VOLTAR PARA "HOLD YOUR FIRE"
VOLTAR PARA DISCOGRAFIA
VOLTAR PARA LETRAS E RESENHAS
PRIME MOVER LOCK AND KEY MISSION
LOCK AND KEY
I don't want to face
The killer instinct -
Face it in your or me
We carry a sensitive cargo
Below the waterline -
Ticking like a time bomb
With a primitive design
Behind the finer feelings -
This civilized veneer -
The heart of a lonely hunter
Guards a dangerous frontier
The balance can sometimes fail -
Strong emotions can tip the scale -
Don't want to silence
A desperate voice
For the sake of security
No one wants to make a terrible choice
On the price of being free
I don't want to face the killer instinct -
Face it in you or me
So we keep it under lock and key...
It's not a matter of mercy
It's not a matter of laws
Plenty of people will kill you for some fanatical cause
It's not a matter of conscience -
A search for probable cause
It's just a matter of instinct - a matter of fatal flaws
No reward for resistance
No assistance -
No applause...
we don't want to be victims
on that we all agree,
so we lock up the killer instinct -
and throw away the key...
I don't want to face
The killer instinct -
Face it in your or me
We carry a sensitive cargo
Below the waterline -
Ticking like a time bomb
With a primitive design
Behind the finer feelings -
This civilized veneer -
The heart of a lonely hunter
Guards a dangerous frontier
The balance can sometimes fail -
Strong emotions can tip the scale -
Don't want to silence
A desperate voice
For the sake of security
No one wants to make a terrible choice
On the price of being free
I don't want to face the killer instinct -
Face it in you or me
So we keep it under lock and key...
It's not a matter of mercy
It's not a matter of laws
Plenty of people will kill you for some fanatical cause
It's not a matter of conscience -
A search for probable cause
It's just a matter of instinct - a matter of fatal flaws
No reward for resistance
No assistance -
No applause...
we don't want to be victims
on that we all agree,
so we lock up the killer instinct -
and throw away the key...
A SETE CHAVES
Eu não quero encarar
O instinto assassino -
Encará-lo em você ou em mim
Carregamos uma carga sensível
Abaixo da linha de flutuação -
Tiquetaqueando como uma bomba relógio
De design primitivo
Por trás dos sentimentos mais nobres -
Dessa fachada civilizada -
O coração de um caçador solitário
Protege uma fronteira perigosa
O equilíbrio às vezes pode falhar -
Fortes emoções podem inclinar a balança -
Não quero silenciar
Uma voz desesperada
Por razões de segurança
Ninguém quer fazer uma escolha terrível
Pelo preço de ser livre
Eu não quero encarar o instinto assassino -
Encará-lo em você ou em mim
Por isso o guardamos a sete chaves...
Não é uma questão de misericórdia
Não é uma questão de leis
Muita gente irá matá-lo por alguma causa fanática
Não é uma questão de consciência -
Uma busca por causas prováveis
É apenas uma questão de instinto - uma questão de falhas fatais
Nenhuma recompensa pela resistência
Nenhum auxílio -
Nenhum aplauso...
não queremos ser vítimas
nisso todos concordamos,
então trancamos o instinto assassino -
e jogamos a chave fora...
Eu não quero encarar
O instinto assassino -
Encará-lo em você ou em mim
Carregamos uma carga sensível
Abaixo da linha de flutuação -
Tiquetaqueando como uma bomba relógio
De design primitivo
Por trás dos sentimentos mais nobres -
Dessa fachada civilizada -
O coração de um caçador solitário
Protege uma fronteira perigosa
O equilíbrio às vezes pode falhar -
Fortes emoções podem inclinar a balança -
Não quero silenciar
Uma voz desesperada
Por razões de segurança
Ninguém quer fazer uma escolha terrível
Pelo preço de ser livre
Eu não quero encarar o instinto assassino -
Encará-lo em você ou em mim
Por isso o guardamos a sete chaves...
Não é uma questão de misericórdia
Não é uma questão de leis
Muita gente irá matá-lo por alguma causa fanática
Não é uma questão de consciência -
Uma busca por causas prováveis
É apenas uma questão de instinto - uma questão de falhas fatais
Nenhuma recompensa pela resistência
Nenhum auxílio -
Nenhum aplauso...
não queremos ser vítimas
nisso todos concordamos,
então trancamos o instinto assassino -
e jogamos a chave fora...
