VOLTAR PARA "HOLD YOUR FIRE"
VOLTAR PARA DISCOGRAFIA
VOLTAR PARA LETRAS E RESENHAS
TIME STAND STILL OPEN SECRETS SECOND NATURE
OPEN SECRETS
It went right by me -
At the time it went over my head
I was looking out the window
I should have looked at your face instead
It went right by me -
Just another wall
There should have been a moment
When we let our barriers fall
I never meant what you're thinking -
That is not what I meant at all...
Well I guess we all have these feelings
We can't leave unreconciled
Some of them burned on our ceilings
Some of them learned as a child
The things that we're concealing
Will never let us grow
Time will do its healing
You've got to let it go
Closed for my protection -
Open to your scorn
Between these two directions
My heart is sometimes torn
I lie awake with my secrets
Spinning around my head
Something that somehow escaped me -
Something you shouldn't have said
I was looking out the window
I should have looked at your face instead...
I find no absolution
In my rational point of view
Maybe some things are instinctive
But there's one thing you could do
You could try to understand me -
I could try to understand you...
It went right by me -
At the time it went over my head
I was looking out the window
I should have looked at your face instead
It went right by me -
Just another wall
There should have been a moment
When we let our barriers fall
I never meant what you're thinking -
That is not what I meant at all...
Well I guess we all have these feelings
We can't leave unreconciled
Some of them burned on our ceilings
Some of them learned as a child
The things that we're concealing
Will never let us grow
Time will do its healing
You've got to let it go
Closed for my protection -
Open to your scorn
Between these two directions
My heart is sometimes torn
I lie awake with my secrets
Spinning around my head
Something that somehow escaped me -
Something you shouldn't have said
I was looking out the window
I should have looked at your face instead...
I find no absolution
In my rational point of view
Maybe some things are instinctive
But there's one thing you could do
You could try to understand me -
I could try to understand you...
SEGREDOS ABERTOS
Passou direto por mim -
No momento em que foi demais para minha cabeça
Eu olhava pela janela
Ao invés disso deveria ter olhado para o seu rosto
Passou direto por mim -
Apenas outro muro
Deve ter havido um momento
Em que deixamos nossas barreiras caírem
Nunca me referi ao que você está pensando -
Não foi isso que eu quis dizer...
Bem, acho que todos nós temos esses sentimentos
Não podemos deixá-los irreconciliados
Alguns deles queimados em nossos limites máximos
Alguns deles aprendidos como uma criança
As coisas que estamos escondendo
Nunca nos deixarão crescer
O tempo irá curar
Você tem que deixar isso passar
Fechado para minha proteção -
Aberto ao seu desprezo
Entre esses dois sentidos
Meu coração é por vezes despedaçado
Fico acordado com meus segredos
Girando na minha cabeça
Algo que me escapou de alguma forma -
Algo que você não deveria ter dito
Eu olhava pela janela
Ao invés disso deveria ter olhado para o seu rosto...
Não encontro absolvição
Em meu ponto de vista racional
Talvez algumas coisas sejam instintivas
Mas há algo que você poderia fazer
Você poderia tentar me entender -
E eu poderia tentar te entender...
Passou direto por mim -
No momento em que foi demais para minha cabeça
Eu olhava pela janela
Ao invés disso deveria ter olhado para o seu rosto
Passou direto por mim -
Apenas outro muro
Deve ter havido um momento
Em que deixamos nossas barreiras caírem
Nunca me referi ao que você está pensando -
Não foi isso que eu quis dizer...
Bem, acho que todos nós temos esses sentimentos
Não podemos deixá-los irreconciliados
Alguns deles queimados em nossos limites máximos
Alguns deles aprendidos como uma criança
As coisas que estamos escondendo
Nunca nos deixarão crescer
O tempo irá curar
Você tem que deixar isso passar
Fechado para minha proteção -
Aberto ao seu desprezo
Entre esses dois sentidos
Meu coração é por vezes despedaçado
Fico acordado com meus segredos
Girando na minha cabeça
Algo que me escapou de alguma forma -
Algo que você não deveria ter dito
Eu olhava pela janela
Ao invés disso deveria ter olhado para o seu rosto...
