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CARVE AWAY THE STONE ONE LITTLE VICTORY CEILING UNLIMITED
ONE LITTLE VICTORY
A certain measure of innocence
Willing to appear naive
A certain degree of imagination
A measure of make-believe
A certain degree of surrender
To the forces of light and heat
A shot of satisfaction
In a willingness to risk defeat
Celebrate the moment
As it turns into one more
Another chance at victory
Another chance to score
The measure of the moment
Is a difference of degree
Just one little victory
A spirit breaking free
One little victory
The greatest act can be
One little victory
A certain measure of righteousness
A certain amount of force
A certain degree of determination
Daring on a different course
A certain amount of resistance
To the forces of the light and love
A certain measure of tolerance
A willingness to rise above
A certain measure of innocence
Willing to appear naive
A certain degree of imagination
A measure of make-believe
A certain degree of surrender
To the forces of light and heat
A shot of satisfaction
In a willingness to risk defeat
Celebrate the moment
As it turns into one more
Another chance at victory
Another chance to score
The measure of the moment
Is a difference of degree
Just one little victory
A spirit breaking free
One little victory
The greatest act can be
One little victory
A certain measure of righteousness
A certain amount of force
A certain degree of determination
Daring on a different course
A certain amount of resistance
To the forces of the light and love
A certain measure of tolerance
A willingness to rise above
UMA PEQUENA VITÓRIA
Uma certa medida de inocência
Propensa a parecer ingênua
Um certo grau de imaginação
Uma medida de faz-de-conta
Um certo grau de rendição
Para as forças da luz e do calor
Uma tacada de satisfação
Numa disposição de arriscar a derrota
Celebre o momento
Uma vez que ele se torna mais um
Outra chance de vitória
Outra chance de vencer
A medida do momento
É uma diferença de grau
Apenas uma pequena vitória
Um espírito se libertando
Uma pequena vitória
Pode ser o ato mais grandioso
Uma pequena vitória
Uma certa medida de justiça
Uma certa quantidade de força
Um certo grau de determinação
Ousando em um curso diferente
Uma certa soma de resistência
Para as forças da luz e do amor
Uma certa medida de tolerância
Uma vontade de superar
Uma certa medida de inocência
Propensa a parecer ingênua
Um certo grau de imaginação
Uma medida de faz-de-conta
Um certo grau de rendição
Para as forças da luz e do calor
Uma tacada de satisfação
Numa disposição de arriscar a derrota
Celebre o momento
Uma vez que ele se torna mais um
Outra chance de vitória
Outra chance de vencer
A medida do momento
É uma diferença de grau
Apenas uma pequena vitória
Um espírito se libertando
Uma pequena vitória
Pode ser o ato mais grandioso
Uma pequena vitória
Uma certa medida de justiça
Uma certa quantidade de força
Um certo grau de determinação
Ousando em um curso diferente
Uma certa soma de resistência
Para as forças da luz e do amor
Uma certa medida de tolerância
Uma vontade de superar
Pequenas realizações que trazem os sentimentos mais gratificantes
"One Little Victory" é a propulsora abertura de Vapor Trails, 17º álbum de estúdio gravado pelo Rush e o primeiro com faixas inéditas após um hiato de quase seis anos. Com o anterior Different Stages, coletânea ao vivo de 1998, o trio fechava de forma incerta mais um capítulo da sua história, envolvido por delicados impasses emocionais provenientes dos trágicos acontecimentos ocorridos na vida pessoal de Neil Peart.
Logo após a conclusão da turnê Test for Echo (ocorrida em 4 de julho de 1997), Selena Taylor, filha de Neil de apenas 19 anos, faleceu em um acidente de carro na Highway 401 em Ontário, no dia 10 de agosto do mesmo ano. Jacqueline Taylor, com quem foi casado durante 22 anos, não resistiu à luta contra um câncer e morreu dez meses depois, em 20 de junho de 1998. O músico, entretanto, sempre encarou a morte da esposa como o resultado de um coração frágil, classificando-a como "Um lento suicídio de apatia. Ela apenas não se importava mais".
Em seu livro Ghost Rider: Travels on the Healing Road, também lançado em 2002, o baterista explica que, durante o funeral da sua esposa, comunicou aos seus colegas de banda, "Considerem-me aposentado".
Buscando reencontrar sentido para uma vida destroçada em tão pouco tempo, decidiu ingressar em uma jornada de fuga, exílio e exploração. Partindo de Quebec com sua motocicleta BMW R1200GS, seguiu para o Alasca, descendo as regiões costeiras ocidentais do Canadá e Estados Unidos até o México e Belize, finalmente retornando para sua cidade. Enquanto percorria a sua "Estrada da Cura", registrava em diários seus progressos e retrocessos no processo de luto e cura, além da dor de reviver constantemente suas perdas. Mesmo convivendo com sentimentos tão confusos e obscuros, o músico consegue descrever com maestria deslumbrante, colorida, divertida e comovente a enorme gama de aventuras com as quais se deparou em sua jornada, que partia não somente das montanhas para o mar, mas também dos desertos de gelo no Ártico para dezenas de personagens memoráveis que encontrava ao longo do caminho, como amigos e parentes.
