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CHAIN LIGHTNING THE PASS WAR PAINT
THE PASS
proud swagger out of the schoolyard
waiting for the world's applause
rebel without a conscience
martyr without a cause
static on your frequency
electrical storm in your veins
raging at unreachable glory
straining at invisible chains
and now you're trembling on a rocky ledge
staring down into a heartless sea
can't face life on a razor's edge
nothing's what you thought it would be
All of us get lost in the darkness
Dreamers learn to steer by the stars
All of us do time in the gutter
Dreamers turn to look at the cars
turn around and turn around and turn around
Turn around and walk the razor's edge
Don't turn your back
And slam the door on me
it's not as if this barricade
blocks the only road
it's not as if you're all alone
in wanting to explode
someone set a bad example
made surrender seem all right
the act of a noble warrior
who lost the will to fight
and now you're trembling on a rocky ledge
staring down into a heartless sea
done with life on a razor's edge
nothing's what you thought it would be
no hero in your tragedy
no daring in your escape
no salutes for your surrender
nothing noble in your fate
Christ, what have you done?
proud swagger out of the schoolyard
waiting for the world's applause
rebel without a conscience
martyr without a cause
static on your frequency
electrical storm in your veins
raging at unreachable glory
straining at invisible chains
and now you're trembling on a rocky ledge
staring down into a heartless sea
can't face life on a razor's edge
nothing's what you thought it would be
All of us get lost in the darkness
Dreamers learn to steer by the stars
All of us do time in the gutter
Dreamers turn to look at the cars
turn around and turn around and turn around
Turn around and walk the razor's edge
Don't turn your back
And slam the door on me
it's not as if this barricade
blocks the only road
it's not as if you're all alone
in wanting to explode
someone set a bad example
made surrender seem all right
the act of a noble warrior
who lost the will to fight
and now you're trembling on a rocky ledge
staring down into a heartless sea
done with life on a razor's edge
nothing's what you thought it would be
no hero in your tragedy
no daring in your escape
no salutes for your surrender
nothing noble in your fate
Christ, what have you done?
O DESFILADEIRO
ares de orgulho fora do pátio da escola
esperando pelos aplausos do mundo
rebelde sem consciência
mártir sem causa
estático em sua freqüência
tempestade de raios em suas veias
impulsivo na glória inalcançável
forçando correntes invisíveis
e agora você está trêmulo na ponta de um rochedo
olhando fixo para um mar impiedoso
não consegue enfrentar a vida no fio da navalha
nada é o que você achou que seria
Todos nós nos perdemos na escuridão
Sonhadores aprendem a se orientar pelas estrelas
Todos nós passamos um tempo na sarjeta
Sonhadores se viram para olhar os carros
vire-se e vire-se e vire-se
Vire-se e caminhe no fio da navalha
Não vire as costas
E bata a porta em mim
não é como se essa barricada
bloqueasse a única estrada
não é como se você estivesse sozinho
querendo explodir
alguém deu um mau exemplo
fazendo render-se parecer o certo
o ato de um nobre guerreiro
que perdeu a vontade de lutar
e agora você está trêmulo na ponta de um rochedo
olhando fixo para um mar impiedoso
cansado da vida no fio da navalha
nada é o que você achou que seria
sem herói em sua tragédia
sem coragem em sua fuga
sem cumprimentos por sua rendição
nada de nobre em seu destino
Cristo, o que você fez?
ares de orgulho fora do pátio da escola
esperando pelos aplausos do mundo
rebelde sem consciência
mártir sem causa
estático em sua freqüência
tempestade de raios em suas veias
impulsivo na glória inalcançável
forçando correntes invisíveis
e agora você está trêmulo na ponta de um rochedo
olhando fixo para um mar impiedoso
não consegue enfrentar a vida no fio da navalha
nada é o que você achou que seria
Todos nós nos perdemos na escuridão
Sonhadores aprendem a se orientar pelas estrelas
Todos nós passamos um tempo na sarjeta
Sonhadores se viram para olhar os carros
vire-se e vire-se e vire-se
Vire-se e caminhe no fio da navalha
Não vire as costas
E bata a porta em mim
não é como se essa barricada
bloqueasse a única estrada
não é como se você estivesse sozinho
querendo explodir
alguém deu um mau exemplo
fazendo render-se parecer o certo
o ato de um nobre guerreiro
que perdeu a vontade de lutar
e agora você está trêmulo na ponta de um rochedo
olhando fixo para um mar impiedoso
cansado da vida no fio da navalha
nada é o que você achou que seria
sem herói em sua tragédia
sem coragem em sua fuga
sem cumprimentos por sua rendição
nada de nobre em seu destino
Cristo, o que você fez?
Uma exaltação à vida através da desmistificação do suicídio entre jovens
"The Pass" é a terceira canção do álbum Presto. Trata-se, certamente, de uma das maiores e mais marcantes composições já realizadas pelo power-trio em toda a carreira. Uma peça forte, sincera, intensa e comovente, que se desenvolve com base no tema da triste e preocupante incidência de suicídios entre adolescentes.
