VOLTAR PARA "PRESTO"
VOLTAR PARA DISCOGRAFIA
VOLTAR PARA LETRAS E RESENHAS
PRESTO SUPERCONDUCTOR ANAGRAM (for Mongo)
SUPERCONDUCTOR
packaged like a rebel or a hero
target mass appeal
to make an audience feel
he really means it
package the illusion of persona
careful to conceal
the fact that she's only too real
she's got to screen it
hit you in a soft place
a melody so sweet
a strong and simple beat
that you can dance to
Watch his every move
SUPERCONDUCTOR
Orchestrate illusions
SUPERCONDUCTOR
Watch his every move
SUPERCONDUCTOR
Hoping you'll believe
Designing to deceive
That's entertainment
he can put a target on the market
bask in your applause
reality withdraws
now he believes it
the role becomes the actor
she's addicted to applause
the stage a world because
she never leaves it
hit you in a soft place
with sentimental ease
they know the fantasies
that you romance to
Watch her every move
SUPERCONDUCTOR
She can manipulate reactions
SUPERCONDUCTOR
Watch her every move
SUPERCONDUCTOR
Pin the donkeys on her tail
Fantasy for sale
That's entertainment...
packaged like a rebel or a hero
target mass appeal
to make an audience feel
he really means it
package the illusion of persona
careful to conceal
the fact that she's only too real
she's got to screen it
hit you in a soft place
a melody so sweet
a strong and simple beat
that you can dance to
Watch his every move
SUPERCONDUCTOR
Orchestrate illusions
SUPERCONDUCTOR
Watch his every move
SUPERCONDUCTOR
Hoping you'll believe
Designing to deceive
That's entertainment
he can put a target on the market
bask in your applause
reality withdraws
now he believes it
the role becomes the actor
she's addicted to applause
the stage a world because
she never leaves it
hit you in a soft place
with sentimental ease
they know the fantasies
that you romance to
Watch her every move
SUPERCONDUCTOR
She can manipulate reactions
SUPERCONDUCTOR
Watch her every move
SUPERCONDUCTOR
Pin the donkeys on her tail
Fantasy for sale
That's entertainment...
SUPERCONDUTOR
embalado como um rebelde ou um herói
mira o apelo às massas
para fazer a sensação de um público
é isso o que ele realmente significa
embale a ilusão do personagem
tenha cuidado em ocultar
o fato de que ela é bem real
ela tem que esconder isso
te atingem em um ponto fraco
uma melodia tão doce
uma batida forte e simples
a qual você pode dançar
Assista a todos os movimentos dele
SUPERCONDUTOR
Orquestre ilusões
SUPERCONDUTOR
Assista a todos os movimentos dele
SUPERCONDUTOR
Esperando que você acredite
Destinado a enganar
Isso é entretenimento
ele pode colocar um alvo no mercado
se deleitar com seu aplauso
a realidade se retira
agora ele acredita nisso
o papel se torna o ator
ela é viciada em aplausos
o palco um mundo pois
ela nunca o deixa
te atingem em um ponto fraco
com afago sentimental
eles conhecem as fantasias
que você romantiza
Assista a todos os movimentos dela
SUPERCONDUTOR
Ela pode manipular reações
SUPERCONDUTOR
Assista a todos os movimentos dela
SUPERCONDUTOR
Espete os burros na cauda dela
Fantasia à venda
Isso é entretenimento...
embalado como um rebelde ou um herói
mira o apelo às massas
para fazer a sensação de um público
é isso o que ele realmente significa
embale a ilusão do personagem
tenha cuidado em ocultar
o fato de que ela é bem real
ela tem que esconder isso
te atingem em um ponto fraco
uma melodia tão doce
uma batida forte e simples
a qual você pode dançar
Assista a todos os movimentos dele
SUPERCONDUTOR
Orquestre ilusões
SUPERCONDUTOR
Assista a todos os movimentos dele
SUPERCONDUTOR
Esperando que você acredite
Destinado a enganar
Isso é entretenimento
ele pode colocar um alvo no mercado
se deleitar com seu aplauso
a realidade se retira
agora ele acredita nisso
o papel se torna o ator
ela é viciada em aplausos
o palco um mundo pois
ela nunca o deixa
te atingem em um ponto fraco
com afago sentimental
eles conhecem as fantasias
que você romantiza
Assista a todos os movimentos dela
SUPERCONDUTOR
Ela pode manipular reações
SUPERCONDUTOR
Assista a todos os movimentos dela
SUPERCONDUTOR
Espete os burros na cauda dela
Fantasia à venda
Isso é entretenimento...