O retorno do Rush com seu lendário baterista se deu numa fria manhã, em janeiro de 2001, quando Geddy Lee, Alex Lifeson e Peart se reuniram novamente num pequeno estúdio em Toronto, a fim de tentarem retormar a sua longa história de música e amizade.
"Foram quase cinco anos desde Test for Echo mas, após 27 anos juntos e 16 discos lançados, estávamos esperançosos que a química entre nós seria reativada - que o fogo acenderia novamente", diz Peart. "Bem lá no fundo estávamos apreensivos. Seríamos realmente capazes de conseguir uma quantidade suficiente de músicas que gostássemos para completar um novo álbum? Essa é sempre uma questão difícil e mais ainda desta vez, quando tanta coisa aconteceu em nossas vidas. Nos últimos cinco anos, Geddy e Alex produziram seus próprios projetos, para eles mesmos e para os outros, e cada um deles se acostumou a ser o 'Chefe Supremo de Tudo'. Por muitas razões, o processo de retomar a engrenagem tinha que ser gradual, exploratório e cuidadoso. Não traçamos parâmetros, objetivos e limitações, mas nos aproximamos de maneira relaxada e civilizada para a empreitada. Não tínhamos pressa, pressão ou maratonas no estúdio - pela primeira vez na vida! Apenas permanecemos trabalhando, dia após dia, tentando tirar o melhor de cada um de nós alimentando o fogo da colaboração e da inspiração mútua".
Vapor Trails reverbera o senso de recém-descoberta de Peart sobre si mesmo, ecoando de forma surpreendente suas perdas dolorosas. Essa razão pode, sem sombra de dúvidas, classificar o álbum como uma das obras líricas mais abertas lançadas pela banda em toda carreira.
Simbolizando o renascimento de uma vida artística, "One Little Victory" marca o retorno triunfal e extraordinário dos talentosos canadenses. Envolta por uma emoção crua e por grande poder de fogo, foi o primeiro single do álbum, lançado em 22 de março de 2002 e estreando na 22ª posição do Mainstream Rock Tracks da Billboard - atingindo o Top 10 em poucas semanas. Mesmo após tanto tempo longe das suas admiradas atividades, a banda consegue retornar dando um passo ousado à frente, destilando uma de suas mais explosivas introduções. Dominando o futuro através de um trabalho urgente e fantástico, o herói baterista bombardeia um pequeno solo de conduções que evocam uma cavalaria ou locomotiva buscando um destino indeterminado, com a explosão dissipando rapidamente quaisquer preocupações com a longa ausência e indicando ainda o infalível perfeccionismo do músico. Simplesmente inspiradora, "One Little Victory" traz riffs construídos em texturas muito proeminentes e agressivas, e a voz de Geddy Lee é colocada à prova em notas mais altas, atingidas com grande perícia. Todo o aparato mergulha em um hino melódico moderno, abrilhantado com camadas de vocalizações e guitarras em lamento.
O momento expõe a banda fazendo uma releitura de si mesma, surpreendendo a muitos que davam como incerto seu retorno poucos anos antes. Os músicos se mostram fortes, revigorados e com muita energia - talvez como jamais na carreira. O Rush é historicamente conhecido por mudanças em seu estilo musical com propósitos definidos, tanto para situar o estilo individual de cada álbum bem como para a cada etapa criativa. Vapor Trails traz mudanças em muitos aspectos fundamentais: pela primeira vez, desde os álbuns iniciais, não haveria a utilização de quaisquer teclados nas gravações. Adicionalmente, as guitarras são predominantemente harmônicas ao invés de melódicas: poucos solos e muitos efeitos crus. O som se apoia fortemente em texturas com distorções tradicionais e gravações de voz - todas, inclusive o baixo, em várias pistas simultâneas, o que proporciona um tom mais obscuro como resultado final.
"Acredito que muitas das canções do álbum nasceram como um desejo de querermos provar para nós mesmos que ainda tínhamos um grande sentimento e intensidade pelo que fazemos", diz Geddy. "E, de certa forma, elas são uma espécie de celebração de um retorno de espírito que, é claro, representou um ponto de interrogação durante um bom tempo. Sobre 'One Little Victory', adorei a ideia de Neil surgindo como o cara que abre o disco com a fúria que diz, 'Estamos de volta'. E também fiquei satisfeito com todo sentimento da canção, sobre estar ciente desses pequenos sucessos - as pequenas coisas cotidianas que realmente contam - que tantas vezes damos como certas".
Vapor Trails consumiu 14 meses de produção. Inspirados por algumas palavras encontradas por Peart em um rabisco numa parede de um bar em Montana, EUA ("O sucesso não é resultado de combustão espontânea, você deve se colocar no fogo"), a banda propunha um trabalho derramando coração e alma talvez em maior quantidade do que em qualquer outro anterior. As letras do baterista assumiam uma natureza mais reveladora e pessoal, levando o ouvinte de carona em suas viagens. Ao invés de insistir nas tragédias do passado, Peart se mostra determinado a refletir sobre o que aprendeu, abraçando o presente e se preparando para o futuro.
