes e sintetizadores adicionais bem apurados - além de levadas acústicas de extremo bom gosto nos refrões, solo de guitarra abrasador e bateria dinâmica e vibrante. Porém, além de trazer todas as características sempre marcantes do trio, "Roll The Bones" é notável por se mostrar como uma investida musical audaciosa e muito surpreendente: a canção mistura nuances do folk, do funk e do rock, além de um mergulho súbito em uma seção rap em seu trecho médio, talvez o elemento temático que melhor retrata a identidade da canção e até mesmo o cerne de todo o álbum.

"Tivemos muitas direções novas ao longo dos últimos anos", explica Geddy. "O estado básico da banda é fluido em termos de direção musical - estamos sempre em mudança constante. É possível que esse novo tipo de entusiasmo que trazemos seja, parcialmente, o responsável por isso. Não sei, talvez seja só a época do ano! É realmente difícil definir uma razão em particular, mas tivemos sessões de composição muito positivas, e eu diria que as sessões de gravação foram bem otimistas. Acho que isso talvez tenha refletido no som do disco".

"No estúdio, seguimos nos afastando dos teclados, voltando mais para um som feito por três peças"
, continua. "Algumas das novas faixas trazem de fato apenas nós três, embora outras sejam fortemente orquestradas, uma vez que não podemos resistir a isso completamente. Uma coisa que está diferente nesse novo álbum é o som do meu baixo. Tenho um novo Wal com o corpo um pouco maior, que traz uma sonoridade mais profunda e exuberante. Estou muito satisfeito com ele, pois acho que dá ao grupo um som mais amplo no geral. Em duas canções, voltei para meu outro Wal - para que as mesmas apresentassem a sonoridade mais leve que venho utilizadndo nos últimos anos - mas a maior parte do disco foi feita nesse meu novo baixo. É algo bem perceptível".

Para Geddy, a renovação do entusiasmo da banda foi desencadeada pelo lançamento de Presto em 1989 que, apesar de ter representado um dos menores sucessos comerciais do Rush, provocou um grande renascimento criativo para os integrantes. "Nos sentimos como um grupo novamente - o sentimento que não experimentávamos há algum tempo", diz Lee, que confirmou na época os boatos de que a banda quase se separou durante as mixagens do álbum ao vivo A Show of Hands. "O otimismo se espalhou ao longo da gravação de Presto, continuando nas sessões de Roll The Bones. Na verdade, terminamos o disco antes do previsto. O Rush nunca termina antes!".

Similar a alguns dos lançamentos anteriores, Roll The Bones reflete um conceito lírico específico, pensando no papel que o acaso desempenha na vida das pessoas através de muitas camadas e variações temáticas. Neil Peart lembra da ocasião em que esteve em sua casa de campo nos Montes Laurentides, revisitando algumas de suas anotações dos últimos anos quando, repentinamente, percebeu como a vida havia conduzido a banda à sua vasta carreira. "O acaso é uma coisa muito séria", ele diz. "Quero dizer, conseguimos tudo isso através de disciplina e muito trabalho duro, mas, ao mesmo tempo, nossa perseverança precisou estar diretamente relacionada à boa sorte - rolando os dados com sucesso. Naquele dia em minha casa, encontrei-me fazendo algumas perguntas muito importantes, como, 'Porque houve essa química perfeita entre os integrantes da banda? Porque nosso sucesso não se cansou de nós? Porque estou aqui?'. Foi então que percebi que não há respostas. A chave, porém, não é perguntar sobre o que não podemos fazer a respeito do destino e do acaso, mas o que podemos fazer de fato".

"Eu diria que muitas das ideias para letras vêm de conversas ou da TV, e algumas delas são pequenas distorções de frases que eu gosto e anoto, de modo que no momento em que começo a compor, tenho páginas e mais páginas de pequenas anotações. Algumas não fazem qualquer sentido para mim, mas permanecem lá. 'Roll The Bones' é um exemplo perfeito; essa frase estava no meu livro de anotações há pelo menos dez anos, apenas esperando encontrar uma casa. Finalmente, tive o tema 'acaso' e pensei, 'Sim! Roll The Bones, perfeito!'. Assim ele saiu".


