HALF THE WORLD



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DRIVEN  HALF THE WORLD  THE COLOR OF RIGHT


HALF THE WORLD

Half the world hates
What half the world does every day
Half the world waits
While half gets on with it anyway

Half the world lives
Half the world makes
Half the world gives
While the other half takes

Half the world is
Half the world was
Half the world thinks
While the other half does

Half the world talks
With half a mind on what they say
Half the world walks
With half a mind to run away

Half the world lies
Half the world learns
Half the world flies
As half the world turns

Half the world cries
Half the world laughs
Half the world tries
To be the other half

Half of us divided
Like a torn-up photograph
Half of us are trying
To reach the other half


Half the world cares
While half the world is wasting the day
Half the world shares
While half the world is stealing away
METADE DO MUNDO

Metade mundo odeia
O que metade do mundo faz todos os dias
Metade do mundo espera
Enquanto metade vai em frente de qualquer jeito

Metade mundo vive
Metade mundo produz
Metade mundo dá
Enquanto a outra metade recebe

Metade do mundo é
Metade do mundo foi
Metade do mundo pensa
Enquanto a outra metade faz

Metade do mundo fala
Com dúvidas sobre o que dizem
Metade do mundo anda
Com dúvidas sobre fugir

Metade mundo mente
Metade mundo aprende
Metade mundo voa
Enquanto metade do mundo gira

Metade mundo chora
Metade mundo ri
Metade do mundo tenta
Ser a outra metade

Metade de nós divididos
Como uma fotografia rasgada
Metade de nós está tentando
Alcançar a outra metade


Metade do mundo se importa
Enquanto metade do mundo está desperdiçando o dia
Metade do mundo reparte
Enquanto metade do mundo está roubando


Música por Geddy Lee e Alex Lifeson / Letra por Neil Peart


Divisões em níveis globais

A bela "Half The World" é a terceira faixa de Test For Echo, primeiro single do álbum lançado em 1996. Atingiu a sexta posição na Mainstream Rock Tracks da Billboard nos Estados Unidos, contando inclusive com um ótimo vídeo dirigido pelo canadense Dale Heslip, que também produziu as imagens para a anterior "Driven" e para "Nobody's Hero", de Counterparts (1993).

"O tempo estava congelante na ocasião da gravação do vídeo - um dia tempestuoso às margens do Lago Ontário", lembra Neil Peart. "Não foi como um piquenique. Temos feito coisas como essas há um bom tempo e sabemos como dar o nosso melhor. De forma geral, devido ao meu interesse em palavras no papel (e trabalhos no papel, como as nossas capas de discos e tourbooks), acabo não ligando muito para as imagens em movimento. Por outro lado, Geddy sempre teve amor por esse campo e, consequentemente, fica mais envolvido no processo. Ele vem trabalhando numa estreita colaboração com Dale Heslip, da mesma forma que faço com Hugh Syme. Em ambas as circunstâncias, Alex é o responsável pelas piadas, nos impedindo de ficarmos muito sérios ou frustrados. Gravar um vídeo não é o mesmo que tocar, o que torna o ato um pouco estranho, mas aprendi a abordá-lo como se fosse real - apenas reproduzindo a música como faria no palco. Digo aos diretores, 'Ei, vou tocar bateria; podem capturar!'".

Após a obscuridade emocional que envolve as duas faixas iniciais, o Rush oferece com "Half The World" uma peça de particularidades descomplicadas que aborda a natureza, a vivência e a convivência humana em todo o globo, espelhando suas diferenças, dificuldades e incoerências. Partindo de acordes elétricos logo acompanhados por construções amenas de baixo e bateria, a canção ilumina o ambiente do álbum, propondo um cenário mais afável, cativante e melódico. Neil e Geddy exibem exercícios sutis e precisos que flutuam por toda extensão da composição, como se os músicos estivessem se divertindo ao longo de uma pequena e meditativa caminhada. Alex, por sua vez, além da ação brilhante e basilar em seu instrumento, ainda brinda o ouvinte com texturas adicionais e um charmoso solo criado numa mandola de dez cordas, utilizada por ele pela primeira vez em seu álbum solo Victor. Essas misturas acústicas passeiam por várias faixas do disco, refletindo certamente um dos pontos altos de toda a proposta.

