16 DE JUNHO DE 2012 | POR VAGNER CRUZ
Lifeson, Halper e Lee na Calçada da Fama em 2010 |
Nos últimos meses, tive a sublime oportunidade de conversar com Donna L. Halper, a pessoa que tocou o primeiro disco do Rush nos EUA e que abriu as portas do mundo para a banda. Donna é tida como a descobridora do power-trio canadense, e desde 1974 mantém uma forte e inabalável amizade com os integrantes. Ela talvez seja a personagem que mais conheça a carreira do trio, tendo acompanhado todo o desenvolvimento deles desde os primeiros anos, quando Geddy, Alex e Neil eram apenas garotos dos subúrbios de Toronto que buscavam alcançar seus sonhos em terras ainda desconhecidas.
Donna é uma pessoa muito simpática, perspicaz e inteligente, apaixonada pelo trabalho do Rush e pela amizade de 38 anos que mantém com os rapazes. Ela atualmente reside em Boston, sendo professora associada de jornalismo da Lesley University em Cambridge, Massachusetts (EUA). Devido a todo seu conhecimento, ela concordou em oferecer, além dessa entrevista, ajuda na compreensão lírica de algumas canções da banda para nosso blog. Portanto, algumas resenhas disponíveis na seção discografia do site foram feitas em parceria com ela, o que é uma grande honra para todos nós.
Ao longo de aproximadamente quatro meses e mais de uma centena de e-mails, sintetizo aqui a maioria dos assuntos que abordamos. Busquei explorar temas relacionados à personalidade e a vida dos integrantes, mesmo que a partir de perguntas já feitas a ela inúmeras vezes. Espero de coração que gostem e que esse seja mais um importante documento sobre nossa banda favorita.
Donna, acima de tudo, gostaria de agradecer por toda sua gentileza em nos atender. Somos apenas mais alguns fãs entre milhares ao redor do mundo que admiram e aprendem muito com o Rush, através das suas músicas maravilhosas.
É muito bom conversar com você. Para mim sempre é um prazer conhecer um fã leal. Realmente é incrível como a música do Rush une fãs ao redor do mundo.
Imagino a grande quantidade de e-mails que você recebe de fãs do mundo inteiro. Vejo esse momento como algo incrivelmente mágico.
Eu sou totalmente interessada no Mitzvá. Não sei se você já tinha amigos judeus (você tem uma agora), mas o Mitzvá é algo que devemos fazer para tornar o mundo um lugar melhor. Realmente eu recebo mensagens de todos os lugares e tento responder, e vejo isso como um Mitzvá.
Sei que você e Geddy são judeus, e quando ouço a canção "Red Sector A", do álbum Grace Under Pressure (1984), eu sempre reflito sobre a dor e sofrimento que todas aquelas pessoas passaram durante o Holocausto. A história da família de Geddy é um dos maiores exemplos de superação que tive conhecimento na vida, algo que sempre carrego comigo.
Sobre esse assunto, faço questão de mencionar que Nancy, a esposa de Geddy, é convertida ao judaísmo. Tenho certeza que ela tomou essa decisão por amor ao esposo e também por respeito à mãe dele, que passou de fato por todo aquele sofrimento.
Recentemente escrevi sobre essa história em uma resenha para essa canção em nosso site, numa tentativa de fazer esse fato conhecido aos fãs brasileiros.
Provavelmente a maioria dos brasileiros, sejam fãs do Rush ou não, não têm um grande conhecimento sobre a história judaica. Acredito que devemos sempre conhecer outras culturas. Dessa forma, obrigado por compartilhar tais informações.
Você conversa com Geddy sobre a religião que têm em comum? Certa vez o vi dizendo em uma entrevista que tem o judaísmo somente como raça, mas não como religião.
O judaísmo é uma religião e uma cultura. Geddy não é religioso, mas ele adora a cultura judaica (a comida, os costumes, as comemorações) e gosta de fazer o Mitzvá quando pode. Nancy é mais religiosa que ele. O judaísmo é um estilo de vida. Algumas pessoas são religiosas, mas outras apenas seguem a ética, apreciam os alimentos especiais e feriados. Eu já conversei um pouco com Geddy sobre isso, mas não muito. Na América existem todos os tipos de judeus (e no Canadá também). Alguns são muito religiosos, os chamados ortodoxos, outros são também religiosos, porém mais modernos (uma espécie de moderados, que levam o melhor das tradições e também os melhores novos costumes).
Temos também os chamados conservadores ou Masorti, sendo alguns seculares e modernos que também adoram as comemorações e a cultura, acreditando que podem ajudar a fazer uma sociedade melhor, sendo chamados também de judeus reformados ou progressistas. A minha prática está entre o conservador e o progressista. Eu gosto da cultura, dos costumes e dos alimentos, mas também acredito na ética, leio a bíblia hebraica e amo a história do povo judeu. Tenho orgulho em ser judia. Eu respeito outras religiões, mas gosto muito da minha, que faz muito sentido para mim. Geddy é muito respeitoso sobre o fato de Alex e Neil serem cristãos. E eles são respeitosos com ele por ser judeu. Nenhum dos três é muito religioso – todos gostam de sua própria cultura, mas não vão muito à igreja ou sinagoga. Eles são muito amigos e se preocupam um com o outro, e tudo funciona muito bem dessa forma.
Há uma grande revelação aqui. Sempre surgem muitas discussões em fóruns na internet sobre a religião dos integrantes do Rush, especialmente sobre os pontos de vista de Neil, que escreve as letras e que às vezes levanta idéias com algum teor agnóstico ou ateísta (digo isso pensando em canções como "Freewill", "Ghost Of A Chance", "Faithless" e "BU2B", por exemplo).
Somente porque uma pessoa nasce em uma religião não significa que ela acredita nela ou a pratica. Por exemplo, Alex não é religioso, e de fato ele lê livros sobre humanismo e ateísmo. Mas ele tem amigos que ainda vão à igreja (incluindo um padre que mantém contato com ele) e respeita suas opiniões, mesmo que não as compartilhe. Neil foi criado no protestantismo, mas eu duvido que ele tenha algum interesse numa religião organizada nos dias de hoje. Tenho certeza de que ele se sente mais próximo à filosofia e a ética do que à religião. É da mesma forma com Geddy. Ele é casado com uma mulher que se converteu ao judaísmo, algo que fez sua mãe muito feliz, e que se tornou mais religiosa do que ele. Como eu disse, ele gosta da cultura e dos alimentos judaicos, mas não se preocupa muito com a religião, algo que não é tão incomum entre os judeus.
Há alguns anos, Geddy concedeu uma entrevista para uma revista judaica, onde ele disse exatamente o que você apontou, indo mais além. Ele se definiu como um judeu ateu, uma pessoa que aprecia todos os costumes e momentos com a família, mas que não é realmente um religioso.
Geralmente Geddy se denomina um "agnóstico", um "judeu secular" ou um "judeu não praticante". Algumas vezes ele me disse que não acredita em Deus ("You know his mind is not for rent / by any god or government..."), mas mesmo assim ele adora as celebrações judaicas e seus dois filhos foram criados como judeus. Qualquer um pode fazer um Mitzvá, seja religioso ou não, uma vez que o Mitzvá é uma ação ética positiva que busca um mundo melhor. Eu acredito em Deus e pratico o judaísmo, mas não sou uma pessoa super-religiosa e tão pouco sou super-secular. Acho que estou em algum lugar entre esses dois pontos de vista. Eu gosto dos costumes, observo alguns dos rituais e tento viver bem.
