25 DE OUTUBRO DE 2016 | POR VAGNER CRUZ
O site TeamRock.com, da revista britânica Classic Rock, trouxe uma antiga entrevista com Alex Lifeson publicada originalmente na edição #190 (novembro de 2013), na coluna Heavy Load - que traz perguntas "pesadas" para músicos do rock. Aqui, o lendário guitarrista do Rush fala sobre drogas, religião, o incidente no hotel Ritz-Carlton em Naples, Flórida (onde foi duramente agredido pela polícia no réveillon de 2003) e a pior música do Rush na sua opinião. Acompanhem a tradução completa, exclusiva para o Rush Fã-Clube Brasil.
ALEX LIFESON FALA SOBRE DEUS, BRUTALIDADE POLICIAL E ECSTASY
O guitarrista do Rush explica que, mesmo a pior música do Rush, pode soar brilhante com ecstasy
Classic Rock - Novembro de 2013
Por Paul Elliot | Tradução: Vagner Cruz
No dia 27 de agosto de 2013 o guitarrista do Rush Alex Lifeson atingiu um marco: completou 60 anos. Nascido Aleksandar Živojinovic com pais sérvios, Lifeson foi criado em Toronto, formando o Rush em 1968 e onde ainda vive.
A banda já vendeu mais de 50 milhões de discos e passou a integrar o Rock and Roll Hall of Fame com um discurso do Foo Fighters - que executou "2112 Overture" na cerimônia (faixa do disco 2112, de 1976), vestidos de cetim branco e perucas. Foi um tributo perfeito para um homem que nunca se levou muito à sério.
O que Alex Lifeson pode fazer que mais ninguém pode?
Reclamar das coisas. Consigo reclamar mais do que qualquer pessoa no mundo.
Do que você reclama?
De tudo! Reclamo do café que não está suficientemente quente, reclamo do meu peso: "Querida, você encolheu minhas roupas?".
Isso não é a apenas a idade falando?
Sim. Acabei de comemorar meu 60º aniversário. E reclamei disso.
Oh, vamos lá... você deve ter tido uma festa.
Pensei, "Não quero fazer algo muito grande". Assim, decidimos por um jantar em família e com alguns amigos. Conseguimos um chef para 16 pratos e um menu de degustação, e trouxe alguns vinhos da minha adega. A comida estava fabulosa e a sala ficou bem agitada. Era uma terça feira, e fomos até à meia noite.
Qual foi a melhor coisa que você comeu?
Tinha um polvo grelhado que derretia na boca. Mas é difícil lembrar o que mais nós tínhamos ali. O vinho fluiu. Eu não estava reclamando muito naquela noite.
Você acredita em Deus?
Não. Quando eu era mais jovem sim. Minha mãe não é super-religiosa, mas tem uma crença. Meu pai o oposto total. Para ele, religião era enganação. Comecei a questionar tudo isso na minha adolescência. Tinha amigos que eram aberrações de Jesus, e outros eram apenas bem espirituais. Tivemos ótimas e longas discussões sobre essas coisas. Mas, enquanto fui ficando mais velho, isso foi se tornando para mim uma coisa cada vez menos sensata.
Qual foi a melhor droga que você já tomou?
Cannabis para mim é a melhor. Porém também tomei ecstasy e foi divertido. Isso aconteceu em meados dos anos 90. Adorei. Tantos relacionamentos se abriram e se tornaram mais profundos - e permanecendo assim. É a única droga com a qual você tem essas experiências e elas ficam com você. Descobri isso depois de um tempo, quando não sentia mais dessa forma. Quanto mais você usa, menos se sente como das primeiras vezes.
Quando você estava usando, saia por aí dizendo para as pessoas o quanto adorava?
Com certeza. E a música era incrível de se ouvir.
É provável que muitas pessoas não ouvem Rush usando ecstasy.
Eu também não! São músicas para dançar principalmente. Lembro de usar ecstasy numa noite com a minha esposa, apenas nós dois. Foi na sala de estar da nossa antiga casa, onde tínhamos um sistema de som enorme - 6000 watts ou quase isso. Nos vestimos e sentamos tomando suco de laranja. Fumamos milhares de cigarros e ficamos ouvindo Nine Inch Nails e Tool. O som era alto, intenso - música pesada. Curtimos demais.
Qual é, pra você, a pior música que o Rush já gravou?
"Tai Shan" [de Hold Your Fire, 1987] é, facilmente, uma das piores. E "Panacea" [parte da épica "The Fountain of Lamneth", de Caress of Steel, 1975]. Foram tentativas que de fato não funcionaram. Foram... inocentes.
Elas poderiam ter soado bem profundas se você estivesse usando ecstasy.
Sim! "Oh meu Deus, acertamos mesmo nessa! A propósito - eu te amo".
Você já teve um fim de ano mais animado do que aquele em 2003, quando você foi preso e eletrocutado com taser pela polícia?
Não. Que péssima experiência. Qual é a sensação de ser eletrocutado com taser? É terrível, uma sensação terrível. Seu corpo treme todo e você sente dores extremas. E quando você está deitado numa poça com o seu próprio sangue, se perguntando, "Porque estão fazendo isso comigo?". Repeti isso umas cinco vezes. É como um choque numa cerca elétrica? Multiplique por cem. Seu corpo todo fica descontrolado. Dura cerca de oito segundos, mas parecem dois minutos. Centenas de pessoas foram mortas com tasers.
Qual o seu maior arrependimento?
Não ter aprendido mais idiomas. Falo sérvio, inglês e um pouco de francês. Mas na verdade sou um cara preguiçoso.
