FORCE TEN



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FORCE TEN

Tough times demand tough talk
demand tough hearts demand tough songs
demand -

We can rise and fall like empires
Flow in and out like the tide
Be vain and smart, humble and dumb
We can hit and miss like pride

We can circle around like hurricanes
Dance and dream like lovers
Attack the day like birds of prey
Or scavengers under cover

Look in -
To the eye of the storm
Look out -
For the force without form
Look around -
At the sight and the sound
Look in look out look around -

We can move with savage grace
To the rhythms of the night
Cool and remote like dancing girls
In the heat of the beat and the lights

We can wear the rose of romance
An air of joie de vivre
Too-tender hearts upon our sleeves
Or skin as thick as thieves'

rising falling at force ten
we twist the world and ride the wind

Look in - look the storm in the eye
Look out - to the sea and the sky
Look around - at the sight and the sound
Look in look out look around -
FORÇA DEZ

Tempos duros demandam palavras duras
Demandam corações duros e demandam canções duras
demandam -

Podemos nos erguer e ruir como impérios
Fluindo e vazando como a maré
Sermos vaidosos e inteligentes, humildes e estúpidos
Podemos acertar e errar como o orgulho

Podemos girar como furacões
Dançar e sonhar como amantes
Atacar o dia como aves de rapina
Ou detritívoros disfarçados

Olhe para dentro -
Para o olho da tempestade
Olhe para fora -
Para a força sem forma
Olhe em volta -
Para a vista e o som
Olhe para dentro olhe para fora olhe em volta -


Podemos nos mover com graça selvagem
Para os ritmos da noite
Legais e distantes como dançarinas
No calor da batida e das luzes

Podemos usar a rosa do romance
Um ar de joie de vivre
Corações tenros demais à flor da pele
Ou como unha e carne

queda crescente na força dez
torcemos o mundo e corremos como o vento

Olhe para dentro - olhe a tempestade nos olhos
Olhe para fora - para o mar e para o céu
Olhe em volta - para a vista e o som
Olhe para dentro olhe para fora olhe em volta -


Música por Geddy Lee e Alex Lifeson / Letra por Neil Peart e Pye Dubois


Observe o mundo atentamente

"Force Ten" é a canção de abertura do álbum Hold Your Fire, uma peça explosiva que arrebata o ouvinte com uma série gradual de dinâmicas, melodias e atmosferas excelentes. Linhas de baixo pesadas, percussões poderosas e um trabalho de guitarra extremamente envolvente e intenso dão vida a faixa que, novamente, apresenta um novo Rush.

A introdução de "Force Ten" revela uma interessante e curiosa sobreposição de sons: um coral sampleado, uma multidão em aplausos, guitarras, uma britadeira (contribuição programador Andy Richards, que já havia trabalhado com a banda no anterior Power Windows) e uma risada sutil feminina. Provavelmente, temos uma combinação de forças comparáveis àquelas que seriam retratadas no tema e no próprio título da composição.

É notável que o Rush ainda expõe os sintetizadores como parte integrante e destacada de sua sonoridade, fato gradativo que encontrou seu ápice mas que, nesse momento, começaria a dar sinais de decréscimo. Em "Force Ten", mesmo continuando a experiência de construir uma ponte entre a tecnologia musical e o hard rock, o Rush permite as guitarras novamente com maior destaque e não mais nos constantes duetos com os teclados, o que denota uma espécie de ponto de chegada da banda em suas explorações eletrônicas.

"Bem, os teclados se tornaram parte integrante do som do Rush agora mas, dinamicamente, acho que nos tiram bastante espaço", diz Alex Lifeson. "Por exemplo, 'Force Ten' não traz muitos teclados, sendo basicamente um trio tocando rock. Na verdade, acho que os teclados sentaram no banco de trás nesse álbum. Queria que o Rush fosse menos dependente dos sintetizadores desde Signals, um álbum no qual não consigo nem me ouvir agora!".

"Force Ten" marca dois outros fatos bastante relevantes. Apesar de ser a faixa de abertura e o primeiro single, foi a última canção a ser concebida para Hold Your Fire, sendo escrita em apenas três horas no dia 14 de dezembro de 1986 - o encerramento da fase de pré-produção. A letra, por sua vez, foi a segunda colaboração de Neil Peart com o amigo Pye Dubois, parceria que já havia produzido no passado um dos maiores hinos da carreira do Rush: a canção "Tom Sawyer", de Moving Pictures (1981).