Liricamente poderosa, "One Little Victory" afirma o passar do tempo que pode prover vitórias. Há uma exaltação de como as pequenas realizações da vida são as que trazem os sentimentos mais gratificantes e satisfatórios, e o ato de render valor a coisas tão elementares representa uma das realizações íntimas mais importantes. Trata-se, portanto, da celebração de triunfos pessoais. Basicamente, o tema lida com a superação de perdas e derrotas, colocando cada dia como uma pequena vitória na luta pela sobrevivência.
"'One Little Victory' era um tipo de canção-triunfo para nós, e a mensagem da letra é sobre isso", relembra Geddy. "Havia algo nessa canção que parecia muito enervante para a abertura do disco, e também por ser nosso primeiro lançamento depois de tanto tempo. Ela começou com uma coleção de jams que Alex havia feito tarde da noite, apenas um monte de riffs de guitarra ligados entre si e de maneira verdadeiramente nonsense, algo característico dele. Cheguei no dia seguinte, após ele ter construído essas coisas - cocei a cabeça e realmente gostei muito daquilo. Ao mesmo tempo, tínhamos uma letra que Neil havia escrito, sendo uma das poucas que gostei de cara, sem precisar tocar em uma única palavra. Era ótima. Toquei com ela durante alguns dias, começando a utilizar o equipamento digital para manipular os riffs e adicionar meu baixo, iniciando com as melodias vocais. E, antes que eu soubesse, tínhamos uma canção ou o que parecia ser uma canção. Assim, executei para o Sr. Lerxst e ele pareceu gostar de verdade. Desde então o material se tornou uma música, e pouco tempo depois".
"Lembro-me de ter tocado algumas ideias com Alex durante o dia, as quais capturamos em fita", diz o baixista. "Depois das cinco, saí para jantar com minha família. Não sou uma pessoa da noite e, às vezes, esse é o momento em que Alex ganha a vida. Ele começou a fazer jams sozinho e, na manhã seguinte, encontrei todas aquelas coisas bizarramente fantásticas espalhadas por diferentes faixas. Eu já dispunha da letra do Neil e ainda não havia encontrado uma casa para ela. Então, utilizando um computador, comecei a cortar e a colar as ideias aleatórias de Alex, colocando as linhas de baixo e mudanças de tempo, o que fez nascer uma versão rudimentar de 'One Little Victory'".
"Essa canção começou com uma série de experimentos de Alex na guitarra. Numa noite, ele ficou até mais tarde fixando alguns elementos ferozes, próximos ao blues, mas que não soavam muito parecidos com uma canção. Aquilo esperava uma letra interessante, o que me traria ideias para entrar e começar a tocar com os riffs. No meu mundo digital, selecionei o que achava mais forte e comecei a acompanhar no baixo. Algumas coisas foram nascendo, então remodelei de acordo com a atitude, o que me trazia ideias para trabalhar com as letras. No baixo, apenas tentei seguir preenchendo as lacunas sendo inspirado pelos riffs, e ia tentando mantê-la em movimento e blueseira".
"Nós brincamos com a ordem das canções em Vapor Trails até o último minuto", explica Peart. "No entanto, nunca duvidei de que essa abriria o álbum. 'One Little Victory' trazia um anúncio muito intransigente: 'Eles vol-ta-ram!'".
"Bem, ficamos indo e vindo com a ordem das canções, mas nunca questionamos que 'One Little Victory' deveria abrir o disco", afirma Lee. "Ela sempre me pareceu natural como um começo, pois era a que trazia o espírito mais positivo, e especialmente por iniciar com a bateria de forma tão furiosa. Foi muito tentador. Algumas coisas são muito óbvias, você só deve reconhecê-las e ir com elas".
"Eu trabalhava nessa canção e trouxe a parte do pedal duplo", diz Peart. "Achei que funcionaria perfeitamente para o final da canção. Mas Geddy disse, 'Esse trecho é ótimo. Você deveria abrir com ele. Seria matador'. Francamente, não teria feito dessa maneira - não achava que teria sido assertivo. Porém Geddy sugeriu e respondi, 'OK, vou tentar'".
Alguns trechos do livro Ghost Rider exemplificam claramente as intenções de Peart para o tema de "One Little Victory". O baterista tentava retomar sua vida pautado em pequenas tarefas cotidianas, estas que considerava enormemente significantes, como verdadeiras vitórias diárias.
Consegui ir marcando algumas pequenas vitórias. Hoje enviei uma bela carta para minha sobrinha, Hannah, respondendo-a, e enviei também uma cópia do meu vídeo-aula Work In Progress para meu amigo de 16 anos Nick, de Palm Springs - um estudante de bateria neto de Buddy Rich. Nessas pequenas atitudes me permiti sentir que fazia alguma marca no dia e no mundo.
Estabeleci pequenos desafios para mim mesmo: talvez dirigir para alguma cidade, pegar algumas flores frescas, encher os alimentadores de pássaros, dar uma volta ou um passeio de bicicleta, limpar a cozinha, ir à lavanderia... qualquer coisa que seja, e assim seguia marcando meus pontinhos, vitórias atingíveis.
A vida é medida por pequenos desafios e pequenas vitórias. Acho que não é tão ruim, e provavelmente um monte de pessoas boas passem seus dias dessa forma. Talvez prefeririam que essas pequenas vitórias fossem um pouco mais exigentes, ou até mesmo gratificantes, mas cada um faz o melhor com o que tem.