A letra de "Roll The Bones" se debruça sobre as chances e a brevidade da vida, exortando os inseguros a "rolarem os dados". Além disso, a música traz ideias fortes que circundam a autodeterminação.

"'Roll The Bones' é um título perfeito por passear por todos os pensamentos que eu queria visitar no disco, falando sobre todas essas coisas desagradáveis e terríveis que podem acontecer com você, como um bêbado em um carro roubado que pode te atropelar quando você estiver voltando pra casa amanhã à noite. Você pode ter os melhores planos, mas ainda há o elemento acaso que pode fazer tudo dar errado. O tema central é sobre aproveitar as oportunidades, rolando os dados. Não importa se tudo o que vemos é um universo aleatório terrível que nos faz ficar neuróticos. Temos que realmente aproveitar as chances, ou então nada vai acontecer. O ruim pode não acontecer, mas a coisa boa também não. Portanto, essa é realmente a única opção que temos".

"O conceito desse disco em particular tem a ver com o acaso e com os efeitos que o mesmo causa em nossas vidas"
, explica Geddy. "Por um lado, é como se a vida e a sorte fossem duas estradas paralelas na mesma direção e que, a qualquer momento, podemos atravessar de uma para a outra. Considerando o que sabemos, achamos que temos nossa vida planejada e então algum acidente do destino acontece, onde tudo se torna completamente diferente. Assim, esse é um disco que olha para o acaso de diversas maneiras, observando como ele causa confusão em nossas vidas. Às vezes com resultados muito positivos, e as vezes com alguns mais difíceis".

"'Roll The Bones' está cheia de pequenas decisões sobre o que eu queria fazer e sobre o que pensava, e a melhor forma de expressar e introduzir a ideia era que sim, nós temos o livre arbítrio e temos escolhas, e nossas escolhas afetam a forma como nossos destinos irão acontecer"
, diz Neil. "Mas, ao mesmo tempo, há sempre o surgimento desses coringas, às vezes trágicos e às vezes triunfantes. O lema se resume a: espere pelo melhor, mas prepare-se para o pior".

"É sobre essas aparências espontâneas, sobre os melhores planos que vão para o inferno por uma estranha ironia do destino"
, diz Lee. "Tem a ver com a equação aleatória da vida. Você acha que está tudo organizado, mas sempre há elementos aleatórios que vão mudar as coisas continuamente, elementos que separam os vencedores dos perdedores".

O título e o tema da canção, além do vídeo de muito sucesso que fora exibido continuamente em canais musicais da época, foram inspirados na pequena história Gonna Roll The Bones, criada em 1967 pelo escritor norte-americano de fantasia, ficção científica e horror Fritz Leiber (1910 - 1992). "Há aproximadamente 15 anos, li uma pequena história de um escritor de ficção científica chamado Fritz Leiber, 'Gonna Roll The Bones'. Adorei a frase e a coloquei no meu livro de anotações. Ela ficou por lá esperando um lar durante todos esses anos, e então, finalmente, enquanto pensava muito no acaso para esse disco, 'Roll The Bones' veio e me beijou o rosto, dizendo, 'Me use? Me use?'".

A história de Leiber gira em Joe Slattermill, um mineiro pobre cuja vida doméstica era uma fonte interminável de frustrações. Sua esposa trabalhava em casa fazendo pães para complementar a renda da família, enquanto sua mãe idosa vivia com eles, regularmente expressando desaprovação por seu estilo de vida. Sua única diversão vem na forma de visitas ocasionais às salas de jogos locais, onde sempre perdia todo seu dinheiro, ficando bêbado e tendo relações sexuais com prostitutas. Ao retornar para casa ainda agredia sua mulher, geralmente passando a noite na cadeia. Algum tempo depois, porém, ele acaba descobrindo que um novo clube foi inaugurado, o The Boneyard, decidindo experimentá-lo.