As ilusões que sustentam a indústria do entretenimento
"Superconductor" é a sétima faixa de Presto. Uma peça forte, direta e de energia constante, constituída por tomadas instrumentais intencionalmente positivas e acessíveis a fim de expressar uma crítica satírica e afiada à indústria do entretenimento.
Geddy Lee, Alex Lifeson e Neil Peart concebem uma canção rock com belas e essenciais performances de baixo, guitarra e bateria, numa junção que dosa simplicidade e técnicas bastante apuradas. Perseguindo a proposta de oferecerem outro trabalho que capture a imaginação do ouvinte pelo som, o trio traz dessa vez pontuações irônicas sobre a efemeridade da cultura pop, conseguindo destilar uma ótima peça rica em observações sobre aspectos da sociedade ocidental. A investida parece trazer uma declaração intrínseca: é possível criar obras direcionadas às massas, porém com profundidade. Mas, será que essa é realmente a intenção da indústria?
"Um dos trocadilhos dessa canção está no instrumental apresentado no trecho médio, uma batida pop do Oeste Africano que eu ouvia constantemente quando estive por lá", diz Peart. "Foi mapeada a partir de um solo de cordas, com Geddy trabalhando em um padrão de baixo quase ska sobre elas. Um casamento de elementos díspares, algo que definitivamente aprendemos fazer ao longo dos anos".
"As mudanças de compasso ainda estão presentes, mesmo não havendo muitas", afirma Geddy. "Acho que as transições estão muito mais sutis agora - podemos utilizar as mesmas sem parecerem estranhas. É engraçado ouvir as pessoas reagindo a uma canção como 'Superconductor'. Todos os versos estão dela em sete, mas não parecem. Estamos tão confortáveis com alguns desses compassos que podemos cair neles totalmente, ou apenas por alguns momentos. Mas, é provável que não ocorra muitos como antes. Acho que não são mais tão óbvios".
"Tentamos não ser muito óbvios nos momentos em que vamos para essas mudanças de compasso. Antes, anunciaríamos musicalmente, 'Aí vem a mudança de tempo e BOOM - é difícil tocar AQUI'. Agora, só nos preocupamos em fazer com que a canção funcione. Se ela soar bem em sete, vamos tocá-la em sete - pelo menos enquanto soe bem. Na verdade, o que ocorreu foi uma mudança de prioridade".
"Ainda penso nisso como uma vitória pessoal, quando uma canção é apontada como algo que as massas podem gostar, e na qual sei que há compassos estranhos. É o mesmo quando 'The Spirit of Radio' conseguiu ser tocada nas rádios, anos atrás. Temos alguns trechos em sete lá, e achei isso ótimo. Se você consegue inserir tempos ímpares desses nas rádios, é algo bem legal".
"Sobre o trabalho de tentar conduzir uma música, acredito que o baixista seja obrigado a fornecer bastante propulsão. Às vezes, meu trabalho é a raiz de tudo, quando a bateria não está na base e quando a guitarra está lá em cima. No momento em que as coisas estão bem enraizadas, tento dar um pouco mais de propulsão, um pouco mais de elasticidade me movendo entre as coisas. Um exemplo que me vem imediatamente é 'Superconductor', onde o ritmo é bem feroz e no qual tento manter a base. Não há várias notas diferentes, mas há muitas sendo tocadas. Se eu fosse pago pela pulsação, ficaria rico só com essa música".