Qual o significado da vida?
Ser uma pessoa boa, compartilhar sua vida, ser atencioso com os outros e amar. Passar algo à frente. É menos sobre como fazer dinheiro e progredir - que é algo fácil de dizer quando você teve sucesso.
O que estará na sua lápide?
"Ops, me desculpe!".
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Você é livre para utilizar nossos materiais, mas lembre-se sempre dos créditos (até mesmo em adaptações). Várias das nossas publicações levam horas de dedicação, e uma menção ao nosso site pelo trabalho árduo é sinal de ética e consideração - pilares da própria obra do Rush.
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No dia 27 de agosto de 2013 o guitarrista do Rush Alex Lifeson atingiu um marco: completou 60 anos. Nascido Aleksandar Živojinovic com pais sérvios, Lifeson foi criado em Toronto, formando o Rush em 1968 e onde ainda vive.
A banda já vendeu mais de 50 milhões de discos e passou a integrar o Rock and Roll Hall of Fame com um discurso do Foo Fighters - que executou "2112 Overture" na cerimônia (faixa do disco 2112, de 1976), vestidos de cetim branco e perucas. Foi um tributo perfeito para um homem que nunca se levou muito à sério.
O que Alex Lifeson pode fazer que mais ninguém pode?
Reclamar das coisas. Consigo reclamar mais do que qualquer pessoa no mundo.
Do que você reclama?
De tudo! Reclamo do café que não está suficientemente quente, reclamo do meu peso: "Querida, você encolheu minhas roupas?".
Isso não é a apenas a idade falando?
Sim. Acabei de comemorar meu 60º aniversário. E reclamei disso.
Oh, vamos lá... você deve ter tido uma festa.
Pensei, "Não quero fazer algo muito grande". Assim, decidimos por um jantar em família e com alguns amigos. Conseguimos um chef para 16 pratos e um menu de degustação, e trouxe alguns vinhos da minha adega. A comida estava fabulosa e a sala ficou bem agitada. Era uma terça feira, e fomos até à meia noite.
Qual foi a melhor coisa que você comeu?
Tinha um polvo grelhado que derretia na boca. Mas é difícil lembrar o que mais nós tínhamos ali. O vinho fluiu. Eu não estava reclamando muito naquela noite.
Você acredita em Deus?
Não. Quando eu era mais jovem sim. Minha mãe não é super-religiosa, mas tem uma crença. Meu pai o oposto total. Para ele, religião era enganação. Comecei a questionar tudo isso na minha adolescência. Tinha amigos que eram aberrações de Jesus, e outros eram apenas bem espirituais. Tivemos ótimas e longas discussões sobre essas coisas. Mas, enquanto fui ficando mais velho, isso foi se tornando para mim uma coisa cada vez menos sensata.
Qual foi a melhor droga que você já tomou?
Cannabis para mim é a melhor. Porém também tomei ecstasy e foi divertido. Isso aconteceu em meados dos anos 90. Adorei. Tantos relacionamentos se abriram e se tornaram mais profundos - e permanecendo assim. É a única droga com a qual você tem essas experiências e elas ficam com você. Descobri isso depois de um tempo, quando não sentia mais dessa forma. Quanto mais você usa, menos se sente como das primeiras vezes.
Quando você estava usando, saia por aí dizendo para as pessoas o quanto adorava?
Com certeza. E a música era incrível de se ouvir.
É provável que muitas pessoas não ouvem Rush usando ecstasy.
Eu também não! São músicas para dançar principalmente. Lembro de usar ecstasy numa noite com a minha esposa, apenas nós dois. Foi na sala de estar da nossa antiga casa, onde tínhamos um sistema de som enorme - 6000 watts ou quase isso. Nos vestimos e sentamos tomando suco de laranja. Fumamos milhares de cigarros e ficamos ouvindo Nine Inch Nails e Tool. O som era alto, intenso - música pesada. Curtimos demais.
Qual é, pra você, a pior música que o Rush já gravou?
"Tai Shan" [de Hold Your Fire, 1987] é, facilmente, uma das piores. E "Panacea" [parte da épica "The Fountain of Lamneth", de Caress of Steel, 1975]. Foram tentativas que de fato não funcionaram. Foram... inocentes.
Elas poderiam ter soado bem profundas se você estivesse usando ecstasy.
Sim! "Oh meu Deus, acertamos mesmo nessa! A propósito - eu te amo".
Você já teve um fim de ano mais animado do que aquele em 2003, quando você foi preso e eletrocutado com taser pela polícia?
Não. Que péssima experiência. Qual é a sensação de ser eletrocutado com taser? É terrível, uma sensação terrível. Seu corpo treme todo e você sente dores extremas. E quando você está deitado numa poça com o seu próprio sangue, se perguntando, "Porque estão fazendo isso comigo?". Repeti isso umas cinco vezes. É como um choque numa cerca elétrica? Multiplique por cem. Seu corpo todo fica descontrolado. Dura cerca de oito segundos, mas parecem dois minutos. Centenas de pessoas foram mortas com tasers.
Qual o seu maior arrependimento?
Não ter aprendido mais idiomas. Falo sérvio, inglês e um pouco de francês. Mas na verdade sou um cara preguiçoso.
Qual o significado da vida?
Ser uma pessoa boa, compartilhar sua vida, ser atencioso com os outros e amar. Passar algo à frente. É menos sobre como fazer dinheiro e progredir - que é algo fácil de dizer quando você teve sucesso.
O que estará na sua lápide?
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