"'The Pass' veio muito rapidamente, conforme ocorreu com 'The Twilight Zone' e 'Vital Signs'", explica Alex Lifeson.
"Geralmente, temos uma ou duas músicas que acabam sendo escritas bem no calor do momento no estúdio", diz Geddy Lee. "Foi assim com 'New World Man'. "Em 'The Pass', a letra era tão forte que a melodia veio rapidamente, com eu e Alex definindo a música totalmente torno dela. Algumas canções se encaixam perfeitamente, com tudo sendo feito a partir da letra".
Sendo um dos mais belos exemplos de canção tocante e emocional produzidos pelo Rush, os integrantes da banda, em várias ocasiões, declararam "The Pass" como uma das melhores peças já produzidas em toda sua trajetória - uma das preferidas deles. Sua belíssima combinação entre letra e música é, certamente, um dos pontos mais altos do álbum, onde Lee, Lifeson e Peart conseguem expor com maestria um assunto delicado em uma composição carregada de sentimentos, com cada passagem e imagem proposta provocando reflexões profundas. A música se mantém crescente emocionalmente, utilizando texturas discretas e ritmos metódicos, mostrando refrões notavelmente orquestrados que incluem vocais de fundo e alguns elementos sintetizados. Novamente, um belíssimo solo de guitarra idealizado por Lifeson estimula ainda mais a imaginação do ouvinte.
"'The Pass' é uma das melhores canções que já compomos", afirma Geddy. "Eu adoro essa música, pois há algo muito diferente em sua atmosfera e na natureza da letra. É uma das melhores composições de Neil, e acho que ela sempre será atual. A canção trata de uma questão muito difícil, o suicídio entre adolescentes, porém de forma positiva. Ela sempre fica comigo, adoro tocá-la e cantá-la. Acho que traduz um daqueles nossos momentos de grande realização como compositores. Os fãs nos veem de maneiras muito diferentes. A maioria deles olha para nós somente como músicos, mas, de dentro para fora, quando olho para trás, considero os momentos em que avançamos como compositores como as nossas verdadeiras vitórias, quando fomos capazes de abordar satisfatoriamente algum ponto de vista que era novo em nossa música. 'The Pass' é um desses momentos".
"The Pass" é um nítido exemplo da busca por mais melodia que permeia Presto. Segundo Geddy, Peart começava a compor procurando maior ênfase nas frases vocais, em comparação aos álbuns anteriores do Rush. "Sentimos que nunca demos uma oportunidade verdadeiramente justa aos vocais, pois sobrecarregávamos os mesmos com frases desajeitadas e linhas muito longas", reconhece o baixista. "Portanto, concordamos dessa vez em tentar que tudo estivesse servindo à melodia vocal. Devido à isso, esse disco é muito mais melódico como um todo, e não apenas nos vocais. Se ficássemos felizes com a direção das melodias, mas ainda assim houvesse alguns tropeços com relação às letras, então mudaríamos para qualquer coisa que soasse melhor, para que as mesmas rolassem mais facilmente ao saltar da boca".
"Porém, há certas canções como 'The Pass' nas quais sentia que era mais importante manter a letra original intacta, construindo uma afirmação musical nascida a partir da mensagem da música. Em um caso como esse, tenho que pensar muito antes de compor uma simples nota, realmente mergulhando na canção. Já que o meu dever é cantar as letras de Neil, preciso sentir algum tipo de relação com o que ele está falando - preciso pensar em como ficará em um show, a fim de torná-la acreditável para mim mesmo e para o ouvinte. Portanto, sempre há muita conversa sobre o assunto de cada canção, antes de começarmos a compor melodias".
"Cada um de nós tem o seu ponto forte", continua. "Funciona nos dois sentidos e é como um quebra-cabeça. Às vezes, Alex e eu preferimos não compor com antecedência. Uma canção como 'The Pass' precisava ser escrita a partir da letra, a qual utilizaríamos como uma espécie de script".
"Acho que, nos primeiros anos, todos nós queríamos ter algo a dizer sobre o que o outro fazia. E, consequentemente, nos tornamos muito possessivos sobre os nossos papeis. É natural. Agora, no entanto, há muito mais confiança e segurança em tudo o que fazemos, seja nas relações de uns com os outros e com nós mesmos. Sabemos que todos temos funções que fazemos melhor".
Similar ao ocorrido em Grace Under Pressure (1984), a motivação do tema em "The Pass" nasceu de uma preocupação cotidiana: a incidência de suicídios entre os jovens, principalmente adolescentes. Após uma discussão com um dos seus parceiros em viagens de bicicleta, Neil Peart começou a pensar profundamente sobre o assunto, decidindo escrever uma canção que envolvesse a figura de um adolescente fortemente deprimido e que cogita o suicídio. É notável que os três integrantes sempre se mostraram preocupados com as dificuldades e dramas dessa faixa da vida, inclusive já abordando o objeto em composições anteriores como "Subdivisions" e "The Analog Kid" (de Signals, 1982). "Há um amigo de Neil que sai com ele em passeios de bicicleta, e eles acabaram entrando em uma discussão sobre o suicídio na juventude", explica Alex. "Foi a inspiração para 'The Pass'. O suicídio é uma maneira terrível de tentar resolver um problema - nenhum problema é tão grande para você tomar essa rota. A adolescência é a parte mais estressante da vida, e acho que essa é a mais poderosa letra já escrita por Neil. Ela se desencadeou em nós de forma muito emocional. Finalizamos a mesma na manhã do dia seguinte, sendo uma daquelas coisas especiais que apenas fluem em nós".
