FLY BY NIGHT



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FLY BY NIGHT

Airport scurry flurry faces
Parade of passers by
People going many places
With a smile or just a sigh
Waiting waiting pass the time
Another cigarette
Get in line - gate thirty-nine
The time is not here yet...


Why try? I know why
The feeling inside me says it's time I was gone
Clear head, new life ahead
I want to be king now not just one more pawn

Fly by night, away from here
Change my life again
Fly by night goodbye my dear
My ship isn't coming and I just can't pretend

Moon rise, thoughtful eyes
Staring back at me from the window beside
No fright or hindsight
Leaving behind that empty feeling inside

Start a new chapter
I find what I'm after
Is changing every day
The change of a season
Is enough of a reason
To want to get away

Quiet and pensive
My thoughts apprehensive
The hours drift away
Leaving my homeland
Playing a lone hand
My life begins today
VOAR PELA NOITE

Rostos apressados na agitação do aeroporto
Desfile de transeuntes
Pessoas indo para muitos lugares
Com um sorriso ou apenas um suspiro
Esperando e esperando passar o tempo
Outro cigarro
Entre na fila - portão trinta e nove
O tempo ainda não está aqui...


Por que tentar? Eu sei porquê
O sentimento dentro de mim diz que é hora de ir
Cabeça limpa, vida nova pela frente
Quero ser rei agora e não só mais um peão

Voar pela noite, para longe daqui
Mudar minha vida de novo
Voar pela noite, adeus minha querida
Meu navio não está vindo e não posso fingir

Lua nascendo, olhos pensativos
Me encarando da janela ao lado
Sem medo ou retrospecto
Deixando para trás esse sentimento de vazio interior

Começar um novo capítulo
Acho que o que busco
Muda a cada dia
A mudança de estação
É razão suficiente
Para querer ir embora

Quieto e pensativo
Meus pensamentos apreensivos
As horas vão embora
Deixando minha terra natal
Jogando sozinho
Minha vida começa hoje


Música por Geddy Lee / Letra por Neil Peart


Iniciativa, coragem e imprevisibilidade da vida na busca pelos sonhos

A cativante "Fly By Night" é a quinta faixa do álbum homônimo. Foi escrita somente por Geddy Lee e Neil Peart e lançada como single três meses após o disco, em maio de 1975 (cujo lado B trazia também a canção "Best I Can"), tornando-se o mais vendido da banda até então. Trata-se de uma composição bastante acessível, que mostra uma excelente combinação de melodia sólida e agradável com riffs soberbos de guitarra e vocais potentes, oferecendo também uma ponte muito marcante e introspectiva.

Podendo ser considerada a primeira investida lírica verdadeiramente autobiográfica produzida por Peart no Rush, "Fly by Night" aborda a tocante descrição dos sentimentos experimentados pelo músico quando este decidia corajosamente deixar o Canadá para buscar seu tão sonhado reconhecimento e sucesso artístico. Em 1971, com apenas 18 anos, o jovem Neil foi levado por sua ambição musical e um desejo insaciável de viajar, explorar e aprender sobre tudo o que pudesse, escapando de sua cidade e voando para Londres, Reino Unido. A primeira grande viagem de sua vida deu início a um estimulante ciclo de aprendizado.

Crescendo nos arredores de Toronto, Neil tocou em uma série de bandas de escola antes de decidir se aventurar em outro continente. Quando chegou ao Rush, ele já havia participado de um número significativo de pequenos projetos na Península do Niágara. Porém, suas pretensões como músico na terra de bandas gigantescas como Beatles, Rolling Stones, The Who e Led Zeppelin não foi satisfatório. Sem escolha e sem dinheiro, o jovem baterista acabou levando a vida trabalhando como vendedor de souvenirs em uma loja chamada The Great Frog, localizada no epicentro turístico da Carnaby Street, e nos tempos livres passou a tocar em bandas sem expressão, realizando também alguns extras em seu instrumento. O caminho sonhado da "fama e fortuna" não foi encontrado, e Neil acabou retornando ao Canadá, sem imaginar que pouco tempo depois teria ali mesmo o começo de tudo que sempre desejou.

"No começo da década de 1970, com dezoito anos, arrumei minha bateria e meus discos e me mudei para a Inglaterra, procurando pelo fim do arco íris da fama e da fortuna", lembra Peart. "O pote de ouro não foi encontrado e, depois de alguns meses em Londres, fiquei completamente quebrado. Felizmente consegui um "emprego de verdade" trabalhando numa loja de souvenirs na Carnaby Street. Londres é sempre uma encruzilhada para jovens boêmios, e acabei dividindo tarefas com um alguns expatriados de todo o mundo. Durante o dia nos revezávamos para escolher as músicas para tocarmos no rádio da loja, e um cara persa, Ahmed, sempre gostava de ouvir um disco instrumental chamado Movements, do arranjador e maestro Johnny Harris. Depois de muitas audições, comecei a apreciar gradualmente a sutileza e a sofisticação da bateria, com a técnica baseada em jazz que combina tons de funk, rock e energia dinâmica".