Tematicamente instigante, Vapor Trails utiliza algumas cartas de tarô para simbolizar os arquétipos discutidos em cada canção. Neil descreve em Ghost Rider sua experiência com o jogo, enquanto passeava em Venice Beach (um distrito litroâneo em Los Angeles) com Gabrielle, uma jovem hostess canadense e aspirante a atriz que conheceu durante seu exílio, por intermédio do amigo e fotógrafo Andrew MacNaughtan (1964 - 2012).
Certa tarde, Gabrielle e eu estávamos passeando entre as palmeiras à beira da praia em Venice Beach, captando o cenário surreal (que na verdade se parecia com um set de filme) de lojas de souvenir, vendedores ambulantes, cartomantes, músicos de rua e o desfile de indivíduos de aparência estranha. Havia vários leitores de tarô, e fiquei um pouco curioso com aquilo. Embora sempre tenha sido um cético em relação às cartas, tento ficar aberto a todas as possibilidades (gosto de pensar que essa é a diferença entre um cínico e um cético: o cínico desdenha, e o cético apenas duvida). Então, achei que seria divertido ter a minha primeira leitura de tarô. As imagens naquelas cartas sempre me pareceram românticas e místicas, e alguns nomes que conhecia pareciam intrigantes: A Torre, O Enforcado, Os Amantes, O Tolo.
Dentre os leitores de cartas da calçada, escolhi o único que não estava vestido com trajes ciganos: um homem magro e esguio com cerca de 60 anos e um rosto marcado pela idade. Enquanto me sentava junto à mesa ao lado dele, sua expressão permanecia calma e objetiva. (Mais tarde, soube que era um veterano do Vietnã e um homem prático, com os pés no chão). Ele abriu seu baralho de cartas já bem gasto diante de nós, com as cartas viradas para baixo e separadas em dois montes, que foram unidos com um elástico de borracha. Sem perguntar qualquer coisa e sem tentar reunir quaisquer "pistas", ele empurrou um dos montes na minha direção e me disse para escolher cinco cartas. Eu as escolhi de um modo que parecesse aleatório, e ele as colocou na mesa com as faces viradas para cima. A Morte, A Sabedoria, A Torre, A Roda da Fortuna, A Papisa.
Depois de alguns segundos de silêncio, ele sacudiu a cabeça e disse, 'Isso é bem incomum'. Então me deu sua interpretação, que me deixou tão perplexo que fui obrigado a pedir que ele anotasse para mim num papel: 'Depois de uma grande tragédia e atribulação, você está tentando reconstruir a si mesmo e a sua vida. A dor da separação está gerando infelicidade, e você está insistindo em conflitos passados, viajando com remorsos. Você trabalha com artes performáticas de alguma espécie – ator? músico? – e seu trabalho lhe oferece abundância, mas isso está se deteriorando à medida que você se move para uma direção diferente. Agora você está viajando para longe de casa, tentando começar um novo ciclo, mas você não está pronto. Você precisa de mais discernimento'. Então ele me fez escolher cinco cartas da pilha seguinte, e continuou:
'Depois de uma época de dificuldade, infelicidade e problemas financeiros, você vai encontrar um recomeço com um relacionamento e uma época de superabundância. Essa pessoa não vai apenas lhe dar afeto, mas também ajudará a resolver os seus problemas com dinheiro. Ela será uma verdadeira parceira para você'.
Meu queixo caiu, e ainda está caindo. Aquela pequena leitura era tão verdadeira em cada aspecto, antes e agora, que, como disse na época: 'Balançou meu mundo'. Era algo muito além da possibilidade de adivinhação ou de generalidades, e os eventos subsequentes e outras leituras futuras apenas reforçaram aquela experiência - a repetição me deu 'evidência empírica' de como aquela ocasião havia sido especial.
Nos dias seguintes àquela leitura, caminhei por aí balançando a cabeça. Uma parte do meu cérebro estava procurando em vão por uma explicação racional, enquanto outra parte estava se esforçando para encontrar um meio de incorporar esse conhecimento na minha nova visão de mundo. Como um cético-racional-científico encontra um lugar em sua filosofia para isso? (Embora antes pudesse pensar a mesma coisa com relação à morte.)
Para "One Little Victory", foi escolhido o Cavaleiro de Paus (Knight of Wands) que, segundo o jogo, significa a personificação da intensidade, da paixão, da ação focalizada, da força e da criatividade. Sua ação é sempre apaixonada, procurando melhorar sempre. Ele avança de modo decidido e impetuoso, e às vezes impaciente, na direção do seu objetivo. Sua acurada intuição requer ação rápida, mas há coisas que de fato precisam de tempo para acontecer. Esse cavaleiro diz que é preciso escolher um foco de atuação na vida e lançar-se sobre ele, vivendo o que o íntimo sente que precisa viver. Há momentos em que uma ação vigorosa é requerida pelos fatos, e muita espera e ponderação podem representar uma derrocada. Evidentemente que as escolhas e as ações trarão consequências, mas a inércia também. O Cavaleiro de Paus mostra uma avaliação rápida do que seria o pior (ou o melhor) no momento, dizendo que é necessário viver a vida presente, o único tempo verdadeiro.
