ENTREVISTA COM O GAROTO DA CAPA DE "POWER WINDOWS"



22 DE JANEIRO DE 2016 | POR VAGNER CRUZ

É provável que você já tenha se perguntado alguma vez sobre a identidade do garoto que aparece na capa do álbum Power Windows, de 1985. Na última quarta feira, o jornal Toronto Star publicou uma curiosa entrevista com Neill Cunningham, proprietário de uma loja de discos chamada Pandemonium Records e que foi o modelo para o disco, além de participar também do vídeo promocional para a canção "The Big Money". Capturado pelo fotógrafo Dimo Safari (que realizou vários trabalhos para o Rush ao longo dos anos), sua imagem seria convertida numa pintura pelo artista gráfico Hugh Syme.

"Mais uma vez, foi bom pintar essa visão para a capa da banda", disse Syme, em uma entrevista recente para a Billboard. Além disso, foi um período turbulento para mim, de muitas maneiras - perdi meu pai no meio desse projeto. Ir mais fundo em algo além de mim mesmo se tornou uma necessidade verdadeiramente catártica. Dessa forma, aquela pintura foi meu santuário, durando oito semanas completas. Entre meu trabalho e a camaradagem do meu bom amigo e mestre da fotografia Dimo Safari, agora aqueles podem ser lembrados como o melhor dos tempos".

A capa de Power Windows resume, de forma intrigante, todas as intenções do disco. Com uma forte inspiração visual vinda do personagem Billy Bibbit, interpretado pelo ator norte-americano Brad Dourif no famoso filme Um Estranho no Ninho (One Flew Over the Cuckoo's Nest, estrelado por Jack Nicholson em 1975), o conceito se debruça nos pensamentos do sociólogo canadense Marshall McLuhan (1911 - 1980), famoso por ter cunhado o termo Aldeia Global e pela máxima de que O meio é a mensagem, expressão surgida a partir do momento em que o estudioso se propôs a analisar e explicar os fenômenos dos meios de comunicação e sua relação com a sociedade. Para McLuhan, em sua obra Os Meios de Comunicação como Extensões do Homem (Understanding Media: The Extensions of Man, de 1964), o meio é um elemento importante da comunicação e não somente um canal de passagem ou um veículo de transmissão. Cada meio de difusão tem as suas características próprias e, por conseguinte, seus efeitos específicos. Qualquer transformação do mesmo é mais determinante do que uma alteração de conteúdo. Portanto, o mais importante não é o conteúdo da mensagem, mas o veículo através do qual ela é transmitida.

"A capa é muito abstrata... adoro a cena com esse tipo Billy Bibbit de personagem, confuso quanto à sua realidade", diz Geddy, que várias vezes citou Power Windows como um dos seus trabalhos preferidos com o Rush. "As janelas, pelas quais ele olha, trazem o sentido de poder. Falamos sobre diferentes tipos de poder e a forma como os mesmos nos afetam. O garoto está um pouco confuso sobre qual direção deve olhar e qual janela é a sua realidade".

"Do ponto de vista comercial, os ícones desses televisores antigos foram adoravelmente reconhecíveis"
, explica Syme. "Teve também um aceno a Marshall McLuhan para a janela de poder que é a televisão e, por isso, tudo faz sentido. O fotógrafo Dimo Safari e eu buscamos incansavelmente locais para encontrar a janela e as placas de assoalho certas. Testamos várias televisões antigas de colecionadores com as quais Dimo era familiarizado".

"Houve momentos em que as artes foram embelezadas ou revisadas pela banda. Power Windows foi uma delas. Eu estava firme de que o garoto solitário que podia controlar seu mundo com um controle remoto de TV deveria estar em uma sala vazia. Geddy me convenceu do contrário, e sou grato de ter me curvado às suas convicções. A capa ficou muito mais intrigante e envolvente com a coleção de TVs antigas da Philco pintadas do lado esquerdo da imagem. É provavelmente minha capa favorita, por razões artísticas e pessoais. Suas oito semanas de pintura coincidiram com a morte do meu pai - meu trabalho foi meu consolo"
.

Confira a seguir a entrevista com o canadense Neill Cunningham, que deu vida à capa de Power Windows.

POWER WINDOWS DO RUSH - UMA JANELA AO PASSADO PARA O DONO DE UMA LOJA DE DISCOS
Toronto Star - 20 de Janeiro de 2016
Por Nick Patch | Tradução: Vagner Cruz

30 anos atrás, Neill Cunningham foi o modelo para a capa do disco Power Windows do Rush. Agora, ele finalmente tem o mesmo no estoque da sua loja.