Não encontro absolvição
Em meu ponto de vista racional
Talvez algumas coisas sejam instintivas
Mas há algo que você poderia fazer
Você poderia tentar me entender -
E eu poderia tentar te entender...
Os impasses para o alcance de relacionamentos verdadeiramente saudáveis
"Open Secrets" é a terceira canção de Hold Your Fire, uma doce composição construída por arranjos belíssimos que se destaca como um verdadeiro tesouro no álbum e até mesmo na carreira do Rush. Marcada por linhas de baixo simplesmente exuberantes, sintetizadores pontuais, percussão sempre sensível e atmosfera de guitarras / solo repletos de emoção e vida, "Open Secrets" oferece interessantes observações sobre a dinâmica e os impasses dos relacionamentos pessoais em sua temática.
"Acho a guitarra vem retornando fortemente, desde Grace Under Pressure", diz Alex Lifeson. "Nesse disco, tivemos ainda mais equilíbrio com os teclados, desde as gravações até a mixagem. Quando estávamos próximos do fim da mixagem, entendemos que a guitarra deveria se tornar realmente o núcleo dessa banda de três integrantes. Isso pareceu um pouco tolo, pois acho que o núcleo de uma banda de três integrantes deve ser bateria, baixo e guitarra, bem firmes e coesos. Os teclados devem ficar ao fundo, em torno desse núcleo, e assim parecerão carregar muito mais energia e intensidade. Dessa forma, conseguimos fazer provavelmente os melhores sons de guitarra que já conseguimos em um disco. Ficou claro que a guitarra desempenhou de fato um papel importante para aquela energia".
"Meu solo é uma junção da musicalidade da canção com seu conteúdo lírico", continua. "Acho que ele nasceu através do clima criado pela música, ficando bem anexado à letra. O desenvolvimento da canção forneceu o gatilho para o que o solo faz. Ele reflete algo de obscuro e melancólico, um humor solitário do ponto de vista musical, expondo um lamento sobre a solidão".
Muitos momentos em Hold Your Fire foram originados em jam sessions nas passagens de som. "Com 'Open Secrets' foi assim", diz Geddy. "(...) As ideias principais são espontâneas. No arranjo final você aprimora algo artesanal, mas a explosão inicial vem desse tipo de energia espontânea".
"O maior lance para mim são os momentos dos primeiros estágios da pré-produção, quando a música está apenas escrita e com todas as possibilidades abertas para mim", explica Geddy. "Você ouve a estrutura básica e sabe o que pode fazer com ela, sabe como pode ser boa. É um momento muito gratificante. Obviamente, após ter trabalhado no baixo colocando a linha e ouvindo pela primeira vez - somente com a bateria e nada mais - soa muito bem. Neil e eu olhamos um para o outro e dizemos, 'Do que mais essa faixa precisa? Vamos cobrir o material todo com as outras porcarias. Colocamos os vocais e vamos embora para casa'. 'Open Secrets' traz uma grande interação entre nós. A ponte e o solo são dois dos meus momentos favoritos no álbum. Adoro minha interação com Neil, algo que surge somente quando você toca com a mesma pessoa há muito tempo, soando para mim como dois caras que sabem bastante um do outro musicalmente".
"Essa canção passou por uma série de mudanças e, no final, estabelecemos esse riff de baixo, bem perto do ápice. Por fim, chegamos ao groove na fase das demos, que sabíamos que seria divertida. Quando Neil segurou o groove, ele se sentiu tão bem que deixamos fluir. Apenas segui o que ele havia estabelecido".