Propositalmente, "Superconductor" foi escrita com a intenção de emular peças típicas da música na década de 1980, funcionando como uma crítica direta à indústria da época. Mesmo imersa na sátira, a banda consegue cumprir o desafio equilibrando perfeitamente a composição, trazendo aspectos que, definitivamente, não costumam ser vistos na música pop - mas que representam o inconfundível Rush.
"Eu amo a música pop pura", declara Peart, "quando ela não finge ser outra coisa. Mas há uma certa loucura em torno do pop quando as pessoas adotam a imagem da pretensão. É por isso que há essa linha na canção, que fala sobre a imagem da rebeldia embalada".
Como uma crítica à comercialização dos meios de comunicação e à sua capacidade de homogeneizar e baratear a expressão cultural, a letra de "Superconductor" se mostra muito clara, captando uma essência similar a de "The Spirit of Radio", de Permanent Waves (1980), canção na qual Peart falava sobre os tempos de ouro do rádio e a preocupante intensificação do comércio da arte. A música e o rádio, como a antiga canção apontava, traziam um grande potencial de humanização, mas as prioridades dos agentes e dos lucros acabavam por contrariar tal natureza. Já em "Superconductor" o letrista vai mais além, ponderando sobre o show business como perigosamente manipulador, descrevendo as celebridades pop como verdadeiros "pacotes" voltados para segmentos de mercado, com o objetivo de "orquestrar ilusões" e "manipular reações".
O termo supercondutor refere-se, em síntese, à propriedade física da supercondutividade. Certos materiais, quando resfriados à temperaturas extremamente baixas, tendem a conduzir corrente elétrica sem resistência ou perdas. Peart escolhe o título de maneira brilhante, atrelando-o à relação passiva do espectador com a enxurrada de produtos fabricados pelo entretenimento - o que faz com que recebam, na maioria das vezes, modismos, opiniões e estilos de vida de maneira direta, sem senso crítico e posicionamentos racionais avaliativos.
O tema abordado em "Superconductor" reflete o termo Indústria Cultural como uma possível influência filosófica. Criado pelos sociólogos alemães Theodor Adorno (1903 - 1969) e Max Horkheimer (1895 - 1973), este foi utilizado pela primeira vez em 1947 a fim de designar a situação da arte na sociedade capitalista industrial. Para os dois pensadores, a autonomia e o poder crítico das obras artísticas derivariam de sua oposição à sociedade. No entanto, o valor contestatório das mesmas poderia não mais ser possível, já que provaram ser facilmente assimiláveis e aproveitadas pelo mundo comercial.
Adorno e Horkheimer afirmavam que a máquina capitalista de reprodução e distribuição da cultura estaria apagando aos poucos tanto a arte erudita quanto a arte popular. Isso acontecia porque o valor crítico dessas duas formas artísticas seria neutralizado por não permitir a participação intelectual dos seus espectadores. A arte seria tratada simplesmente como mercadoria, estando sujeita às leis de oferta e procura, forçando uma visão passiva e acrítica do mundo ao dar ao público apenas o que ele deseja, desencorajando o esforço pessoal pela posse de novas experiências (as pessoas procurariam apenas o conhecido, o já experimentado). Por outro lado, essa indústria prejudicaria também a arte contestadora, neutralizando sua crítica à sociedade.
O segmento "the stage a world" ["o palco um mundo"] traz lembranças imediatas da canção "Limelight", de Moving Pictures (1981), na qual Peart oferece a linha "All the world's indeed a stage, and we are merely players" ["O mundo inteiro é de fato um palco, e nós meros atores"]. Baseada na peça teatral "As You Like It" do dramaturgo inglês William Shakespeare (provavelmente escrita em 1599), a obra influenciou também o título do primeiro álbum ao vivo da banda, All The World's a Stage, de 1976.
Citando a base primordial para a ideia da canção, Peart mencionou que "Superconductor" foi concebida como um olhar triste sobre as estrelas do rock que morreram sustentando o mito da rebeldia. "Eu queria que fosse uma declaração sobre as Janis Joplins e os Jimi Hendrixes - as maiores vítimas da maquinaria do estrelato", explica. "Trata-se de uma declaração sobre os manipuladores também - as pessoas que mantém o mito daqueles que têm um estilo de vida selvagem e que conseguem permanecer equilibrados. Elvis Presley era uma imagem falsa - ele foi destruído".