Eu estava lendo seu depoimento sobre o descobrimento do Rush e uma das partes que mais gosto é quando você fala sobre sua quase imediata amizade com Geddy, quando ele era apenas um garoto que tinha uma namorada (agora esposa) e que havia desapontado seus pais por ter abandonado a escola. Essas imagens devem estar bem vívidas em sua memória.
Minha primeira lembrança deles é de como estavam assustados quando vieram para Cleveland pela primeira vez. Eles eram apenas meninos (tinham aproximadamente vinte anos, eram muito inocentes e não haviam viajado muito). Eles nunca haviam tocado para um público fora do seu país. Só haviam tocado no Canadá, mais precisamente em sua cidade natal, Toronto. Eles estavam preocupados sobre se conseguiriam tocar. Eu os encorajei, todos nós os encorajamos, eles se saíram muito bem. Eles estavam muito nervosos, preocupados sobre a possibilidade de não se saírem bem o suficiente para impressionar os americanos. Fomos tranqüilizando eles, e os fãs gostaram imediatamente, inclusive saíram do show cantando as canções.
O impacto do Rush foi imediato nos EUA? Como eles se sentiam quando viam mais e mais pessoas em seus shows? Eles falavam com você sobre seus sentimentos naquele momento?
Graças às execuções das canções da banda na rádio WMMS (que era uma estação muito influente, inspiração para muitas outras rádios nos EUA), pessoas de outras cidades começaram a notar o Rush. Eu não diria que foi uma reação imediata, mas algo que foi sendo construído e que cresceu muito rapidamente. Tenho orgulho de ter feito parte disso. Os garotos estavam muito surpresos, pois já tentavam há muito tempo terem reconhecimento em Toronto e acabaram conseguindo amor e respeito numa cidade dos EUA, angariando muitos e muitos fãs. Tudo isso a partir do trabalho de duas pessoas: Bob Roper, que teve a iniciativa de me enviar o álbum, e eu mesma, por ter enxergado um grande potencial neles, influenciando a todos na WMMS para que tocassem o álbum, dando todo o suporte. Os fãs fizeram o resto.
Você ainda tem o mesmo vinil do Rush tocado pela primeira vez em Cleveland?
Sim, claro. Jamais venderia ou daria a alguém.
Em 1974, foi difícil convencer as pessoas de que não se tratava do Led Zeppelin tocando na rádio? O que você pode dizer sobre as reações das pessoas quando você e os outros caras da rádio explicavam que eles eram uma nova banda vinda de Toronto?
O grande problema é que ninguém havia ouvido falar do Rush (na verdade, havia outra banda de Montreal chamada Mahogany Rush, e houve certa confusão com o nome). Mas, principalmente, confundiam os vocais, pois Geddy soava muito parecido com Robert Plant, e por isso alguns ouvintes ligavam para a rádio perguntando se algum novo disco do Led Zeppelin estava saindo. Explicávamos que não era o Led Zeppelin, e sim uma nova banda do Canadá. Portanto, quanto mais pessoas ouviam "Working Man" e "Finding My Way" (tocávamos também "Here Again"), todos iam aos poucos se sentindo mais confortáveis com o fato de que se tratava do Rush, nascendo também o desejo nos fãs de comprarem o álbum.
Deve ser muito bom pensar que sua decisão em ajudar aqueles rapazes acabou influenciando tantas outras vidas ao redor do mundo.
Sinto-me honrada e orgulhosa por fazer parte do sucesso deles. E também me sinto honrada que ainda sejamos amigos 38 anos depois. São três caras muito especiais, e eu sempre acreditei neles. E sempre acreditarei. Para ser sincera, nunca imaginei que minha decisão de tocar o Rush promovendo-os na rádio nos levaria a uma amizade tão longa – eu já havia ajudado outras bandas enquanto trabalhava de fato no ramo, e raramente vi algum deles novamente depois que os ajudei. Mas com os caras do Rush foi diferente – eles têm muita consideração sobre o que fiz por eles, e sempre mantiveram contato ao longo dos anos. É incrível que 38 anos mais tarde, a banda de Toronto que eu acreditei e ajudei passou a influenciar pessoas de várias partes do mundo. É uma grande história, e são três seres humanos de coração muito bom.
Tenho certeza de que eles mantém suas raízes humildes. Pude ver isso nos olhos do Alex quando tive a oportunidade de conhecer a banda no Rio de Janeiro. Ele me olhou como se eu fosse um amigo de longa data. Já o Geddy é mais reservado…
Geddy é muito focado em sua música. Ele é um perfeccionista em muitas maneiras, mas é muito amigável também, principalmente se você gosta de esportes (ele é um grande fã de beisebol) ou de gastronomia (ele adora culinária gourmet e sabe tudo sobre vinhos finos). Ele é um homem de família e adora sua esposa e filhos. Alex é o integrante mais extrovertido – ele vai correr até você e te abraçar, se ele lhe conhecer.
Você compartilha a paixão por vinhos de Geddy?
Geddy sabe bastante sobre vinhos, e isso é algo sobre o qual não sei absolutamente nada. Nunca experimentei álcool na vida, e jamais utilizei drogas. Na indústria da musica, conheci muitas pessoas que bebiam ou usavam drogas, e algumas tiravam sarro de mim por isso, me insultando, já outros eram muito respeitosos e compreensivos sobre meu posicionamento. O Rush nunca me criticou por isso. Eles sempre se certificam de ter um suco para mim quando os visito no backstage, após os shows. Eles são totalmente respeitosos sobre a forma com que vivo a minha vida. Na verdade, eles não são de festas como eram antes de se casarem. Eles gostam de beber socialmente (como disse, Geddy é um especialista em vinhos), mas o que mais apreciam é estar com a família passando o máximo de tempo com eles.
Você continuou acompanhando de perto a carreira do Rush, mesmo depois de terem começado a voar sozinhos na época com o novo integrante, Neil?
Bem, nós já somos amigos há 38 anos, e continuamos a manter contato. Neil chegou a vir até minha casa quando eu morava em Cleveland. Eu estive conversando um pouco com ele há alguns meses, quando a banda veio tocar em Boston, e foi uma conversa bastante amigável. Portanto sim, tenho seguido a carreira deles por vários anos e me sinto honrada em dizer que somos amigos até hoje.
Depois do primeiro álbum, os rapazes lançaram Fly By Night com Neil Peart assumindo a maioria das letras. Houve também uma grande mudança musical em comparação com as primeiras músicas da banda. O que você pensou quando eles vieram com Fly By Night? Você tinha certeza de que eles estavam no caminho certo com todas aquelas mudanças?
Geddy me contou que quando John Rutsey, o baterista original, ficou doente, eles viram uma oportunidade de levar a banda para uma nova direção. Eles queriam deixar de ser uma "banda de bar" para fazer diferentes tipos de música, não apenas o hard rock que você pode tocar enquanto pessoas bebem em algum lugar. Eles buscavam intencionalmente alguém que pudesse escrever letras inteligentes, ajudando a banda a chegar a um próximo nível. Por isso escolheram o Neil – não somente porque ele era um grande baterista, mas porque ele adorava ler, conhecia mitologia e literatura e poderia dar à banda letras mais profundas para suas canções. Então eu esperava que Fly By Night fosse parte da transição daquela banda de bar para uma banda de rock progressivo inteligente e criativa. E o álbum não me decepcionou de forma alguma!
Você pode comentar um pouco sobre a personalidade de Neil e seu trabalho como letrista? Sempre sofro nas traduções das canções do Rush para nosso site, pois ele geralmente utiliza uma linguagem bastante rebuscada e cheia de simbolismos.