A partir de "One Little Victory", é possível perceber que Vapor Trails é, definitivamente, uma nova e dramática proposta fundamental para o Rush - de maneira muito similar ao momento histórico vivido pela banda no início dos anos de 1980, quando Lee, Lifeson e Peart tomavam uma nova, ousada e importantíssima direção musical. Mesmo com todas as mudanças, ainda é possível perceber suas maiores e inconfundíveis características, como compassos complexos aliados à exploração de novas tendências, porém mantendo intacta sua essência progressiva.
"Para mim, a capa do álbum representa a queima do fogo da vida", diz Geddy. "É uma linda pintura, com a bola de fogo trazendo faíscas, rastros e sussurros. Todas essas coisas são muito simbólicas para mim, representando memória, espírito e tudo que está ligado à vida. 'One Little Victory' lida com os desafios ao longo dos anos. Certamente, é muito simbólica como faixa de abertura, pois representa a sobrevivência a partir de momentos infelizes e o fato de estarmos juntos novamente, voltando a produzir algo espirituoso e contemporâneo. Fiquei muito orgulhoso com esse trabalho".
"Representa também todas as coisas que deixamos para trás", completa Lifeson.
© 2016 Rush Fã-Clube Brasil
"One Little Victory" é a propulsora abertura de Vapor Trails, 17º álbum de estúdio gravado pelo Rush e o primeiro com faixas inéditas após um hiato de quase seis anos. Com o anterior Different Stages, coletânea ao vivo de 1998, o trio fechava de forma incerta mais um capítulo da sua história, envolvido por delicados impasses emocionais provenientes dos trágicos acontecimentos ocorridos na vida pessoal de Neil Peart.
Logo após a conclusão da turnê Test for Echo (ocorrida em 4 de julho de 1997), Selena Taylor, filha de Neil de apenas 19 anos, faleceu em um acidente de carro na Highway 401 em Ontário, no dia 10 de agosto do mesmo ano. Jacqueline Taylor, com quem foi casado durante 22 anos, não resistiu à luta contra um câncer e morreu dez meses depois, em 20 de junho de 1998. O músico, entretanto, sempre encarou a morte da esposa como o resultado de um coração frágil, classificando-a como "Um lento suicídio de apatia. Ela apenas não se importava mais".
Em seu livro Ghost Rider: Travels on the Healing Road, também lançado em 2002, o baterista explica que, durante o funeral da sua esposa, comunicou aos seus colegas de banda, "Considerem-me aposentado".
Buscando reencontrar sentido para uma vida destroçada em tão pouco tempo, decidiu ingressar em uma jornada de fuga, exílio e exploração. Partindo de Quebec com sua motocicleta BMW R1200GS, seguiu para o Alasca, descendo as regiões costeiras ocidentais do Canadá e Estados Unidos até o México e Belize, finalmente retornando para sua cidade. Enquanto percorria a sua "Estrada da Cura", registrava em diários seus progressos e retrocessos no processo de luto e cura, além da dor de reviver constantemente suas perdas. Mesmo convivendo com sentimentos tão confusos e obscuros, o músico consegue descrever com maestria deslumbrante, colorida, divertida e comovente a enorme gama de aventuras com as quais se deparou em sua jornada, que partia não somente das montanhas para o mar, mas também dos desertos de gelo no Ártico para dezenas de personagens memoráveis que encontrava ao longo do caminho, como amigos e parentes.
O retorno do Rush com seu lendário baterista se deu numa fria manhã, em janeiro de 2001, quando Geddy Lee, Alex Lifeson e Peart se reuniram novamente num pequeno estúdio em Toronto, a fim de tentarem retormar a sua longa história de música e amizade.
"Foram quase cinco anos desde Test for Echo mas, após 27 anos juntos e 16 discos lançados, estávamos esperançosos que a química entre nós seria reativada - que o fogo acenderia novamente", diz Peart. "Bem lá no fundo estávamos apreensivos. Seríamos realmente capazes de conseguir uma quantidade suficiente de músicas que gostássemos para completar um novo álbum? Essa é sempre uma questão difícil e mais ainda desta vez, quando tanta coisa aconteceu em nossas vidas. Nos últimos cinco anos, Geddy e Alex produziram seus próprios projetos, para eles mesmos e para os outros, e cada um deles se acostumou a ser o 'Chefe Supremo de Tudo'. Por muitas razões, o processo de retomar a engrenagem tinha que ser gradual, exploratório e cuidadoso. Não traçamos parâmetros, objetivos e limitações, mas nos aproximamos de maneira relaxada e civilizada para a empreitada. Não tínhamos pressa, pressão ou maratonas no estúdio - pela primeira vez na vida! Apenas permanecemos trabalhando, dia após dia, tentando tirar o melhor de cada um de nós alimentando o fogo da colaboração e da inspiração mútua".
Vapor Trails reverbera o senso de recém-descoberta de Peart sobre si mesmo, ecoando de forma surpreendente suas perdas dolorosas. Essa razão pode, sem sombra de dúvidas, classificar o álbum como uma das obras líricas mais abertas lançadas pela banda em toda carreira.