Sobre a boy band mais famosa da época de lançamento de Presto, o New Kids On The Block, Peart diz, "Eles não me ofendem de forma alguma. O material deles é música pop pura. São apenas cinco caras jovens brancos sendo cinco caras jovens brancos. As crianças que ouvem suas músicas não estão sendo enganadas. Elas estão recebendo músicas feitas por pessoas que são praticamente da mesma faixa etária. Tenho uma filha de 12 anos de idade. Então, estou bem doutrinado na New Kids-mania".
"Quando caras como Bon Jovi, Richard Marx e George Michael fingem ser rebeldes e criminosos com suas jaquetas de couro, eles fingem simbolizar a rebelião que os jovens naturalmente sentem. Ao mesmo tempo, não estão lutando ou protestando por nada. São apenas fábricas de grandes fortunas se curvando ao denominador comum".
"Um homem de negócios que esteja dedicado a fazer dinheiro não me incomoda. Não há nada de imoral em conseguir lucro. O que me incomoda é a ilusão, a pretensão e os jovens sendo enganados".
"Ninguém foi especificamente representado nessa canção, embora eu tivesse certamente algumas figuras 'convencionais' do entretenimento em mente".
Um dos elementos mais marcantes não somente em "Superconductor", mas em todo o álbum, é a ironia. "Sou um viciado em ironia", confessa o letrista. "Nesse disco, do ponto de vista lírico, estou seriamente viciado nela".
Os próprios artistas imersos na teia de ilusões das celebridades começam a acreditar em seus "papéis", agindo e vivendo como se fossem seres humanos absurdamente diferenciados e especiais. "Fui tocado antes em canções como 'Limelight', e ainda mais recentemente em 'Superconductor', sobre a natureza da fama e de como isso afeta as pessoas que estão nela. Estive envolvido, claro, nesse mundo por muito tempo, vendo outras pessoas sendo afetadas pela natureza da fama e por esse tipo de endeusamento. Observando que aquilo não era saudável para eles, comecei a pensar, 'Bem, talvez essa ideia de moderno, essa ideia de heroísmo ocidental do século XX não seja tão boa".
"'Superconductor' é sobre a fachada desses grupos - há tantos que não poderia nomear", diz Lifeson. "A indústria da música prospera nas embalagens e na formatação de ideias inúteis e sem sentido que todo denominador comum vai aceitar e desfrutar. O Rush nunca foi um desses 'grupos'".
A canção pensa sobre os ícones pop que são criados visando mercados, orquestrando ilusões e manipulando reações. Como retratado no divertido vídeo para a divulgação de "Superconductor", as empresas de entretenimento sabem quais botões devem apertar para provocar o sentimentalismo e a arrogância pseudo-rebelde. O refrão capta a distração e a mesmice que a cultura de massa engendra, convidando pessoas para que assistam a todos os movimentos das estralas pop, esperando que sejam hipnotizadas por suas vidas excêntricas. Assim, "Superconductor" traz uma crítica à comercialização, à mercantilização e à massificação doentia de algumas formas de arte, notadamente focada na música, nos estilos vazios e em programas de TV. O Rush, claramente, sempre provou ser uma banda de rock que jamais atendeu ao gosto das massas, conseguindo manter intactas a sua integridade e individualidade como artistas ao longo dos anos.
"Todo nosso trabalho anterior a 1980 não provoca apego emocional em mim", diz Peart. "É como um ensaio que você escreveu no nono ano ou fotos suas que sua mãe prende na geladeira. Você tem que crescer com tais coisas. Achei muito irônica uma entrevista que li com Paul McCartney. Ele disse, 'Quando você sair em turnê, não tente apresentar seu novo material. As pessoas não querem ouvir isso'. Ele estava claramente reconhecendo que esperava atrair centenas de milhares de pessoas fazendo todo esse dinheiro do Visa com base em uma turnê nostálgica".