O que posso dizer sobre Neil é que ele é cético, racionalista, humanista e uma pessoa muito ética. Traduzir é um trabalho difícil, especialmente quando se tenta entender um escritor que gosta de utilizar simbolismos, metáforas e alusões à ciência, literatura ou filosofia. Posso ajudá-lo quando for preciso.
Sobre o álbum Caress of Steel (1975), eles ficaram bastante entusiasmados com esse trabalho na época, mas este acabou indo muito mal nas vendas e turnê de promoção. Você estava próxima à banda naquele período? Houve muitas reuniões com pessoas da indústria da música? Você temeu pelo risco da banda perder a trilha para seu sucesso profissional?
Eu não fiquei surpresa por Caress of Steel não ter vendido bem, e acho que os caras entenderam as razões também, embora tenha certeza de que ficaram decepcionados. Mas a verdade é que nem todos os álbuns vão ser recebidos da forma que queremos. Além disso, Caress of Steel não foi um apelo à massa e acessível a uma pessoa comum como Fly By Night, que trazia letras e melodia mais fáceis de assimilar. Eu trabalhava na gravadora deles na época (Mercury Records – EUA) e achava que Caress of Steel trazia boas canções. Foi interessante observar a etiqueta tentando promover o álbum e várias estações de rádio resistindo em tocar.
O que você sentiu quando ouviu pela primeira vez o álbum que consolidou a identidade da banda e sua independência: 2112?
Acho que não concordo que 2112 tenha "consolidado a identidade da banda e independência". O Rush sempre foi independente e nunca tiveram medo de seguir seu próprio caminho, mesmo que alguns tenham tentado os levar para um maior "apelo à massa", adaptando-os à forma de como as outras bandas fazem as coisas. Para mim, cada novo álbum do Rush é uma prova de que eles sempre se desenvolvem como músicos, e 2112 parecia ser mais um exemplo maravilhoso de sua criatividade e talento, bem como mais uma prova de que cresciam musicalmente.
Você seguia todos os artigos que eram publicados sobre a banda? Como você via os comentários terríveis que alguns traziam sobre eles? Você buscava conversar com os rapazes sobre essas fortes críticas, tentando encorajá-los?
Tenho um arquivo comigo de todos os comentários e artigos que escreveram sobre eles, desde 1974 até hoje. Eu sou uma historiadora de mídia e escritora, e mantenho um arquivo dedicado a todas as grandes bandas, sobre o caso de surgir alguma pergunta ou questão sobre algum grupo específico. Mas, sobre tudo, sempre quis ler o que falavam sobre meus amigos do Rush. Dessa forma, meu arquivo sobre eles é bem grande. Às vezes eu ficava chateada com algum artigo (e nos primeiros anos eles também ficavam), mas, gradualmente, você aprende a não levar as opiniões para o lado pessoal, não se deixando ficar com raiva. Nos dias de hoje as criticas negativas não deixam mais os caras tão chateados. Eles entenderam que nem todos irão gostar de todas as canções do grupo. Eles saem e tentam fazer o melhor que podem para os fãs, e são os fãs que são importantes para eles, não os colunistas e críticos. No entanto, se ainda hoje vejo um artigo ou comentário que entendo como injusto, entro em contato com o autor. Eu sempre defendi a banda – eles são meus amigos.
Gostaria de saber se você geralmente conversa sobre o Hall of Fame com os caras. O que você acha da não inclusão da banda? Eles se sentem injustiçados? Existe algum pensamento de Geddy e Alex sobre o assunto que tenha lhe marcado? (N. do A.: A banda entrou para o Rock Hall em 2013).
Eles são muito filosóficos sobre isso (o que significa que não se deixam levar muito pela emoção, sendo razoáveis e lógicos). Falamos sobre o Rock and Roll Hall of Fame algumas vezes, e eles entendem que os juízes que votam nos grupos têm uma agenda particular – eles gostam de certos tipos de rock, e não gostam de outros. Ao invés de votarem com base na justiça de escolherem os melhores grupos e os mais bem-sucedidos, alguns juízes que nunca gostaram da música produzida pelo Rush ainda se recusam a deixá-los virem para votação. O Rush é vetado todos os anos, embora alguns dos juízes mais novos e todos os de Cleveland realmente desejem que o Rush integre o Hall (tem que haver uma maioria de juízes votando neles e todos os anos os mesmos se certificam de não deixá-los entrar). É por isso que eu lutei para que eles tivessem uma estrela na Calçada da Fama em Hollywood (estou lhe enviando o discurso que fiz para a ocasião, em 2010), quando eles ganharam a solenidade. Geddy e Alex me disseram naquele dia que não estão preocupados, pois eles acham que se o Hall não os quer, aquilo não deve ser um bom negócio. Neil também não se entristece, mas ele entende que o processo inteiro de indução é muito político – assim como eu, nós não achamos que o processo deva ser feito para as bandas favoritas de alguém, mas para aqueles que possuem as melhores qualificações. Não acho que os rapazes ficariam aborrecidos se nunca forem indicados, mas eles entendem que os fãs gostariam de ver, de modo que eles provavelmente iriam junto. Mas eles estão satisfeitos com sua carreira e se os juízes não querem reconhecer suas conquistas, eles estão errados, e não o Rush!
Gostaria que você comentasse um pouco sobre o produtor Terry Brown, que foi parceiro da banda desde o começo até o álbum Signals, de 1982. Brown sempre pareceu ser um grande amigo deles, e como você sempre acompanhou a carreira do grupo, deve ter encontrado algumas vezes com o produtor. Como você viu o fim dessa parceria na época? Você pensou que esse fato poderia ser arriscado para a carreira do Rush naquele momento ou aquela era mais uma prova de eles tinham controle total sobre todas as suas ações, sabendo o momento certo para experimentar novos desafios?
Gosto muito do Terry e ele fez coisas maravilhosas pelo Rush. Mas a decisão final de tentar um produtor diferente não foi algo incomum. Muitos músicos criativos chegam a um ponto da carreira onde sentem que estão presos numa rotina, desejando experimentar algumas perspectivas diferentes. Acho que eles acreditavam que tinham ido tão longe quanto puderam com Terry, e desejavam trabalhar com outro produtor para experimentar novas idéias. Não vejo esse momento da separação como algo amargo e rancoroso, e Terry diz apenas coisas boas sobre o tempo em que trabalhou com o Rush. Da mesma forma, nunca vi os integrantes dizendo coisas críticas ou negativas sobre Terry. Eu entendo que o Rush sempre foi ansioso por correr riscos, levando sua música a um próximo nível. É como um emprego seguro. Você está confortável lá, mas não tem nenhum desafio, nenhuma emoção. Você poderia continuar, mas talvez pergunte a si mesmo se é hora de experimentar algo novo. Eu acho que foi isso que aconteceu com o Rush. Eles poderiam ter continuado com Terry, mas achavam que cresceriam mais como músicos se tivessem um produtor diferente. Dessa forma, decidiram pela mudança.
O Rush sempre fez shows somente nos EUA, Canadá e em alguns países europeus até o final da década de 1990. Na turnê Vapor Trails, eles fizeram uma rota diferente, visitando o México e o Brasil pela primeira vez sem saber que eram tão amados nesses países. Quais foram seus pensamentos quando você assistiu o DVD Rush In Rio pela primeira vez, com aquela multidão de fãs enlouquecidos de um território totalmente novo para a banda?