Joe possui uma habilidade notável para jogos de precisão, podendo fazer com que os dados mostrem exatamente os números que deseja antes mesmo de jogá-los. Ele ingressa em um jogo de alto risco, utilizando seu talento e ganhando vários milhares de dólares antes de se confrontar com o Grande Jogador da mesa, uma figura pálida escondida sob um chapéu escuro e um casaco longo. Esse personagem falira todos os outros jogadores com sua própria habilidade. Joe, ao enfrentá-lo, também perde todo seu dinheiro, rolando acidentalmente um duplo-seis. Ao invés de terminar o jogo nesse momento, o Grande Jogador oferece apostar todas as suas vitórias contra a vida de Joe e sua alma. Nesse momento, ele passa a acreditar que está enfrentando a própria morte.

Além da obra de Leiber, observa-se outra notável inspiração para a concepção do trabalho gráfico de Roll The Bones, atributo que consegue transparecer claramente todas as intenções dos canadenses para o disco. A capa e o encarte, mais uma vez criados com maestria por Hugh Syme (artista plástico e parceiro da banda por muitos anos), foram projetadas no estilo Vanitas, um tipo arte simbólica especialmente utilizada no norte da Europa e nos Países Baixos durante os séculos XVI e XVII. Símbolos Vanitas geralmente incluíam caveiras (lembretes da inevitabilidade da morte), frutas apodrecidas (simbolizando a decadência trazida pelo envelhecimento), bolhas (que mostram a brevidade da vida e a subitaneidade da morte), fumaça, relógios e ampulhetas (que também denotam brevidade), além de instrumentos musicais (dedicados a expressar a natureza efêmera da vida). Frutas, flores e borboletas podem ser interpretadas da mesma forma.

"A arte da capa reflete um estilo de pintura holandesa do século XVII chamada Vanitas, em que símbolos como o crânio (e também velas, livros, flores, cartas de baralho etc.) foram utilizadas para lembrar aos holandeses sobre a brevidade da vida, além da transitoriedade de todas as coisas materiais e dos prazeres sensuais", explica Peart.

Sobre a curiosa seção rap de "Roll The Bones", Peart explica que a mesma surgiu como um experimento lírico, algo que nasceu após ouvir alguns compositores do gênero, como LL Cool J e o grupo Public Enemy. A banda chegou considerar convidar um rapper profissional para interpretar o trecho, ou até mesmo levar a seção para uma sensibilidade cômica, contratando o cantor e compositor canadense Robbie Robertson ou o ator e comediante John Cleese.

"Sim, começou como uma experiência lírica pra mim. Estava ouvindo alguns dos melhores compositores de rap, entre os quais incluiria o LL Cool J ou o Public Enemy. Musicalidade à parte, apenas como compositores, foi algo realmente muito interessante. Pareceu-me que seria muito divertido fazer aquilo, com todas aquelas rimas internas e todos os jogos de palavras. É um prato cheio para letristas - coisas que você gosta de fazer e que geralmente ficam longe de serem bonitas em uma canção rock".

"Então pensei, 'Bem, vou dar uma chance a isso', apresentando a canção sem aquela seção para os outros caras para tentar conseguir com que gostassem. Dessa forma, disse, 'Bem, tenho outra coisa na qual estou trabalhando, vejam o que acham'. E eles ficaram animados com a ideia, mas a forma como tratá-la foi outra questão, o que nos fez pensar em tentar conseguir um rapper de verdade para fazer, ou até mesmo mais uma experiência com vozes femininas. Finalmente, descobrimos que a versão tratada na voz de Geddy foi a mais satisfatória para mostrar o personagem que eu queria, e também foi a mais gratificante de se ouvir. Uma voz feminina não seria tão boa como textura, uma vez que a voz de Geddy se mostrou ótima numa frequência baixa, de forma que você consegue ouvir como uma passagem musical sem depender da letra ou de qualquer outra coisa - apenas permitindo a canção ir com você. E foi agradável ao ouvido, tendo sido, provavelmente, um dos grandes fatores nessa escolha".

"Entramos em contato com pessoas como Robby Robertson; pensamos em ter sua voz nesse trecho e chegamos a falar com seu escritório. Pensamos em John Cleese; caminhávamos numa direção cômica, trazendo-o para a parte 'Jack, relax'. Porém, novamente, os fatores da musicalidade e da longevidade falaram mais alto, pois teria cansado rapidamente. Esse é o problema com as piadas".