"Provavelmente, 'Force Ten' e 'Open Secrets' são exemplos do meu uso de todo o tipo de coisas. Em 'Open Secrets', vou e volto do baixo aos pedais, e com os sequenciadores. (…) Ela foi escrita no teclado e no baixo", conclui.
Após abordar a dinâmica do tempo nas duas primeiras canções de Hold Your Fire, Neil Peart se debruça em "Open Secrets" para observar os instintos humanos da interioridade e da defesa. O baterista reflete sobre a dificuldade que temos em partilhar nossos sentimentos e segredos mais íntimos, descrevendo uma relação entre duas pessoas marcada por falhas de comunicação em que ambos os lados defendem seus próprios interesses, mesmo quando tentam se abrir um para o outro. "Open Secrets" nos instiga a quebrarmos barreiras, aprendendo a ter empatia e coragem em sermos mais vulneráveis.
"Instinto é algo sobre o qual Neil escreveu em 'Open Secrets'", explica Alex. "Lidamos nessa canção com barreiras defensivas que construímos instintivamente, em certas situações e relacionamentos, como se estivéssemos tentando nos proteger do fato de baixar nossa guarda na hora errada. É uma canção muito pessoal, acho que todos nós já passamos pela experiência que Neil descreve aqui".
É notável que Peart já trazia uma forte motivação em escrever mais abertamente sobre algumas peculiaridades das relações humanas. Podemos dizer que sua primeira investida real nesse campo veio na canção "Entre Nous", do álbum Permanent Waves (1980), na qual trazia ponderações sobre a natureza das relações íntimas e a dificuldade de se conhecer verdadeiramente alguém - chamando atenção para a chance que temos de crescer nesse processo. Depois, o letrista mergulhou novamente na temática em momentos como "Vital Signs" (de Moving Pictures, 1981) e "Chemistry" (de Signals, 1982), porém essas composições ainda se encontravam mergulhadas em estruturas bastante cerebrais, carregadas de muitas metáforas e outros dispositivos líricos complexos. Já com o disco anterior Power Windows (1985), Peart definia seu olhar há tanto perseguido com a canção "Emotion Detector", inclinação que estaria presente em muitas composições da banda dali para frente. Seguindo essa premissa, "Open Secrets" observa algumas facetas dos instintos humanos, propondo portanto o segundo momento lírico de Hold Your Fire.
Em muitas entrevistas sobre Hold Your Fire, Peart mencionou que várias de suas letras vêm de conversas pessoais que inspiram contemplação e, em alguns casos, introspecção - a fim de observar se tais conceitos e ideais soam verdadeiros em um nível pessoal. Ao mesmo tempo, o baterista é rápido em apontar que nenhuma letra traz pensamentos e inspirações totalmente ligadas à sua pessoa, representando na verdade uma espécie de comentário social ou a tomada de um ponto de vista diferente.
"Open Secrets" se consolidou a partir de uma conversa entre Neil e Geddy, onde falavam sobre pessoas que conheceram e que passaram a vida inteira sem resolver de fato os problemas que os afetavam. "Tenho um monte de ideias a partir de conversas com algumas pessoas", diz Neil. "Tomo essas observações e pontos de vista, personalizando-os. Infelizmente, muitas pessoas acham que minhas músicas são declarações pessoais. Nunca quero que isso aconteça, pois pode parecer que estou desabafando e isso seria um tanto quanto cansativo. Uma coisa que odeio são letras confessionais, aquelas onde o autor mergulha em seus tormentos e fala sobre o quanto os mesmos o machucam. É algo egoísta e mesquinho".
A frase "That's not what I meant at all" vem do poema The Love Song of J. Alfred Prufrock (A Canção de Amor de J. Alfred Prufrock), mais uma influência do poeta modernista norte-americano T.S. Eliot (1888 - 1965). A obra retrata a experiência consciente de um homem, Prufrock, sob a forma de fluxo de consciência (figura de linguagem típica do modernismo, que consiste em mostrar por escrito o monólogo interior de um personagem), lamentando sua inércia física e intelectual, as oportunidades que perdeu ao longo de sua vida e a falta de um progresso espiritual, recorrente de amor carnal que não conseguira atingir.