"Os anos da adolescência são muito turbulentos. Há sempre muita coisa acontecendo em nossas vidas nesses momentos", conclui o guitarrista.
"(...) Para esse álbum, acho que não houve qualquer tipo de grande projeto premeditado", explica Geddy. "Tivemos uma série de canções, como 'The Pass' por exemplo, que acredito que tragam assuntos muito atuais, pois sempre os vemos nos jornais. Acho que esse fato acabou inspirando alguns dos nossos pontos de vista para esse disco, basicamente se mantendo sobre os eventos atuais".
"Há muito tempo buscava abordar esse assunto em uma canção", lembra Peart. "Havia muitas coisas que eu queria visitar, sendo, provavelmente, uma das letras mais difíceis que já escrevi. Passei muito tempo com ela, entre várias pesquisas e refinamentos. (...) Sentia-me preocupado com a incidência dos suicídios entre adolescentes, mas não desejava assumir uma posição clássica de 'A vida não é tão ruim. É digna de ser vivida'. Dessa forma, trabalhei duro para encontrar histórias verdadeiras, buscando ajuda de universitários do Instituto de Tecnologia de Massachusetts por exemplo, coletando histórias de pessoas que eles conheceram que deram esse passo desesperado, buscando entender o que elas sentiam e porque terminaram com suas próprias vidas. Realizei algumas reuniões muito difíceis, na tentativa de compreender algo que para mim era totalmente incompreensível. Na verdade, eu buscava desmistificar - tirar a nobreza que um suicídio pudesse trazer - quando finge se traduzir em um fim heroico. Um suicídio não é um triunfo, mas sim uma tragédia. Uma tragédia pessoal para quem comete, porém muito mais trágica para aqueles que são deixados para trás. Ficava de certa forma ofendido com os tipos de valores milenares de samurais sendo constantemente ligados a isso, como se tivéssemos os mesmos tipos de guerreiros aqui".
O título da canção, "O Desfiladeiro", (ou "Cânion") refere-se a uma profunda ravina entre montanhas, formada por paredes abruptas em forma de penhascos geralmente escavadas por um rio. Além disso, pode significar também uma permissão de acesso a uma área especial. Dessa forma, mesmo pensando sobre a glorificação da resistência e da raiva notada principalmente entre os jovens - onde os rebeldes sem causa são muitas vezes vistos como figuras emocionantes e românticas - Peart busca expressar, principalmente, pensamentos sobre os difíceis caminhos que precisamos trilhar para transpor obstáculos. Em situações completamente tomadas pela emoção, as barreiras podem nos parecer esmagadoras, mas é possível que a opção pela racionalidade nos revele outras vias para as melhores decisões. O baterista do Rush é um apaixonado pela vida, e todos os integrantes sempre se mostraram muito felizes, cuidadosos e preocupados com suas famílias. Assim, dificilmente considerariam o suicídio como alternativa em sua arte. Indo além, o letrista constrói a composição não somente como um esboço frio do fato em si, mas como uma alavanca para exaltar, novamente, os benefícios do equilíbrio e do potencial humano na superação de dificuldades.
Em "The Pass", Peart se esforça para desmistificar o suicídio entre adolescentes, lembrando o que fez em "Limelight" (de Moving Pictures, 1981), quando buscou denunciar os transtornos da fama, e em "Manhattan Project" (de Power Windows, 1985), onde propôs um olhar diferenciado sobre as armas nucleares. Na terceira faixa de Presto, o baterista reconhece que a vida, inevitavelmente, acarreta períodos de dificuldades e dores nas mais variadas conjunturas, mas compreende a mesma como uma verdadeira jornada constituída por inúmeros pontos de escolha e decisões. Enquanto o fim do personagem da canção parece óbvio, a letra, ainda assim, oferece a esperança sobre aqueles que optam por lutar, apesar dos problemas e contratempos marcantes em nossa trajetória. Temos a certeza de que muitos incidentes irão surgir, mas sempre valerá mais a pena viver e não desistir. Ao que tudo indica, o personagem da canção foi sacrificado, a fim de que pudéssemos refletir mantendo nossa chama acesa.
Conforme sempre defendeu, Peart reafirma que a vida é nossa maior preciosidade, e que o desenvolvimento da mesma está diretamente ligado à nossa capacidade de determinação. Em "The Pass", ele exalta mais uma vez a força do espírito humano, ideal jamais abordado pelo prisma da desistência mais profunda e devastadora em canções do Rush. Livros, palavras, conselhos e proximidade podem prover consolo e conforto em momentos de difíceis, mas a verdadeira mudança e decisão nascem no indivíduo. O narrador (no caso Geddy) é a voz da razão na letra, expondo uma perspectiva parental preocupada que apela para que o jovem (ou filho) vire-se para encarar suas dificuldades, pensando em todas as opções e tentativas disponíveis ao invés de decidir por terminar com sua própria vida, a fonte das possíveis soluções.
