TOUR BOOK HOLD YOUR FIRE



VOLTAR PARA HOLD YOUR FIRE
VOLTAR DISCOGRAFIA



FOGOS DE ARTIFÍCIO
A PRODUÇÃO DE HOLD YOUR FIRE

Por Neil Peart

Realmente é muito difícil acreditar que Hold Your Fire é nosso décimo segundo álbum de estúdio - em treze anos juntos. Mas então, também é difícil acreditar na Relatividade e nos evangelistas da TV.

Bem.

Iniciamos a compor no outono de 1986, em seguida começamos a gravar na Inglaterra em janeiro de 1987. Assim como foi com Power Windows, tentamos nos mover em cada etapa do projeto, a fim de manter nosso ambiente fresco e interessante o tempo todo. Tendo trabalhado com o coprodutor Peter Collins e o engenheiro Jimbo Barton naquele álbum, estabelecemos uma confiança e respeito mútuo que fez o trabalho fluir muito bem. Na verdade, não estávamos curtindo fazer um disco que levasse muito tempo - e nós nem mesmo terminávamos na hora!

Mas isso já está ficando à frente da história...


No começo de setembro o verão já havia acabado nas montanhas, e tudo estava calmo e agradavelmente solitário. Comecei a compor as letras em uma casa de campo ao lado de um lago. No mês seguinte começaríamos a trabalhar em um novo material e eu queria um tempinho para preparar algumas ideias. É difícil caminhar com uma folha totalmente em branco, de forma que eu sou assim mesmo.

Tendo curtido escrever em torno do tema central "Poder" na última vez, decidi tentar algo assim novamente, mas agora trabalhando com o tema "Tempo". Comecei primeiro com "Time Stand Still". Estive pensando sobre isso há algum tempo; quantas vezes a riqueza de um período de tempo ou uma experiência parecem residir no olhar pra trás. Ou inversamente, às vezes você sabe que está curtindo um momento maravilhoso, mas só queria poder fazer com que durasse por mais tempo. Tenho certeza que você sabe como é isso.

Mas enquanto deixava essa de lado e começava a trabalhar em outras ideias, foi estranho ver que aquilo que pensei ser o meu tema se transformando em outra coisa - sem nem mesmo me perguntar! Com o desenvolvimento das ideias para "Second Nature" e "High Water", o tema de repente se tornou "Instinto" ou talvez "Temperamento" - a ideia de que o primitivo ou o subconsciente é quem manda. Ok, pensei que se é nisso que meu cérebro quer trabalhar - então que vá em frente!

"Ei Cérebro - Não ligo para aquilo que lhe entusiasmou (adivinhou!) - contanto que Suspenda Fogo".

Bem.

Num dia brilhante no fim de setembro, fui até a casa do Geddy e passamos a tarde colocando as coisas em dia em seu estúdio. Com um bolo de blueberry e xícaras de café, discutimos nossas aspirações para o próximo álbum. Ele tocou algumas coisas nas quais estava trabalhando em seu novo setup de teclados, completamente controlado por um computador Macintosh! É incrível. Depois de trabalhar com aquilo que queria tocar na forma convencional, ele poderia programar tudo com o Mac e atribuir partes diferentes a qualquer quantidade de teclados separados. Isto provou ser muito valioso para nós, tanto na composição quanto na fase de gravação do álbum. Especialmente para Geddy, que se considera primeiramente um baixista, vocalista em segundo e tecladista numa distante terceira colocação - agora temos um tecladista com o qual podemos gritar o tempo todo!

Mostrei pra ele o que havia começado a trabalhar há algum tempo, e também discutimos algumas ideias líricas sobre as quais ele estava pensando, mas que nunca chegou a colocar no papel. Essas ideias acabaram sendo incorporadas em "Mission", "Open Secrets" e "Turn the Page", se encaixando muito bem no meu tema geral. Claro que, sendo o cantor, é bom para ele ter algum envolvimento com o desenvolvimento lírico, e eu sempre fico contente de ter ajuda dele ou do Alex para expandir uma ideia em particular.

No começo de outubro, com o sul de Ontário em chamas na glória do outono, nós três retornamos mais uma vez para o ambiente rural do Elora Sound. Alex trouxe uma fita com um trabalho experimental que vinha fazendo em casa, o que renderia algumas boas partes para várias músicas, e Geddy havia peneirado durante o ano um lote de "jams de passagem de som", o que têm sido uma rica fonte de material cru nos anos recentes. Ele tinha tudo classificado e separado como versos em potencial, pontes, refrões ou passagens instrumentais, e tudo isso nos serviu como uma biblioteca de referência de ideias espontâneas que poderiam ser utilizadas à vontade.

Como de costume, cuidei sozinho das letras durante às tardes enquanto os outros dois trabalhavam juntos nas ideias musicais. Aqui é onde o Alex chega como um Cientista Musical - criando baterias programadas para me guiar e capturando seu trabalho e o do Geddy no gravador portátil "Lersxt Sound". No meu processo de composição e refino, lembro-me do dia em que joguei fora oito páginas de rascunhos para "High Water" - e isso depois de três dias reescrevendo-a. Por isso não era nada fácil!