Geddy me disse em várias ocasiões que a banda esteve pronta para se aposentar, mas eles adoram tocar por saberem que seus fãs apreciam sua música, o que sempre fez com que decidissem continuar na ativa. Eles decidiram ir para a América Central e do Sul, e estavam super ansiosos por conhecer outros países naquela turnê. Toda a carreira deles tem sido uma grande aventura – três garotos de classe média de Toronto que foram mostrados em várias estações de rádio no Canadá que não conseguiram o reconhecimento que queriam em seu país e que, ainda hoje, continuam provando que todos que duvidaram deles estavam errados. Quando vejo vídeos deles tocando em outros países me sinto muito orgulhosa, pois sempre acreditei neles, e porque eles querem fazer seus fãs felizes. Eles sempre me fazem sorrir apenas por saber que fãs estão reunidos ao redor do mundo por amor ao Rush. Veja só quantas pessoas, incluindo o Brasil, têm buscado desenvolver seu inglês para entender melhor as letras da banda!
Você costuma viajar para o Canadá para visitar Geddy e Alex? Você tem contato com suas famílias?
Não, pois eles geralmente não estão no Canadá – eles sempre estão circulando pelos EUA e também ao redor do mundo. Eu conheci e conversei com suas famílias algumas vezes (vi a esposa de Geddy e sua filha na cerimônia do Hollywood Walk of Fame em 2010, além de ter conhecido a esposa do Neil e sua adorável bebê no evento), mas nós geralmente não nos vemos muito, porque as famílias deles têm suas vidas ocupadas e eu tenho a minha. Geddy, Alex e eu nos mantemos em contato via e-mail, e geralmente encontro-os em seus shows nos bastidores. Nós não ficamos mais tão juntos como costumávamos, mas é assim mesmo. Eles sabem que eu os amo e sei que eles também me amam, e somos amigos há 38 anos. É uma história fantástica, você não acha?
Desviando um pouco as perguntas sobre o Rush, gostaria de saber um pouco mais sobre você. Você ainda trabalha com rádio? Você atua com algo ligado à música?
Atualmente sou professora associada em uma Universidade, e leciono sobre mídia e jornalismo para jovens repórteres. Escrevo livros e artigos sobre o rádio. Não estou mais no ar em tempo integral – há poucos empregos em rádios hoje em dia. De vez em quando sou convidada a entrar no ar em alguns programas, discutindo a historia desse meio de comunicação ou falando sobre as tendências da mídia de hoje. E é claro, algumas vezes é para falar sobre o Rush.
Você curte outras bandas de rock?
Eu tenho uma grande variedade de favoritos. Eu realmente gosto de música – todos os tipos. Jazz, folk e, logicamente, rock. Eu adoro Bruce Springsteen, curto Rolling Stones, The Who e outras bandas de rock clássicas – e é claro que amo os Beatles. Atualmente há uma grande quantidade de bandas que eu gosto de ouvir, mas há sempre um lugar especial no meu coração para o Rush.
Existe alguma música do Rush que toca seu coração diferentemente das demais?
Até hoje eu não consigo ouvir "Finding My Way" ou "Working Man" sem lembrar-me da emoção daqueles primeiros dias promissores, quando tudo era uma grande aventura para eles. É claro que existem muitas outras canções do Rush que eu adoro, como Distant Early Warning, Limelight, Freewill, Spirit of Radio, etc., mas aquelas duas têm um significado especial, pois foram as primeiras canções do Rush tocadas em rádios dos EUA.
Eu gosto muito da fotografia abaixo. Você poderia me falar um pouco sobre esse dia?
Essa foto foi tirada durante a primeira visita do Rush aos EUA com Neil na banda. Era agosto de 1974. As pessoas na imagem são Matt the Cat, um dos DJs da WMMS (é claro que não é seu nome real, mas um apelido que ele utilizava na radio), os jovens Neil, Geddy e Alex, eu (ainda tenho esse vestido e o álbum original), John Gorman (meu chefe e diretor da WMMS) e, por último, Don George, o representante local para a promoção do disco da Mercury Records, o cara que ria persuadir as rádios a tocarem o disco.
Tenho essa outra fotografia sua que adoro, onde você aparece trabalhando numa rádio. Você poderia falar um pouco sobre como se tornou uma DJ?
Essa foto foi tirada em outubro de 1968, quando me tornei a primeira mulher locutora na história da minha faculdade, a Northeastern University em Boston. Eu havia lutado por quatro anos para entrar no ar, mas os caras que a dirigiam se recusavam a deixar uma mulher ser uma DJ por lá, até que finalmente mudaram de idéia no meu ultimo ano. Eu apareço nessa foto nos estúdios da WNEU, a rádio da faculdade, fazendo um dos meus primeiros programas. Naquela época tocávamos discos de vinil, claro.
Sempre que o Rush lança um novo álbum fico imaginando a felicidade que você sente quando o ouve pela primeira vez. Mesmo depois de todos esses anos, eles ainda fazem boa música.
Sim, fico muito feliz e orgulhosa. O novo álbum, Clockwork Angels, é incrível. E estar fazendo boas músicas depois de 38 anos é uma verdadeira homenagem à grandiosidade deles. É um verdadeiro presente poder ouvir um novo disco deles.
Essa pergunta me deixa triste, mas sei que os integrantes do Rush já não são mais garotos e que amam demais suas famílias. Assim como qualquer fã, me preocupo sobre o fato da banda decidir encerrar a carreira nos próximos anos. Recentemente, Neil Peart comentou em uma entrevista para a revista Rolling Stone que não deverá estar mais tocando com a banda daqui a 10 anos.
Quando conversei com Neil há alguns meses, ele estava sofrendo de uma forte infecção no ouvido, e os muitos anos tocando bateria acabaram por fim afetando sua audição. Ele adora tocar, mas sabe o quão importante é estar bem de saúde. Dessa forma ele diz a verdade, os caras do Rush estão em boas condições físicas e tentam não agredir seus organismos, mas envelhecer é algo que acontece com todos nós. Por exemplo, eu já tenho 65 anos, ainda sou jovem e bonita, mas não espero viver para sempre. Nem os caras do Rush esperam viver para sempre. E ser um músico de rock é uma maneira muito difícil de ganhar a vida. Dessa forma, Neil esta sendo apenas realista, pois ele sabe que em dez anos não será capaz de tocar no nível que ele gostaria de manter. Ele é um perfeccionista, e se não puder executar com perfeição devido à idade ou alguma doença, certamente seria algo que o deixaria muito triste. A banda dura muito mais tempo que muitas pessoas esperavam, mas não durarão para sempre, você sabe disso. Eles sabem disso também. Eles desejam tocar o tempo que puderem e eu sei que, quando chegar o momento de se aposentarem, será difícil, mas necessário.
Estamos em junho de 2012, e sei que a banda tocará em Boston no dia 24 de outubro, quando acredito que você verá seus amigos novamente. Se você se lembrar, por favor pergunte a eles se eles pretendem lançar uma nova turnê sul-americana em 2013. Estaremos esperando-os novamente de braços abertos!
Claro, irei perguntar aos rapazes sobre a possibilidade de nova turnê pela América do Sul.
Donna, para finalizar nossa conversa, gostaria que você deixasse uma mensagem a todos os fãs que acessam o Rush Fã-Clube Brasil e que lerão essa entrevista.
É uma grande honra falar a vocês e envio todo meu amor. Eu falei muitas vezes com os integrantes do Rush e eles sabem o quanto sua música significa para fãs de todo o mundo. O amor dos fãs é a única razão pela qual Alex, Geddy e Neil têm continuado a tocar por todos esses anos: eles gostam de criar novas músicas para compartilhar com todos vocês. Gostaria de agradecer a todos por serem fiéis a essa banda. É incrível eu estar aqui em Boston alcançando fãs do Rush no Brasil. É a magia da internet, é a magia do Rush, nos unindo como verdadeiros amigos.