Simbolizando o renascimento de uma vida artística, "One Little Victory" marca o retorno triunfal e extraordinário dos talentosos canadenses. Envolta por uma emoção crua e por grande poder de fogo, foi o primeiro single do álbum, lançado em 22 de março de 2002 e estreando na 22ª posição do Mainstream Rock Tracks da Billboard - atingindo o Top 10 em poucas semanas. Mesmo após tanto tempo longe das suas admiradas atividades, a banda consegue retornar dando um passo ousado à frente, destilando uma de suas mais explosivas introduções. Dominando o futuro através de um trabalho urgente e fantástico, o herói baterista bombardeia um pequeno solo de conduções que evocam uma cavalaria ou locomotiva buscando um destino indeterminado, com a explosão dissipando rapidamente quaisquer preocupações com a longa ausência e indicando ainda o infalível perfeccionismo do músico. Simplesmente inspiradora, "One Little Victory" traz riffs construídos em texturas muito proeminentes e agressivas, e a voz de Geddy Lee é colocada à prova em notas mais altas, atingidas com grande perícia. Todo o aparato mergulha em um hino melódico moderno, abrilhantado com camadas de vocalizações e guitarras em lamento.
O momento expõe a banda fazendo uma releitura de si mesma, surpreendendo a muitos que davam como incerto seu retorno poucos anos antes. Os músicos se mostram fortes, revigorados e com muita energia - talvez como jamais na carreira. O Rush é historicamente conhecido por mudanças em seu estilo musical com propósitos definidos, tanto para situar o estilo individual de cada álbum bem como para a cada etapa criativa. Vapor Trails traz mudanças em muitos aspectos fundamentais: pela primeira vez, desde os álbuns iniciais, não haveria a utilização de quaisquer teclados nas gravações. Adicionalmente, as guitarras são predominantemente harmônicas ao invés de melódicas: poucos solos e muitos efeitos crus. O som se apoia fortemente em texturas com distorções tradicionais e gravações de voz - todas, inclusive o baixo, em várias pistas simultâneas, o que proporciona um tom mais obscuro como resultado final.
"Acredito que muitas das canções do álbum nasceram como um desejo de querermos provar para nós mesmos que ainda tínhamos um grande sentimento e intensidade pelo que fazemos", diz Geddy. "E, de certa forma, elas são uma espécie de celebração de um retorno de espírito que, é claro, representou um ponto de interrogação durante um bom tempo. Sobre 'One Little Victory', adorei a ideia de Neil surgindo como o cara que abre o disco com a fúria que diz, 'Estamos de volta'. E também fiquei satisfeito com todo sentimento da canção, sobre estar ciente desses pequenos sucessos - as pequenas coisas cotidianas que realmente contam - que tantas vezes damos como certas".
Vapor Trails consumiu 14 meses de produção. Inspirados por algumas palavras encontradas por Peart em um rabisco numa parede de um bar em Montana, EUA ("O sucesso não é resultado de combustão espontânea, você deve se colocar no fogo"), a banda propunha um trabalho derramando coração e alma talvez em maior quantidade do que em qualquer outro anterior. As letras do baterista assumiam uma natureza mais reveladora e pessoal, levando o ouvinte de carona em suas viagens. Ao invés de insistir nas tragédias do passado, Peart se mostra determinado a refletir sobre o que aprendeu, abraçando o presente e se preparando para o futuro.
Liricamente poderosa, "One Little Victory" afirma o passar do tempo que pode prover vitórias. Há uma exaltação de como as pequenas realizações da vida são as que trazem os sentimentos mais gratificantes e satisfatórios, e o ato de render valor a coisas tão elementares representa uma das realizações íntimas mais importantes. Trata-se, portanto, da celebração de triunfos pessoais. Basicamente, o tema lida com a superação de perdas e derrotas, colocando cada dia como uma pequena vitória na luta pela sobrevivência.
"'One Little Victory' era um tipo de canção-triunfo para nós, e a mensagem da letra é sobre isso", relembra Geddy. "Havia algo nessa canção que parecia muito enervante para a abertura do disco, e também por ser nosso primeiro lançamento depois de tanto tempo. Ela começou com uma coleção de jams que Alex havia feito tarde da noite, apenas um monte de riffs de guitarra ligados entre si e de maneira verdadeiramente nonsense, algo característico dele. Cheguei no dia seguinte, após ele ter construído essas coisas - cocei a cabeça e realmente gostei muito daquilo. Ao mesmo tempo, tínhamos uma letra que Neil havia escrito, sendo uma das poucas que gostei de cara, sem precisar tocar em uma única palavra. Era ótima. Toquei com ela durante alguns dias, começando a utilizar o equipamento digital para manipular os riffs e adicionar meu baixo, iniciando com as melodias vocais. E, antes que eu soubesse, tínhamos uma canção ou o que parecia ser uma canção. Assim, executei para o Sr. Lerxst e ele pareceu gostar de verdade. Desde então o material se tornou uma música, e pouco tempo depois".
"Lembro-me de ter tocado algumas ideias com Alex durante o dia, as quais capturamos em fita", diz o baixista. "Depois das cinco, saí para jantar com minha família. Não sou uma pessoa da noite e, às vezes, esse é o momento em que Alex ganha a vida. Ele começou a fazer jams sozinho e, na manhã seguinte, encontrei todas aquelas coisas bizarramente fantásticas espalhadas por diferentes faixas. Eu já dispunha da letra do Neil e ainda não havia encontrado uma casa para ela. Então, utilizando um computador, comecei a cortar e a colar as ideias aleatórias de Alex, colocando as linhas de baixo e mudanças de tempo, o que fez nascer uma versão rudimentar de 'One Little Victory'".
