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LIMBO CARVE AWAY THE STONE ONE LITTLE VICTORY
CARVE AWAY THE STONE
You can roll that stone
To the top of the hill
Drag your ball and chain
Behind you
You can carry that weight
With an iron will
Or let the pain remain
Behind you
Chip away the stone
(Sisyphus)
Chip away the stone
Make the burden lighter
If you must roll that rock alone
You can drive those wheels
To the end of the road
You will still find the past right
Behind you
Try to deny
The weight of the load
Try to put the sins of the past night
Behind you
Carve away the stone
(Sisyhpus)
Carve away the stone
Make a graven image
With some features of your own
You call roll the stone
To the top of the hill
You can carry that weight
With an iron will
You can drive those wheels
To the end of the road
You can try to deny
The weight of the load
Roll away the stone
(Sisyhpus)
Roll away the stone
If you could just move yours
I could get working on my own
You can roll that stone
To the top of the hill
Drag your ball and chain
Behind you
You can carry that weight
With an iron will
Or let the pain remain
Behind you
Chip away the stone
(Sisyphus)
Chip away the stone
Make the burden lighter
If you must roll that rock alone
You can drive those wheels
To the end of the road
You will still find the past right
Behind you
Try to deny
The weight of the load
Try to put the sins of the past night
Behind you
Carve away the stone
(Sisyhpus)
Carve away the stone
Make a graven image
With some features of your own
You call roll the stone
To the top of the hill
You can carry that weight
With an iron will
You can drive those wheels
To the end of the road
You can try to deny
The weight of the load
Roll away the stone
(Sisyhpus)
Roll away the stone
If you could just move yours
I could get working on my own
ESCULPA A PEDRA
Você pode rolar essa pedra
Até o topo da colina
Arraste sua bola e a corrente
Atrás de você
Você pode carregar esse peso
Com uma vontade de ferro
Ou deixar que a dor permaneça
Atrás de você
Desbaste a pedra
(Sísifo)
Desbaste a pedra
Torne o fardo mais leve
Se você tiver que rolar essa rocha sozinho
Você pode levar essas rodas
Até o fim da estrada
Ainda irá encontrar o passado bem
Atrás de você
Tente negar
O peso da carga
Tente colocar os pecados da noite passada
Atrás de você
Esculpa a pedra
(Sísifo)
Esculpa a pedra
Faça uma imagem esculpida
Com alguns dos seus próprios traços
Você pode rolar a pedra
Até o topo da colina
Você pode carregar esse peso
Com vontade de ferro
Você pode levar essas rodas
Até o fim da estrada
Você pode tentar negar
O peso da carga
Role a pedra
(Sísifo)
Role a pedra
Se você puder mover a sua
Eu posso começar a trabalhar na minha
Você pode rolar essa pedra
Até o topo da colina
Arraste sua bola e a corrente
Atrás de você
Você pode carregar esse peso
Com uma vontade de ferro
Ou deixar que a dor permaneça
Atrás de você
Desbaste a pedra
(Sísifo)
Desbaste a pedra
Torne o fardo mais leve
Se você tiver que rolar essa rocha sozinho
Você pode levar essas rodas
Até o fim da estrada
Ainda irá encontrar o passado bem
Atrás de você
Tente negar
O peso da carga
Tente colocar os pecados da noite passada
Atrás de você
Esculpa a pedra
(Sísifo)
Esculpa a pedra
Faça uma imagem esculpida
Com alguns dos seus próprios traços
Você pode rolar a pedra
Até o topo da colina
Você pode carregar esse peso
Com vontade de ferro
Você pode levar essas rodas
Até o fim da estrada
Você pode tentar negar
O peso da carga
Role a pedra
(Sísifo)
Role a pedra
Se você puder mover a sua
Eu posso começar a trabalhar na minha
Utilize experiências do passado para moldar o presente
O fechamento de Test For Echo apresenta a cativante "Carve Away the Stone". Ao longo de dez faixas que devolvem o Rush a elementos de suas raízes musicais, o ciclo é finalmente concluído com outra construção poderosa. Um riff inicial distorcido e solitário próximo a "Working Man" (de Rush, 1974), acompanhado pela voz inconfundível de Geddy Lee, desenham o cenário lírico relacionado ao mito de Sísifo, uma das mais notáveis narrativas míticas gregas.