"Quando estava escrevendo 'The Pass', alguns garotos me disseram que pessoas se tornam verdadeiramente suicidas ao ouvir Pink Floyd", diz Neil. "Já o Rush é visto como um tipo de música de esperança".
Em "The Pass", há o reforço da responsabilidade das escolhas e ações recaindo sobre o indivíduo. Na canção, Peart leva seu personagem para estrada em solidão, a fim de procurar compreender as circunstâncias impostas. Os motivos que conduzem o jovem a pensar no suicídio são expressados em trechos como "Nothing's what you thought it would be" ["Nada é o que você achou que seria"] e "Electrical storm in your veins" ["Tempestade de raios em suas veias"], resultado de um desiquilíbrio emocional. De qualquer forma, o narrador segue tentando acalmar jovem, exortando-o a lutar e assegurando que o mesmo não está sozinho. Além disso, ele tenta convencê-lo de que sua ideia não é, definitivamente, uma boa escolha.
A canção é compreensiva com a situação do adolescente, onde Lee, como o vocalista, reconhece que todos nós atravessamos períodos muitos difíceis na vida, mas que temos sido emocionalmente fortes para enfrentá-los. Reflexões ponderadas sobre solidão, vazio, depressão ou isolamento, especialmente quando nossa base emocional se encontra abalada, podem ser irrealizáveis. Porém, em estágios de menor gravidade, a busca pela orientação e conselhos se mostram naturais, pois as conexões humanas, especialmente quando lidamos com situações de crises, podem trazer uma qualidade terapêutica, ajudando a nos sentirmos menos sozinhos em cenários dessa natureza.
"'The Pass', basicamente, traz uma declaração bem geral que afirma que desistir não é algo nobre", explica Peart. "Não quis abordar a ideia especifica de um suicídio ou algo do tipo. Era apenas sobre o aceitar dos fracassos, (...) sobre como você lida com as derrotas - se você se levanta e tenta novamente ao invés de dizer, 'Oh, falhei, então desisti!'. Essa foi a essência da canção. Acho que, para mim, o assunto tende a ser sobre a vida e como lidar com ela ao invés da morte. Sim, a mortalidade é algo que me intriga, como exposto em canções como 'Losing It' e 'Afterimage'. Porém, essas canções foram respostas para outras pessoas mais do que qualquer coisa em mim. São composições do início dos anos 80, quando os tempos econômicos não eram muito diferentes do que temos hoje. Eu via meus amigos com muitas dificuldades em seus relacionamentos, e eu não podia deixar de responder a essas coisas. Não podia simplesmente dizer, 'Bem, minha vida está OK, estou feliz'. Tinha que me preocupar aqueles que estavam ao meu redor, tanto com as pessoas que eu conhecia quanto com os outros que não conhecia no mundo".
Conforme declarado pelo próprio letrista sobre "The Pass", é interessante avaliar o termo desmistificar, que significa encerrar o mito, lenda ou mistério sobre algum assunto, passando apenas para a observação dos fatos. A frase final de "The Pass", "Christ, what have you done?" ["Cristo, o que você fez?"], sem dúvidas, expressa uma reação de espanto pela possibilidade da atitude drástica tomada pelo personagem ao término da canção. Porém, a utilização da palavra Cristo nesse contexto pode abarcar também uma referência à própria vida e morte de Jesus, que se sacrificou pelos homens. Como o exemplo de mártir mais conhecido da história, a linha ajudaria a complementar o conselho sincero, aberto e enfático de Peart: não há nada de glorioso em sofrer ou se matar.
Ao lado das faixas "Show Don't Tell" e "Superconductor", um vídeo clipe também foi produzido para "The Pass" - talvez um dos melhores trabalhos já criados pela banda nesse formato. Um dos fatos mais interessantes é que as imagens dos integrantes presentes no encarte de Presto foram realizadas na ocasião dessa produção. Segundo o fotografo Andrew Macnaughtan (1964 - 2012), é sempre muito difícil conseguir imagens dos três músicos reunidos em um só lugar, devido a estarem geralmente muito ocupados e por não se sentirem confortáveis em fotografias. Nesse caso, segundo Macnaughtan, um dos melhores momentos para a realização desse tipo de material é durante a gravação de um vídeo, onde a banda estará junta por um longo tempo executando suas funções. O Rush trabalhava pela primeira vez com a gravadora Atlantic, e era importante a produção de imagens que celebrassem o primeiro grande momento com a nova parceria.
O vídeo para "The Pass" é bastante obscuro e descritivo. Totalmente em preto e branco, ele mostra um adolescente vagando melancólico por sua escola e à beira da queda. Emergindo das sombras, o nobre guerreiro se dirige ao telhado do prédio, jogando sua mochila e fones de ouvido do alto e olhando para baixo pela última vez. Ainda há tempo de voltar atrás, mas ele é o único que pode tomar a decisão - o final (ou o recomeço) estão em suas mãos. Essa última informação visual pode fornecer uma sugestão positiva: muitos jovens se sentem dessa mesma forma por todos os lugares, mas nem todos dão o último passo.