"Isso é a antítese do que eu diria. Se o seu novo material não é o foco do que está fazendo e você não o considera a melhor coisa que já fez, é melhor se tornar um show das antigas e se mandar para Vegas. O sonho acabou".
"Em nossos primeiros dias, nos foram feitas propostas onde a gravadora tentava passar o que achavam que deveríamos estar fazendo. Quando estávamos discutindo sobre fazer um épico que tomaria todo um lado do nosso quarto álbum, 2112, nosso empresário nos disse, 'Não é isso que a gravadora quer'. Mesmo que nossos primeiros três álbuns tenham vendido 'modestos' (sendo generoso) 100.000 exemplares cada, com as bandas jovens devendo ser suscetíveis em agradar as gravadoras, o comentário dele me atingiu como uma pedra. Respondi, 'Quem se importa com o que eles querem?'".
Desde então, essa questão guiou o Rush. "Acima de tudo, estamos preocupados com aquilo que nos deixa animados. Então, por extensão, com o público", conclui.
© 2015 Rush Fã-Clube Brasil
BRITT, B. "Lasting Integrity / Rush's Stubborn Individualism Has Paid Off In The Long Run". Los Angeles Times, April 12, 1990.
PEART, N. "Rush - Roll The Bones". Rush Backstage Club Newsletter. October 1991.
ROBICHEAU, P. "Rush Scissors New Rock Sounds". Boston Globe. May 10, 1990.
STIX , J. "Geddy Lee: Organic". Guitar For The Practicing Musician. June 1990.
ELLIOT, P. "The Magic Circle - With Their New Lp, 'Presto', Rush Have Come Full Circle And Gone Back To Basic Songwriting. Paul Elliott Meets The Trio's Guitarist Alex Lifeson. December 9, 1989.
CONSIDINE, J.D. "Rush Screwing Up Pop-On Purpose". April 1990.
WARDEN, S. "The World Album Premier of 'Counterparts'". Broadcast. October 14, 1993.
McDONALD, Christopher J. "Rush, Rock Music, and the Middle Class: Dreaming in Middletown (Profiles in Popular Music)". Indiana University Press. 2009.
BERTI, J. "Rush and Philosophy: Heart and Mind United (Popular Culture and Philosophy)". Chicago: Open Court, 2011.
RADEL, C. "Rush Drummer: Causeless Rock Rebels Duping Young Fans". Cincinnati Enquirer, June 10, 1990.
"Superconductor" é a sétima faixa de Presto. Uma peça forte, direta e de energia constante, constituída por tomadas instrumentais intencionalmente positivas e acessíveis a fim de expressar uma crítica satírica e afiada à indústria do entretenimento.
Geddy Lee, Alex Lifeson e Neil Peart concebem uma canção rock com belas e essenciais performances de baixo, guitarra e bateria, numa junção que dosa simplicidade e técnicas bastante apuradas. Perseguindo a proposta de oferecerem outro trabalho que capture a imaginação do ouvinte pelo som, o trio traz dessa vez pontuações irônicas sobre a efemeridade da cultura pop, conseguindo destilar uma ótima peça rica em observações sobre aspectos da sociedade ocidental. A investida parece trazer uma declaração intrínseca: é possível criar obras direcionadas às massas, porém com profundidade. Mas, será que essa é realmente a intenção da indústria?
"Um dos trocadilhos dessa canção está no instrumental apresentado no trecho médio, uma batida pop do Oeste Africano que eu ouvia constantemente quando estive por lá", diz Peart. "Foi mapeada a partir de um solo de cordas, com Geddy trabalhando em um padrão de baixo quase ska sobre elas. Um casamento de elementos díspares, algo que definitivamente aprendemos fazer ao longo dos anos".
"As mudanças de compasso ainda estão presentes, mesmo não havendo muitas", afirma Geddy. "Acho que as transições estão muito mais sutis agora - podemos utilizar as mesmas sem parecerem estranhas. É engraçado ouvir as pessoas reagindo a uma canção como 'Superconductor'. Todos os versos estão dela em sete, mas não parecem. Estamos tão confortáveis com alguns desses compassos que podemos cair neles totalmente, ou apenas por alguns momentos. Mas, é provável que não ocorra muitos como antes. Acho que não são mais tão óbvios".