Conheça seu temperamento antes de se surpreender com a intensidade dos seus efeitos
"Lock And Key" é a sexta canção em Hold Your Fire, uma das peças mais intensas e marcantes em todo o álbum. A composição, acima de tudo, reflete a maneira incrível com a qual o Rush manipula temas que visitam a essência do ser humano, lidando dessa vez com o instinto assassino presente em muitos de nós.
O início da composição é marcado pela sofisticação. Apresentando uma belíssima e solitária camada de sintetizadores em sua abertura, a voz profundamente emocional e impetuosa de Geddy explode a envolvente e dramática temática. Uma feliz mistura entre o hard e o soft rock é proposta, onde todos os instrumentos se mostram muito equilibrados e bastante ousados. Neil Peart oferece novamente uma performance percussiva variada, sensível e espantosamente intensa (rendendo inclusive um solo maravilhoso na conclusão). As linhas de baixo de Lee mostram mais uma vez a inconfundível constância enérgica e proeminente. Já as guitarras de Lifeson criam climas diversos e poderosíssimos, coroando a obra com um solo matador, transmitindo fúria ao representar algo que estava adormecido, mas que involuntariamente vem à tona.
De acordo com Geddy, a música e a letra de "Lock And Key" foram concebidas simultaneamente, onde todas as partes seguiram se encaixando perfeitamente e sem qualquer premeditação. Para as gravações, o baixista utilizou um baixo Wal de cinco cordas. "É um baixo muito difícil de utilizar", explica. "Não pretendo usá-lo por muito tempo por ser muito pesado e incômodo, embora me permita conseguir um som muito diferente, uma nova perspectiva. Fabricado pela empresa inglesa Electric Wood, fui apresentado a ele durante os trabalhos em Power Windows. Nosso produtor Peter Collins tinha um e me sugeriu experimentar. Fiquei muito satisfeito com sua flexibilidade".
O Rush expõe novamente com "Lock And Key" sua incrível capacidade de ir além da música da época, tomando emprestados ingredientes de tendências em curso e transformando-os em algo mais intelectual, complexo e emocionante. "Estamos abertos ao que está acontecendo musicalmente, e geralmente tomamos essas influências encontrando uma maneira de trabalhá-las em nossa música", explica Peart. "Por outro lado, não somos esnobes. Gosto de dançar, e músicas para dançar de boa qualidade não me ofendem".
Conforme a maioria das canções em Hold Your Fire, "Lock And Key" baseia sua tônica em sentimentos e instintos primitivos. Peart é ousado em tratar sobre algo tão delicado e obscuro - o instinto assassino como característica humana adormecida - e nosso temor que o mesmo aflore em determinadas situações, saindo completamente do nosso controle. A maioria de nós consegue manter tais tendências trancadas a sete chaves, porém esses impulsos continuam vivos, protegidos em algum lugar obscuro da nossa essência.
"Outro instinto que temos é o assassino", diz Alex. "Trata-se da habilidade de matar por nenhuma razão. Somos capazes desse poder terrível, então é importante mantê-lo sob controle. 'Lock And Key' fala sobre isso".
"Um despertar psicológico ocasionado pelo hóquei aconteceu em um dia amargo de inverno, quando meus pais levaram meu amigo Rick Caton e eu para Martindale Pond em St. Catharines, uma vasta extensão de gelo grande o bastante para ser chamada de lago em muitas partes do mundo", lembra Peart. "Rick e eu levamos nossos tacos e discos para lá, mas aquilo acabou sendo um jogo unilateral - Rick roubava meu disco e patinava sem esforço o tempo todo. Fui ficando mais e mais frustrado, e finalmente dominado por uma onda de fúria assassina - a névoa vermelha [N. do T.: contida nas delicadas esferas representadas na capa e no material de divulgação]. Uma combinação animal de inveja e humilhação me fez querer pegar meu taco e bate-lo na cabeça dele - qualquer coisa para detê-lo".
"Para nossa sorte, não tive chance de pegá-lo. Porém, ainda assim, o poder daquele impulso violento e minha própria repulsa ao mesmo foi uma lição de vida precoce. Foi a primeira vez que me lembro de sentir um reflexo moral interior que gostaria que voltasse por muitas vezes em minha vida, quando diria a mim mesmo como fiz naquele dia, 'Não quero ser assim'".
"Depois de anos observando eu mesmo e os outros e por muitas vezes pensando, 'Não quero ser assim', abordei o tema no álbum Hold Your Fire. As letras das canções tratam do tema instinto, o bom e o mau, e escrevi 'Lock and Key' sobre o assunto".