© 2012 – Rush Fã-Clube Brasil
Donna é uma pessoa muito simpática, perspicaz e inteligente, apaixonada pelo trabalho do Rush e pela amizade de 38 anos que mantém com os rapazes. Ela atualmente reside em Boston, sendo professora associada de jornalismo da Lesley University em Cambridge, Massachusetts (EUA). Devido a todo seu conhecimento, ela concordou em oferecer, além dessa entrevista, ajuda na compreensão lírica de algumas canções da banda para nosso blog. Portanto, algumas resenhas disponíveis na seção discografia do site foram feitas em parceria com ela, o que é uma grande honra para todos nós.
Ao longo de aproximadamente quatro meses e mais de uma centena de e-mails, sintetizo aqui a maioria dos assuntos que abordamos. Busquei explorar temas relacionados à personalidade e a vida dos integrantes, mesmo que a partir de perguntas já feitas a ela inúmeras vezes. Espero de coração que gostem e que esse seja mais um importante documento sobre nossa banda favorita.
Donna, acima de tudo, gostaria de agradecer por toda sua gentileza em nos atender. Somos apenas mais alguns fãs entre milhares ao redor do mundo que admiram e aprendem muito com o Rush, através das suas músicas maravilhosas.
É muito bom conversar com você. Para mim sempre é um prazer conhecer um fã leal. Realmente é incrível como a música do Rush une fãs ao redor do mundo.
Imagino a grande quantidade de e-mails que você recebe de fãs do mundo inteiro. Vejo esse momento como algo incrivelmente mágico.
Eu sou totalmente interessada no Mitzvá. Não sei se você já tinha amigos judeus (você tem uma agora), mas o Mitzvá é algo que devemos fazer para tornar o mundo um lugar melhor. Realmente eu recebo mensagens de todos os lugares e tento responder, e vejo isso como um Mitzvá.
Cartão postal enviado por Donna, com algumas lembranças de Boston |
Sei que você e Geddy são judeus, e quando ouço a canção "Red Sector A", do álbum Grace Under Pressure (1984), eu sempre reflito sobre a dor e sofrimento que todas aquelas pessoas passaram durante o Holocausto. A história da família de Geddy é um dos maiores exemplos de superação que tive conhecimento na vida, algo que sempre carrego comigo.
Sobre esse assunto, faço questão de mencionar que Nancy, a esposa de Geddy, é convertida ao judaísmo. Tenho certeza que ela tomou essa decisão por amor ao esposo e também por respeito à mãe dele, que passou de fato por todo aquele sofrimento.
Recentemente escrevi sobre essa história em uma resenha para essa canção em nosso site, numa tentativa de fazer esse fato conhecido aos fãs brasileiros.
Provavelmente a maioria dos brasileiros, sejam fãs do Rush ou não, não têm um grande conhecimento sobre a história judaica. Acredito que devemos sempre conhecer outras culturas. Dessa forma, obrigado por compartilhar tais informações.
Você conversa com Geddy sobre a religião que têm em comum? Certa vez o vi dizendo em uma entrevista que tem o judaísmo somente como raça, mas não como religião.
O judaísmo é uma religião e uma cultura. Geddy não é religioso, mas ele adora a cultura judaica (a comida, os costumes, as comemorações) e gosta de fazer o Mitzvá quando pode. Nancy é mais religiosa que ele. O judaísmo é um estilo de vida. Algumas pessoas são religiosas, mas outras apenas seguem a ética, apreciam os alimentos especiais e feriados. Eu já conversei um pouco com Geddy sobre isso, mas não muito. Na América existem todos os tipos de judeus (e no Canadá também). Alguns são muito religiosos, os chamados ortodoxos, outros são também religiosos, porém mais modernos (uma espécie de moderados, que levam o melhor das tradições e também os melhores novos costumes).
Temos também os chamados conservadores ou Masorti, sendo alguns seculares e modernos que também adoram as comemorações e a cultura, acreditando que podem ajudar a fazer uma sociedade melhor, sendo chamados também de judeus reformados ou progressistas. A minha prática está entre o conservador e o progressista. Eu gosto da cultura, dos costumes e dos alimentos, mas também acredito na ética, leio a bíblia hebraica e amo a história do povo judeu. Tenho orgulho em ser judia. Eu respeito outras religiões, mas gosto muito da minha, que faz muito sentido para mim. Geddy é muito respeitoso sobre o fato de Alex e Neil serem cristãos. E eles são respeitosos com ele por ser judeu. Nenhum dos três é muito religioso – todos gostam de sua própria cultura, mas não vão muito à igreja ou sinagoga. Eles são muito amigos e se preocupam um com o outro, e tudo funciona muito bem dessa forma.
Há uma grande revelação aqui. Sempre surgem muitas discussões em fóruns na internet sobre a religião dos integrantes do Rush, especialmente sobre os pontos de vista de Neil, que escreve as letras e que às vezes levanta idéias com algum teor agnóstico ou ateísta (digo isso pensando em canções como "Freewill", "Ghost Of A Chance", "Faithless" e "BU2B", por exemplo).
Somente porque uma pessoa nasce em uma religião não significa que ela acredita nela ou a pratica. Por exemplo, Alex não é religioso, e de fato ele lê livros sobre humanismo e ateísmo. Mas ele tem amigos que ainda vão à igreja (incluindo um padre que mantém contato com ele) e respeita suas opiniões, mesmo que não as compartilhe. Neil foi criado no protestantismo, mas eu duvido que ele tenha algum interesse numa religião organizada nos dias de hoje. Tenho certeza de que ele se sente mais próximo à filosofia e a ética do que à religião. É da mesma forma com Geddy. Ele é casado com uma mulher que se converteu ao judaísmo, algo que fez sua mãe muito feliz, e que se tornou mais religiosa do que ele. Como eu disse, ele gosta da cultura e dos alimentos judaicos, mas não se preocupa muito com a religião, algo que não é tão incomum entre os judeus.
Há alguns anos, Geddy concedeu uma entrevista para uma revista judaica, onde ele disse exatamente o que você apontou, indo mais além. Ele se definiu como um judeu ateu, uma pessoa que aprecia todos os costumes e momentos com a família, mas que não é realmente um religioso.
Geralmente Geddy se denomina um "agnóstico", um "judeu secular" ou um "judeu não praticante". Algumas vezes ele me disse que não acredita em Deus ("You know his mind is not for rent / by any god or government..."), mas mesmo assim ele adora as celebrações judaicas e seus dois filhos foram criados como judeus. Qualquer um pode fazer um Mitzvá, seja religioso ou não, uma vez que o Mitzvá é uma ação ética positiva que busca um mundo melhor. Eu acredito em Deus e pratico o judaísmo, mas não sou uma pessoa super-religiosa e tão pouco sou super-secular. Acho que estou em algum lugar entre esses dois pontos de vista. Eu gosto dos costumes, observo alguns dos rituais e tento viver bem.
Eu estava lendo seu depoimento sobre o descobrimento do Rush e uma das partes que mais gosto é quando você fala sobre sua quase imediata amizade com Geddy, quando ele era apenas um garoto que tinha uma namorada (agora esposa) e que havia desapontado seus pais por ter abandonado a escola. Essas imagens devem estar bem vívidas em sua memória.