Uma das inspirações literárias presentes em "The Pass" é a obra O Leque de Lady Windermere ["Lady Windermere's Fan], uma comédia de costumes concebida em 1892 pelo famoso escritor irlandês Oscar Wilde (1854 - 1900), um dos autores favoritos de Peart. A frase original "We are all in the gutter, but some of us are looking at the stars" ["Estamos todos na sarjeta, mas um de nós está olhando para as estrelas"] inspirou Peart a escrever um trecho similar na composição: "All of us get lost in the darkness, dreamers learn to steer by the stars" ["Todos nós nos perdemos na escuridão, sonhadores aprendem a se orientar pelas estrelas "]. Novamente, o letrista defende o poder dos sonhos como um importante mecanismo de transformação das pessoas, representando o verdadeiro fôlego da vida.
Neil Peart consegue conceber, ao lado de Geddy Lee e Alex Lifeson, uma das composições mais gratificantes do rock, que leva o ouvinte a pensar se a decisão pela desistência é realmente a mais acertada, em vez de permanecer lutando por seus ideais. Definitivamente, o letrista não acredita que o suicídio seja um ato nobre, pois o guerreiro que morre com honra acaba geralmente deixando para trás pessoas totalmente devastadas por sua morte.
"Sempre me emociono quando toco essa canção. Não somente pelo que expressa na letra, mas porque é muito bem trabalhada. É uma de nossas melhores", diz Peart.
"Quando olho de volta para Presto e vejo 'The Pass', reconheço que é uma das minhas favoritas dentre todas que já fizemos. Para mim, como compositor, é uma canção inovadora que apenas fluiu em mim", afirma Geddy.
© 2015 Rush Fã-Clube Brasil
BERTI, J. BOWMAN, D. "Rush and Philosophy: Heart and Mind United (Popular Culture and Philosophy)". Open Court. May 10, 2011.
MILKOWSKI, B. "Rush In Revolution". Guitar World. March 1990.
COBURN, B. "Neil Peart On Rockline For Roll The Bones". Rockline. December 2, 1991.
HENDERSON, P. "The Diceman Cometh". Kerrang! Nº 359. September 21, 1991.
COBURN, B. "Alex Lifeson And Geddy Lee On Rockline For Presto". Rockline. April 30, 1990.
MACK, B. "Confessions Of A Rush Fan: Bob Mack Justifies His Love For Canada's Prog-Rock Pariahs". Spin. March 1992.
WILDING, P. "The Masters Of Prog Return! Closer To Their Art". Classic Rock, October 2004.
"The Pass" é a terceira canção do álbum Presto. Trata-se, certamente, de uma das maiores e mais marcantes composições já realizadas pelo power-trio em toda a carreira. Uma peça forte, sincera, intensa e comovente, que se desenvolve com base no tema da triste e preocupante incidência de suicídios entre adolescentes.
"'The Pass' veio muito rapidamente, conforme ocorreu com 'The Twilight Zone' e 'Vital Signs'", explica Alex Lifeson.
"Geralmente, temos uma ou duas músicas que acabam sendo escritas bem no calor do momento no estúdio", diz Geddy Lee. "Foi assim com 'New World Man'. "Em 'The Pass', a letra era tão forte que a melodia veio rapidamente, com eu e Alex definindo a música totalmente torno dela. Algumas canções se encaixam perfeitamente, com tudo sendo feito a partir da letra".
Sendo um dos mais belos exemplos de canção tocante e emocional produzidos pelo Rush, os integrantes da banda, em várias ocasiões, declararam "The Pass" como uma das melhores peças já produzidas em toda sua trajetória - uma das preferidas deles. Sua belíssima combinação entre letra e música é, certamente, um dos pontos mais altos do álbum, onde Lee, Lifeson e Peart conseguem expor com maestria um assunto delicado em uma composição carregada de sentimentos, com cada passagem e imagem proposta provocando reflexões profundas. A música se mantém crescente emocionalmente, utilizando texturas discretas e ritmos metódicos, mostrando refrões notavelmente orquestrados que incluem vocais de fundo e alguns elementos sintetizados. Novamente, um belíssimo solo de guitarra idealizado por Lifeson estimula ainda mais a imaginação do ouvinte.
"'The Pass' é uma das melhores canções que já compomos", afirma Geddy. "Eu adoro essa música, pois há algo muito diferente em sua atmosfera e na natureza da letra. É uma das melhores composições de Neil, e acho que ela sempre será atual. A canção trata de uma questão muito difícil, o suicídio entre adolescentes, porém de forma positiva. Ela sempre fica comigo, adoro tocá-la e cantá-la. Acho que traduz um daqueles nossos momentos de grande realização como compositores. Os fãs nos veem de maneiras muito diferentes. A maioria deles olha para nós somente como músicos, mas, de dentro para fora, quando olho para trás, considero os momentos em que avançamos como compositores como as nossas verdadeiras vitórias, quando fomos capazes de abordar satisfatoriamente algum ponto de vista que era novo em nossa música. 'The Pass' é um desses momentos".
