THE ANALOG KID



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THE ANALOG KID

A hot and windy August afternoon
Has the trees in constant motion
With a flash of silver leaves
As they're rocking in the breeze

The boy lies in the grass with one blade
Stuck between his teeth
A vague sensation quickens
In his young and restless heart
And a bright and nameless vision
Has him longing to depart

You move me -
You move me -
With your buildings and your eyes
Autumn woods and winter skies
You move me -
You move me -
Open sea and city lights
Busy streets and dizzy heights
You call me -
You call me -

The fawn-eyed girl with sun-browned legs
Dances on the edge of his dream
And her voice rings in his ears
Like the music of the spheres

The boy lies in the grass, unmoving
Staring at the sky
His mother starts to call him
As a hawk goes soaring by
The boy pulls down his baseball cap
And covers up his eyes

Too many hands on my time
Too many feelings -
Too many things on my mind
When I leave I don't know
What I'm hoping to find
When I leave I don't know
What I'm leaving behind...
O GAROTO ANALÓGICO

Uma tarde de agosto quente e com ventos
Tem árvores em movimento constante
Com flashes de folhas prateadas
Enquanto balançam na brisa

O garoto deita na grama com um capim
Preso entre os dentes
Uma vaga sensação se aviva
Em seu jovem e inquieto coração
E uma visão brilhante e desconhecida
O deixa com desejo de partir

Você me emociona -
Você me emociona -
Com seus prédios e seus olhos
Bosques de outono e céus de inverno
Você me emociona -
Você me emociona -
Mar aberto e luzes da cidade
Ruas movimentadas e alturas vertiginosas
Você me chama -
Você me chama -

A menina de olhos castanhos e pernas bronzeadas
Dança à beira do seu sonho
E a voz dela chega aos seus ouvidos
Como a música das esferas

O garoto deita na grama, imóvel
Olhando para o céu
Sua mãe começa a chamá-lo
Como um falcão levantando voo
O garoto puxa seu boné de beisebol para baixo
E cobre seus olhos

Mãos demais no meu tempo
Sentimentos demais -
Coisas demais na minha cabeça
Ao partir não sei
O que espero encontrar
Ao partir não sei
O que deixo pra trás...


Música por Geddy Lee e Alex Lifeson / Letra por Neil Peart


Os sonhos inquietos do amor, da aventura e da independência na adolescência

A segunda canção de Signals é "The Analog Kid", uma construção incrivelmente vibrante na qual Neil Peart continua a abordar algumas das maravilhosas características humanas, voltando o olhar novamente para os anseios inerentes à adolescência. Nessa peça, a banda consegue capturar com maestria o inconfundível espírito da juventude.

Em janeiro de 1982, os integrantes do Rush encontravam-se de férias nas Ilhas Virgens Britânicas, cenário do borbulhar das ideias que dariam vida a "The Analog Kid".

"Na noite em que ancoramos na ilha Virgem Gorda, Geddy e eu descemos após o jantar e mostrei pra ele um trabalho que havia feito. Escrevi 'The Analog Kid' como uma peça de acompanhamento para 'Digital Man', essa que foi feita no último outono no Le Studio. Ele gostou - discutimos como tratá-la musicalmente, de modos variados. Como fazemos às vezes, achamos interessante seguir um caminho diferente do que a letra sugere, fazendo um rock bem rápido com um contraste dinâmico para o refrão. (...) Ele me falou sobre o que gostou e o que não gostou, dando algumas dicas sobre o que melhorar. Finalizamos o papo e voltamos para as nossas férias".

"The Analog kid" traz uma execução firme e ágil em 4/4, onde se destacam principalmente os incríveis riffs de guitarra (aqui com mais proeminência que nas demais canções do disco) e o incrível solo de Alex Lifeson, além de um forte imaginário. A estrutura impetuosa dos versos cede lugar a uma pegada mais suave durante os refrões, com camadas de sintetizadores emulando um belo coro de vozes que desenham uma tocante atmosfera onírica. A letra poética reforça o tema central de Signals: como em "Vital Signs", peça que fecha o anterior Moving Pictures (1981), Peart faz uso da tecnologia para tratar de peculiaridades da natureza humana. Nessa canção, o baterista se apropria das características dos chamados sinais analógicos, a fim de exemplificar as infinitas variações e sentimentos confusos que compõem a época da adolescência. Os sinais analógicos podem variar infinitamente dentro de uma faixa de valores, podendo sofrer oscilações ou interferências, diferentemente do sinal digital, que assume apenas dois valores - mantendo-se praticamente constante. Nesse caso, pode-se dizer que os sinais analógicos representam uma tecnologia mais antiga, que por si só evoca uma época mais inocente, quando os integrantes da banda eram apenas adolescentes em um mundo menos técnico.