Minha primeira lembrança deles é de como estavam assustados quando vieram para Cleveland pela primeira vez. Eles eram apenas meninos (tinham aproximadamente vinte anos, eram muito inocentes e não haviam viajado muito). Eles nunca haviam tocado para um público fora do seu país. Só haviam tocado no Canadá, mais precisamente em sua cidade natal, Toronto. Eles estavam preocupados sobre se conseguiriam tocar. Eu os encorajei, todos nós os encorajamos, eles se saíram muito bem. Eles estavam muito nervosos, preocupados sobre a possibilidade de não se saírem bem o suficiente para impressionar os americanos. Fomos tranqüilizando eles, e os fãs gostaram imediatamente, inclusive saíram do show cantando as canções.
O impacto do Rush foi imediato nos EUA? Como eles se sentiam quando viam mais e mais pessoas em seus shows? Eles falavam com você sobre seus sentimentos naquele momento?
Graças às execuções das canções da banda na rádio WMMS (que era uma estação muito influente, inspiração para muitas outras rádios nos EUA), pessoas de outras cidades começaram a notar o Rush. Eu não diria que foi uma reação imediata, mas algo que foi sendo construído e que cresceu muito rapidamente. Tenho orgulho de ter feito parte disso. Os garotos estavam muito surpresos, pois já tentavam há muito tempo terem reconhecimento em Toronto e acabaram conseguindo amor e respeito numa cidade dos EUA, angariando muitos e muitos fãs. Tudo isso a partir do trabalho de duas pessoas: Bob Roper, que teve a iniciativa de me enviar o álbum, e eu mesma, por ter enxergado um grande potencial neles, influenciando a todos na WMMS para que tocassem o álbum, dando todo o suporte. Os fãs fizeram o resto.
Você ainda tem o mesmo vinil do Rush tocado pela primeira vez em Cleveland?
Sim, claro. Jamais venderia ou daria a alguém.
Em 1974, foi difícil convencer as pessoas de que não se tratava do Led Zeppelin tocando na rádio? O que você pode dizer sobre as reações das pessoas quando você e os outros caras da rádio explicavam que eles eram uma nova banda vinda de Toronto?
O grande problema é que ninguém havia ouvido falar do Rush (na verdade, havia outra banda de Montreal chamada Mahogany Rush, e houve certa confusão com o nome). Mas, principalmente, confundiam os vocais, pois Geddy soava muito parecido com Robert Plant, e por isso alguns ouvintes ligavam para a rádio perguntando se algum novo disco do Led Zeppelin estava saindo. Explicávamos que não era o Led Zeppelin, e sim uma nova banda do Canadá. Portanto, quanto mais pessoas ouviam "Working Man" e "Finding My Way" (tocávamos também "Here Again"), todos iam aos poucos se sentindo mais confortáveis com o fato de que se tratava do Rush, nascendo também o desejo nos fãs de comprarem o álbum.
Deve ser muito bom pensar que sua decisão em ajudar aqueles rapazes acabou influenciando tantas outras vidas ao redor do mundo.
Sinto-me honrada e orgulhosa por fazer parte do sucesso deles. E também me sinto honrada que ainda sejamos amigos 38 anos depois. São três caras muito especiais, e eu sempre acreditei neles. E sempre acreditarei. Para ser sincera, nunca imaginei que minha decisão de tocar o Rush promovendo-os na rádio nos levaria a uma amizade tão longa – eu já havia ajudado outras bandas enquanto trabalhava de fato no ramo, e raramente vi algum deles novamente depois que os ajudei. Mas com os caras do Rush foi diferente – eles têm muita consideração sobre o que fiz por eles, e sempre mantiveram contato ao longo dos anos. É incrível que 38 anos mais tarde, a banda de Toronto que eu acreditei e ajudei passou a influenciar pessoas de várias partes do mundo. É uma grande história, e são três seres humanos de coração muito bom.
Tenho certeza de que eles mantém suas raízes humildes. Pude ver isso nos olhos do Alex quando tive a oportunidade de conhecer a banda no Rio de Janeiro. Ele me olhou como se eu fosse um amigo de longa data. Já o Geddy é mais reservado…
Geddy é muito focado em sua música. Ele é um perfeccionista em muitas maneiras, mas é muito amigável também, principalmente se você gosta de esportes (ele é um grande fã de beisebol) ou de gastronomia (ele adora culinária gourmet e sabe tudo sobre vinhos finos). Ele é um homem de família e adora sua esposa e filhos. Alex é o integrante mais extrovertido – ele vai correr até você e te abraçar, se ele lhe conhecer.
Você compartilha a paixão por vinhos de Geddy?
Geddy sabe bastante sobre vinhos, e isso é algo sobre o qual não sei absolutamente nada. Nunca experimentei álcool na vida, e jamais utilizei drogas. Na indústria da musica, conheci muitas pessoas que bebiam ou usavam drogas, e algumas tiravam sarro de mim por isso, me insultando, já outros eram muito respeitosos e compreensivos sobre meu posicionamento. O Rush nunca me criticou por isso. Eles sempre se certificam de ter um suco para mim quando os visito no backstage, após os shows. Eles são totalmente respeitosos sobre a forma com que vivo a minha vida. Na verdade, eles não são de festas como eram antes de se casarem. Eles gostam de beber socialmente (como disse, Geddy é um especialista em vinhos), mas o que mais apreciam é estar com a família passando o máximo de tempo com eles.
Você continuou acompanhando de perto a carreira do Rush, mesmo depois de terem começado a voar sozinhos na época com o novo integrante, Neil?
Bem, nós já somos amigos há 38 anos, e continuamos a manter contato. Neil chegou a vir até minha casa quando eu morava em Cleveland. Eu estive conversando um pouco com ele há alguns meses, quando a banda veio tocar em Boston, e foi uma conversa bastante amigável. Portanto sim, tenho seguido a carreira deles por vários anos e me sinto honrada em dizer que somos amigos até hoje.
Depois do primeiro álbum, os rapazes lançaram Fly By Night com Neil Peart assumindo a maioria das letras. Houve também uma grande mudança musical em comparação com as primeiras músicas da banda. O que você pensou quando eles vieram com Fly By Night? Você tinha certeza de que eles estavam no caminho certo com todas aquelas mudanças?
Geddy me contou que quando John Rutsey, o baterista original, ficou doente, eles viram uma oportunidade de levar a banda para uma nova direção. Eles queriam deixar de ser uma "banda de bar" para fazer diferentes tipos de música, não apenas o hard rock que você pode tocar enquanto pessoas bebem em algum lugar. Eles buscavam intencionalmente alguém que pudesse escrever letras inteligentes, ajudando a banda a chegar a um próximo nível. Por isso escolheram o Neil – não somente porque ele era um grande baterista, mas porque ele adorava ler, conhecia mitologia e literatura e poderia dar à banda letras mais profundas para suas canções. Então eu esperava que Fly By Night fosse parte da transição daquela banda de bar para uma banda de rock progressivo inteligente e criativa. E o álbum não me decepcionou de forma alguma!
Você pode comentar um pouco sobre a personalidade de Neil e seu trabalho como letrista? Sempre sofro nas traduções das canções do Rush para nosso site, pois ele geralmente utiliza uma linguagem bastante rebuscada e cheia de simbolismos.
O que posso dizer sobre Neil é que ele é cético, racionalista, humanista e uma pessoa muito ética. Traduzir é um trabalho difícil, especialmente quando se tenta entender um escritor que gosta de utilizar simbolismos, metáforas e alusões à ciência, literatura ou filosofia. Posso ajudá-lo quando for preciso.