Todos trazemos segredos, e nos sentimos inseguros em revelá-los a alguém, inclusive para aqueles mais próximos ou íntimos. Esse instinto de preservação e defesa nos mantém, até certo ponto, afastados das mesmas pessoas que desejam se aproximar de nós. Um curioso dilema que Peart, mais uma vez, consegue expressar com habilidade instigante e certeira.
"Open Secrets" aborda a importância de conversarmos sobre assuntos difíceis, não apenas os fáceis. Em outras palavras, trata-se de uma avaliação sobre compartilhar dificuldades, medos ou dramas, ao invés de abriga-los como um requisito para o crescimento e o fortalecimento de vínculos. Peart, minuciosamente, toca no ponto de sermos receptivos às verdades profundas - aos assuntos que não são fáceis de dizer e que provavelmente não são fáceis de serem ouvidos, a fim de nos fortalecermos não somente observando nossas relações, mas também como indivíduos. "Open Secrets" evoca confiança, empatia, reconhecimento, avaliação, coragem e maturidade.
© 2015 Rush Fã-Clube Brasil
PUTTERFORD, M. "Lifeson Times". Kerrang! Nº 158. October 17, 1987.
McDONALD, C. "Rush, Rock Music, and the Middle Class - Dreaming in Middletown". Canada: Profiles in Popular Music, 2012.
MOBLEY, M. "Rush FAQ: All That's Left To Know About Rock's Greatest Power Trio". Backbeat Books. May 1, 2014.
GLASGOW SCOTLAND'S RADIO CLYDE. "Interview With Alex Lifeson". October 1987.
SWENSON, J. RESNICOFF, M. "Alex Lifeson, Geddy Lee, Together Again In Rush". Guitar World. April 1988.
STIX, J. "Geddy Lee: Head Music". Guitar For The Practicing Musician. July 1989.
TOLLESON, R. "Geddy Lee: Bass Is Still The Key". Bass Player. November / December 1988.
"Open Secrets" é a terceira canção de Hold Your Fire, uma doce composição construída por arranjos belíssimos que se destaca como um verdadeiro tesouro no álbum e até mesmo na carreira do Rush. Marcada por linhas de baixo simplesmente exuberantes, sintetizadores pontuais, percussão sempre sensível e atmosfera de guitarras / solo repletos de emoção e vida, "Open Secrets" oferece interessantes observações sobre a dinâmica e os impasses dos relacionamentos pessoais em sua temática.
"Acho a guitarra vem retornando fortemente, desde Grace Under Pressure", diz Alex Lifeson. "Nesse disco, tivemos ainda mais equilíbrio com os teclados, desde as gravações até a mixagem. Quando estávamos próximos do fim da mixagem, entendemos que a guitarra deveria se tornar realmente o núcleo dessa banda de três integrantes. Isso pareceu um pouco tolo, pois acho que o núcleo de uma banda de três integrantes deve ser bateria, baixo e guitarra, bem firmes e coesos. Os teclados devem ficar ao fundo, em torno desse núcleo, e assim parecerão carregar muito mais energia e intensidade. Dessa forma, conseguimos fazer provavelmente os melhores sons de guitarra que já conseguimos em um disco. Ficou claro que a guitarra desempenhou de fato um papel importante para aquela energia".
"Meu solo é uma junção da musicalidade da canção com seu conteúdo lírico", continua. "Acho que ele nasceu através do clima criado pela música, ficando bem anexado à letra. O desenvolvimento da canção forneceu o gatilho para o que o solo faz. Ele reflete algo de obscuro e melancólico, um humor solitário do ponto de vista musical, expondo um lamento sobre a solidão".