"Tentamos não ser muito óbvios nos momentos em que vamos para essas mudanças de compasso. Antes, anunciaríamos musicalmente, 'Aí vem a mudança de tempo e BOOM - é difícil tocar AQUI'. Agora, só nos preocupamos em fazer com que a canção funcione. Se ela soar bem em sete, vamos tocá-la em sete - pelo menos enquanto soe bem. Na verdade, o que ocorreu foi uma mudança de prioridade".
"Ainda penso nisso como uma vitória pessoal, quando uma canção é apontada como algo que as massas podem gostar, e na qual sei que há compassos estranhos. É o mesmo quando 'The Spirit of Radio' conseguiu ser tocada nas rádios, anos atrás. Temos alguns trechos em sete lá, e achei isso ótimo. Se você consegue inserir tempos ímpares desses nas rádios, é algo bem legal".
"Sobre o trabalho de tentar conduzir uma música, acredito que o baixista seja obrigado a fornecer bastante propulsão. Às vezes, meu trabalho é a raiz de tudo, quando a bateria não está na base e quando a guitarra está lá em cima. No momento em que as coisas estão bem enraizadas, tento dar um pouco mais de propulsão, um pouco mais de elasticidade me movendo entre as coisas. Um exemplo que me vem imediatamente é 'Superconductor', onde o ritmo é bem feroz e no qual tento manter a base. Não há várias notas diferentes, mas há muitas sendo tocadas. Se eu fosse pago pela pulsação, ficaria rico só com essa música".
Propositalmente, "Superconductor" foi escrita com a intenção de emular peças típicas da música na década de 1980, funcionando como uma crítica direta à indústria da época. Mesmo imersa na sátira, a banda consegue cumprir o desafio equilibrando perfeitamente a composição, trazendo aspectos que, definitivamente, não costumam ser vistos na música pop - mas que representam o inconfundível Rush.
"Eu amo a música pop pura", declara Peart, "quando ela não finge ser outra coisa. Mas há uma certa loucura em torno do pop quando as pessoas adotam a imagem da pretensão. É por isso que há essa linha na canção, que fala sobre a imagem da rebeldia embalada".
Como uma crítica à comercialização dos meios de comunicação e à sua capacidade de homogeneizar e baratear a expressão cultural, a letra de "Superconductor" se mostra muito clara, captando uma essência similar a de "The Spirit of Radio", de Permanent Waves (1980), canção na qual Peart falava sobre os tempos de ouro do rádio e a preocupante intensificação do comércio da arte. A música e o rádio, como a antiga canção apontava, traziam um grande potencial de humanização, mas as prioridades dos agentes e dos lucros acabavam por contrariar tal natureza. Já em "Superconductor" o letrista vai mais além, ponderando sobre o show business como perigosamente manipulador, descrevendo as celebridades pop como verdadeiros "pacotes" voltados para segmentos de mercado, com o objetivo de "orquestrar ilusões" e "manipular reações".
O termo supercondutor refere-se, em síntese, à propriedade física da supercondutividade. Certos materiais, quando resfriados à temperaturas extremamente baixas, tendem a conduzir corrente elétrica sem resistência ou perdas. Peart escolhe o título de maneira brilhante, atrelando-o à relação passiva do espectador com a enxurrada de produtos fabricados pelo entretenimento - o que faz com que recebam, na maioria das vezes, modismos, opiniões e estilos de vida de maneira direta, sem senso crítico e posicionamentos racionais avaliativos.
O tema abordado em "Superconductor" reflete o termo Indústria Cultural como uma possível influência filosófica. Criado pelos sociólogos alemães Theodor Adorno (1903 - 1969) e Max Horkheimer (1895 - 1973), este foi utilizado pela primeira vez em 1947 a fim de designar a situação da arte na sociedade capitalista industrial. Para os dois pensadores, a autonomia e o poder crítico das obras artísticas derivariam de sua oposição à sociedade. No entanto, o valor contestatório das mesmas poderia não mais ser possível, já que provaram ser facilmente assimiláveis e aproveitadas pelo mundo comercial.