"The Pass" é um nítido exemplo da busca por mais melodia que permeia Presto. Segundo Geddy, Peart começava a compor procurando maior ênfase nas frases vocais, em comparação aos álbuns anteriores do Rush. "Sentimos que nunca demos uma oportunidade verdadeiramente justa aos vocais, pois sobrecarregávamos os mesmos com frases desajeitadas e linhas muito longas", reconhece o baixista. "Portanto, concordamos dessa vez em tentar que tudo estivesse servindo à melodia vocal. Devido à isso, esse disco é muito mais melódico como um todo, e não apenas nos vocais. Se ficássemos felizes com a direção das melodias, mas ainda assim houvesse alguns tropeços com relação às letras, então mudaríamos para qualquer coisa que soasse melhor, para que as mesmas rolassem mais facilmente ao saltar da boca".
"Porém, há certas canções como 'The Pass' nas quais sentia que era mais importante manter a letra original intacta, construindo uma afirmação musical nascida a partir da mensagem da música. Em um caso como esse, tenho que pensar muito antes de compor uma simples nota, realmente mergulhando na canção. Já que o meu dever é cantar as letras de Neil, preciso sentir algum tipo de relação com o que ele está falando - preciso pensar em como ficará em um show, a fim de torná-la acreditável para mim mesmo e para o ouvinte. Portanto, sempre há muita conversa sobre o assunto de cada canção, antes de começarmos a compor melodias".
"Cada um de nós tem o seu ponto forte", continua. "Funciona nos dois sentidos e é como um quebra-cabeça. Às vezes, Alex e eu preferimos não compor com antecedência. Uma canção como 'The Pass' precisava ser escrita a partir da letra, a qual utilizaríamos como uma espécie de script".
"Acho que, nos primeiros anos, todos nós queríamos ter algo a dizer sobre o que o outro fazia. E, consequentemente, nos tornamos muito possessivos sobre os nossos papeis. É natural. Agora, no entanto, há muito mais confiança e segurança em tudo o que fazemos, seja nas relações de uns com os outros e com nós mesmos. Sabemos que todos temos funções que fazemos melhor".
Similar ao ocorrido em Grace Under Pressure (1984), a motivação do tema em "The Pass" nasceu de uma preocupação cotidiana: a incidência de suicídios entre os jovens, principalmente adolescentes. Após uma discussão com um dos seus parceiros em viagens de bicicleta, Neil Peart começou a pensar profundamente sobre o assunto, decidindo escrever uma canção que envolvesse a figura de um adolescente fortemente deprimido e que cogita o suicídio. É notável que os três integrantes sempre se mostraram preocupados com as dificuldades e dramas dessa faixa da vida, inclusive já abordando o objeto em composições anteriores como "Subdivisions" e "The Analog Kid" (de Signals, 1982). "Há um amigo de Neil que sai com ele em passeios de bicicleta, e eles acabaram entrando em uma discussão sobre o suicídio na juventude", explica Alex. "Foi a inspiração para 'The Pass'. O suicídio é uma maneira terrível de tentar resolver um problema - nenhum problema é tão grande para você tomar essa rota. A adolescência é a parte mais estressante da vida, e acho que essa é a mais poderosa letra já escrita por Neil. Ela se desencadeou em nós de forma muito emocional. Finalizamos a mesma na manhã do dia seguinte, sendo uma daquelas coisas especiais que apenas fluem em nós".
"Os anos da adolescência são muito turbulentos. Há sempre muita coisa acontecendo em nossas vidas nesses momentos", conclui o guitarrista.
"(...) Para esse álbum, acho que não houve qualquer tipo de grande projeto premeditado", explica Geddy. "Tivemos uma série de canções, como 'The Pass' por exemplo, que acredito que tragam assuntos muito atuais, pois sempre os vemos nos jornais. Acho que esse fato acabou inspirando alguns dos nossos pontos de vista para esse disco, basicamente se mantendo sobre os eventos atuais".
"Há muito tempo buscava abordar esse assunto em uma canção", lembra Peart. "Havia muitas coisas que eu queria visitar, sendo, provavelmente, uma das letras mais difíceis que já escrevi. Passei muito tempo com ela, entre várias pesquisas e refinamentos. (...) Sentia-me preocupado com a incidência dos suicídios entre adolescentes, mas não desejava assumir uma posição clássica de 'A vida não é tão ruim. É digna de ser vivida'. Dessa forma, trabalhei duro para encontrar histórias verdadeiras, buscando ajuda de universitários do Instituto de Tecnologia de Massachusetts por exemplo, coletando histórias de pessoas que eles conheceram que deram esse passo desesperado, buscando entender o que elas sentiam e porque terminaram com suas próprias vidas. Realizei algumas reuniões muito difíceis, na tentativa de compreender algo que para mim era totalmente incompreensível. Na verdade, eu buscava desmistificar - tirar a nobreza que um suicídio pudesse trazer - quando finge se traduzir em um fim heroico. Um suicídio não é um triunfo, mas sim uma tragédia. Uma tragédia pessoal para quem comete, porém muito mais trágica para aqueles que são deixados para trás. Ficava de certa forma ofendido com os tipos de valores milenares de samurais sendo constantemente ligados a isso, como se tivéssemos os mesmos tipos de guerreiros aqui".