"Essa composição mostra mais o ponto de vista de Neil"
, afirma Geddy. "A letra foi escrita para casar com um rap contemporâneo: a forma como as palavras reagiam umas com as outras e as estruturas formadas com o que acontece causaria mais sintonia em um rap contemporâneo. Nos divertimos de certa forma. Não conseguiríamos nos acostumar com a ideia de sermos influenciados por um rapper ou por uma satirização, então acho que aconteceu na forma de 'não se deixar escapar'. Por fim, acredito que se tornou algo que falou muito da gente".

"Acho que essa faixa foi mais influenciada pela palavra falada do que aquilo que estava acontecendo, e não posso dizer que sou um fã de rap"
, continua. "Gosto de algumas coisas do rap, mas não da maior parte. Acho que algumas coisas são muito bem feitas - há pessoas inteligentes, mas não há uma nova influência. Pessoas estão falando de rap como se fosse algo novo - e não é. Está por aí há mais de uma década, e nem sempre dessa mesma forma. Há músicas, como 'Territories', onde usamos um tipo de coisa similar, embora nunca tivesse sido relacionada ao rap porque não era a música do momento. Já utilizamos seções de palavras faladas antes.

"Depois da banda querer inicialmente uma variedade de 'vozes famosas' para esse trecho (a favorita por fim era a de John Cleese), eles finalmente decidiram que deveria ser menos 'participação especial' e mais 'autossuficiente'"
, lembra o produtor Rupert Hine. "Geddy me pediu para fazer isso e, depois de algumas experiências, conseguimos trabalhar em sua própria voz, alcançando uma profundidade semelhante".

"É de fato Geddy, mas passamos por impasses terríveis decidindo quem iria fazer", diz Peart. "Finalmente, tornou-se evidente que a mais agradável das tentativas que fizemos foi ouvir essa versão na voz de Geddy, conseguida tornando-a mais lenta da mesma forma que fazíamos anos atrás, quando utilizávamos um harmonizador para desacelerar a voz de modo a obter um tipo de efeito HAL em '2001'. Decidimos por Geddy também devido sua voz alterada ter o tipo certo de atitude, a entrega improvisada bacana que estávamos procurando e que também acabava por representar o esqueleto no vídeo e no show. Assim, foi uma decisão natural, uma vez que você coloca os fones de ouvido e a canção soa de forma muito agradável".

"A voz foi processada em um harmonizador Eventide [Eventide Ultra Harmonizer], a fim de torná-la mais rapper e negra do que realmente é"
, diz Lee. "Embora o som do rap soe muito à frente e eletrônico, as seções musicais ao seu redor são bem ambientes, com baixo, bateria e guitarras reais. Foi feito para soar bem orgânico".

"Não importa que tipo de música você escolha tocar"
, diz Neil. "Você está apostando sua vida nisso, para o bem ou para o mal - e no que você acredita é o que você é. Ninguém pode ter certeza nesse melhor de todos os possíveis universos aleatórios. É por isso que a essência dessas músicas é: se há uma chance, você deve aproveitá-la como pode. Então, o que fazer se algumas partes da vida são um negócio arriscado? Chegue lá e chute o balde. Um Universo aleatório não tem que ser fútil, podemos mudar as probabilidades, segurar os dados e jogando novamente".

"No início, era uma marca registrada da banda ter o Geddy gritando"
, diz Lifeson. "Tinha uma incrível tensão na garganta que o levava a cantar assim. Agora, ele busca ser um cantor mais puro, trabalhando duro para isso. Seu senso de melodia e harmonia vem se desenvolvendo bastante ao longo dos últimos discos. Em Bones, ele canta de maneira mais baixa do que antes, mais controlada, e isso mudou a nossa forma de compor canções. Costumávamos apenas alinhavar os vocais em reflexões posteriores, mas agora tenho ciência da melodia vocal bem antes, podendo reagir de forma adequada à ela em minhas partes na guitarra".

