LEAVE THAT THING ALONE



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DOUBLE AGENT  LEAVE THAT THING ALONE  COLD FIRE


LEAVE THAT THING ALONE

DEIXE ESSE NEGÓCIO EM PAZ

Música por Geddy Lee e Alex Lifeson


Uma belíssima construção instrumental que une estilos variados

A nona faixa de Counterparts é a vigorosa e melódica "Leave That Thing Alone", mais um momento indubitavelmente singular nesse trabalho. Trata-se da segunda peça inteiramente instrumental gravada pelo power-trio na década de 1990, sendo também a quarta lançada em toda a carreira. "Leave That Thing Alone" é mais um exemplo preciso de composição preparada com requinte, uma prova autêntica de que o Rush continuava sendo, verdadeiramente, uma das bandas mais competentes no que se refere à produções com alto teor emocional, mesmo que isentas de linhas vocais. Uma belíssima vitrine do rock.

Ao longo da pequena jornada de "Leave That Thing Alone", os três integrantes seguem firmes empunhando uma de suas mais vibrantes bandeiras: a extraordinária competência musical, sempre ardente e envolta por paixão e coração.

Trazendo guitarras deslumbrantes combinadas a belíssimas linhas de baixo e percussão, "Leave That Thing Alone" cria climas variados e simplesmente geniais, sendo capaz de emanar no ouvinte sensações imaginativas maravilhosamente tocantes. Todo aparato musical é amarrado à sintetizadores esparsos e longínquos que complementam os três instrumentos principais, adicionando ainda mais cores e profundidade. Toda a canção soa como uma jam session variada e inteligente - uma nova busca pela sempre atraente excelência artística.

"Instrumentais são sempre muito espontâneas, sendo escritas de forma bem rápida", explica Alex Lifeson. "As idéias nos chegam ligeiras. O que é mais legal em compormos uma instrumental é que a mesma já traz em si a tendência de ser muito chamativa. É como se fosse uma espécie de libertação, na qual podemos ser realmente exibicionistas. Porém, em 'Leave That Thing Alone', as melodias são muito, muito fortes, e isso é algo que te toca bem mais, algo emocional".

"Acho lindas as melodias de 'Leave That Thing Alone', especialmente aquelas produzidas pela guitarra"
, diz Geddy Lee. "Acho que não importa muito o estilo no qual você queira classificá-la, o que mais sobressai ali é que ela te traz, de fato, uma grande melodia. Outra coisa que gosto muito é a atitude rítmica da mesma, que é bem diferente para nós, uma área na qual nos mantemos brincando, experimentando e aprendendo - 'Como esses canadenses brancos aprenderam a tocar canções funk?'. Essas continuam sendo áreas de experimentação, apesar dela não soar como um verdadeiro funk pelos padrões daqueles que já estão acostumados com o estilo, mas que nos trouxe uma atitude rítmica que é muito divertida de trabalhar. Às vezes, acho que essas instrumentais nascem como uma reação às composições tensas, aquelas muito estruturadas, trabalhadas meticulosamente. Aqui conseguimos de fato relaxar, experimentando um pouco de divertimento ao unir todos esses riffs".

"'Leave That Thing Alone' foi construída ao longo de uma interação R&B entre baixo e bateria"
, explica Neil Peart. "Mas, para torná-la original e atraente, precisei modificá-la em algumas partes. No segundo trecho, venho com uma linha de bateria inspirada numa percussão nigeriana, algo que havia ouvido em um álbum do King Sunny Ade [N. do T.: cantor famoso daquele país]. Já no final, apresento um padrão bem próximo ao jazz. Todas essas coisas foram sendo introduzidas para nosso próprio divertimento, bem como uma busca em prepararmos uma peça mais interessante".

"Foi Geddy quem preparou essa trilha sutil de teclados"
, explica Lifeson. "A canção passeia por vários climas e timbres muito agradáveis. O solo veio da própria versão original que gravei em fita, algo que apenas toquei e que se encaixou. Tem um sabor celta".