"Carve Away the Stone" exibe todas as mais fortes características de Test For Echo. Mesclando peso e sutilezas, traz arranjos complexos e guitarras pungentes, elementos que caminham permeados por uma letra introspectiva e de grande engenhosidade. Sustentada por belas frases musicais e bateria em fúria, a peça é munida de pontes carregadas de contratempos (algo também marcante nos próprios versos), com os quais a banda reforça sua mágica de fazer soar com simplicidade compassos alternados e complicados. Após o refrão de significativo apelo melódico, algumas breves variações de clima são experimentadas, com a composição sendo coroada por um solo de guitarra intenso e vibrante. Segundo Alex Lifeson, "Carve Away the Stone" visita bastante os anos de 1960, trazendo nas entrelinhas influências de Who, Hendrix e Jefferson Airplane, mesmo marcando seu caráter próprio.
Após visitar dramas sociais e pessoais como autoafirmação, iniciativa, divisões, moralidade, dinamismo temporal, crenças, tecnologia e luta por sonhos, Neil Peart propõe com "Carve Away the Stone" o exercício de enfrentamento dos infortúnios do passado, a fim de tornar o decurso da vida mais sólido e vencedor. Utilizando Sísifo, o baterista constrói versos que incitam o indivíduo a encarar seus medos e impasses sem negá-los, tomando-os de forma inteligente para a aprendizagem e afirmação de um ser humano cada vez mais experiente, completo e feliz.
Na mitologia grega, muitas são as histórias narradas pelos antigos sobre Sísifo. Filho do rei Éolo da Tessália e de Enarete, era considerado o mais astuto de todos os mortais. Foi o fundador mítico e primeiro rei de Éfira, depois chamada Corinto, cidade que governou por diversos anos. Mestre da malícia, entrou para a tradição como um dos maiores ofensores dos deuses. Por todos os enganos e traições perpetrados ao longo de sua existência, foi condenado após sua morte a trabalhos infrutíferos, sendo a ele designada a tarefa de rolar uma enorme pedra ladeira acima, até ao cume de uma montanha. Ao atingir o mesmo, a pedra rolaria novamente até ao sopé pelo próprio peso e por seu cansaço, com Sísifo devendo repetir a tarefa pela eternidade.
Com essa abordagem, torna-se importante observar o chamado absurdo filosófico, termo que se refere ao conflito entre a tendência humana de buscar significado inerente à vida e sua inabilidade de encontrá-lo. O escritor, ensaísta e filósofo argelino Albert Camus (1913 - 1960) propôs em sua obra Le Mythe de Sisyphe (O Mito de Sísifo) de 1942 que a vida dos homens era tal como a do herói mítico: seguir uma rotina diária e sem sentido próprio. Sendo um dos maiores nomes do existencialismo, Camus retomou o mito para explicar a condição humana, promovendo o que ficou conhecido como a revolta metafísica: a vida dos homens seguindo uma rotina diária, sem sentido próprio, determinada por instâncias como ideologias, religiões e ou sistemas econômicos. Seria como pensar em um mundo administrado, onde o indivíduo se levanta pela manhã, trabalha, se alimenta e se reproduz, e com tudo não representando o menor sentido, já que se refere a modos de pensar que se impõem sem que a pessoa participe de sua estruturação, como se não tivesse escolha.
Segundo Camus, "Toda alegria silenciosa de Sísifo está aí. Seu destino lhe pertence. Seu rochedo é sua questão. Da mesma forma o homem absurdo, quando contempla seu tormento, faz calar todos os ídolos. No universo subitamente restituído ao seu silêncio, elevam-se as mil pequenas vozes maravilhadas da terra. Apelos inconscientes e secretos e convites de todos os rostos são o reverso necessário e o preço da vitória. Não existe sol sem sombra, e é preciso conhecer a noite. O homem absurdo diz sim e seu esforço não acaba mais. Se há um destino pessoal, não há nenhuma destinação superior ou, pelo menos, só existe uma, que ele julga fatal e desprezível. No mais, ele se tem como senhor dos seus dias. Nesse instante sutil em que o homem se volta sobre sua vida, Sísifo, vindo de novo para seu rochedo, contempla essa sequência de atos sem nexo que se torna seu destino, criado por ele, unificado sob o olhar de sua memória e em breve selado por sua morte. Assim, convencido da origem toda humana de tudo o que é humano, cego que quer ver e que sabe que a noite não tem fim, ele está sempre caminhando. A pedra continua a rolar".