Ainda no campo das influências para a canção, vale citar a homenagem bem humorada com utilização da frase "The night has a thousand saxaphones" ["A noite tem mil saxofones"], provavelmente inspirada no pequeno poema de amor The Night Has A Thousand Eyes, escrito em 1891 pelo britânico Francis William Bourdillion (1851 - 1921).

"Roll The Bones" expressa o quão imprevisível e fascinante é a vida, afastando-se da ideia de um destino traçado para cada um. Reforçando as mensagens anteriores de "Dreamline" e "Bravado" e até mesmo viajando até a clássica "Freewill" (de Permanent Waves, 1980), devemos continuar perseguindo nossos sonhos com obstinação, arriscando, ousando e acreditando na capacidade e liberdade que temos de escrever a nossa própria história. Na verdade, podemos pensar em uma frase de Shakespeare que ilustra brilhantemente esse grande trabalho: "O destino é o que embaralha as cartas, mas nós somos os que jogamos".

"Nesse disco, tentamos conciliar um universo aleatório sem sermos fúteis sobre isso", explica Peart. "Trabalhei bastante com o livre-arbítrio no passado, sendo algo que continua a ser defendido. Porém, há muita aleatoriedade e, como tentei lidar com a ideia de um Universo aleatório, fui levado à questão elementar, 'Porque estamos aqui?'. Finalmente, decidi que foi uma pergunta errada. A razão pela qual estamos aqui é porque estamos aqui. Houve uma grande explosão e depois o Universo. Em seguida, um peixe se arrastou para fora do mar e caminhou na terra. Então, minha mãe e meu pai ficaram juntos e eu nasci. Parece evidente pra mim. A verdadeira pergunta deveria ser, 'O que podemos fazer sobre isso?'. Há tanta tragédia na vida que são apenas frutos do acaso... é por isso que incluí o trecho 'Why are little ones born only to suffer, for the want of immunity or a bowl of rice?' ['Por que os pequenos só nascem para sofrer, pela falta de imunidade ou por uma tigela de arroz?]. A pergunta não é 'Porque estou aqui?', mas 'Como posso maximizar minha vida?'. Não é 'Porque essa tragédia aconteceu', mas sim 'Como posso ajudar?'".

"Comecei a considerar o azar de alguém que nasceu na Etiópia ou que nasceu com AIDS. Esses tipos de tragédia me apertam o peito, e não há nenhuma outra maneira de descrevê-la em meu sistema de crenças do que, 'Bem, é muito azar'. As perguntas que me senti compelido a fazer sobre isso são questões existenciais definitivas: 'Por que estamos aqui? Por que essas coisas acontecem?'. Na verdade, são perguntas erradas. É inútil sentar e ficar olhando para as estrelas. É mais do que apenas sorte. A questão é, 'O que posso fazer sobre isso?'. É no lado prático que estou interessado. Fui da compaixão à raiva. Então Roll The Bones também significa, 'Faça!'".

"A caridade é algo no qual sempre penso fortemente. Normalmente fazemos essas coisas em particular - por exemplo, nossos presentes de Natal de um para o outro tendem a ser doações para instituições de caridade".

"Sim, podemos mudar situações e nos motivar ao longo do caminho. Mas há muitas coisas que podem dar errado, havendo o temível elemento do acaso no mundo. Há coisas sobre as quais não há explicação. No entanto, você é obrigado a abordar questões do tipo, 'Porque estamos aqui, e porque essas coisas acontecem'. A única resposta que posso dar é: acontecem porque acontecem. Acredito na evolução".


Peart tentou responder essas questões nas letras por todo o disco. "Isso é o que me manteve seguindo cada vez mais fundo. São tipos de perguntas intelectuais que eu colocaria para meus amigos. 'Por que acontecem' soa como algo que seu pai diria. Não estou tentando difundir a canção, mas apenas evitando ser pretensioso ou condescendente com isso. As coisas da Terra não são fúteis, mas aleatórias. Para chegar a qualquer conclusão ou até mesmo nas letras, tive que fazer malabarismos de todas esses elementos na minha própria cabeça, para ver se conseguiria dizer algo sobre eles".