Adorno e Horkheimer afirmavam que a máquina capitalista de reprodução e distribuição da cultura estaria apagando aos poucos tanto a arte erudita quanto a arte popular. Isso acontecia porque o valor crítico dessas duas formas artísticas seria neutralizado por não permitir a participação intelectual dos seus espectadores. A arte seria tratada simplesmente como mercadoria, estando sujeita às leis de oferta e procura, forçando uma visão passiva e acrítica do mundo ao dar ao público apenas o que ele deseja, desencorajando o esforço pessoal pela posse de novas experiências (as pessoas procurariam apenas o conhecido, o já experimentado). Por outro lado, essa indústria prejudicaria também a arte contestadora, neutralizando sua crítica à sociedade.
O segmento "the stage a world" ["o palco um mundo"] traz lembranças imediatas da canção "Limelight", de Moving Pictures (1981), na qual Peart oferece a linha "All the world's indeed a stage, and we are merely players" ["O mundo inteiro é de fato um palco, e nós meros atores"]. Baseada na peça teatral "As You Like It" do dramaturgo inglês William Shakespeare (provavelmente escrita em 1599), a obra influenciou também o título do primeiro álbum ao vivo da banda, All The World's a Stage, de 1976.
Citando a base primordial para a ideia da canção, Peart mencionou que "Superconductor" foi concebida como um olhar triste sobre as estrelas do rock que morreram sustentando o mito da rebeldia. "Eu queria que fosse uma declaração sobre as Janis Joplins e os Jimi Hendrixes - as maiores vítimas da maquinaria do estrelato", explica. "Trata-se de uma declaração sobre os manipuladores também - as pessoas que mantém o mito daqueles que têm um estilo de vida selvagem e que conseguem permanecer equilibrados. Elvis Presley era uma imagem falsa - ele foi destruído".
Sobre a boy band mais famosa da época de lançamento de Presto, o New Kids On The Block, Peart diz, "Eles não me ofendem de forma alguma. O material deles é música pop pura. São apenas cinco caras jovens brancos sendo cinco caras jovens brancos. As crianças que ouvem suas músicas não estão sendo enganadas. Elas estão recebendo músicas feitas por pessoas que são praticamente da mesma faixa etária. Tenho uma filha de 12 anos de idade. Então, estou bem doutrinado na New Kids-mania".
"Quando caras como Bon Jovi, Richard Marx e George Michael fingem ser rebeldes e criminosos com suas jaquetas de couro, eles fingem simbolizar a rebelião que os jovens naturalmente sentem. Ao mesmo tempo, não estão lutando ou protestando por nada. São apenas fábricas de grandes fortunas se curvando ao denominador comum".
"Um homem de negócios que esteja dedicado a fazer dinheiro não me incomoda. Não há nada de imoral em conseguir lucro. O que me incomoda é a ilusão, a pretensão e os jovens sendo enganados".
"Ninguém foi especificamente representado nessa canção, embora eu tivesse certamente algumas figuras 'convencionais' do entretenimento em mente".
Um dos elementos mais marcantes não somente em "Superconductor", mas em todo o álbum, é a ironia. "Sou um viciado em ironia", confessa o letrista. "Nesse disco, do ponto de vista lírico, estou seriamente viciado nela".
Os próprios artistas imersos na teia de ilusões das celebridades começam a acreditar em seus "papéis", agindo e vivendo como se fossem seres humanos absurdamente diferenciados e especiais. "Fui tocado antes em canções como 'Limelight', e ainda mais recentemente em 'Superconductor', sobre a natureza da fama e de como isso afeta as pessoas que estão nela. Estive envolvido, claro, nesse mundo por muito tempo, vendo outras pessoas sendo afetadas pela natureza da fama e por esse tipo de endeusamento. Observando que aquilo não era saudável para eles, comecei a pensar, 'Bem, talvez essa ideia de moderno, essa ideia de heroísmo ocidental do século XX não seja tão boa".
