NEUROTICA



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NEUROTICA

You just don't get it
What it is... well, you're not really sure
You move like you're walking on thin ice
Talking like you're still insecure

Time is a spiral - Space is a curve
I know you get dizzy, but try not to lose your nerve
Life is a diamond you turn into dust
Waiting for rescue, and I know you just
Don't get it
You just don't get it

Neurotica - Exotica
It's just Erotica - Hypnotica
It's just Psychotica - Chaotica
It's just Exotica - Neurotica

You just don't get it
Baby, don't you ask yourself why?
If you don't like the answer - forget it
You know I hate to see you cry

Fortune is random - Fate shoots from the hip
I know you get crazy, but try not to lose your grip
Life is a diamond you turn into dust
Looking for trust, and I know that you just
Don't get it
You just don't get it

SNAP!
Hide in your shell, let the world go to hell
It's like Russian roulette to you
SNAP!
Sweat running cold, you can't face growing old
It's a personal threat to you
SNAP!
The world is a cage for your impotent rage
But don't let it get to you
SNAP!
NEURÓTICA

Você não entende
O que é... bem, você não tem certeza
Se move como se estivesse andando sobre gelo fino
Falando como se estivesse insegura

O tempo é uma espiral - O espaço uma curva
Sei que você fica tonta, mas tente não perder a calma
A vida é um diamante que você transforma em pó
Esperando por salvação, e sei que você
Não a entende
Você não a entende

Neurótica - Exótica
É Erótica - Hipnótica
É Psicótica - Caótica
É Exótica - Neurótica

Você não entende
Baby, não se pergunta por quê?
Se não gostar da resposta - esqueça
Você sabe que odeio te ver chorar

A sorte é aleatória - O destino atira rápido
Sei que você fica louca, mas tente não perder o controle
A vida é um diamante que você transforma em pó
Procurando por confiança, e sei que você
Não a entende
Você não a entende

SE LIGUE!
Se esconder em sua concha e mandar o mundo pro inferno
É como uma roleta russa pra você
SE LIGUE!
Suor escorrendo frio, você não consegue enfrentar o envelhecer
É uma ameaça pessoal pra você
SE LIGUE!
O mundo é uma jaula para sua raiva impotente
Mas não deixe que ela chegue em você
SE LIGUE!


Música por Geddy Lee e Alex Lifeson / Letra por Neil Peart


Problemas e pressões fazem parte do jogo - não permita que tais dificuldades mutilem sua vida

"Neurotica" é a penúltima canção de Roll The Bones. Após climas mais brandos com as imediatamente anteriores "The Big Wheel", "Heresy" e "Ghost of a Chance", o Rush volta a apresentar uma música mais ardente e pulsante, com Neil Peart prosseguindo na articulação de pensamentos sobre a fragilidade e a preciosidade da vida humana. Dessa vez, o letrista observa a tristeza de pessoas que permitem que suas vidas escapem de suas mãos, não conseguindo resistir às pressões do mundo e tornando-se escravas das neuroses.

Musicalmente, a faixa se revela como uma típica canção do Rush, provida de interessantes mudanças de clima e trabalhos notáveis de guitarras, baixo e percussão. Os vocais de Geddy são mais uma vez colocados à prova, estendendo-se por uma intensa e constante gama de variações. A junção entre letra e música consegue criar um conjunto relativamente enigmático e de boa sensação melódica, onde a banda se propõe a mesclar, principalmente, versos fortes com refrões mais suaves. Ademais, "Neurotica" utiliza alguns elementos eletrônicos interessantes que se encaixam muito bem em sua estrutura musical, além de oferecer mais um solo de guitarra intenso e feroz no disco - capaz de evocar lembranças de alguns trabalhos do trio concebidos no início da década anterior.

"Geralmente, utilizamos sequenciadores para o baixo em apenas uma música de cada álbum, pois é sempre bom conseguirmos uma mudança textural que fuja daquela sonoridade de dedos na madeira", explica Geddy. "Há bons sequenciadores que emulam sons que um ser humano comum não consegue captar, graças a Deus [risos]. Em Roll The Bones, utilizamos sequenciadores de baixo em 'Neurotica'".

Assim como "The Enemy Within" (de Grace Under Pressure, 1984), temos em "Neurotica" outra obra que visita a obscuridade da mente humana, aqui simbolizada na discussão entre um casal - uma das técnicas de composição preferidas de Peart. Seguindo o significado central do álbum, a canção prossegue com o exaltar da existência, lembrando que jamais poderemos desenhar a mesma por caminhos previamente conhecidos. Assim, a nona faixa defende a importância vital da decisão e da iniciativa em nossa jornada, forjando nossas próprias trilhas.

"Neurotica", como um todo, lança opiniões e palavras de incentivo sobre o enfrentar das dificuldades inerentes à vida, celebrando novamente a força do ser humano que abraça a coragem e a perseverança. A composição expõe preocupações sobre a insegurança, o descontrole e o isolamento - elementos capazes de aniquilar pessoas.