"Gosto muito do efeito acústico por trás das tomadas elétricas, o que traz uma impressão mais densa e pesada", explica Lifeson. "Utilizei meu violão Gibson Dove J-55, um pequeno Larrivée e um Martin com um belo som, muito fácil de gravar".

"Half The World" levanta um tema universal e, provavelmente por esse motivo, a banda tenha optado por uma referência à acessibilidade da música pop, estruturando um dos trabalhos mais radiofônicos já criados por eles em toda a carreira. Porém, mesmo em seus momentos mais simples, percebemos detalhes que marcam a genialidade inabalável dos canadenses.

"'Half the World' é um de nossos melhores momentos como compositores, pois conseguimos escrever uma canção concisa sem torná-la covarde ou melosa", explica Geddy Lee. "Ela tem um pouco de tudo: uma melodia agradável que ainda assim soa agressiva. Na verdade, é sempre difícil para nós escrevermos esse tipo de canção. Você teria que voltar a 'Closer to the Heart' para encontrar um exemplo como esse".

Um dos focos centrais em Test For Echo é o conceito de interação humana em uma sociedade tecnológica. Para Alex, "Foi o álbum mais agradável para nós. Estávamos bastante unidos naquela direção. Acredito que isso tenha refletido no próprio disco".

Peart versa em "Half The World" sobre variações do comportamento e das relações humanas no planeta, ilustrando seus confrontos sociais históricos e cotidianos de forma bastante abrangente. O letrista define as divisões como uma das mais fortes características das pessoas, estas que se confrontam justificando a defesa de uma identidade, fato que o letrista desaprova de forma incisiva. Em comparação com a clássica "Closer to the Heart" (de A Farewell To Kings, 1977), na qual o trio aplicou um estilo melódico e ao mesmo tempo agressivo para observar a diversidade sócio-econômica entre os indivíduos, "Half The World" aplica esse equilíbrio estilístico na abordagem dos contextos globais de intolerância sócio-política, disparidades econômicas e industriais e o pós-colonialismo nas relações internacionais.

"Anos atrás anotei a frase 'metade do mundo odeia o que a outra metade está fazendo', algo que andou por meus cadernos de anotações até encontrar uma 'casa'", lembra o letrista. "É claro que há muitas outras 'metades': raciais, econômicas, políticas, sexuais, religiosas, intelectuais, linguísticas, culturais - e uma das fraquezas da nossa natureza é a de celebrar nossas diferenças como um reflexo da nossa falsa 'identidade de grupo'. Na melhor das hipóteses, acho que isso é falso e, na pior das hipóteses, assassino".

Não é a primeira vez que Peart explora ideias sobre divisões sociais em canções do Rush. Em "Territories" (de Power Windows, 1985), o letrista observava vários estágios de posicionamentos etnocêntricos e desmerecimento de outras culturas, e em "Alien Shore" (de Counterparts, 1993), há críticas ao preconceito contra o sexo oposto e etnias.

"Já escrevi algumas vezes contra tais distinções superficiais e divisivas, como em 'Territories' e 'Alien Shore' e, provavelmente, farei isso novamente. Questões como essas me incomodam muito. Essas as razões das coisas que escrevo: ou elas me emocionam ou me incomodam".

Além da acessibilidade, "Half The World" traz outros elementos que podem caracterizá-la como uma faixa relativamente incomum se comparada a outros materiais do Rush. A começar por sua estrutura lírica, que repete insistentemente o título na grande maioria dos versos (lembrando o estilo utilizado em "The Big Money", do álbum Power Windows, de 1985), ensejando uma espécie de monotonia intencional que parece reconhecer a imobilidade e a persistência das realidades abordadas. Outro atributo interessante é a brilhante expressão vocal oferecida por Geddy, que consegue traduzir um lamento doloroso pelo afastamento, insensibilidade, egoísmo, desequilíbrio e desigualdade entre os seres humanos modernos.