"A música é acessível, sem ser evasiva e brega. É bem legal de tocar, e é isso que normalmente nos aproxima de uma instrumental - como no passado, com instrumentais como 'La Villa Strangiato' ou 'YYZ'. Porém, essa faixa é apenas uma canção legal. É agradável de ouvir, passando por mudanças e um pouco de variedade. A guitarra soa como uma voz cantando, o que a faz parecer mais emocional".

"As instrumentais são, de certa forma, nosso estado mais natural"
, explica Lee. "São mais fáceis de compor e mais alegres de tocar. Elas são a nossa recompensa. Em Counterparts, 'Leave That Thing Alone' funcionou como, 'se conseguirem vencer essas oito músicas, terão uma instrumental esperando por vocês no final'. Trata-se de uma maneira de responder à incrível gama de coibição que você tem que ter quando elabora uma faixa de quatro minutos e meio, chegando a uma instrumental que faz com que coloque tudo isso para fora e que realmente se divirta. É como se alguém soasse um apito e dissesse, 'Meninos, a hora da instrumental chegou'. E nós responderíamos, 'Oba!'"

"As canções instrumentais são muito divertidas de se trabalhar, são mais fáceis, e gravá-las é como uma folga para nós"
, diz Peart. "Sempre tentamos deixar um espaço para uma faixa instrumental, e 'Leave That Thing Alone' se encaixou muito bem".

"Ela é muito espontânea"
, diz Alex. "Isso é o que mais gosto nas instrumentais. Compomos a música e levamos para o Neil somente descobrir as linhas de percussão. Nós meio que deixamos Neil de fora quando compomos, não o deixamos sequer chegar perto enquanto trabalhamos em canções desse tipo. Quando finalizamos, entregamos a ele. Daí ele destrói tudo com a bateria", brinca o guitarrista.

"Após receber, Neil dá sua punhalada", completa Geddy. "Normalmente surgem duas ou três sugestões onde acabamos tendo que mudar um pouco o arranjo. Essa é sua vez de trabalhar, mas ele tem que trabalhar sozinho - algo que não deve ser tão divertido".

"Alex e eu gravamos todas as nossas jams e, muitas vezes, os momentos felizes onde começamos de fato a encaixar, dissecar e transformar as coisas em canções. Fazer jams é um recesso. Acho que essa é a melhor instrumental que já compomos".


Assim como a instrumental "Where’s My Thing" (do anterior Roll The Bones, 1991), o título de "Leave That Thing Alone" surgiu por acaso no estúdio, a partir de uma brincadeira entre os integrantes:

"Em Roll The Bones, Alex trabalhava na plataforma enquanto preparávamos as demos. Ele estava procurando por algo como um louco, e daí surgiu 'Where's my thing?'. Já no Counterparts, todos nós estávamos usando cavanhaque ou deixando a barba crescer durante o processo de composição e gravação. Quando você usa barba ou cavanhaque, tende a ficar brincando, mexendo naquilo, e dizíamos constantemente uns aos outros, 'Leave That Thing Alone!'".

"Leave That Thing Alone", assim como as anteriores "YYZ" (de Moving Pictures, 1981) e "Where's My Thing", foi indicada ao Grammy de 1994 como Melhor Performance Instrumental no Rock. A vencedora nessa edição foi "Marooned", do Pink Floyd (álbum The Division Bell, de 1994).

© 2015 Rush Fã-Clube Brasil

CHAPPELL, J. "Alex Lifeson's Attitude Adjustment". Guitar For The Practicing Musician. February 1994.
RESNICOFF, M. "Back To The Future / Alex Lifeson And Geddy Lee Return To Their Roots With Counterparts, Rush's Nineteenth Album". Guitar School. March 1994.
WARDEN, S. "The World Album Premier of 'Counterparts'". Broadcast. October 14, 1993.
CORYAT, K. "Geddy Lee: Still Going!". Bass Player. December 1993.
MILLER, William F. "Neil Peart: In Search Of The Right Feel". Modern Drummer. February 1994.