22 DE ABRIL DE 2014 | POR VAGNER CRUZ
O canadense Rob Higgins, baixista e frontman da jovem banda de rock alternativo Dearly Beloved, é sobrinho de Geddy Lee. Higgins foi entrevistado recentemente pelo site MusicRadar.com para falar sobre seu último álbum, Hawk vs. Pigeon, de 2012, trazendo também lembranças de sua infância e adolescência repleta de momentos privilegiados ao lado dos lendários músicos do Rush. Acompanhe alguns trechos da matéria:
"Minha mãe é a irmã mais velha de Geddy", explica Higgins, "e, às vezes, ele ficava preso em casa comigo sendo minha babá. Tive muita sorte! Ele cuidava de mim à tarde e, se precisasse ir a algum ensaio, eu ia junto. Me sentava num canto pra assistir a banda tocando por aproximadamente seis horas, sem dizer uma única palavra".
"Sempre fui um observador silencioso. Talvez eles achavam que eu estivesse totalmente desligado, mas, na verdade, estava absorvendo cada interação, tentando decompor as canções - cada batida e cada nota. Ficava encantado com tudo aquilo. Ele foi meu 'tio legal' enquanto crescia. Minha mãe sempre me levava pra lá em visitas familiares. Ele era o tio que sempre tinha instrumentos em uma sala acústica no porão. Minha mãe ia visitá-los com a família e eu gostava de passar a tarde inteira lá, tocando bateria, baixo e guitarra".
"Na adolescência, cheguei a ir para Londres com eles, morando juntos numa casa enquanto gravavam um álbum na Inglaterra. Tive a sorte de cair na estrada com os caras, vivendo em ônibus de turnês e passando o tempo assim. Sempre estudei a maneira de funcionamento deles como banda, e isso certamente influenciou todos os trabalhos com os quais estive envolvido. Eles representam tudo sobre ética profissional, mas sempre mantendo um incrível senso de humor".
"Em termos musicais, estar com eles sempre me 'forçou a me forçar'. Tive algumas oportunidades de vê-los 'se forçando' no estúdio. Houve uma ocasião, quando eu tinha doze anos, que fui com eles para as montanhas de Quebec, num pequeno local chamado Le Studio que ficava nos arredores de Montreal. Era fascinante apenas ficar lá por horas, sem ter nada pra fazer, só para ver a ética profissional deles. Seja fixando um trecho de uma canção, descobrindo um overdub ou trabalhando com o produtor, tentando tirar o máximo de proveito de alguma canção".
"Foi fascinante pra mim ser uma mosca na parede, em particular nesse estúdio, por ser um local remoto e de sessões intensas para eles. Acho que foram as sessões que se tornaram o álbum Grace Under Pressure. Um dos grandes momentos de toda minha infância aconteceu naquela semana. Geddy estava trabalhando no teclado buscando um overdub para a canção 'Between The Wheels'. Ele ainda não havia acertado, e eu estava ali, sentado e olhando-o fazer aquilo várias vezes. Já havia captado aquela parte. Assim, quando ele saiu da sala, comecei a brincar um pouco com o instrumento. O produtor me disse, 'Ei, quer gravar?', e eu respondi, 'Sim, claro, deixe rolar'. Dessa forma, fiz meu próprio overdub para aquela parte, ou pelo menos a minha interpretação para ela. Quando Geddy voltou, disse, 'Ei, vamos continuar de onde estávamos, no último take?'. Porém, ao invés do produtor tocar o que foi gravado por Geddy, ele tocou o meu! Todos riram muito no jantar daquela noite. Sabe, experiências inovadoras que certamente me inspiraram, mas também ótimas lembranças pessoais que sempre irei valorizar...".
"Provavelmente, o maior presente que ele me deu foi a coragem de saber que tenho que fazer tudo por mim mesmo, encontrando meu próprio caminho. Não tenho que me aproveitar do sucesso de ninguém. Ele sempre foi uma pessoa próxima, pra quem posso mandar um e-mail a qualquer momento. Ele salvou meu pescoço na minha última turnê. Estávamos voando de Edimburgo para Paris e a EasyJet perdeu meu baixo. Foi como um 'Obrigado caras! Como vocês conseguiram perdê-lo em apenas 'uma longa hora' de voo?' Aquilo se transformou num calvário de cinco dias, e só se resolveu devido Geddy estar com minha mãe na casa dela em Toronto no mesmo momento que a atualizei sobre as coisas".
"É engraçado como o mundo funciona. Meu padrasto estava vindo para Paris à negócios no dia seguinte. Geddy ligou pra ele e entregou-lhe um baixo para trazer para mim. Tenho que dar o crédito ao Geddy, ele salvou meu pescoço há pouco, nesse ano, e sempre me passou a capacidade de encontrar meu próprio caminho. Não é algo que havia falado com tantas pessoas antes, mas tem sido ótimo poder contar com seu apoio nos bastidores".
Vale lembrar que Geddy produziu e fez os backing vocals para a canção "Space Suit", lançada em um EP da antiga banda Higgins, Rock Science, em 1999. Reeditado com o nome 'Foolscap' em 2001, o material foi gravado por Geddy em seu estúdio caseiro, com Higgins no baixo e nos vocais. Inclui também a participação do violinista Ben Mink, que gravou com o Rush a canção "Losing It" (do álbum Signals, de 1982) e My Favorite Headache, único trabalho solo de Geddy lançado em 2000, no qual tocou guitarra e participou da produção.
"É rock, rock com uma espécie de vantagem técnica", disse Geddy na ocasião. "Tenho um estúdio em casa onde trabalhamos, e também fomos para estúdios menores ao redor da cidade fazendo algumas sessões de vez em quando. Foi divertido para mim e acho que para eles também".