"Na verdade", explica Alex, "a primeira faixa, 'Force Ten', foi escrita como uma reflexão tardia. Queríamos preparar mais uma música e nos lançamos nisso muito rapidamente. Pye Dubois, que co-escreveu a letra de 'Tom Sawyer' com Neil, nos deu uma letra para darmos uma olhada e, enquanto Neil a modificava, Geddy e eu produzíamos por algumas horas, até que todas as outras partes surgiram. Compomos e gravamos 'Vital Signs', 'New World Man' e 'Natural Science' assim, e é sempre divertido trabalhar dessa forma, pois a maior parte do álbum já está concluída e há muito pouca pressão sobre você".

"Bem, 'Force Ten' foi mais ou menos um adendo na fase de composições"
, diz Geddy Lee. "Levamos dois meses para preparar todas as composições e pré-produção, tínhamos nove canções e ainda um dia e meio reservado antes de deixarmos o estúdio. Nós (incluindo nosso produtor) nos esforçamos para termos dez faixas no álbum, e Pye Dubois havia nos apresentado uma letra (ele co-escreveu 'Tom Sawyer' conosco), sobre a qual Neil adicionou alguns dos seus pensamentos apresentando-a a nós na parte da manhã. Adoramos os resultados. Assim nos reunimos, trabalhamos por duas ou três horas e conseguimos 'Force Ten'".

"Neil trabalhou com a letra até ficar feliz com o resultado, mostrando para nós"
, relembra Geddy, "(...) Peter sentia que precisávamos de mais uma canção rock e, por isso, quando essa letra veio, ficamos muito animados. Compomos 'Force Ten' em uma tarde, levando três horas. Canções desse tipo são sempre as minhas favoritas, por serem espontâneas e puras. Elas dão mais variedade e equilíbrio ao disco".

Geddy realiza em "Force Ten" um trabalho estupendo em seu instrumento principal, sempre dinâmico e muito marcante. "Visitei um amigo chamado Jeff Berlin, tendo a oportunidade de vê-lo tocando baixo no backstage", lembra. "Fiquei impressionado com seu conhecimento sobre acordes, coisa que eu nunca havia explorado de fato. Ele acabou me inspirando a utilizar mais disso, algo que realizei em 'Force Ten' e também em 'Turn The Page'. Isso abriu um pouco das variedades para mim, tendo mais possibilidades melódicas e rítmicas - um papel importante para o baixista. Se você puder estabelecer são só uma melodia, mas também uma sensação rítmica, torna-se uma ferramenta extra".

"No passado, gostava muito de compor utilizando a guitarra, porém agora faço com o baixo e teclados"
, continua. "De vez em quando, gosto de compor diretamente no baixo, pois toco de forma mais agressiva quando utilizo esse instrumento. 'Force Ten' foi toda composta no baixo. Os teclados são belos dispositivos de arranjo, uma tecnologia incrível onde você pode ter cerca de trinta timbres diferentes para trabalhar, ao mesmo tempo em que mantemos a ideia central do que queremos. O Rush é uma banda de hard rock em constante evolução".

"'Force Ten' é um amálgama de ideias que remontam aos últimos três ou quatro álbuns, que na época não foram necessariamente bem-sucedidas", diz Neil. "'Digital Man' em Signals foi nossa primeira tentativa de fazer malabarismos com influencias estilísticas totalmente dispares - ska, synth-pop e hard rock e, no momento em que terminamos as três partes, elas foram unidas por uma cola louca. Porém, aprendemos com ela e, posteriormente, fizemos 'Force Ten'".

"As fases são pura coincidência, posso assegurar"
, diz Geddy. "Não planejamos de antemão. Mas acho que os três álbuns anteriores foram bem melodiosos, bem orientados pelos arranjos. Talvez nos libertemos um pouco disso, com um pouco de rebelião - assim como 'Force Ten', que foi a última canção a ser escrita para o disco e que era uma espécie de rebelião à estrutura e à disciplina do resto do álbum".