Muitos momentos em Hold Your Fire foram originados em jam sessions nas passagens de som. "Com 'Open Secrets' foi assim", diz Geddy. "(...) As ideias principais são espontâneas. No arranjo final você aprimora algo artesanal, mas a explosão inicial vem desse tipo de energia espontânea".
"O maior lance para mim são os momentos dos primeiros estágios da pré-produção, quando a música está apenas escrita e com todas as possibilidades abertas para mim", explica Geddy. "Você ouve a estrutura básica e sabe o que pode fazer com ela, sabe como pode ser boa. É um momento muito gratificante. Obviamente, após ter trabalhado no baixo colocando a linha e ouvindo pela primeira vez - somente com a bateria e nada mais - soa muito bem. Neil e eu olhamos um para o outro e dizemos, 'Do que mais essa faixa precisa? Vamos cobrir o material todo com as outras porcarias. Colocamos os vocais e vamos embora para casa'. 'Open Secrets' traz uma grande interação entre nós. A ponte e o solo são dois dos meus momentos favoritos no álbum. Adoro minha interação com Neil, algo que surge somente quando você toca com a mesma pessoa há muito tempo, soando para mim como dois caras que sabem bastante um do outro musicalmente".
"Essa canção passou por uma série de mudanças e, no final, estabelecemos esse riff de baixo, bem perto do ápice. Por fim, chegamos ao groove na fase das demos, que sabíamos que seria divertida. Quando Neil segurou o groove, ele se sentiu tão bem que deixamos fluir. Apenas segui o que ele havia estabelecido".
"Provavelmente, 'Force Ten' e 'Open Secrets' são exemplos do meu uso de todo o tipo de coisas. Em 'Open Secrets', vou e volto do baixo aos pedais, e com os sequenciadores. (…) Ela foi escrita no teclado e no baixo", conclui.
Após abordar a dinâmica do tempo nas duas primeiras canções de Hold Your Fire, Neil Peart se debruça em "Open Secrets" para observar os instintos humanos da interioridade e da defesa. O baterista reflete sobre a dificuldade que temos em partilhar nossos sentimentos e segredos mais íntimos, descrevendo uma relação entre duas pessoas marcada por falhas de comunicação em que ambos os lados defendem seus próprios interesses, mesmo quando tentam se abrir um para o outro. "Open Secrets" nos instiga a quebrarmos barreiras, aprendendo a ter empatia e coragem em sermos mais vulneráveis.
"Instinto é algo sobre o qual Neil escreveu em 'Open Secrets'", explica Alex. "Lidamos nessa canção com barreiras defensivas que construímos instintivamente, em certas situações e relacionamentos, como se estivéssemos tentando nos proteger do fato de baixar nossa guarda na hora errada. É uma canção muito pessoal, acho que todos nós já passamos pela experiência que Neil descreve aqui".
É notável que Peart já trazia uma forte motivação em escrever mais abertamente sobre algumas peculiaridades das relações humanas. Podemos dizer que sua primeira investida real nesse campo veio na canção "Entre Nous", do álbum Permanent Waves (1980), na qual trazia ponderações sobre a natureza das relações íntimas e a dificuldade de se conhecer verdadeiramente alguém - chamando atenção para a chance que temos de crescer nesse processo. Depois, o letrista mergulhou novamente na temática em momentos como "Vital Signs" (de Moving Pictures, 1981) e "Chemistry" (de Signals, 1982), porém essas composições ainda se encontravam mergulhadas em estruturas bastante cerebrais, carregadas de muitas metáforas e outros dispositivos líricos complexos. Já com o disco anterior Power Windows (1985), Peart definia seu olhar há tanto perseguido com a canção "Emotion Detector", inclinação que estaria presente em muitas composições da banda dali para frente. Seguindo essa premissa, "Open Secrets" observa algumas facetas dos instintos humanos, propondo portanto o segundo momento lírico de Hold Your Fire.