Para o vocalista, a temática de "Half The World" traz motivações similares (porém mais diretas) à alguns dos conceitos mais antigos do Rush, como o foco principal do álbum Hemispheres, de 1978. "Sim, acho que, de certa forma, a canção se relaciona ao contexto visitado em Hemispheres - embora o primeiro tenha sido excessivamente introspectivo. 'Half The World' funciona como o visual de uma objetiva sobre o mundo. Trata-se de um dos tipos de canções com os quais mais gosto de trabalhar. Em algumas instâncias, as duas podem se referir ao mesmo assunto".

"Adoro essa canção - adoro suas melodias e adorei fazê-la. O Rush está sempre dividido entre seu lado mais agressivo e complexo com um lado mais suave - embora essa não seja uma canção leve, mas melódica. Dessa forma, coloco-a em uma outra categoria: acho que fomos capazes de casar um som um pouco mais tenso com algo bem legal e melódico. Fiquei muito satisfeito com ela".


Quando perguntado em 1997 sobre as contribuições do Rush para a diminuição do sofrimento e para a devolução de dignidade aos menos favorecidos, Peart respondeu:

"Sobre instituições de caridade em geral, acredito mais no voluntariado do que no tipo forçado, tentando viver de acordo com essa crença. Além do que fazemos como banda, oferecemos apoio a cerca de cem ONGs diferentes de forma bastante particular - essas que buscam ajudar, ensinar e conservar coisas que nos parecem boas".

Representando uma das filosofias mais notórias em suas composições com o Rush ao longo dos anos, Peart reconhece ter alguns problemas com as ideias da escritora Ayn Rand, frisando duas áreas específicas de desacordo. Contrário à rejeição de Rand sobre qualquer forma de bem-estar proveniente dos governos, o baterista apoia as iniciativas de proteção para aqueles que precisam de ajuda. Embora prefira que o bem-estar seja financiado voluntariamente, Peart não está convencido de que somente a caridade privada poderia apoiar verdadeiramente os necessitados.

Outro ponto ressaltado pelo músico são os ataques proferidos por Rand aos hippies e ao Festival de Woodstock. Em seu The New Left: The Anti-Industrial Revolution, um conjunto de ensaios lançado em 1971, a escritora argumenta que instâncias como a religião, a chamada Nova Esquerda (movimentos políticos surgidos em vários países a partir da década de 1960, pautados pelo ativismo social) e forças semelhantes são irracionais e prejudiciais. Dentre esses ensaios, há um texto chamado Apollo and Dionysius (Apolo e Dionísio, personagens mitológicos que inclusive serviram como base figurativa para a canção "Cygnus X-1 - Book II: Hemispheres"), no qual compara desfavoravelmente as 500 mil pessoas que participaram do festival ocorrido em Bethel, Nova York (em agosto de 1969) ao grupo de expectadores acampados um mês antes no Cabo Canaveral, Flórida, a fim de assistirem ao lançamento da Apollo 11. Para Rand, os últimos foram motivados pelos valores apolíneos da razão e da sobriedade, ao contrário do público em Woodstock que, segundo ela, apenas se dedicavam à utilização de drogas, à prática do sexo em público e à estarem cobertos de lama - uma apoteose do espírito de Dionísio, o deus do vinho e do amor.

"Sempre adorei as máquinas, e sempre adorei as maneiras que a humanidade encontra para produzir coisas", diz Peart. "Fiquei acordado a noite toda para assistir ao pouso da Apollo na Lua e, ao mesmo tempo, fiquei muito entusiasmado com Woodstock. De fato, não havia divisões - em ambos os casos, você está falando de coisas que as pessoas fabricam e fazem. Dessa forma, não via quaisquer divisões, mas é claro que Rand via, vendo a todos nós como uma horda de boêmios sujos".

Embora Peart amortize a hostilidade de Rand para os jovens em Woodstock como "questões geracionais", foi seu ensaio sobre Woodstock e sobre o rock que o forçou a perceber que não concordava com Rand em todos os pontos.

"Foi quando deixei de ser um 'Randroide', quando comecei a deixar de ser um dos seus fiéis. Percebi que havia certos elementos do seu pensamento e do seu trabalho que se afirmavam em mim, mas outros não. Descobertas como essa são importantes para qualquer jovem idealista - que ainda é sua própria pessoa".