"Ser maduro não significa estar morto"
, continua o baterista. "Você tem que apenas chegar lá e detonar, mantendo seus dados rolando e ficando longe da rotina. Essa tem sido a verdade para o Rush. Continuamos a aprender, a crescer e a mudar, mas, acima de tudo, o mais importante sempre foi estarmos em movimento. Rolar os dados evita a ferrugem! Ao longo de 17 anos e uma porção de álbuns e turnês juntos, raramente paramos para olhar para trás, mas também não olhamos muito além. Apenas continuamos a fazer o que parece ser o certo, sem nos preocuparmos com o futuro, que cuida de si mesmo. Isso é chamado de cunho filosófico ou de 'uma boa desculpa'. Talvez estamos crescendo um pouco, não tenho certeza, mas sei que estamos entusiasmados com essa banda de uma forma totalmente nova. Cada um de nós sente isso, e Roll The Bones foi o catalisador. Esse disco foi tão agradável de se fazer e o processo tão satisfatório em cada uma de suas fases que sentimos uma nova convicção, uma sensação de renascimento".

Perguntado se é fácil se concentrar nas visões ou observações que Neil faz em suas letras, Geddy diz, "Às vezes é fácil, mas às vezes não. Quando não é, tenho que determinar em minha própria mente o quão confortável estou com o que ele está tentando dizer, e se posso dar a ele alguma contribuição para dizer na letra o que ele está tentando dizer cara a cara. Acho que o mais difícil para um letrista é que você escreve por você mesmo. Você está sozinho com seus pensamentos e os coloca no papel, sentindo o que está dizendo mas talvez não claramente, sendo difícil ser objetivo. Às vezes, você precisa de um espelho para olhar isso, algo que faça suas ideias saltarem. A mesma coisa acontece comigo e com Alex musicalmente - precisamos de alguém para fazer aparecer o que estamos fazendo de vez em quando, para vermos onde estamos".

"Acho que é um crédito para o Neil ter sido capaz de ir de um escritor de abstrações gerais para um escritor de abstrações pessoais". Adicionando seu ponto de vista, não ter medo de falar sobre alguns dos seus sentimentos internos tem sido um passo ousado para ele, e acho que não passou despercebido para um certo nível de ouvintes. Tenho notado que a maioria dos grandes compositores de letras que conheci se sentem muito mais confortáveis carregando suas almas no papel, em oposição ao cara a cara. Acho que há uma parcela da nossa base de fãs que prefere quando Neil está falando sobre ficção científica, meditando e lançando palavreados provenientes da alta tecnologia, mas tenho certeza de que existem muitos que preferem o lado mais humano do seu trabalho também".

"Para muitos, as letras não são tão importantes"
, reconhece Neil. "Posso desfrutar de uma banda com letras rasas, mas posso apreciar ainda mais se as mesmas forem boas.

Embora o tema lírico do disco seja óbvio, Lee observa que as motivações do baterista também podem ser muito sutis. "É importante para Neil que existam muitas camadas em suas composições, nas quais coloca nuances sutis que ninguém mais pega, mas que ele sabe que estão lá - isso é gratificante para ele. Ele quer que exista profundidade sob a superfície".

"É muito difícil para alguém de dentro julgar entre o antes e o depois"
, diz Peart. "Para mim, a banda tem sido uma série de passos evolutivos. Tudo o que passamos nos anos 80 foram ricas experiências que nos serviram muito bem no longo prazo. Para nós, não foi como se tivéssemos perdido nosso caminho ou qualquer coisa do tipo, pelo contrário. Mergulhamos em alguns aspectos interessantes e tentamos um monte de coisas que expandiram nossa variedade. Concordo que os dois últimos álbuns (Hold Your Fire e Presto) foram mais focados, mas acho que foram resultados de experimentações anteriores, não importa se funcionaram na época ou não. Para mim, uma comparação de Roll The Bones com, digamos, Hemispheres, seria 'treze anos de evolução'. Ocorreram várias mudanças e é assim que deve ser".

© 2015 Rush Fã-Clube Brasil

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