Neill Cunningham, proprietário da Pandemonium Records, posa com o LP recentemente
reeditado "Power Windows", para o qual foi o modelo da capa quando mais jovem
Foto por Carlos Osorio / Toronto Star
Sempre que Neill Cunningham quiser se ver através de um portal de trinta anos, ele precisa apenas retirar o disco Power Windows do Rush da prateleira.

Na capa do álbum de 1985 há um jovem Cunningham posando com o peito nu e calças de pijama brancas e surradas, com os olhos fixos na câmera. No verso, ele aparece sem camisa novamente, olhando através de um binóculo.

Cunningham foi garçon e, ao longo dos anos, realizou uma variedade de trabalhos: emprego público temporário, trabalhador de fábrica e mensageiro de bicicleta. Porém, em 2000, abriu a loja de discos e livraria Pandemonium, e apenas na semana passada recebeu uma remessa que o transportou no tempo num piscar de olhos: um grande pacote da nova reedição em vinil de Power Windows.

Ele prontamente reuniu cópias suficientes para cobrir a parede atrás do balcão da loja, como um monumento ao seu momento nos holofotes.

"Quantos donos de lojas de discos começam a vender álbuns com eles mesmos?", ponderou Cunningham, de 52 anos. "Essa vitrine é difícil de descartar. Estou me divertindo".

Originalmente, Cunningham se envolveu com o projeto por acaso. Seu amigo Marcus Pearson trabalhava com o fotógrafo Dimo Safari, que atuou na confecção da capa para o disco do Rush - um álbum de tendência pop inundado por sintetizadores - e procuravam por um "loiro magro" punk para modelo.

Cunningham era magro e loiro ("e ainda sou"), agarrando a oportunidade.

"Dimo tinha vindo trabalhar com a Madonna, e fiquei muito animado com a ideia de que eu poderia estar em uma capa dela", lembrou. "Quando ele disse Rush, respondi, 'Sim, oh, tudo bem. Nada mal'".

A foto foi feita em duas noites árduas em Cabbagetown, com os ventos de março entrando pela janela aberta. Uma vez capturada, o material foi utilizado como referência para o diretor de arte Hugh Syme, que pintou a imagem da capa.

Cunningham disponibilizou cópias suficientes de "Power Windows"
para cobrir a parede atrás do balcão de sua loja de discos
O trabalho de Cunningham não havia terminado. Quando chegou o momento de filmar o clipe vagamente inspirado no jogo Monopoly (para o single "The Big Money") - um artefato glorioso dos anos 80 que vale a pena assistir por seus gráficos primitivos, pelo terno azul claro de Alex Lifeson e pelo majestoso mullet trançado de Neil Peart - o jovem foi novamente destaque.

"Há esses terríveis efeitos especiais de meados dos anos 80, comigo girando e girando com meu binóculo".

Uma das vantagens que conseguiu foi um passe para o backstage do show ocorrido no Maple Leaf Gardens em 1986, no qual ficou de boca aberta para uma imagem sua de quinze metros de altura. Ele encontrou a banda pela primeira e única vez. "Eu não tinha muito a dizer", admite.

Na verdade, Cunningham não curtia muito o Rush na época, preferindo as bandas punk ásperas e breves como Ramones e The Cramps. Ele se tornou fã do trio desde então, ficando apaixonado pelo Power Windows. Entre sua querida coleção de souvenirs estão um programa da turnê, um livro com tablaturas de guitarra, um litográfico assinado e um desajeitado boneco de papelão promocional.

A capa do álbum trazia um alto conceito, com três telas de TV misteriosas dispostas atrás da cadeira de madeira de Cunningham. Power Windows venceu como o álbum com o melhor trabalho gráfico no Juno Awards de 1986, embora Cunningham admita nunca ter entendido o conceito de fato.

"É triste", ele diz. "Pensei sobre ele. Acho que faz sentido no mundo do Rush".

Cunningham acha que foi reconhecido apenas uma vez por um fã do Rush, enquanto estava no bondinho elétrico. "Neguei que era eu".

Essa ligação agora será feita com mais frequencia, uma vez que ele passa seus dias em pé na frente de uma parede totalmente coberta com os discos Power Windows. Cunningham diz que nunca houve muita demanda para esse álbum do Rush em particular, e um mercado ainda mais "rarefeito" se levanta para essa versão nova e mais cara.

Ainda assim, ele não conseguiria estocá-los.

"Tive que fazer a parede", ele ri. "Você também teria feito".


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