"Deixo Sísifo no sopé da montanha! Sempre se reencontra com seu fardo. Mas Sísifo ensina a fidelidade superior que nega os deuses e levanta os rochedos. Ele também acha que tudo está bem. Esse universo doravante sem senhor não lhe parece nem estéril nem fútil. Cada um dos grãos dessa pedra, cada clarão mineral dessa montanha cheia de noite, só para ele forma um mundo. A própria luta em direção ao cume é suficiente para preencher um coração humano. É preciso imaginar Sísifo feliz".
Tudo parece absurdo, pois quando se tenta reduzir a impossibilidade do mundo a um princípio racional e razoável, nada faz sentido. Mas, levar a sério até o que é absurdo é reconhecer a contradição entre o desejo da razão humana e a insensatez do mundo. Sem o homem, não há absurdo. Então, por que viver uma vida vã e inútil? O que conta, na verdade, não é a melhor vida, mas como se deve vivê-la. Daí a liberdade, que também é absurda para muitos.
De maneira elementar, Peart utiliza o mito em "Carve Away the Stone" para propor uma espécie de advertência contra uma condenação similar a de Sísifo: o rolar constante de uma pedra representando erros ou dores do passado. A partir da primeira estrofe, o letrista apresenta a ideia central reforçada pela figura de uma bola e uma corrente ("You can roll that stone to the top of the hill, drag your ball and chain behind you" - "Você pode rolar essa pedra até o topo da colina, arraste sua bola e a corrente atrás de você"), referindo-se ao dispositivo histórico de contenção física aplicado em prisioneiros. O cerne propõe a impossibilidade de se fugir do passado, este que sempre estará presente - quer gastemos todas as energias empurrando-o para longe ou não. Porém, ao longo da canção, o letrista propõe figuras que suscitam alternativas para torná-lo mais leve e até mesmo útil.
No primeiro refrão, além do sussuro que remete ao herói, há a sugestão de se desbastar a pedra, ou seja, remover o excesso do material bruto pesado (ou fardo) que carregamos ("Chip away the stone, make the burden lighter if you must roll that rock alone" - "Desbaste a pedra, torne o fardo mais leve se você tiver que rolar essa rocha sozinho"). Indo além, temos ainda a proposta de esculpir a pedra, elaborando uma escultura aprimorada com nossas próprias características. Tal atitude ilustra claramente a utilização do que carregamos como fonte de experiência e de crescimento, transformando questões doloridas e traumáticas em fontes de fortificação, o que inquestionavelmente nos molda e nos torna pessoas melhores.
Talvez um dos elementos visuais mais importantes em Test For Echo seja a instigante imagem do totem, que é revestido de diferentes significados em momentos distintos, como a afirmação e o "eco" de um imponente inukshuk do ártico ou como uma representação de símbolos sagrados. É possível visitá-lo novamente em "Carve Away the Stone", inicialmente como um material bruto que remete ao passado fatigante e que muitos trazem como a árdua tarefa de carregar em suas vidas. Por mais traumático que seja, o mesmo nunca poderá ser completamente abandonado por ser parte da constituição histórica e formativa de qualquer ser humano. Porém, Peart sugere a possibilidade de formas de configurá-lo a partir de iniciativas e experiências, transformando-o em uma bela expressão de trabalho e crescimento que irão lhe conferir outros significados. Tais atitudes podem nos tornar mais fortes e conhecedores de nós mesmos, inspirando outras pessoas a tomarem decisões partindo de suas próprias reflexões.
"Carve Away the Stone" é a despedida de Test For Echo e, coincidentemente, traria implícito o prenúncio de que tempos difíceis se aproximavam para os três músicos. Estes, envoltos por dureza e dores inimagináveis, posteriormente representariam uma comovente lição de superação e perseverança.
"Desde nossos primeiros álbuns e turnês, colhemos souvenirs pensando que aqueles poderiam ser os últimos de nossas vidas", diz Peart. "Não ousamos tomar nada como garantido. Acho que uma grande contribuição para nossa longevidade é a de nunca tomarmos nós mesmos, nossa carreira ou nossos fãs como garantidos. Sempre foi e sempre será uma batalha de cada vez".
© 2016 Rush Fã-Clube Brasil
O fechamento de Test For Echo apresenta a cativante "Carve Away the Stone". Ao longo de dez faixas que devolvem o Rush a elementos de suas raízes musicais, o ciclo é finalmente concluído com outra construção poderosa. Um riff inicial distorcido e solitário próximo a "Working Man" (de Rush, 1974), acompanhado pela voz inconfundível de Geddy Lee, desenham o cenário lírico relacionado ao mito de Sísifo, uma das mais notáveis narrativas míticas gregas.