Alguns estudos dão conta de que o instinto é associado a um padrão de comportamento inato, ou seja, uma reação natural com a qual já nascemos. Ele é responsável por certos estímulos que são inerentes ao animal e não aprendidos. De alguma forma, devido ao processo de seleção natural, esses instintos fazem parte do código de comportamento. Por exemplo, filhotes de tartarugas, assim que saem dos ovos, seguem em direção ao oceano. Temos também os incríveis rituais de sedução dos pássaros e suas construções de ninhos. Predadores matam para sobreviver, e em apenas alguns raros casos matam sem ter fome. Os humanos são exceções. Também matamos para nos alimentar, mas, sendo animais evoluídos, matamos por outras diversas razões. Matamos por ódio, inveja, ciúmes, medo, ao sermos manipulados ou coagidos, por um senso de dever patriótico, em nome de uma tribo (grupos religiosos ou gangues, por exemplo), para roubar alguém ou até mesmo por 'amor'. Matamos inclusive por influência de ideologias, que nos levam a entender que aqueles com valores diferentes são inimigos, devendo ser eliminados.
Criamos e realizamos obras belíssimas, e somos inclinados a atos de profunda empatia e altruísmo. Porém, reféns de uma prisão dialética, também somos seres capazes de assassinatos horrendos, cometidos sem qualquer remorso. Se existe algo em comum no impulso assassino é que, em muitos casos, os que matam sentem-se ameaçados por poderes que fogem ao seu controle, como ideologias que exploram sua vulnerabilidade, provocadores que abusam de sua dignidade ou por serem forçados a matar para integrar algum grupo. Até mesmo os psicopatas podem ter seus surtos alimentados por causas como essas. Dessa forma, Peart visita essa natureza obscura em "Lock and Key", entendendo que, em muitas situações, precisamos respirar e dialogar com nós mesmos, abrindo mão da liberdade em certas situações para não torná-las um cenário de horror.
Da mesma forma que no anterior Power Windows, o Rush gravou praticamente todo Hold Your Fire na Inglaterra, utilizando pelo menos sete estúdios diferentes naquele país. A banda retornou a Toronto somente para capturar os vocais e as últimas guitarras, finalizando todo o trabalho na França, em um estúdio chamado Guillaume Tell, localizado em Suresnes (uma comuna francesa que fica a 9,3 km do centro de Paris). A França sofreu vários ataques terroristas em 1986, sendo treze deles atribuídos à organização Hezbollah. "Mas é claro que existe o lado escuro da Cidade das Luzes", diz Peart. "Especialmente, após os eventos do último verão, era impossível não pensar em atos de violência gratuita, o tipo de coisa que é abordada em 'Lock And Key'. Umas duas bombas explodiram enquanto estivemos por lá, felizmente nenhuma em nós! Não é costume ver soldados e policiais por toda a parte com armas automáticas e coletes à prova de balas".
"Lock And Key" contém algumas alusões interessantes em sua letra. Peart traz a frase "The heart of a lonely hunter" ["O coração de um caçador solitário"], consistindo em um jogo de palavras que se refere ao famoso romance "The Heart is a lonely Hunter" ["O Coração é um Caçador Solitário"], concebido em 1940 pela escritora norte-americana Carson McCullers (1917 - 1967). A história se passa em uma pequena cidade do sul dos Estados Unidos, no final dos anos 1930, onde os efeitos da Grande Depressão ainda se faziam sentir. Personagens como Biff Brannon, um dono de restaurante que nunca descansa, Mick, uma garota forçada a passar abruptamente da infância à idade adulta, Jake Blount, um agitador marxista e o médico negro Benedict Copeland, que atende pacientes pobres de graça e que luta pela emancipação racial, enfrentam, além da carência material, o flagelo da solidão e da incomunicabilidade. O centro da narrativa, em que cada capítulo assume o ponto de vista de um personagem, é o mudo John Singer, um homem triste e solitário que, por sua serenidade enigmática, é visto como um santo pela comunidade. Além disso, é interessante observar na frase que a palavra 'heart' (coração) soa como 'hart' (cervo), certamente mais um trocadilho do letrista se referindo à caça (busca) pela filosofia de uma vida o mais equilibrada possível.