Em muitas entrevistas sobre Hold Your Fire, Peart mencionou que várias de suas letras vêm de conversas pessoais que inspiram contemplação e, em alguns casos, introspecção - a fim de observar se tais conceitos e ideais soam verdadeiros em um nível pessoal. Ao mesmo tempo, o baterista é rápido em apontar que nenhuma letra traz pensamentos e inspirações totalmente ligadas à sua pessoa, representando na verdade uma espécie de comentário social ou a tomada de um ponto de vista diferente.
"Open Secrets" se consolidou a partir de uma conversa entre Neil e Geddy, onde falavam sobre pessoas que conheceram e que passaram a vida inteira sem resolver de fato os problemas que os afetavam. "Tenho um monte de ideias a partir de conversas com algumas pessoas", diz Neil. "Tomo essas observações e pontos de vista, personalizando-os. Infelizmente, muitas pessoas acham que minhas músicas são declarações pessoais. Nunca quero que isso aconteça, pois pode parecer que estou desabafando e isso seria um tanto quanto cansativo. Uma coisa que odeio são letras confessionais, aquelas onde o autor mergulha em seus tormentos e fala sobre o quanto os mesmos o machucam. É algo egoísta e mesquinho".
A frase "That's not what I meant at all" vem do poema The Love Song of J. Alfred Prufrock (A Canção de Amor de J. Alfred Prufrock), mais uma influência do poeta modernista norte-americano T.S. Eliot (1888 - 1965). A obra retrata a experiência consciente de um homem, Prufrock, sob a forma de fluxo de consciência (figura de linguagem típica do modernismo, que consiste em mostrar por escrito o monólogo interior de um personagem), lamentando sua inércia física e intelectual, as oportunidades que perdeu ao longo de sua vida e a falta de um progresso espiritual, recorrente de amor carnal que não conseguira atingir.
Todos trazemos segredos, e nos sentimos inseguros em revelá-los a alguém, inclusive para aqueles mais próximos ou íntimos. Esse instinto de preservação e defesa nos mantém, até certo ponto, afastados das mesmas pessoas que desejam se aproximar de nós. Um curioso dilema que Peart, mais uma vez, consegue expressar com habilidade instigante e certeira.
"Open Secrets" aborda a importância de conversarmos sobre assuntos difíceis, não apenas os fáceis. Em outras palavras, trata-se de uma avaliação sobre compartilhar dificuldades, medos ou dramas, ao invés de abriga-los como um requisito para o crescimento e o fortalecimento de vínculos. Peart, minuciosamente, toca no ponto de sermos receptivos às verdades profundas - aos assuntos que não são fáceis de dizer e que provavelmente não são fáceis de serem ouvidos, a fim de nos fortalecermos não somente observando nossas relações, mas também como indivíduos. "Open Secrets" evoca confiança, empatia, reconhecimento, avaliação, coragem e maturidade.
© 2015 Rush Fã-Clube Brasil
PUTTERFORD, M. "Lifeson Times". Kerrang! Nº 158. October 17, 1987.
McDONALD, C. "Rush, Rock Music, and the Middle Class - Dreaming in Middletown". Canada: Profiles in Popular Music, 2012.
MOBLEY, M. "Rush FAQ: All That's Left To Know About Rock's Greatest Power Trio". Backbeat Books. May 1, 2014.
GLASGOW SCOTLAND'S RADIO CLYDE. "Interview With Alex Lifeson". October 1987.
SWENSON, J. RESNICOFF, M. "Alex Lifeson, Geddy Lee, Together Again In Rush". Guitar World. April 1988.
STIX, J. "Geddy Lee: Head Music". Guitar For The Practicing Musician. July 1989.
TOLLESON, R. "Geddy Lee: Bass Is Still The Key". Bass Player. November / December 1988.