"Essa canção começou com uma série de experimentos de Alex na guitarra. Numa noite, ele ficou até mais tarde fixando alguns elementos ferozes, próximos ao blues, mas que não soavam muito parecidos com uma canção. Aquilo esperava uma letra interessante, o que me traria ideias para entrar e começar a tocar com os riffs. No meu mundo digital, selecionei o que achava mais forte e comecei a acompanhar no baixo. Algumas coisas foram nascendo, então remodelei de acordo com a atitude, o que me trazia ideias para trabalhar com as letras. No baixo, apenas tentei seguir preenchendo as lacunas sendo inspirado pelos riffs, e ia tentando mantê-la em movimento e blueseira".
"Nós brincamos com a ordem das canções em Vapor Trails até o último minuto", explica Peart. "No entanto, nunca duvidei de que essa abriria o álbum. 'One Little Victory' trazia um anúncio muito intransigente: 'Eles vol-ta-ram!'".
"Bem, ficamos indo e vindo com a ordem das canções, mas nunca questionamos que 'One Little Victory' deveria abrir o disco", afirma Lee. "Ela sempre me pareceu natural como um começo, pois era a que trazia o espírito mais positivo, e especialmente por iniciar com a bateria de forma tão furiosa. Foi muito tentador. Algumas coisas são muito óbvias, você só deve reconhecê-las e ir com elas".
"Eu trabalhava nessa canção e trouxe a parte do pedal duplo", diz Peart. "Achei que funcionaria perfeitamente para o final da canção. Mas Geddy disse, 'Esse trecho é ótimo. Você deveria abrir com ele. Seria matador'. Francamente, não teria feito dessa maneira - não achava que teria sido assertivo. Porém Geddy sugeriu e respondi, 'OK, vou tentar'".
Alguns trechos do livro Ghost Rider exemplificam claramente as intenções de Peart para o tema de "One Little Victory". O baterista tentava retomar sua vida pautado em pequenas tarefas cotidianas, estas que considerava enormemente significantes, como verdadeiras vitórias diárias.
Consegui ir marcando algumas pequenas vitórias. Hoje enviei uma bela carta para minha sobrinha, Hannah, respondendo-a, e enviei também uma cópia do meu vídeo-aula Work In Progress para meu amigo de 16 anos Nick, de Palm Springs - um estudante de bateria neto de Buddy Rich. Nessas pequenas atitudes me permiti sentir que fazia alguma marca no dia e no mundo.
Estabeleci pequenos desafios para mim mesmo: talvez dirigir para alguma cidade, pegar algumas flores frescas, encher os alimentadores de pássaros, dar uma volta ou um passeio de bicicleta, limpar a cozinha, ir à lavanderia... qualquer coisa que seja, e assim seguia marcando meus pontinhos, vitórias atingíveis.
A vida é medida por pequenos desafios e pequenas vitórias. Acho que não é tão ruim, e provavelmente um monte de pessoas boas passem seus dias dessa forma. Talvez prefeririam que essas pequenas vitórias fossem um pouco mais exigentes, ou até mesmo gratificantes, mas cada um faz o melhor com o que tem.
Tematicamente instigante, Vapor Trails utiliza algumas cartas de tarô para simbolizar os arquétipos discutidos em cada canção. Neil descreve em Ghost Rider sua experiência com o jogo, enquanto passeava em Venice Beach (um distrito litroâneo em Los Angeles) com Gabrielle, uma jovem hostess canadense e aspirante a atriz que conheceu durante seu exílio, por intermédio do amigo e fotógrafo Andrew MacNaughtan (1964 - 2012).
Certa tarde, Gabrielle e eu estávamos passeando entre as palmeiras à beira da praia em Venice Beach, captando o cenário surreal (que na verdade se parecia com um set de filme) de lojas de souvenir, vendedores ambulantes, cartomantes, músicos de rua e o desfile de indivíduos de aparência estranha. Havia vários leitores de tarô, e fiquei um pouco curioso com aquilo. Embora sempre tenha sido um cético em relação às cartas, tento ficar aberto a todas as possibilidades (gosto de pensar que essa é a diferença entre um cínico e um cético: o cínico desdenha, e o cético apenas duvida). Então, achei que seria divertido ter a minha primeira leitura de tarô. As imagens naquelas cartas sempre me pareceram românticas e místicas, e alguns nomes que conhecia pareciam intrigantes: A Torre, O Enforcado, Os Amantes, O Tolo.
Dentre os leitores de cartas da calçada, escolhi o único que não estava vestido com trajes ciganos: um homem magro e esguio com cerca de 60 anos e um rosto marcado pela idade. Enquanto me sentava junto à mesa ao lado dele, sua expressão permanecia calma e objetiva. (Mais tarde, soube que era um veterano do Vietnã e um homem prático, com os pés no chão). Ele abriu seu baralho de cartas já bem gasto diante de nós, com as cartas viradas para baixo e separadas em dois montes, que foram unidos com um elástico de borracha. Sem perguntar qualquer coisa e sem tentar reunir quaisquer "pistas", ele empurrou um dos montes na minha direção e me disse para escolher cinco cartas. Eu as escolhi de um modo que parecesse aleatório, e ele as colocou na mesa com as faces viradas para cima. A Morte, A Sabedoria, A Torre, A Roda da Fortuna, A Papisa.