"Sobre minha viagem, pulei o planejamento e fui direto para a esperança - eu só queria tocar a música que eu gostava de fato"
, continua. "Houve várias maneiras de ganhar a vida: capina em campos de batata, entrega de documentos, venda de cartazes e apetrechos hippies na Carnaby Street, trabalhar na concessionária de equipamentos agrícolas do meu pai, etc. Porém, para mim, a música não era um trabalho, e sim algo para ser feito com amor. Se fosse para eu fazer aquelas coisas, tinha que amar aquilo. Foi aí o princípio da coisa".

Desiludido não somente com os desencontros e todas as frustradas, mas também com a própria cena musical britânica e com o esgotamento do dinheiro e do impulso, Neil decidiu retornar ao Canadá, para trabalhar com seu pai no negócio de equipamentos agrícolas. Ele logo foi promovido a gerente de peças, vendendo esteiras para tratores e jogos de engrenagens.

"Você pode esperar para tocar a música que você ama e ser bem sucedido, mas terá que planejar bastante para ganhar a vida. Essa é a realidade. Para um jovem músico, mesmo que o plano modesto seja apenas uma estrada com muitas bifurcações, vi naquela época que alguns dos meus amigos estavam determinados a serem "músicos profissionais" - ou seja, ganhar a vida com isso - buscando um "plano" que fosse o de tocar qualquer coisa: polcas, Top-40, country, jazz cocktail, música de baile, etc. Tudo aquilo que passei ficou extremamente enraizado. Fora do trabalho e "financeiramente envergonhado", aceitei a oferta de um amigo guitarrista para tocar "jazz cocktail" em um "clube de cavalheiros". Isso envolvia tocar canções para drinks o mais silenciosamente possível, enquanto vendedores gordos em ternos de doze peças gargalhavam entre litros de cerveja. Depois do segundo set, fico vermelho em admitir que peguei minhas coisas e saí dali - o único trabalho que já abandonei. Pouco profissional, eu sei, mas simplesmente não conseguia suportar".

Por outro lado, o tempo estava se esgotando para o início da primeira turnê do Rush nos Estados Unidos, e a banda ainda não havia conseguido um novo baterista após a saída de John Rutsey. Os empresários Ray Danniels e Vic Wilson estavam desesperadamente à procura de um substituto e, após a audição não satisfatória de vários músicos, alguém lhes trouxe a informação de um excelente baterista local recém-chegado de Londres chamado Neil Peart. Os gestores decidiram marcar um teste que, após concluído, deixou todos muito empolgados e satisfeitos. Mesmo que a experiência anterior não tenha lhe rendido o que almejava, felizmente Peart continuou mantendo suas conexões com o mundo da música.

"Quando finalmente me juntei a Geddy e Alex no verão de 1974, vi que compartilhávamos esse mesmo 'sentimento' sobre música, que era de alguma forma exaltada por nós acima de tudo. Tínhamos mais ou menos feito uma promessa de fazer canções de maneira honesta e direta, acreditando que, se tocássemos as canções que de fato gostávamos, outras pessoas poderiam gostar também. Éramos jovens e idealistas, não sabíamos de nada. Quando chegamos ao grande circuito americano daquele momento, vimos que muitos músicos estavam se dedicando apenas a serem "comerciais", perdendo assim o interesse de muitos fãs fiéis. Eles vendiam tudo o que podiam para serem populares, e por fim acabávamos por entender que esses não eram músicos por vocação, mas sim políticos e empresários (sem as roupas de doze peças). Costumávamos chamar isso entre nós de "a Doença" - nos parecia ser tão desonesto, tão corrupto, tão errado vender nossa amada música tão barato! Testemunhamos também "a Doença" fazendo algumas vítimas, aqueles que não eram fortes o suficiente para se abandonar "o papel" perdendo-se dentro dele, de uma forma ou de outra".

A letra original de "Fly By Night" inclui um interessante prólogo não é encontrado na canção final, que descreve a tensão dos últimos momentos do jovem músico no aeroporto antes de embarcar para a terra da rainha: "Rostos apressados na agitação do aeroporto / Desfile de transeuntes / Pessoas indo para muitos lugares / Com um sorriso ou apenas um suspiro / Esperando e esperando passar o tempo / Outro cigarro / Entre na fila - portão trinta e nove / O tempo ainda não está aqui".

A partir das experiências pessoais de Neil Peart, "Fly By Night" expõe um cenário muito comum para uma quantidade inimaginável de pessoas ao redor do planeta: a busca por sonhos, mesmo que para alcançá-los sejam necessárias rupturas dolorosas e investidas bastante ousadas. Se o cenário da vida não se encontra satisfatório para o que ansiamos, é preciso mudar acima de tudo, traçando metas e perseguindo-as, não importando o quanto os prognósticos sejam obscuros ou desfavoráveis. Adicionando o elemento tempo, tudo acaba se tornando aprendizado de uma forma ou de outra, nas vitórias e também nas derrotas.

"As razões para a longevidade do Rush são tão misteriosas para nós como para um observador externo", afirma Peart. "Como na vida, é uma coisa para se decidir durante um longo tempo para alcançá-la. Só se pode abordar este jogo de azar com o conselho viajante sábio: "Espere o melhor, e planeje o pior".

© 2014 Rush Fã-Clube Brasil

SWENSON, J. Rush Chronicles, 1990
TELLERIA, E. Merely Players Tribute. Quarry Music Books, 2002
POPOFF, M. Contents Under Pressure. Canada: ECW Press, 2004