'Force Ten' traz em seu título duas inspirações. A primeira, no sentido literal, refere-se à Escala de Beaufort, um sistema de classificação de intensidade dos ventos que leva em conta sua velocidade e os efeitos resultantes no mar e em terra. Foi desenhada pelo meteorologista anglo-irlandês Francis Beaufort (1774 - 1857) no início do século XIX e, na década de 1830, já era amplamente utilizada pela Marinha Real Britânica. Constituída por uma escala de 0 (Calmo) a 13 (Furacão), a 10, nesse caso, refere-se a uma forte tempestade (mar revolto até 9 m; superfície do mar branca / árvores arrancadas; danos estruturais em construções). Já a segunda inspiração, figuradamente, indica o fato de "Force Ten" ter sido a décima e última canção escrita para Hold Your Fire.

"A minha inspiração está correta no sentido literal, embora a declaração de Geddy também esteja certa no sentido figurado"
, assinala Peart.

Apresentando algumas características próprias de Dubois, a letra de "Force Ten", assim como "Tom Sawyer", contém uma quantidade significativa e complexa de imagens, trocadilhos movimentos e metáforas, moldadas em uma estrutura de notável poesia. De forma mágica, a canção dispõe de dispositivos literários variados, tratando sobre a quebra de barreiras no processo de aprendizado e experiência, em prol do fortalecimento interno para o enfrentamento do mundo. Segundo Peart, a composição expressa maneiras de encarar dúvidas e dilemas, estimulando as pessoas a não terem medo do fracasso - traços básicos próprios do temperamento da banda. O refrão é intencionalmente mais lento e hipnotizante, pedindo para que sejamos mais introspectivos e observadores, levando mais tempo na apreciação de todos os elementos que nos rodeiam. É como se estivéssemos dentro de um furacão, com a possibilidade de perceber, em um silêncio temporário, tudo que nos envolve - isentos de todo o caos e, de fato, nos revigorando com a experiência.

Inicialmente, "Force Ten" confronta palavras como "tough" ("duro" / "difícil") e "demand" ("demanda"), a fim indicar o ponto-chave que é a busca por assumirmos o controle sobre qualquer situação indesejável, transformando-a algo favorável. Com o trecho "We can rise and fall like empires, flow in and out like the tide" ("Podemos nos erguer e ruir como impérios, fluindo e vazando como a maré"), Peart afirma imediatamente a falibilidade da condição humana através de uma ótima comparação. Com "Be vain and smart, humble and dumb, we can hit and miss like pride" ("Sermos vaidosos e inteligentes, humildes e estúpidos, podemos acertar e errar como o orgulho"), ele nos diz que podemos ser incríveis como a força dos impérios em seu auge, mas também medíocres em muitos momentos. A linha "We can circle around like hurricanes" ("Podemos girar como furacões") enfatiza que nós, como seres humanos, podemos ser afoitos e caóticos como uma tempestade que varre e destrói aleatoriamente, ou podemos "Dance and dream like lovers" ("Dançar e sonhar como amantes") quando estamos felizes, expressando emoção e alegria.

O trecho "Cool and remote like dancing girls, in the heat of the beat and the lights" ("Legais e distantes como dançarinas, no calor da batida e das luzes"), segundo Peart, foi inspirado nas garotas que vão aos shows do Rush, e em suas tentativas de dançar com a música da banda. "Sempre gostei de vê-las no público cantando junto, fazendo air-drumming ou dançando. No entanto, mesmo com a complexidade e mudanças constantes em nossas músicas, a dança das garotas absorve as canções, nunca como espasmos sem sentido em batidas metronômicas. Em 'Force Ten', tentei expressar meu apreço por essa absorção".

Os temas visitados em "Force Ten" se mostram bastante abrangentes, capturando algumas das peculiaridades da natureza humana e de suas relações. Um dos pontos que se mostram mais importantes é a afirmação de que não há um caminho errado enquanto estivermos enfrentando nossos medos e os combatendo, experimentando a vida de fato. Se uma tempestade inevitável se aproxima, devemos tentar lidar com a mesma da melhor forma possível, saindo mais fortes do outro lado.

"'Force Ten' fala sobre o arrancar de barreiras entre as pessoas, aprendendo a enfrentar o mundo sem elas", explica o letrista.

"Sobre a letra, acho que Neil fala sobre toda a energia que está disponível para nós e sobre as coisas nas quais mergulhamos instintivamente", diz Lifeson.

© 2015 Rush Fã-Clube Brasil

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