No vídeo oficial para "Lock and Key", produzido por Bob Jason e dirigido por Tony Van Den Ende (e também no telão das apresentações da canção ao vivo), o Rush expunha trechos do filme The Last Mile, dirigido pelo produtor norte-americano Samuel Bischoff (1890 - 1975) em 1932, a fim de ilustrar seu conceito em torno do instinto assassino. The Last Mile traz Richard Walters, um homem supostamente inocente entrando no corredor da morte, pouco antes de ocorrer um motim dos presos na penitenciária. Ele se envolve no tumulto, mesmo quando seus amigos do lado de fora tentam provar sua inocência.
Visitando noções de auto-conhecimento, introspecção e investigação pessoal, "Lock and Key" centra-se na ciência do instinto assassino e em nosso medo de que, por consequência de outros impulsos, fiquemos fora de controle em certos momentos. Dessa forma, por questões de segurança, respiramos fundo suprimindo e reprimindo essa viva e vibrante intrepidez animal, substituindo-a por um tépido, torpe (porém seguro) piloto automático robótico e mecanicista. Nesses casos, portanto, preferimos não pagar o preço arriscado de sermos livres, pois os efeitos colaterais podem ser muito dolorosos.
"Canções como 'Force Ten', 'Open Secrets' e 'Lock and Key' são sobre instintos humanos como a motivação e o medo", explica Alex.
© 2015 Rush Fã-Clube Brasil
TOLLESON, R. "Geddy Lee: Bass Is Still The Key". Bass Player. November / December 1988.
PEART, N. "Rush - A Show Of Hands". Rush Backstage Club Newsletter. September 1988.
BISHOP, P. "All Together Now: Rush Does Its Own Thing". Chicago Tribune. December 17, 1987.
PEART, N. "Fire On Ice - The Making Of 'The Hockey Theme'". 2010.
PUTTERFORD, M. "Lifeson Times". Kerrang! Nº 158. October 17, 1987.
PEART, N. "The Hold Your Fire Tour Book - Fireworks / The Making Of 'Hold Your Fire'". 1987.
KUEHNEMUND, G. "Getting Into The Spirit Of Rush - Rush Fan Mag". Metal Hammer. April 3, 1989.
RESNICOFF, M. SWENSON, J. "Alex Lifeson, Geddy Lee, Together Again In Rush". Guitar World. April 1988.
PRICE, Carol S. PRICE, Robert M. "Mystic Rhythms: The Philosophical Vision of Rush". Borgo Press, 1999.
"Lock And Key" é a sexta canção em Hold Your Fire, uma das peças mais intensas e marcantes em todo o álbum. A composição, acima de tudo, reflete a maneira incrível com a qual o Rush manipula temas que visitam a essência do ser humano, lidando dessa vez com o instinto assassino presente em muitos de nós.
O início da composição é marcado pela sofisticação. Apresentando uma belíssima e solitária camada de sintetizadores em sua abertura, a voz profundamente emocional e impetuosa de Geddy explode a envolvente e dramática temática. Uma feliz mistura entre o hard e o soft rock é proposta, onde todos os instrumentos se mostram muito equilibrados e bastante ousados. Neil Peart oferece novamente uma performance percussiva variada, sensível e espantosamente intensa (rendendo inclusive um solo maravilhoso na conclusão). As linhas de baixo de Lee mostram mais uma vez a inconfundível constância enérgica e proeminente. Já as guitarras de Lifeson criam climas diversos e poderosíssimos, coroando a obra com um solo matador, transmitindo fúria ao representar algo que estava adormecido, mas que involuntariamente vem à tona.
De acordo com Geddy, a música e a letra de "Lock And Key" foram concebidas simultaneamente, onde todas as partes seguiram se encaixando perfeitamente e sem qualquer premeditação. Para as gravações, o baixista utilizou um baixo Wal de cinco cordas. "É um baixo muito difícil de utilizar", explica. "Não pretendo usá-lo por muito tempo por ser muito pesado e incômodo, embora me permita conseguir um som muito diferente, uma nova perspectiva. Fabricado pela empresa inglesa Electric Wood, fui apresentado a ele durante os trabalhos em Power Windows. Nosso produtor Peter Collins tinha um e me sugeriu experimentar. Fiquei muito satisfeito com sua flexibilidade".
O Rush expõe novamente com "Lock And Key" sua incrível capacidade de ir além da música da época, tomando emprestados ingredientes de tendências em curso e transformando-os em algo mais intelectual, complexo e emocionante. "Estamos abertos ao que está acontecendo musicalmente, e geralmente tomamos essas influências encontrando uma maneira de trabalhá-las em nossa música", explica Peart. "Por outro lado, não somos esnobes. Gosto de dançar, e músicas para dançar de boa qualidade não me ofendem".