Íamos até o celeiro no começo da noite para compartilhar o que havíamos realizado durante o dia, trabalhando juntos para transformar ideias em músicas. Essa parte é muito agradável no processo, quando trabalhamos próximos criando coisas novas. Claro que nada é feito sem luta, e às vezes aquilo que você está trabalha parece que não vai chegar a lugar algum. Mas quando juntamos tudo podendo gravar e escutar imediatamente, surgem algumas coisas mais satisfatórias.

Estávamos divididos sobre se devíamos fazer alguns shows antes da gravação. No passado descobrimos que isso valia a pena em alguns aspectos, mesmo se fosse somente para ter uma mudança de cenário por alguns dias. Mas, ao mesmo tempo, era frustrante ter que parar de trabalhar no novo material apenas para passar cerca de uma semana ensaiando coisas antigas. Esse ano pensamos em ir a algum lugar por alguns dias, retornando depois com a cabeça mais fresca. Dessa forma teríamos um avanço com a mudança de cenário, mas não precisaríamos passar o tempo precioso de escrita nos dedicando a músicas antigas.

A primeira nevasca do ano caiu no começo de novembro durante à noite, e até aqui havíamos trabalhado em oito músicas. Nesse ponto ainda não estávamos satisfeitos com a variedade que tínhamos, então decidimos que iríamos um pouco mais longe dessa vez. Estávamos cientes do fato de que apenas uma pequena porcentagem de pessoas realmente compra discos, devido a grande maioria preferir cassetes ou CDs. Dessa forma pensamos, porque deveríamos nos preocupar com as limitações de tempo do antigo disco de vinil? Pensamos em ter dez faixas e aproximadamente cinquenta minutos de música. Fizemos dessa forma.

No começo de dezembro Peter Collins ("Mr. Big") se juntou a nós no Elora, e contribuiu com suas criticas e sugestões valiosas para as canções. A maioria das mudanças foram pequenas, exceto para "Mission", a qual recebeu novos versos, e "Open Secrets", que foi submetida a uma revisão nos refrões. Mas mesmo essas pequenas mudanças nos ajudaram a manter nossa música crescendo em caminhos diferentes.

Ironicamente, a faixa de abertura, "Force Ten", foi quase que uma reflexão tardia. Na tradição das canções de última hora, algumas espontâneas como "New World Man", "Vital Signs" e "Natural Science", nós a montamos nos últimos dois dias que restavam para compor. Da mesma forma que aconteceu com "Tom Sawyer", trabalhei em uma letra que nos foi dada por Pye Dubois, com Geddy e Alex se reunindo para preparar a parte musical, tentando explorar algumas áreas que ainda não havíamos explorado. No final do primeiro dia já estava praticamente completa, funcionando como o toque de espontaneidade e frescor que estávamos procurando para completar o álbum.

Começamos a gravar seriamente no The Manor, em Oxfordshire England, onde também capturamos as guias para o Power Windows. A grande atração aqui foi o som da bateria na grande sala de pedra. A grande atração não era o clima - especialmente a tempestade de neve de janeiro, que deixou a Inglaterra de joelhos e que transformou a velha casa de pedra Manor em uma maldita e gelada casa de gelo! Mesmo com as grandes labaredas que surgiam do carvão queimado nas salas principais ao longo do dia, sem o aquecimento moderno ou o isolamento o "fogo não teria sido segurado"!

Mas ei - trabalhamos bem quando estamos tremendo! Depois de três semanas fomos capazes de sair de lá com a bateria, o baixo, os teclados básicos, as guitarras base e os vocais base finalizados. Novamente Jimbo fez um grande trabalho para nós por trás da mesa, deixando as coisas soando bem e mantendo o "controle de qualidade".

Antes de irmos para lá, decidimos que seria divertido (e engraçado) sermos cowboys na Inglaterra. Providenciamos para nós os chapéus necessários, lenços, camisetas, música - e o mais importante - sotaques. Dessa forma o estúdio ficou cheio de cowboys com chapéu dizendo coisas como: "Ah acredito que isso soa muito bem" e "muito agradecido pelos salgadinhos, madame!"

Felizmente, isso não influenciou a música - mas deu ao Alex um tema novo e excitante para suas pinturas a óleo.

Bem.

De lá, nos mudamos para o Ridge Farm Studio, uma fazenda elizabetana que foi convertida em um estúdio moderno residencial. Era nossa primeira vez trabalhando lá, na zona rural rústica de Surrey, e gostamos muito. (Mesmo que ainda fosse inverno na Inglaterra).

Isso tem que ser dito - como o próprio poderia dizer, Andy Richards fez um grande trabalho novamente, adicionando teclados dinâmicos e "eventos" excitantes para as faixas. Pela primeira vez estávamos nos movendo dentro do prazo, e Alex ainda pôde terminar alguns overdubs de guitarra antes de sairmos.