"Carve Away the Stone" exibe todas as mais fortes características de Test For Echo. Mesclando peso e sutilezas, traz arranjos complexos e guitarras pungentes, elementos que caminham permeados por uma letra introspectiva e de grande engenhosidade. Sustentada por belas frases musicais e bateria em fúria, a peça é munida de pontes carregadas de contratempos (algo também marcante nos próprios versos), com os quais a banda reforça sua mágica de fazer soar com simplicidade compassos alternados e complicados. Após o refrão de significativo apelo melódico, algumas breves variações de clima são experimentadas, com a composição sendo coroada por um solo de guitarra intenso e vibrante. Segundo Alex Lifeson, "Carve Away the Stone" visita bastante os anos de 1960, trazendo nas entrelinhas influências de Who, Hendrix e Jefferson Airplane, mesmo marcando seu caráter próprio.
Após visitar dramas sociais e pessoais como autoafirmação, iniciativa, divisões, moralidade, dinamismo temporal, crenças, tecnologia e luta por sonhos, Neil Peart propõe com "Carve Away the Stone" o exercício de enfrentamento dos infortúnios do passado, a fim de tornar o decurso da vida mais sólido e vencedor. Utilizando Sísifo, o baterista constrói versos que incitam o indivíduo a encarar seus medos e impasses sem negá-los, tomando-os de forma inteligente para a aprendizagem e afirmação de um ser humano cada vez mais experiente, completo e feliz.
Na mitologia grega, muitas são as histórias narradas pelos antigos sobre Sísifo. Filho do rei Éolo da Tessália e de Enarete, era considerado o mais astuto de todos os mortais. Foi o fundador mítico e primeiro rei de Éfira, depois chamada Corinto, cidade que governou por diversos anos. Mestre da malícia, entrou para a tradição como um dos maiores ofensores dos deuses. Por todos os enganos e traições perpetrados ao longo de sua existência, foi condenado após sua morte a trabalhos infrutíferos, sendo a ele designada a tarefa de rolar uma enorme pedra ladeira acima, até ao cume de uma montanha. Ao atingir o mesmo, a pedra rolaria novamente até ao sopé pelo próprio peso e por seu cansaço, com Sísifo devendo repetir a tarefa pela eternidade.
Com essa abordagem, torna-se importante observar o chamado absurdo filosófico, termo que se refere ao conflito entre a tendência humana de buscar significado inerente à vida e sua inabilidade de encontrá-lo. O escritor, ensaísta e filósofo argelino Albert Camus (1913 - 1960) propôs em sua obra Le Mythe de Sisyphe (O Mito de Sísifo) de 1942 que a vida dos homens era tal como a do herói mítico: seguir uma rotina diária e sem sentido próprio. Sendo um dos maiores nomes do existencialismo, Camus retomou o mito para explicar a condição humana, promovendo o que ficou conhecido como a revolta metafísica: a vida dos homens seguindo uma rotina diária, sem sentido próprio, determinada por instâncias como ideologias, religiões e ou sistemas econômicos. Seria como pensar em um mundo administrado, onde o indivíduo se levanta pela manhã, trabalha, se alimenta e se reproduz, e com tudo não representando o menor sentido, já que se refere a modos de pensar que se impõem sem que a pessoa participe de sua estruturação, como se não tivesse escolha.
Segundo Camus, "Toda alegria silenciosa de Sísifo está aí. Seu destino lhe pertence. Seu rochedo é sua questão. Da mesma forma o homem absurdo, quando contempla seu tormento, faz calar todos os ídolos. No universo subitamente restituído ao seu silêncio, elevam-se as mil pequenas vozes maravilhadas da terra. Apelos inconscientes e secretos e convites de todos os rostos são o reverso necessário e o preço da vitória. Não existe sol sem sombra, e é preciso conhecer a noite. O homem absurdo diz sim e seu esforço não acaba mais. Se há um destino pessoal, não há nenhuma destinação superior ou, pelo menos, só existe uma, que ele julga fatal e desprezível. No mais, ele se tem como senhor dos seus dias. Nesse instante sutil em que o homem se volta sobre sua vida, Sísifo, vindo de novo para seu rochedo, contempla essa sequência de atos sem nexo que se torna seu destino, criado por ele, unificado sob o olhar de sua memória e em breve selado por sua morte. Assim, convencido da origem toda humana de tudo o que é humano, cego que quer ver e que sabe que a noite não tem fim, ele está sempre caminhando. A pedra continua a rolar".