Sobre o álbum Caress of Steel (1975), eles ficaram bastante entusiasmados com esse trabalho na época, mas este acabou indo muito mal nas vendas e turnê de promoção. Você estava próxima à banda naquele período? Houve muitas reuniões com pessoas da indústria da música? Você temeu pelo risco da banda perder a trilha para seu sucesso profissional?
Eu não fiquei surpresa por Caress of Steel não ter vendido bem, e acho que os caras entenderam as razões também, embora tenha certeza de que ficaram decepcionados. Mas a verdade é que nem todos os álbuns vão ser recebidos da forma que queremos. Além disso, Caress of Steel não foi um apelo à massa e acessível a uma pessoa comum como Fly By Night, que trazia letras e melodia mais fáceis de assimilar. Eu trabalhava na gravadora deles na época (Mercury Records – EUA) e achava que Caress of Steel trazia boas canções. Foi interessante observar a etiqueta tentando promover o álbum e várias estações de rádio resistindo em tocar.
O que você sentiu quando ouviu pela primeira vez o álbum que consolidou a identidade da banda e sua independência: 2112?
Acho que não concordo que 2112 tenha "consolidado a identidade da banda e independência". O Rush sempre foi independente e nunca tiveram medo de seguir seu próprio caminho, mesmo que alguns tenham tentado os levar para um maior "apelo à massa", adaptando-os à forma de como as outras bandas fazem as coisas. Para mim, cada novo álbum do Rush é uma prova de que eles sempre se desenvolvem como músicos, e 2112 parecia ser mais um exemplo maravilhoso de sua criatividade e talento, bem como mais uma prova de que cresciam musicalmente.
Você seguia todos os artigos que eram publicados sobre a banda? Como você via os comentários terríveis que alguns traziam sobre eles? Você buscava conversar com os rapazes sobre essas fortes críticas, tentando encorajá-los?
Tenho um arquivo comigo de todos os comentários e artigos que escreveram sobre eles, desde 1974 até hoje. Eu sou uma historiadora de mídia e escritora, e mantenho um arquivo dedicado a todas as grandes bandas, sobre o caso de surgir alguma pergunta ou questão sobre algum grupo específico. Mas, sobre tudo, sempre quis ler o que falavam sobre meus amigos do Rush. Dessa forma, meu arquivo sobre eles é bem grande. Às vezes eu ficava chateada com algum artigo (e nos primeiros anos eles também ficavam), mas, gradualmente, você aprende a não levar as opiniões para o lado pessoal, não se deixando ficar com raiva. Nos dias de hoje as criticas negativas não deixam mais os caras tão chateados. Eles entenderam que nem todos irão gostar de todas as canções do grupo. Eles saem e tentam fazer o melhor que podem para os fãs, e são os fãs que são importantes para eles, não os colunistas e críticos. No entanto, se ainda hoje vejo um artigo ou comentário que entendo como injusto, entro em contato com o autor. Eu sempre defendi a banda – eles são meus amigos.
Gostaria de saber se você geralmente conversa sobre o Hall of Fame com os caras. O que você acha da não inclusão da banda? Eles se sentem injustiçados? Existe algum pensamento de Geddy e Alex sobre o assunto que tenha lhe marcado? (N. do A.: A banda entrou para o Rock Hall em 2013).
Eles são muito filosóficos sobre isso (o que significa que não se deixam levar muito pela emoção, sendo razoáveis e lógicos). Falamos sobre o Rock and Roll Hall of Fame algumas vezes, e eles entendem que os juízes que votam nos grupos têm uma agenda particular – eles gostam de certos tipos de rock, e não gostam de outros. Ao invés de votarem com base na justiça de escolherem os melhores grupos e os mais bem-sucedidos, alguns juízes que nunca gostaram da música produzida pelo Rush ainda se recusam a deixá-los virem para votação. O Rush é vetado todos os anos, embora alguns dos juízes mais novos e todos os de Cleveland realmente desejem que o Rush integre o Hall (tem que haver uma maioria de juízes votando neles e todos os anos os mesmos se certificam de não deixá-los entrar). É por isso que eu lutei para que eles tivessem uma estrela na Calçada da Fama em Hollywood (estou lhe enviando o discurso que fiz para a ocasião, em 2010), quando eles ganharam a solenidade. Geddy e Alex me disseram naquele dia que não estão preocupados, pois eles acham que se o Hall não os quer, aquilo não deve ser um bom negócio. Neil também não se entristece, mas ele entende que o processo inteiro de indução é muito político – assim como eu, nós não achamos que o processo deva ser feito para as bandas favoritas de alguém, mas para aqueles que possuem as melhores qualificações. Não acho que os rapazes ficariam aborrecidos se nunca forem indicados, mas eles entendem que os fãs gostariam de ver, de modo que eles provavelmente iriam junto. Mas eles estão satisfeitos com sua carreira e se os juízes não querem reconhecer suas conquistas, eles estão errados, e não o Rush!
Gostaria que você comentasse um pouco sobre o produtor Terry Brown, que foi parceiro da banda desde o começo até o álbum Signals, de 1982. Brown sempre pareceu ser um grande amigo deles, e como você sempre acompanhou a carreira do grupo, deve ter encontrado algumas vezes com o produtor. Como você viu o fim dessa parceria na época? Você pensou que esse fato poderia ser arriscado para a carreira do Rush naquele momento ou aquela era mais uma prova de eles tinham controle total sobre todas as suas ações, sabendo o momento certo para experimentar novos desafios?
Gosto muito do Terry e ele fez coisas maravilhosas pelo Rush. Mas a decisão final de tentar um produtor diferente não foi algo incomum. Muitos músicos criativos chegam a um ponto da carreira onde sentem que estão presos numa rotina, desejando experimentar algumas perspectivas diferentes. Acho que eles acreditavam que tinham ido tão longe quanto puderam com Terry, e desejavam trabalhar com outro produtor para experimentar novas idéias. Não vejo esse momento da separação como algo amargo e rancoroso, e Terry diz apenas coisas boas sobre o tempo em que trabalhou com o Rush. Da mesma forma, nunca vi os integrantes dizendo coisas críticas ou negativas sobre Terry. Eu entendo que o Rush sempre foi ansioso por correr riscos, levando sua música a um próximo nível. É como um emprego seguro. Você está confortável lá, mas não tem nenhum desafio, nenhuma emoção. Você poderia continuar, mas talvez pergunte a si mesmo se é hora de experimentar algo novo. Eu acho que foi isso que aconteceu com o Rush. Eles poderiam ter continuado com Terry, mas achavam que cresceriam mais como músicos se tivessem um produtor diferente. Dessa forma, decidiram pela mudança.
O Rush sempre fez shows somente nos EUA, Canadá e em alguns países europeus até o final da década de 1990. Na turnê Vapor Trails, eles fizeram uma rota diferente, visitando o México e o Brasil pela primeira vez sem saber que eram tão amados nesses países. Quais foram seus pensamentos quando você assistiu o DVD Rush In Rio pela primeira vez, com aquela multidão de fãs enlouquecidos de um território totalmente novo para a banda?
Geddy me disse em várias ocasiões que a banda esteve pronta para se aposentar, mas eles adoram tocar por saberem que seus fãs apreciam sua música, o que sempre fez com que decidissem continuar na ativa. Eles decidiram ir para a América Central e do Sul, e estavam super ansiosos por conhecer outros países naquela turnê. Toda a carreira deles tem sido uma grande aventura – três garotos de classe média de Toronto que foram mostrados em várias estações de rádio no Canadá que não conseguiram o reconhecimento que queriam em seu país e que, ainda hoje, continuam provando que todos que duvidaram deles estavam errados. Quando vejo vídeos deles tocando em outros países me sinto muito orgulhosa, pois sempre acreditei neles, e porque eles querem fazer seus fãs felizes. Eles sempre me fazem sorrir apenas por saber que fãs estão reunidos ao redor do mundo por amor ao Rush. Veja só quantas pessoas, incluindo o Brasil, têm buscado desenvolver seu inglês para entender melhor as letras da banda!