Conforme a maioria das canções em Hold Your Fire, "Lock And Key" baseia sua tônica em sentimentos e instintos primitivos. Peart é ousado em tratar sobre algo tão delicado e obscuro - o instinto assassino como característica humana adormecida - e nosso temor que o mesmo aflore em determinadas situações, saindo completamente do nosso controle. A maioria de nós consegue manter tais tendências trancadas a sete chaves, porém esses impulsos continuam vivos, protegidos em algum lugar obscuro da nossa essência.
"Outro instinto que temos é o assassino", diz Alex. "Trata-se da habilidade de matar por nenhuma razão. Somos capazes desse poder terrível, então é importante mantê-lo sob controle. 'Lock And Key' fala sobre isso".
"Um despertar psicológico ocasionado pelo hóquei aconteceu em um dia amargo de inverno, quando meus pais levaram meu amigo Rick Caton e eu para Martindale Pond em St. Catharines, uma vasta extensão de gelo grande o bastante para ser chamada de lago em muitas partes do mundo", lembra Peart. "Rick e eu levamos nossos tacos e discos para lá, mas aquilo acabou sendo um jogo unilateral - Rick roubava meu disco e patinava sem esforço o tempo todo. Fui ficando mais e mais frustrado, e finalmente dominado por uma onda de fúria assassina - a névoa vermelha [N. do T.: contida nas delicadas esferas representadas na capa e no material de divulgação]. Uma combinação animal de inveja e humilhação me fez querer pegar meu taco e bate-lo na cabeça dele - qualquer coisa para detê-lo".
"Para nossa sorte, não tive chance de pegá-lo. Porém, ainda assim, o poder daquele impulso violento e minha própria repulsa ao mesmo foi uma lição de vida precoce. Foi a primeira vez que me lembro de sentir um reflexo moral interior que gostaria que voltasse por muitas vezes em minha vida, quando diria a mim mesmo como fiz naquele dia, 'Não quero ser assim'".
"Depois de anos observando eu mesmo e os outros e por muitas vezes pensando, 'Não quero ser assim', abordei o tema no álbum Hold Your Fire. As letras das canções tratam do tema instinto, o bom e o mau, e escrevi 'Lock and Key' sobre o assunto".
Alguns estudos dão conta de que o instinto é associado a um padrão de comportamento inato, ou seja, uma reação natural com a qual já nascemos. Ele é responsável por certos estímulos que são inerentes ao animal e não aprendidos. De alguma forma, devido ao processo de seleção natural, esses instintos fazem parte do código de comportamento. Por exemplo, filhotes de tartarugas, assim que saem dos ovos, seguem em direção ao oceano. Temos também os incríveis rituais de sedução dos pássaros e suas construções de ninhos. Predadores matam para sobreviver, e em apenas alguns raros casos matam sem ter fome. Os humanos são exceções. Também matamos para nos alimentar, mas, sendo animais evoluídos, matamos por outras diversas razões. Matamos por ódio, inveja, ciúmes, medo, ao sermos manipulados ou coagidos, por um senso de dever patriótico, em nome de uma tribo (grupos religiosos ou gangues, por exemplo), para roubar alguém ou até mesmo por 'amor'. Matamos inclusive por influência de ideologias, que nos levam a entender que aqueles com valores diferentes são inimigos, devendo ser eliminados.
Criamos e realizamos obras belíssimas, e somos inclinados a atos de profunda empatia e altruísmo. Porém, reféns de uma prisão dialética, também somos seres capazes de assassinatos horrendos, cometidos sem qualquer remorso. Se existe algo em comum no impulso assassino é que, em muitos casos, os que matam sentem-se ameaçados por poderes que fogem ao seu controle, como ideologias que exploram sua vulnerabilidade, provocadores que abusam de sua dignidade ou por serem forçados a matar para integrar algum grupo. Até mesmo os psicopatas podem ter seus surtos alimentados por causas como essas. Dessa forma, Peart visita essa natureza obscura em "Lock and Key", entendendo que, em muitas situações, precisamos respirar e dialogar com nós mesmos, abrindo mão da liberdade em certas situações para não torná-las um cenário de horror.