"Deixo Sísifo no sopé da montanha! Sempre se reencontra com seu fardo. Mas Sísifo ensina a fidelidade superior que nega os deuses e levanta os rochedos. Ele também acha que tudo está bem. Esse universo doravante sem senhor não lhe parece nem estéril nem fútil. Cada um dos grãos dessa pedra, cada clarão mineral dessa montanha cheia de noite, só para ele forma um mundo. A própria luta em direção ao cume é suficiente para preencher um coração humano. É preciso imaginar Sísifo feliz".
Tudo parece absurdo, pois quando se tenta reduzir a impossibilidade do mundo a um princípio racional e razoável, nada faz sentido. Mas, levar a sério até o que é absurdo é reconhecer a contradição entre o desejo da razão humana e a insensatez do mundo. Sem o homem, não há absurdo. Então, por que viver uma vida vã e inútil? O que conta, na verdade, não é a melhor vida, mas como se deve vivê-la. Daí a liberdade, que também é absurda para muitos.
De maneira elementar, Peart utiliza o mito em "Carve Away the Stone" para propor uma espécie de advertência contra uma condenação similar a de Sísifo: o rolar constante de uma pedra representando erros ou dores do passado. A partir da primeira estrofe, o letrista apresenta a ideia central reforçada pela figura de uma bola e uma corrente ("You can roll that stone to the top of the hill, drag your ball and chain behind you" - "Você pode rolar essa pedra até o topo da colina, arraste sua bola e a corrente atrás de você"), referindo-se ao dispositivo histórico de contenção física aplicado em prisioneiros. O cerne propõe a impossibilidade de se fugir do passado, este que sempre estará presente - quer gastemos todas as energias empurrando-o para longe ou não. Porém, ao longo da canção, o letrista propõe figuras que suscitam alternativas para torná-lo mais leve e até mesmo útil.
No primeiro refrão, além do sussuro que remete ao herói, há a sugestão de se desbastar a pedra, ou seja, remover o excesso do material bruto pesado (ou fardo) que carregamos ("Chip away the stone, make the burden lighter if you must roll that rock alone" - "Desbaste a pedra, torne o fardo mais leve se você tiver que rolar essa rocha sozinho"). Indo além, temos ainda a proposta de esculpir a pedra, elaborando uma escultura aprimorada com nossas próprias características. Tal atitude ilustra claramente a utilização do que carregamos como fonte de experiência e de crescimento, transformando questões doloridas e traumáticas em fontes de fortificação, o que inquestionavelmente nos molda e nos torna pessoas melhores.
Talvez um dos elementos visuais mais importantes em Test For Echo seja a instigante imagem do totem, que é revestido de diferentes significados em momentos distintos, como a afirmação e o "eco" de um imponente inukshuk do ártico ou como uma representação de símbolos sagrados. É possível visitá-lo novamente em "Carve Away the Stone", inicialmente como um material bruto que remete ao passado fatigante e que muitos trazem como a árdua tarefa de carregar em suas vidas. Por mais traumático que seja, o mesmo nunca poderá ser completamente abandonado por ser parte da constituição histórica e formativa de qualquer ser humano. Porém, Peart sugere a possibilidade de formas de configurá-lo a partir de iniciativas e experiências, transformando-o em uma bela expressão de trabalho e crescimento que irão lhe conferir outros significados. Tais atitudes podem nos tornar mais fortes e conhecedores de nós mesmos, inspirando outras pessoas a tomarem decisões partindo de suas próprias reflexões.
"Carve Away the Stone" é a despedida de Test For Echo e, coincidentemente, traria implícito o prenúncio de que tempos difíceis se aproximavam para os três músicos. Estes, envoltos por dureza e dores inimagináveis, posteriormente representariam uma comovente lição de superação e perseverança.
"Desde nossos primeiros álbuns e turnês, colhemos souvenirs pensando que aqueles poderiam ser os últimos de nossas vidas", diz Peart. "Não ousamos tomar nada como garantido. Acho que uma grande contribuição para nossa longevidade é a de nunca tomarmos nós mesmos, nossa carreira ou nossos fãs como garantidos. Sempre foi e sempre será uma batalha de cada vez".
© 2016 Rush Fã-Clube Brasil
WILDING, P. "Classic Rock Presents: Rush Clockwork Angels". Classic Rock Special Edition. June 11, 2012.