"É sobre aquela época da vida em que você se sente facilmente inspirado e ambicioso, essa que geralmente coincide com a adolescência", explica Geddy Lee. "Quando você está se descobrindo, descobrindo a música e a arte, tudo te emociona em um grau imenso".

Funcionando como uma espécie de sequência temática para a anterior "Subdivisions" (que protagoniza um garoto oprimido dos subúrbios que sonha com voos mais altos), recebemos em "The Analog Kid" outra dramatização em torno dos anseios de fuga desses locais. O personagem aqui fantasia a vida em ruas urbanas movimentadas, com árvores no outono e céus de inverno, inclusive associando essas imagens à representação de uma jovem incrivelmente sedutora. Na verdade, ele está confuso por sua inexperiência, não sabendo afirmar o que irá encontrar nessa nova vida e tão pouco o que deixará para trás. Peart assinala "The Analog Kid" como sua primeira tentativa de não-ficção, afirmando ter alcançado nesse momento a confiança e técnica suficientes para sair dos personagens, ao invés estar deles. Sem dúvidas, a construção expõe a natureza das próprias inquietações sentidas por Geddy, Alex e Neil, que ingressaram na vida artística ainda muito jovens, ganhando o mundo com sua arte.

"Acho que todos os músicos jovens podem se relacionar com essa canção", diz Geddy. "Você tem esse sonho, mas não sabe de fato o ele que significa. Você parte para essa meta de olhos fechados, com o coração bem aberto, e deixa que as coisas aconteçam. Acho que nenhum de nós percebeu o quão longe o Rush iria, e acho que não gostamos de pensar sobre isso também".

"'The Analog Kid' foi minha primeira tentativa de não-ficção"
, explica Peart. "Durante muito tempo, entrei em personagens até que tivesse confiança e técnica suficientes para sair deles como um escritor".

Os sonhos do jovem são dissipados por interferências mundanas, representadas pelo chamado de sua mãe, idealizada na canção como um "falcão levantando voo". O jovem "puxa seu boné de beisebol para baixo, cobrindo seus olhos", atitude que caracteriza uma volta à realidade. Há aqui a experimentação da sobrecarga, um choque de sinais - a confusão. Qual das vozes ele deve dar ouvidos: a da bela jovem que dança em seu devaneio ou a da sua mãe? Ele deve seguir a voz do coração ou da dominação? O jovem sairá de casa mas, o que irá encontrar? A composição permite que a letra permaneça em aberto, o que indica um tipo de retomada à "Subdivisions": "The Analog Kid" materializa os sonhos e a inquietude dos jovens, mas também os locais mais tranquilos e inocentes que se conservam nas memórias dos adultos. O trecho final da primeira faixa mostra o personagem oprimido pelas exigências da maturidade, este que procura refúgio através das recordações dos velhos tempos. Quem sabe suas lembranças não tragam seu eu jovem, deitado na grama e sonhando com o futuro repleto de horizontes promissores?

"Com 'The Analog Kid', estou olhando para um período da vida que todas as pessoas experimentam", explica Peart. "Estou olhando para a inquietude juvenil, para o descontentamento adolescente e as diferentes maneiras com as quais as pessoas lidam com isso. A canção olha para uma pessoa que está em vias de escolha, olha também sobre o que acontece depois das escolhas que você tanto idealizou. Novamente, olho para as pessoas que conheço e com as quais cresci, e algumas delas simplesmente esquecem esse sentimento de inquietude, dizendo 'Sinto que tenho que partir', e indo. Foi assim comigo. Apenas disse, 'Sinto-me inquieto, sinto que quero fazer algo', e fiz".

"Todo mundo experimenta isso na adolescência, é um momento muito doloroso e difícil da vida. Todos experimentam o descontentamento. Algumas pessoas optam por tomar o caminho mais seguro, dizendo 'Não, não importa, vou para a faculdade para ser um contador', ou 'Só quero conseguir um emprego em uma fábrica'. Eles tomam o caminho mais seguro, o caminho mais fácil, se casam aos dezesseis e começam a pagar por um carro e coisas do tipo. Eles examinam o período antes de fazer a escolha. Na canção, o personagem examina o que são, para mim, os sentimentos importantes dessa época, e também a sensibilidade desse tempo; o que te move. Eu me lembro desse momento, de quão sensível eu estava com a natureza das cidades e das pessoas, a coisa toda. Basicamente, foi isso o que tentei capturar"
.