Da mesma forma que no anterior Power Windows, o Rush gravou praticamente todo Hold Your Fire na Inglaterra, utilizando pelo menos sete estúdios diferentes naquele país. A banda retornou a Toronto somente para capturar os vocais e as últimas guitarras, finalizando todo o trabalho na França, em um estúdio chamado Guillaume Tell, localizado em Suresnes (uma comuna francesa que fica a 9,3 km do centro de Paris). A França sofreu vários ataques terroristas em 1986, sendo treze deles atribuídos à organização Hezbollah. "Mas é claro que existe o lado escuro da Cidade das Luzes", diz Peart. "Especialmente, após os eventos do último verão, era impossível não pensar em atos de violência gratuita, o tipo de coisa que é abordada em 'Lock And Key'. Umas duas bombas explodiram enquanto estivemos por lá, felizmente nenhuma em nós! Não é costume ver soldados e policiais por toda a parte com armas automáticas e coletes à prova de balas".
"Lock And Key" contém algumas alusões interessantes em sua letra. Peart traz a frase "The heart of a lonely hunter" ["O coração de um caçador solitário"], consistindo em um jogo de palavras que se refere ao famoso romance "The Heart is a lonely Hunter" ["O Coração é um Caçador Solitário"], concebido em 1940 pela escritora norte-americana Carson McCullers (1917 - 1967). A história se passa em uma pequena cidade do sul dos Estados Unidos, no final dos anos 1930, onde os efeitos da Grande Depressão ainda se faziam sentir. Personagens como Biff Brannon, um dono de restaurante que nunca descansa, Mick, uma garota forçada a passar abruptamente da infância à idade adulta, Jake Blount, um agitador marxista e o médico negro Benedict Copeland, que atende pacientes pobres de graça e que luta pela emancipação racial, enfrentam, além da carência material, o flagelo da solidão e da incomunicabilidade. O centro da narrativa, em que cada capítulo assume o ponto de vista de um personagem, é o mudo John Singer, um homem triste e solitário que, por sua serenidade enigmática, é visto como um santo pela comunidade. Além disso, é interessante observar na frase que a palavra 'heart' (coração) soa como 'hart' (cervo), certamente mais um trocadilho do letrista se referindo à caça (busca) pela filosofia de uma vida o mais equilibrada possível.
No vídeo oficial para "Lock and Key", produzido por Bob Jason e dirigido por Tony Van Den Ende (e também no telão das apresentações da canção ao vivo), o Rush expunha trechos do filme The Last Mile, dirigido pelo produtor norte-americano Samuel Bischoff (1890 - 1975) em 1932, a fim de ilustrar seu conceito em torno do instinto assassino. The Last Mile traz Richard Walters, um homem supostamente inocente entrando no corredor da morte, pouco antes de ocorrer um motim dos presos na penitenciária. Ele se envolve no tumulto, mesmo quando seus amigos do lado de fora tentam provar sua inocência.
Visitando noções de auto-conhecimento, introspecção e investigação pessoal, "Lock and Key" centra-se na ciência do instinto assassino e em nosso medo de que, por consequência de outros impulsos, fiquemos fora de controle em certos momentos. Dessa forma, por questões de segurança, respiramos fundo suprimindo e reprimindo essa viva e vibrante intrepidez animal, substituindo-a por um tépido, torpe (porém seguro) piloto automático robótico e mecanicista. Nesses casos, portanto, preferimos não pagar o preço arriscado de sermos livres, pois os efeitos colaterais podem ser muito dolorosos.
"Canções como 'Force Ten', 'Open Secrets' e 'Lock and Key' são sobre instintos humanos como a motivação e o medo", explica Alex.
© 2015 Rush Fã-Clube Brasil
TOLLESON, R. "Geddy Lee: Bass Is Still The Key". Bass Player. November / December 1988.
PEART, N. "Rush - A Show Of Hands". Rush Backstage Club Newsletter. September 1988.
BISHOP, P. "All Together Now: Rush Does Its Own Thing". Chicago Tribune. December 17, 1987.
PEART, N. "Fire On Ice - The Making Of 'The Hockey Theme'". 2010.
PUTTERFORD, M. "Lifeson Times". Kerrang! Nº 158. October 17, 1987.
PEART, N. "The Hold Your Fire Tour Book - Fireworks / The Making Of 'Hold Your Fire'". 1987.
KUEHNEMUND, G. "Getting Into The Spirit Of Rush - Rush Fan Mag". Metal Hammer. April 3, 1989.
RESNICOFF, M. SWENSON, J. "Alex Lifeson, Geddy Lee, Together Again In Rush". Guitar World. April 1988.
PRICE, Carol S. PRICE, Robert M. "Mystic Rhythms: The Philosophical Vision of Rush". Borgo Press, 1999.