Depois de alguns segundos de silêncio, ele sacudiu a cabeça e disse, 'Isso é bem incomum'. Então me deu sua interpretação, que me deixou tão perplexo que fui obrigado a pedir que ele anotasse para mim num papel: 'Depois de uma grande tragédia e atribulação, você está tentando reconstruir a si mesmo e a sua vida. A dor da separação está gerando infelicidade, e você está insistindo em conflitos passados, viajando com remorsos. Você trabalha com artes performáticas de alguma espécie – ator? músico? – e seu trabalho lhe oferece abundância, mas isso está se deteriorando à medida que você se move para uma direção diferente. Agora você está viajando para longe de casa, tentando começar um novo ciclo, mas você não está pronto. Você precisa de mais discernimento'. Então ele me fez escolher cinco cartas da pilha seguinte, e continuou:
'Depois de uma época de dificuldade, infelicidade e problemas financeiros, você vai encontrar um recomeço com um relacionamento e uma época de superabundância. Essa pessoa não vai apenas lhe dar afeto, mas também ajudará a resolver os seus problemas com dinheiro. Ela será uma verdadeira parceira para você'.
Meu queixo caiu, e ainda está caindo. Aquela pequena leitura era tão verdadeira em cada aspecto, antes e agora, que, como disse na época: 'Balançou meu mundo'. Era algo muito além da possibilidade de adivinhação ou de generalidades, e os eventos subsequentes e outras leituras futuras apenas reforçaram aquela experiência - a repetição me deu 'evidência empírica' de como aquela ocasião havia sido especial.
Nos dias seguintes àquela leitura, caminhei por aí balançando a cabeça. Uma parte do meu cérebro estava procurando em vão por uma explicação racional, enquanto outra parte estava se esforçando para encontrar um meio de incorporar esse conhecimento na minha nova visão de mundo. Como um cético-racional-científico encontra um lugar em sua filosofia para isso? (Embora antes pudesse pensar a mesma coisa com relação à morte.)
Para "One Little Victory", foi escolhido o Cavaleiro de Paus (Knight of Wands) que, segundo o jogo, significa a personificação da intensidade, da paixão, da ação focalizada, da força e da criatividade. Sua ação é sempre apaixonada, procurando melhorar sempre. Ele avança de modo decidido e impetuoso, e às vezes impaciente, na direção do seu objetivo. Sua acurada intuição requer ação rápida, mas há coisas que de fato precisam de tempo para acontecer. Esse cavaleiro diz que é preciso escolher um foco de atuação na vida e lançar-se sobre ele, vivendo o que o íntimo sente que precisa viver. Há momentos em que uma ação vigorosa é requerida pelos fatos, e muita espera e ponderação podem representar uma derrocada. Evidentemente que as escolhas e as ações trarão consequências, mas a inércia também. O Cavaleiro de Paus mostra uma avaliação rápida do que seria o pior (ou o melhor) no momento, dizendo que é necessário viver a vida presente, o único tempo verdadeiro.
A partir de "One Little Victory", é possível perceber que Vapor Trails é, definitivamente, uma nova e dramática proposta fundamental para o Rush - de maneira muito similar ao momento histórico vivido pela banda no início dos anos de 1980, quando Lee, Lifeson e Peart tomavam uma nova, ousada e importantíssima direção musical. Mesmo com todas as mudanças, ainda é possível perceber suas maiores e inconfundíveis características, como compassos complexos aliados à exploração de novas tendências, porém mantendo intacta sua essência progressiva.
"Para mim, a capa do álbum representa a queima do fogo da vida", diz Geddy. "É uma linda pintura, com a bola de fogo trazendo faíscas, rastros e sussurros. Todas essas coisas são muito simbólicas para mim, representando memória, espírito e tudo que está ligado à vida. 'One Little Victory' lida com os desafios ao longo dos anos. Certamente, é muito simbólica como faixa de abertura, pois representa a sobrevivência a partir de momentos infelizes e o fato de estarmos juntos novamente, voltando a produzir algo espirituoso e contemporâneo. Fiquei muito orgulhoso com esse trabalho".
"Representa também todas as coisas que deixamos para trás", completa Lifeson.
© 2016 Rush Fã-Clube Brasil
PEART, N. "Ghost Rider: Travels on the Healing Road". ECW Press. September 1, 2002.
PEART, N. "Behind The Fire - The Making Of Vapor Trails". The Vapor Trails Tour Book . 2002.
CORYAT, K. "Track By Track: Geddy Lee On Rush's Vapor Trails". Bass Player. July 2002.
PIPHER, G. "Geddy Lee Of Rush". CNN.Com. June 3, 2002.
HUDSON, J. "Making Memories". Guitarist. January 2006.
MILLER, William F. "Neil Peart: The Fire Returns". Modern Drummer. September 2002.