Em um dia de folga, eu e Geddy fizemos uma viagem durante à noite para Londres, seguindo para uma estadia no prestigiado hotel Savoy. Tínhamos nossos próprios planos para a tarde e começo da noite, mas nos encontramos no "American Bar" do hotel para um drink no fim da tarde. Estávamos muito animados por estarmos nas ruas londrinas (e longe do trabalho), e nossa conversa foi rica e variada - sobre nós mesmos, nossas famílias, artes, filmes, nossas esperança para o futuro - e nenhuma palavra sobre o trabalho em curso! Foi ótimo de verdade duas pessoas que trabalham juntas todos os dias, e por muitos anos, poderem encontrar locais leves para conversas estimulantes.

Em seguida estávamos de volta a - aaah! - Montserrat, uma pequena ilha caribenha que é notavel - além de sua beleza - por transformar os médicos em algumas semanas e por transformar as gravações em um paraíso no Air Studios. Estivemos lá pela primeira vez fazendo os overdubs de guitarras para o Power Windows, e gostamos tanto que tínhamos que voltar mais uma vez.

Há uma cratera vulcânica em atividade na ilha, onde você fica em meio a uma névoa sulfurosa e onde tudo a sua volta é vazão de vapores fumegantes e borbulhas de lama vulcânica. Quando você pensa no fato de que isso vem direto do centro da terra, te faz lembrar poderosamente o quão frágil a terra firme realmente é, e como um lugar como esse pode desaparecer rapidamente sob o belo Mar do Caribe.

Espera-se que ele realizará seu 'você sabe o quê' também!

Não trabalhávamos em Toronto há aproximadamente dez anos, temendo muitas distrações (porém agradáveis e bem intencionadas) de amigos e família. Mas vai ficando cada vez mais difícil ficar longe de casa o tempo inteiro, e pela primeira vez achamos que gostaríamos de tentar fazer pelo menos uma pequena parte desse projeto em casa. Então decidimos que iríamos gravar os vocais e as últimas guitarras em Toronto.

Trabalhamos no McClear Place Studios, bem no centro de Toronto, o que era bom depois de todos os lugares remotos em que estivemos. Devo admitir que, o tanto quanto gosto do país e particularmente de Montserrat, foi emocionante andar pelas ruas movimentadas e ver todos aqueles estranhos todos os dias.

E foi aqui que Aimee Mann veio fazer um grande trabalho adicionando vocais para nós - mais um novo som para o Rush - e também nos inscrevemos na escola Berlitz a fim de polir o francês para a próxima parada de nosso itinerário - Paris!

Chegamos lá em um dia brilhante e ensolarado no começo de maio, com os castanheiros ainda florescendo ao longo das avenidas. Tomamos nosso primeiro café da manhã em um café de calçada na Boulevard St. Germain. Nos hospedamos à direita da Champs Elysees e trabalhamos em um ótimo lugar chamado Studio Guillaume Tell, que ficava a cerca de cinco quilômetros de distância. Nossa rota diária até o local de trabalho era feita pelo Bois de Boulogne, o maior parque de Paris, sendo uma ótima localização.

Normalmente trabalhamos doze ou treze horas por dia quando estamos gravando, mas o "Mr. Big" (Peter Collins) gosta de parar às nove da noite durante a mixagem, pois é difícil se manter objetivo nesse horário ouvindo a mesma música repetidas vezes. Você sabe que não pode se dar ao luxo de cometer erros enquanto está tomando decisões finais como essa. Mas OK - não nos importamos de sair para jantar tarde da noite quando o trabalho do dia foi feito, e as ruas de Paris se iluminam diante de nós.

Mas claro que há um lado obscuro para a Cidade Luz. Especialmente depois dos eventos do último verão, era impossível não pensar nos atos de violência gratuita, o tipo de assunto abordado em "Lock And Key". Inclusive explodiram uma ou duas bombas enquanto estivemos lá, felizmente não em nós! E você não se acostuma em ver soldados e policiais por toda a parte com armas automáticas e coletes à prova de balas.

Não há brincadeiras em situações como essa, e eu busquei andar com cuidado entre eles com minha bicicleta, sentindo tanto medo quanto do trânsito parisiense - e tudo isso está acontecendo consideravelmente! Passando entre esses caras extremamente sérios com suas armas extremamente sérias, tinha esperança de que seus dedos não escorregassem, ou que não me confundissem com algum terrorista de bicicleta viciado!

Cessar fogo de fato.

Ok, Ok - sem mais trocadilhos, prometo.

Na verdade, acho melhor começar de novo:

Realmente é muito difícil acreditar que Hold Your Fire é nosso décimo segundo álbum de estúdio - em treze anos juntos.

Mas também é difícil de acreditar na expansão do universo, supercondutores, jogos de beisebol em arenas fechadas, filmes 3-D, adoçante artificial, armas ofensivas, realidade objetiva, no rock

...

O que?

Bem...