Ao longo dos anos, Peart foi tomando menos referências diretas a Rand em suas composições, admitindo também que uma das causas desse declínio foi a intensa hostilidade dos críticos do rock nos primeiros anos, especialmente da Grã-Bretanha:

"Houve uma reação impressionante, especialmente na imprensa inglesa no final dos anos setenta, quando o coletivismo ainda estava na moda - especialmente entre os jornalistas. Nos chamavam de 'aspirantes a fascistas' ou 'amantes de Hitler'. Foi um grande choque para mim".


Era comum em muitas reportagens sobre o Rush nos anos de 1970 afirmando supostas referências fascistas em suas canções - invariavelmente, em reação à admiração de Peart por Rand. O músico diz que ficou "chocado, atordoado e ferido" com o fato de pessoas equacionarem sua adesão ao individualismo (à auto-suficiência e à liberdade humana) ao fascismo ou ditadura. Tais reações selvagens despertaram no letrista para uma "polaridade" entre a filosofia de Rand e aquelas críticas.

"No final dos anos 70, me tornei assinante da Objectivist Forum [N. do T.: uma revista bimestral publicada até 1987] por um período. Era lindo - era como respirar ar fresco quando abria minha caixa de correio. Porém, depois de um tempo, tornou-se um material mesquinho, divisivo e também faccionado. Costumo ficar longe dessas coisas. Não quero ser cooptado na ética do ethos individualista".

"A filosofia é toda sobre fazer coisas, com vistas à excelência e à beleza, e esse era o único atributo que estava faltando em qualquer um dos países que a rodeavam. Assim, essa é outra razão das pessoas ficarem longe
[do movimento objetivista oficial] dizendo, 'Bem, tenho uma vida e estou vivendo a filosofia - dessa forma, porque tenho que parar e falar com pessoas que não têm o mesmo pensamento?'".

"Bem, acho que há várias mensagens sobre os escritos de Ayn Rand que são colocadas por aí"
, diz Geddy. "Algumas delas falam sobre o individualismo, outras são interpretadas muito mais como uma declaração política de envolvimento não-governamental. Para nós, o ponto sobre o individualismo foi o mais apropriado e influente em termos de compromisso como artistas - sua história em The Fountainhead, em particular, fala de um arquiteto que se recusa a comprometer seus valores e sua estética. Quando se é uma banda jovem que está em um meio ganancioso como a indústria musical, há muita pressão sobre você no que tange comprometer sua música para escrever canções de amor de três minutos. Quando você lê um livro desses, ele tem um efeito profundo em termos de reforçar sua crença de que fazer música deve ser a música que você quer fazer, e não a música que outras pessoas querem que você faça para encherem os bolsos. O que quero dizer é que você pode ser Rand Paul, que usará os escritos de Ayn Rand para justificar o corte total de impostos, mas não é dessa merda que estamos falando.

"Half The World" continua as observações analíticas de dramas cotidianos essenciais que caracterizam Test For Echo, oferecendo novamente imagens muito interessantes que podem levar qualquer indivíduo, com um mínimo de esforço, a perceber de fato sua própria realidade. A poesia da canção nos incita a imaginarmos uma união das metades, considerando que nossas diferenças não deveriam nos separar e tão pouco nos causar prejuízo. A canção, por fim, revela uma fotografia rasgada de nós mesmos: uma oportunidade de percepção de existência não somente pautada em escalas estruturais, mas também em observações mais fragmentadas e pormenorizadas.

© 2016 Rush Fã-Clube Brasil

STREETER, S. "Live On Paper! - The Steve Streeter And Neil Peart Interview". A Show Of Fans #17. Summer 1997.
MYERS, P. "Rush Put Themselves To The "Test" / (And End Up Even Closer To The Heart)". Canadian Musician. December / 1996.
ROBINSON, J. "'Test For Echo' World Premiere". Chicago's Wksc-Fm. September 5, 1996.
BULLOCK, S. "A Rebel And A Drummer". Liberty. September 1997.
METTLER, M. "Rush Hour / Lifeson & Lee Test Their Metal With A Heavy Echo". Guitar. November 1996.
LORE, M. "Rush At 40: Geddy Lee Talks the Past, Present and Future". Paste. December 28, 2015.