"Ele sabia o que queríamos, e só tentou nos ajudar a conseguir", diz Higgins. "Ele gosta de coisas um pouco estranhas fora do Rush", completa.
"Minha mãe é a irmã mais velha de Geddy", explica Higgins, "e, às vezes, ele ficava preso em casa comigo sendo minha babá. Tive muita sorte! Ele cuidava de mim à tarde e, se precisasse ir a algum ensaio, eu ia junto. Me sentava num canto pra assistir a banda tocando por aproximadamente seis horas, sem dizer uma única palavra".
"Sempre fui um observador silencioso. Talvez eles achavam que eu estivesse totalmente desligado, mas, na verdade, estava absorvendo cada interação, tentando decompor as canções - cada batida e cada nota. Ficava encantado com tudo aquilo. Ele foi meu 'tio legal' enquanto crescia. Minha mãe sempre me levava pra lá em visitas familiares. Ele era o tio que sempre tinha instrumentos em uma sala acústica no porão. Minha mãe ia visitá-los com a família e eu gostava de passar a tarde inteira lá, tocando bateria, baixo e guitarra".
Rob Higgins (baixista e vocalista) com sua banda Dearly Beloved |
"Na adolescência, cheguei a ir para Londres com eles, morando juntos numa casa enquanto gravavam um álbum na Inglaterra. Tive a sorte de cair na estrada com os caras, vivendo em ônibus de turnês e passando o tempo assim. Sempre estudei a maneira de funcionamento deles como banda, e isso certamente influenciou todos os trabalhos com os quais estive envolvido. Eles representam tudo sobre ética profissional, mas sempre mantendo um incrível senso de humor".
"Em termos musicais, estar com eles sempre me 'forçou a me forçar'. Tive algumas oportunidades de vê-los 'se forçando' no estúdio. Houve uma ocasião, quando eu tinha doze anos, que fui com eles para as montanhas de Quebec, num pequeno local chamado Le Studio que ficava nos arredores de Montreal. Era fascinante apenas ficar lá por horas, sem ter nada pra fazer, só para ver a ética profissional deles. Seja fixando um trecho de uma canção, descobrindo um overdub ou trabalhando com o produtor, tentando tirar o máximo de proveito de alguma canção".
"Foi fascinante pra mim ser uma mosca na parede, em particular nesse estúdio, por ser um local remoto e de sessões intensas para eles. Acho que foram as sessões que se tornaram o álbum Grace Under Pressure. Um dos grandes momentos de toda minha infância aconteceu naquela semana. Geddy estava trabalhando no teclado buscando um overdub para a canção 'Between The Wheels'. Ele ainda não havia acertado, e eu estava ali, sentado e olhando-o fazer aquilo várias vezes. Já havia captado aquela parte. Assim, quando ele saiu da sala, comecei a brincar um pouco com o instrumento. O produtor me disse, 'Ei, quer gravar?', e eu respondi, 'Sim, claro, deixe rolar'. Dessa forma, fiz meu próprio overdub para aquela parte, ou pelo menos a minha interpretação para ela. Quando Geddy voltou, disse, 'Ei, vamos continuar de onde estávamos, no último take?'. Porém, ao invés do produtor tocar o que foi gravado por Geddy, ele tocou o meu! Todos riram muito no jantar daquela noite. Sabe, experiências inovadoras que certamente me inspiraram, mas também ótimas lembranças pessoais que sempre irei valorizar...".
"Provavelmente, o maior presente que ele me deu foi a coragem de saber que tenho que fazer tudo por mim mesmo, encontrando meu próprio caminho. Não tenho que me aproveitar do sucesso de ninguém. Ele sempre foi uma pessoa próxima, pra quem posso mandar um e-mail a qualquer momento. Ele salvou meu pescoço na minha última turnê. Estávamos voando de Edimburgo para Paris e a EasyJet perdeu meu baixo. Foi como um 'Obrigado caras! Como vocês conseguiram perdê-lo em apenas 'uma longa hora' de voo?' Aquilo se transformou num calvário de cinco dias, e só se resolveu devido Geddy estar com minha mãe na casa dela em Toronto no mesmo momento que a atualizei sobre as coisas".
"É engraçado como o mundo funciona. Meu padrasto estava vindo para Paris à negócios no dia seguinte. Geddy ligou pra ele e entregou-lhe um baixo para trazer para mim. Tenho que dar o crédito ao Geddy, ele salvou meu pescoço há pouco, nesse ano, e sempre me passou a capacidade de encontrar meu próprio caminho. Não é algo que havia falado com tantas pessoas antes, mas tem sido ótimo poder contar com seu apoio nos bastidores".
Vale lembrar que Geddy produziu e fez os backing vocals para a canção "Space Suit", lançada em um EP da antiga banda Higgins, Rock Science, em 1999. Reeditado com o nome 'Foolscap' em 2001, o material foi gravado por Geddy em seu estúdio caseiro, com Higgins no baixo e nos vocais. Inclui também a participação do violinista Ben Mink, que gravou com o Rush a canção "Losing It" (do álbum Signals, de 1982) e My Favorite Headache, único trabalho solo de Geddy lançado em 2000, no qual tocou guitarra e participou da produção.
"É rock, rock com uma espécie de vantagem técnica", disse Geddy na ocasião. "Tenho um estúdio em casa onde trabalhamos, e também fomos para estúdios menores ao redor da cidade fazendo algumas sessões de vez em quando. Foi divertido para mim e acho que para eles também".
"Ele sabia o que queríamos, e só tentou nos ajudar a conseguir", diz Higgins. "Ele gosta de coisas um pouco estranhas fora do Rush", completa.