Você costuma viajar para o Canadá para visitar Geddy e Alex? Você tem contato com suas famílias?
Não, pois eles geralmente não estão no Canadá – eles sempre estão circulando pelos EUA e também ao redor do mundo. Eu conheci e conversei com suas famílias algumas vezes (vi a esposa de Geddy e sua filha na cerimônia do Hollywood Walk of Fame em 2010, além de ter conhecido a esposa do Neil e sua adorável bebê no evento), mas nós geralmente não nos vemos muito, porque as famílias deles têm suas vidas ocupadas e eu tenho a minha. Geddy, Alex e eu nos mantemos em contato via e-mail, e geralmente encontro-os em seus shows nos bastidores. Nós não ficamos mais tão juntos como costumávamos, mas é assim mesmo. Eles sabem que eu os amo e sei que eles também me amam, e somos amigos há 38 anos. É uma história fantástica, você não acha?
Desviando um pouco as perguntas sobre o Rush, gostaria de saber um pouco mais sobre você. Você ainda trabalha com rádio? Você atua com algo ligado à música?
Atualmente sou professora associada em uma Universidade, e leciono sobre mídia e jornalismo para jovens repórteres. Escrevo livros e artigos sobre o rádio. Não estou mais no ar em tempo integral – há poucos empregos em rádios hoje em dia. De vez em quando sou convidada a entrar no ar em alguns programas, discutindo a historia desse meio de comunicação ou falando sobre as tendências da mídia de hoje. E é claro, algumas vezes é para falar sobre o Rush.
Você curte outras bandas de rock?
Eu tenho uma grande variedade de favoritos. Eu realmente gosto de música – todos os tipos. Jazz, folk e, logicamente, rock. Eu adoro Bruce Springsteen, curto Rolling Stones, The Who e outras bandas de rock clássicas – e é claro que amo os Beatles. Atualmente há uma grande quantidade de bandas que eu gosto de ouvir, mas há sempre um lugar especial no meu coração para o Rush.
Existe alguma música do Rush que toca seu coração diferentemente das demais?
Até hoje eu não consigo ouvir "Finding My Way" ou "Working Man" sem lembrar-me da emoção daqueles primeiros dias promissores, quando tudo era uma grande aventura para eles. É claro que existem muitas outras canções do Rush que eu adoro, como Distant Early Warning, Limelight, Freewill, Spirit of Radio, etc., mas aquelas duas têm um significado especial, pois foram as primeiras canções do Rush tocadas em rádios dos EUA.
Eu gosto muito da fotografia abaixo. Você poderia me falar um pouco sobre esse dia?
Donna com o jovem Rush, em 1974 |
Essa foto foi tirada durante a primeira visita do Rush aos EUA com Neil na banda. Era agosto de 1974. As pessoas na imagem são Matt the Cat, um dos DJs da WMMS (é claro que não é seu nome real, mas um apelido que ele utilizava na radio), os jovens Neil, Geddy e Alex, eu (ainda tenho esse vestido e o álbum original), John Gorman (meu chefe e diretor da WMMS) e, por último, Don George, o representante local para a promoção do disco da Mercury Records, o cara que ria persuadir as rádios a tocarem o disco.
Tenho essa outra fotografia sua que adoro, onde você aparece trabalhando numa rádio. Você poderia falar um pouco sobre como se tornou uma DJ?
Donna Halper na rádio de sua faculdade, em 1968 |
Essa foto foi tirada em outubro de 1968, quando me tornei a primeira mulher locutora na história da minha faculdade, a Northeastern University em Boston. Eu havia lutado por quatro anos para entrar no ar, mas os caras que a dirigiam se recusavam a deixar uma mulher ser uma DJ por lá, até que finalmente mudaram de idéia no meu ultimo ano. Eu apareço nessa foto nos estúdios da WNEU, a rádio da faculdade, fazendo um dos meus primeiros programas. Naquela época tocávamos discos de vinil, claro.
Sempre que o Rush lança um novo álbum fico imaginando a felicidade que você sente quando o ouve pela primeira vez. Mesmo depois de todos esses anos, eles ainda fazem boa música.
Sim, fico muito feliz e orgulhosa. O novo álbum, Clockwork Angels, é incrível. E estar fazendo boas músicas depois de 38 anos é uma verdadeira homenagem à grandiosidade deles. É um verdadeiro presente poder ouvir um novo disco deles.
Essa pergunta me deixa triste, mas sei que os integrantes do Rush já não são mais garotos e que amam demais suas famílias. Assim como qualquer fã, me preocupo sobre o fato da banda decidir encerrar a carreira nos próximos anos. Recentemente, Neil Peart comentou em uma entrevista para a revista Rolling Stone que não deverá estar mais tocando com a banda daqui a 10 anos.
Quando conversei com Neil há alguns meses, ele estava sofrendo de uma forte infecção no ouvido, e os muitos anos tocando bateria acabaram por fim afetando sua audição. Ele adora tocar, mas sabe o quão importante é estar bem de saúde. Dessa forma ele diz a verdade, os caras do Rush estão em boas condições físicas e tentam não agredir seus organismos, mas envelhecer é algo que acontece com todos nós. Por exemplo, eu já tenho 65 anos, ainda sou jovem e bonita, mas não espero viver para sempre. Nem os caras do Rush esperam viver para sempre. E ser um músico de rock é uma maneira muito difícil de ganhar a vida. Dessa forma, Neil esta sendo apenas realista, pois ele sabe que em dez anos não será capaz de tocar no nível que ele gostaria de manter. Ele é um perfeccionista, e se não puder executar com perfeição devido à idade ou alguma doença, certamente seria algo que o deixaria muito triste. A banda dura muito mais tempo que muitas pessoas esperavam, mas não durarão para sempre, você sabe disso. Eles sabem disso também. Eles desejam tocar o tempo que puderem e eu sei que, quando chegar o momento de se aposentarem, será difícil, mas necessário.
Estamos em junho de 2012, e sei que a banda tocará em Boston no dia 24 de outubro, quando acredito que você verá seus amigos novamente. Se você se lembrar, por favor pergunte a eles se eles pretendem lançar uma nova turnê sul-americana em 2013. Estaremos esperando-os novamente de braços abertos!
Claro, irei perguntar aos rapazes sobre a possibilidade de nova turnê pela América do Sul.
Donna, para finalizar nossa conversa, gostaria que você deixasse uma mensagem a todos os fãs que acessam o Rush Fã-Clube Brasil e que lerão essa entrevista.
É uma grande honra falar a vocês e envio todo meu amor. Eu falei muitas vezes com os integrantes do Rush e eles sabem o quanto sua música significa para fãs de todo o mundo. O amor dos fãs é a única razão pela qual Alex, Geddy e Neil têm continuado a tocar por todos esses anos: eles gostam de criar novas músicas para compartilhar com todos vocês. Gostaria de agradecer a todos por serem fiéis a essa banda. É incrível eu estar aqui em Boston alcançando fãs do Rush no Brasil. É a magia da internet, é a magia do Rush, nos unindo como verdadeiros amigos.
© 2012 – Rush Fã-Clube Brasil
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