"'Superconductor' é sobre a fachada desses grupos - há tantos que não poderia nomear", diz Lifeson. "A indústria da música prospera nas embalagens e na formatação de ideias inúteis e sem sentido que todo denominador comum vai aceitar e desfrutar. O Rush nunca foi um desses 'grupos'".
A canção pensa sobre os ícones pop que são criados visando mercados, orquestrando ilusões e manipulando reações. Como retratado no divertido vídeo para a divulgação de "Superconductor", as empresas de entretenimento sabem quais botões devem apertar para provocar o sentimentalismo e a arrogância pseudo-rebelde. O refrão capta a distração e a mesmice que a cultura de massa engendra, convidando pessoas para que assistam a todos os movimentos das estralas pop, esperando que sejam hipnotizadas por suas vidas excêntricas. Assim, "Superconductor" traz uma crítica à comercialização, à mercantilização e à massificação doentia de algumas formas de arte, notadamente focada na música, nos estilos vazios e em programas de TV. O Rush, claramente, sempre provou ser uma banda de rock que jamais atendeu ao gosto das massas, conseguindo manter intactas a sua integridade e individualidade como artistas ao longo dos anos.
"Todo nosso trabalho anterior a 1980 não provoca apego emocional em mim", diz Peart. "É como um ensaio que você escreveu no nono ano ou fotos suas que sua mãe prende na geladeira. Você tem que crescer com tais coisas. Achei muito irônica uma entrevista que li com Paul McCartney. Ele disse, 'Quando você sair em turnê, não tente apresentar seu novo material. As pessoas não querem ouvir isso'. Ele estava claramente reconhecendo que esperava atrair centenas de milhares de pessoas fazendo todo esse dinheiro do Visa com base em uma turnê nostálgica".
"Isso é a antítese do que eu diria. Se o seu novo material não é o foco do que está fazendo e você não o considera a melhor coisa que já fez, é melhor se tornar um show das antigas e se mandar para Vegas. O sonho acabou".
"Em nossos primeiros dias, nos foram feitas propostas onde a gravadora tentava passar o que achavam que deveríamos estar fazendo. Quando estávamos discutindo sobre fazer um épico que tomaria todo um lado do nosso quarto álbum, 2112, nosso empresário nos disse, 'Não é isso que a gravadora quer'. Mesmo que nossos primeiros três álbuns tenham vendido 'modestos' (sendo generoso) 100.000 exemplares cada, com as bandas jovens devendo ser suscetíveis em agradar as gravadoras, o comentário dele me atingiu como uma pedra. Respondi, 'Quem se importa com o que eles querem?'".
Desde então, essa questão guiou o Rush. "Acima de tudo, estamos preocupados com aquilo que nos deixa animados. Então, por extensão, com o público", conclui.
© 2015 Rush Fã-Clube Brasil
BRITT, B. "Lasting Integrity / Rush's Stubborn Individualism Has Paid Off In The Long Run". Los Angeles Times, April 12, 1990.
PEART, N. "Rush - Roll The Bones". Rush Backstage Club Newsletter. October 1991.
ROBICHEAU, P. "Rush Scissors New Rock Sounds". Boston Globe. May 10, 1990.
STIX , J. "Geddy Lee: Organic". Guitar For The Practicing Musician. June 1990.
ELLIOT, P. "The Magic Circle - With Their New Lp, 'Presto', Rush Have Come Full Circle And Gone Back To Basic Songwriting. Paul Elliott Meets The Trio's Guitarist Alex Lifeson. December 9, 1989.
CONSIDINE, J.D. "Rush Screwing Up Pop-On Purpose". April 1990.
WARDEN, S. "The World Album Premier of 'Counterparts'". Broadcast. October 14, 1993.
McDONALD, Christopher J. "Rush, Rock Music, and the Middle Class: Dreaming in Middletown (Profiles in Popular Music)". Indiana University Press. 2009.
BERTI, J. "Rush and Philosophy: Heart and Mind United (Popular Culture and Philosophy)". Chicago: Open Court, 2011.
RADEL, C. "Rush Drummer: Causeless Rock Rebels Duping Young Fans". Cincinnati Enquirer, June 10, 1990.