O título da canção, "O Desfiladeiro", (ou "Cânion") refere-se a uma profunda ravina entre montanhas, formada por paredes abruptas em forma de penhascos geralmente escavadas por um rio. Além disso, pode significar também uma permissão de acesso a uma área especial. Dessa forma, mesmo pensando sobre a glorificação da resistência e da raiva notada principalmente entre os jovens - onde os rebeldes sem causa são muitas vezes vistos como figuras emocionantes e românticas - Peart busca expressar, principalmente, pensamentos sobre os difíceis caminhos que precisamos trilhar para transpor obstáculos. Em situações completamente tomadas pela emoção, as barreiras podem nos parecer esmagadoras, mas é possível que a opção pela racionalidade nos revele outras vias para as melhores decisões. O baterista do Rush é um apaixonado pela vida, e todos os integrantes sempre se mostraram muito felizes, cuidadosos e preocupados com suas famílias. Assim, dificilmente considerariam o suicídio como alternativa em sua arte. Indo além, o letrista constrói a composição não somente como um esboço frio do fato em si, mas como uma alavanca para exaltar, novamente, os benefícios do equilíbrio e do potencial humano na superação de dificuldades.
Em "The Pass", Peart se esforça para desmistificar o suicídio entre adolescentes, lembrando o que fez em "Limelight" (de Moving Pictures, 1981), quando buscou denunciar os transtornos da fama, e em "Manhattan Project" (de Power Windows, 1985), onde propôs um olhar diferenciado sobre as armas nucleares. Na terceira faixa de Presto, o baterista reconhece que a vida, inevitavelmente, acarreta períodos de dificuldades e dores nas mais variadas conjunturas, mas compreende a mesma como uma verdadeira jornada constituída por inúmeros pontos de escolha e decisões. Enquanto o fim do personagem da canção parece óbvio, a letra, ainda assim, oferece a esperança sobre aqueles que optam por lutar, apesar dos problemas e contratempos marcantes em nossa trajetória. Temos a certeza de que muitos incidentes irão surgir, mas sempre valerá mais a pena viver e não desistir. Ao que tudo indica, o personagem da canção foi sacrificado, a fim de que pudéssemos refletir mantendo nossa chama acesa.
Conforme sempre defendeu, Peart reafirma que a vida é nossa maior preciosidade, e que o desenvolvimento da mesma está diretamente ligado à nossa capacidade de determinação. Em "The Pass", ele exalta mais uma vez a força do espírito humano, ideal jamais abordado pelo prisma da desistência mais profunda e devastadora em canções do Rush. Livros, palavras, conselhos e proximidade podem prover consolo e conforto em momentos de difíceis, mas a verdadeira mudança e decisão nascem no indivíduo. O narrador (no caso Geddy) é a voz da razão na letra, expondo uma perspectiva parental preocupada que apela para que o jovem (ou filho) vire-se para encarar suas dificuldades, pensando em todas as opções e tentativas disponíveis ao invés de decidir por terminar com sua própria vida, a fonte das possíveis soluções.
"Quando estava escrevendo 'The Pass', alguns garotos me disseram que pessoas se tornam verdadeiramente suicidas ao ouvir Pink Floyd", diz Neil. "Já o Rush é visto como um tipo de música de esperança".
Em "The Pass", há o reforço da responsabilidade das escolhas e ações recaindo sobre o indivíduo. Na canção, Peart leva seu personagem para estrada em solidão, a fim de procurar compreender as circunstâncias impostas. Os motivos que conduzem o jovem a pensar no suicídio são expressados em trechos como "Nothing's what you thought it would be" ["Nada é o que você achou que seria"] e "Electrical storm in your veins" ["Tempestade de raios em suas veias"], resultado de um desiquilíbrio emocional. De qualquer forma, o narrador segue tentando acalmar jovem, exortando-o a lutar e assegurando que o mesmo não está sozinho. Além disso, ele tenta convencê-lo de que sua ideia não é, definitivamente, uma boa escolha.
A canção é compreensiva com a situação do adolescente, onde Lee, como o vocalista, reconhece que todos nós atravessamos períodos muitos difíceis na vida, mas que temos sido emocionalmente fortes para enfrentá-los. Reflexões ponderadas sobre solidão, vazio, depressão ou isolamento, especialmente quando nossa base emocional se encontra abalada, podem ser irrealizáveis. Porém, em estágios de menor gravidade, a busca pela orientação e conselhos se mostram naturais, pois as conexões humanas, especialmente quando lidamos com situações de crises, podem trazer uma qualidade terapêutica, ajudando a nos sentirmos menos sozinhos em cenários dessa natureza.