É possível que a ideia central de "The Analog Kid" possa ter sido inspirada no poema "Jonathan Houghton", escrito em 1914 pelo advogado e poeta norte-americano Edgar Lee Masters (1868-1950). Na obra, consta o trecho: "E um menino está deitado na grama, próximo aos pés do homem velho. E olha para as nuvens navegantes, e deseja e anseia, e anseia. O que, ele não sabe". A obra termina com o garoto mais velho retornando ao local onde cresceu, encontrando tudo mais desenvolvido e movimentado e desejando ter de volta o lugar como costumava ser.

A canção "Too Much Time on My Hands", terceira faixa do disco Paradise Theater (1981), da banda norte-americana Styx, inspirou uma frase "Too many hands on my time" no trecho final de "The Analog Kid".

"'Too many hands on my time' vem, acima de tudo, de uma canção do Styx, fazendo referência a 'too much time on my hands'", explica Peart. "Apenas inverti. Aí está - uma canção do Rush inspirada diretamente pelo Styx! A verdade veio!".

O trecho "The fawn-eyed girl with sun-browned legs" ["A garota de olhos castanhos, com pernas bronzeadas"] foi baseado em uma jovem de Beach City, Ohio (EUA) que o baterista conheceu enquanto acampava com sua família em Montreal, Canadá, no verão de 1967. Neil se apaixonou por ela.

"No verão anterior ao meu aniversário de quinze anos, acampei com minha família nos arredores de Montreal, onde visitaríamos a World's Fair Expo '67. Conheci uma garota de Ohio no acampamento. O pai dela vigiava bastante (avisando a filha que os garotos canadenses tinham 'mãos romanas e dedos russos'). Não chegamos a nos beijar, mas me apaixonei perdidamente. Sempre me lembro dela ('A garota de olhos castanhos, com pernas bronzeadas')".

"Lembro-me de ficar sentado nos degraus da minha casa esperando o carteiro e, quando as cartas dela pararam de chegar, fiquei arrasado. Talvez o pai tenha exigido que parasse de escrever para mim. Em qualquer caso, sempre me lembrava dela".


Sobre o termo "Música das Esferas" utilizado por Peart, o Pai da Geometria, Pitágoras, ensinava que os movimentos dos corpos celestes que viajam através do universo criam sons, aos quais chamava de Música das Esferas. O astrônomo alemão Johannes Kepler (1571-1630) acabou aprimorando o conceito, utilizando a matemática para desenvolver as leis que regem os movimentos dos astros. Kepler descobriu que os planetas fazem um traçado elíptico e não redondo ao redor do Sol. Assim, calculou o ponto mais próximo da rota de cada um em relação ao Sol (periélio) e, depois, o ponto mais distante (afélio). Analisando o tempo que cada planeta leva para dar uma volta ao redor da estrela central (a Terra, por exemplo, leva 365 dias), Kepler transpôs proporcionalmente as medidas dessas órbitas em frequências, encontrando assim tons e intervalos musicais. Ou seja, teoricamente, Júpiter, Vênus, Saturno e outros planetas produzem suas próprias melodias. Apesar de ser um conceito abstrato, a matemática torna a Música das Esferas um fato.

A capa de Signals, criada pelo artista gráfico Hugh Syme, mostra um dálmata farejando um hidrante vermelho. O terminal hidráulico implica serviços de combate a incêndios em um nível, mas para o cão ele representa necessidades fisiológicas - os sinais emitidos pelo hidrante ao cachorro o levam a urinar nele. O gramado muito bem cuidado pode refletir um local tranquilo dos subúrbios. Já o verso da capa mostra um projeto residencial fictício de subdivisões com nomes relacionados ao Rush, como Olde Dirk Road, Lerxstwood Mall e uma empresa chamada Pratt Associates (baseados nos apelidos de banda de Lee Lifeson e Peart, respectivamente). O trabalho gráfico ainda inclui uma brincadeira com o beisebol, a Line Drive, baseada no apreço de Geddy por esse esporte.

"Acho que Signals tem mais a ver com escrever sobre pessoas e menos sobre ideais", diz Peart. "Eu estava tentando produzir símbolos sobre pessoas, e conflitos reais da vida de pessoas reais".

Signals diz respeito a vários tipos de comunicação - uma notável mudança filosófica da banda. "The Analog Kid", ao lado de "Subdivisions", provocam, acima de tudo, uma resposta de identificação cultural para os jovens e adolescentes, articulando a agitação emocional fervilhante dos subúrbios com precisão penetrante.

© 2015 Rush Fã-Clube Brasil

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