FOTO DE OLIVIA, FILHA DE NEIL PEART
09/09/2009



Neil Peart voltou a atualizar seu site oficial. Em seu novo artigo, o baterista fala sobre os meses que antecederam o nascimento de sua recém-chegada filha Olivia, contando como expunha muitos de seus medos e receios que lhe ocorriam durante esse processo para uma mamãe beija-flor que havia feito um ninho do lado de fora da sua casa. Acompanhem alguns trechos traduzidos:

.. Carrie e eu participamos de duas longas aulas sobre partos que incluíam gráficos, DVDs sangrentos sobre nascimentos e descrições dolorosas sobre complicações (e riscos) durante as etapas, cada qual demonstrada em uma boneca de tamanho natural e um modelo da estrutura da pélvis. Tantas coisas têm que dar certo que você se pergunta como pode alguém conseguir nascer.

O mais importante para mim era que muitas coisas poderiam dar errado.

Visitamos a unidade de parto do hospital local, participando de uma outra aula profunda sobre cuidados com o recém-nascido. Me inscrevi também num curso de uma hora e meia sobre instalação e ajuste de assentos infantis para carros (falo sério - era necessário).

A última vez em que havia me tornado pai foi há trinta anos, quando minha filha Selena nasceu em 1978, e isso expôs claramente o quanto as coisas mudaram nessas três décadas - não menos minha alegre auto-confiança que, naqueles dias, me permitia acreditar que tudo ficaria bem. Desde da morte de Selena em 1997, aos 19 anos, não tinha mais essa fé.

O que eu tinha era um poço sem fundo de medos direcionados para todos aqueles que me preocupava e, neste caso, não só por tudo que poderia dar errado durante o desenvolvimento do bebê e com a mãe na hora do parto, mas reconhecendo que mesmo tendo um ótimo cenário, meus medos estariam apenas começando com um bebê saudável.

10 de agosto seria o décimo segundo aniversário da morte de Selena e a data prevista para Carrie ter o bebê seria no dia 12 de agosto. Assim eu enviava súplicas para qualquer divindade disponível para que o bebê não nascesse dois dias mais cedo. Seria terrível ter a data de aniversário dela sempre no pior dia do meu calendário. ...

... No dia 12 de agosto de 2009, Olivia Louise Peart eclodiu para o mundo.

Nas discussões iniciais sobre um possível trabalho de parto longo e doloroso, disse que não queria permanecer na sala. Algumas pessoas achavam que eu estava nervoso com o sangue, mas na verdade era com a dor. Não tinha certeza quanto do sofrimento da Carrie poderia aguentar para testemunhar. Posso fazer um exame de sangue em pequenas doses e posso continuar de pé em minha própria dor numa certa medida, mas não na agonia de um ente querido.

Mas tudo correu bem e fui capaz de ficar na sala de parto durante todo o procedimento, com mascarados ao redor num verde estéril - mantendo-me resoluto, pronto para qualquer coisa que eu tivesse que lidar. ...

... Recentemente umas duas vezes no Bubba's Book Club falei da noção de que "ser bom" significa muitas das vezes "se comportar melhor do que nos comportamos". Agora ocorre-me que ser bom também pode se referir acerca de comportar-se melhor do que achamos que podemos.

Muito importante essa noção. ...

... Dentro de um minuto após o nascimento da Olivia, eu estava tocando-a e segurando-a enquanto os médicos drenavam suas vias respiratórias, secavam sua pele e a cobriam. Então carreguei o pequeno embrulho para apresentar à sua mãe. Alguns minutos mais tarde acompanhei Olivia em sua primeira viagem, passando por um longo corredor até o berçário, onde ela foi pesada (três quilos e cinquenta e duas gramas) e examinada pelo pediatra.

Enquanto ela estava ali, no berço de plástico transparente, tentei acalmá-la (a pesagem nua havia ferido sua sensibilidade delicada, e mesmo assim sorri por ouvir seu forte choro de protesto). Levei meu dedo até sua mão e senti seus minúsculos dedos se fechando com força em torno dele.

Sussurrei, "Aguente firme bebê, aguente firme."

Eu estava falando com ela e para mim mesmo.