"'The Pass', basicamente, traz uma declaração bem geral que afirma que desistir não é algo nobre", explica Peart. "Não quis abordar a ideia especifica de um suicídio ou algo do tipo. Era apenas sobre o aceitar dos fracassos, (...) sobre como você lida com as derrotas - se você se levanta e tenta novamente ao invés de dizer, 'Oh, falhei, então desisti!'. Essa foi a essência da canção. Acho que, para mim, o assunto tende a ser sobre a vida e como lidar com ela ao invés da morte. Sim, a mortalidade é algo que me intriga, como exposto em canções como 'Losing It' e 'Afterimage'. Porém, essas canções foram respostas para outras pessoas mais do que qualquer coisa em mim. São composições do início dos anos 80, quando os tempos econômicos não eram muito diferentes do que temos hoje. Eu via meus amigos com muitas dificuldades em seus relacionamentos, e eu não podia deixar de responder a essas coisas. Não podia simplesmente dizer, 'Bem, minha vida está OK, estou feliz'. Tinha que me preocupar aqueles que estavam ao meu redor, tanto com as pessoas que eu conhecia quanto com os outros que não conhecia no mundo".
Conforme declarado pelo próprio letrista sobre "The Pass", é interessante avaliar o termo desmistificar, que significa encerrar o mito, lenda ou mistério sobre algum assunto, passando apenas para a observação dos fatos. A frase final de "The Pass", "Christ, what have you done?" ["Cristo, o que você fez?"], sem dúvidas, expressa uma reação de espanto pela possibilidade da atitude drástica tomada pelo personagem ao término da canção. Porém, a utilização da palavra Cristo nesse contexto pode abarcar também uma referência à própria vida e morte de Jesus, que se sacrificou pelos homens. Como o exemplo de mártir mais conhecido da história, a linha ajudaria a complementar o conselho sincero, aberto e enfático de Peart: não há nada de glorioso em sofrer ou se matar.
Ao lado das faixas "Show Don't Tell" e "Superconductor", um vídeo clipe também foi produzido para "The Pass" - talvez um dos melhores trabalhos já criados pela banda nesse formato. Um dos fatos mais interessantes é que as imagens dos integrantes presentes no encarte de Presto foram realizadas na ocasião dessa produção. Segundo o fotografo Andrew Macnaughtan (1964 - 2012), é sempre muito difícil conseguir imagens dos três músicos reunidos em um só lugar, devido a estarem geralmente muito ocupados e por não se sentirem confortáveis em fotografias. Nesse caso, segundo Macnaughtan, um dos melhores momentos para a realização desse tipo de material é durante a gravação de um vídeo, onde a banda estará junta por um longo tempo executando suas funções. O Rush trabalhava pela primeira vez com a gravadora Atlantic, e era importante a produção de imagens que celebrassem o primeiro grande momento com a nova parceria.
O vídeo para "The Pass" é bastante obscuro e descritivo. Totalmente em preto e branco, ele mostra um adolescente vagando melancólico por sua escola e à beira da queda. Emergindo das sombras, o nobre guerreiro se dirige ao telhado do prédio, jogando sua mochila e fones de ouvido do alto e olhando para baixo pela última vez. Ainda há tempo de voltar atrás, mas ele é o único que pode tomar a decisão - o final (ou o recomeço) estão em suas mãos. Essa última informação visual pode fornecer uma sugestão positiva: muitos jovens se sentem dessa mesma forma por todos os lugares, mas nem todos dão o último passo.
Uma das inspirações literárias presentes em "The Pass" é a obra O Leque de Lady Windermere ["Lady Windermere's Fan], uma comédia de costumes concebida em 1892 pelo famoso escritor irlandês Oscar Wilde (1854 - 1900), um dos autores favoritos de Peart. A frase original "We are all in the gutter, but some of us are looking at the stars" ["Estamos todos na sarjeta, mas um de nós está olhando para as estrelas"] inspirou Peart a escrever um trecho similar na composição: "All of us get lost in the darkness, dreamers learn to steer by the stars" ["Todos nós nos perdemos na escuridão, sonhadores aprendem a se orientar pelas estrelas "]. Novamente, o letrista defende o poder dos sonhos como um importante mecanismo de transformação das pessoas, representando o verdadeiro fôlego da vida.
Neil Peart consegue conceber, ao lado de Geddy Lee e Alex Lifeson, uma das composições mais gratificantes do rock, que leva o ouvinte a pensar se a decisão pela desistência é realmente a mais acertada, em vez de permanecer lutando por seus ideais. Definitivamente, o letrista não acredita que o suicídio seja um ato nobre, pois o guerreiro que morre com honra acaba geralmente deixando para trás pessoas totalmente devastadas por sua morte.
"Sempre me emociono quando toco essa canção. Não somente pelo que expressa na letra, mas porque é muito bem trabalhada. É uma de nossas melhores", diz Peart.
"Quando olho de volta para Presto e vejo 'The Pass', reconheço que é uma das minhas favoritas dentre todas que já fizemos. Para mim, como compositor, é uma canção inovadora que apenas fluiu em mim", afirma Geddy.
© 2015 Rush Fã-Clube Brasil
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