"Alguns indivíduos não conseguem lidar com o mundo da forma que ele é, ou até mesmo com a forma que eles mesmos são", explica Peart. "Eles se sentem impotentes para mudar as coisas, ficando loucos. Desperdiçam suas vidas devido a delírios, paranoia, raiva, falta de propósito e neuroses e, nesse processo, muitos daqueles que os rodeiam também se tornam infelizes. São tensões nas amizades e em casamentos desfeitos, com crianças perturbadas. Acho que deveriam parar com isso. É o chamado auto-engano".

O título da canção refere-se a um neologismo criado por Sigmund Freud (1856 - 1939), utilizado em sua primeira abordagem à etiologia das neuroses. O termo aparece apenas uma vez em seus escritos, mais precisamente em uma de suas cartas ao amigo e médico alemão Wilhelm Fliess (1858 - 1928), datada de 21 de setembro de 1897.

O psiquiatra escocês William Cullen (1710 - 1790) definiu, em 1769, as neuroses como desordens do sentido e ação, para que conseguisse descrever mais facilmente as várias instabilidades nervosas e sintomas que não poderiam ser explicados psicologicamente. Entretanto, o termo foi mais utilizado no século seguinte, especialmente por Freud e Carl Jung (1875 - 1961) - esse último seria destacadamente visitado por Peart em composições futuras. Freud entendia a neurose como o resultado de um conflito entre o ego e o id, ou seja, entre aquilo que o indivíduo é ou foi com aquilo que ele desejaria prazerosamente ser ou ter sido. Como doença, a neurose representaria uma variedade de condições psiquiátricas, nas quais a angústia emocional ou o conflito inconsciente são expressos em inúmeras perturbações de natureza física, fisiológica ou mental. Tendências neuróticas são comuns e podem se manifestar nas formas de ansiedade, depressão, tendências obsessivo-compulsivas, fobias e até mesmo desordens de personalidade.

Dessa forma, as neuroses consistem em perturbações de natureza emocional, também ligadas à personalidade do indivíduo e ao seu universo afetivo. Diante de determinadas situações, todos nós temos reações emocionais - mas o neurótico geralmente as expressa exageradamente. Eles passam a temer os contextos que lhe desencadeiam tais sentimentos, deixando de realizar certas atividades e fugindo de eventos sociais, preocupando-se excessivamente com tudo e com todos e sempre sofrendo por antecedência. Normalmente, trazem a consciência do seu estado alterado, mas não conseguem encontrar uma saída para o problema.

As neuroses estão intrinsecamente ligadas à personalidade do indivíduo, como um traço de caráter. Elas apresentam, diante da vida, reações existenciais consideradas anormais e desiguais, desprovidas de uma causa visível. Entre os sintomas desse distúrbio psíquico (que geralmente não apresentam perda do senso de realidade ou da lucidez), a angústia se destaca. Segundo os psicanalistas, a neurose é uma conseqüência de conflitos interiores entre impulsos e reações defensivas - embates que não logram o equilíbrio.

No refrão, notadamente marcado pela utilização de backing vocals, Neil Peart combina ludicamente o termo neurotica de Freud com outras palavras de fonética e significados semelhantes, adaptando-as para formarem um agradável e interessante impacto sonoro (algo semelhante ao que realizou na canção "Anagram", do anterior Presto, de 1989). Essa investida busca expressar desdobramentos característicos da própria vida e de sua ampla variedade de facetas, sendo por vezes exótica, caótica, erótica e hipnótica - um lembrete sobre sua aleatoriedade e imprevisibilidade. Nossas percepções, sensações e experiências sobre a mesma sempre serão bastante dinâmicas e diversas.

Anos mais tarde, porém, Geddy Lee reconheceu que "Neurotica" não resistiu bem ao teste do tempo. "Recentemente, ouvi a canção 'Neurotica' e pensei, que diabos foi isso?", diz Geddy. "É uma música estranha. Sinto que tivemos uma carreira como compositores com muitos altos e baixos, mas algo verdadeiro e que sempre foi mantido é a nossa honestidade com o que fazemos. Gostem ou não, é isso que somos".

O trecho final da canção expõe conselhos de determinação e bravura similares ao que foi feito no rap da faixa-título, "Roll The Bones". "Neurotica", portanto, analisa os momentos em que nossas mentes se tornam sobrecarregadas com o volume da vida e com o universo que nos bombardeia. Muitas coisas para compreender, tantas coisas para contemplar e alguns outros pontos sobre os quais nos prendemos que não são tão significativos. O importante é termos a sensibilidade para captar o grau de relevância de cada elemento, assumindo nossas responsabilidades e buscando a força do otimismo para virarmos o jogo quando necessário.

© 2015 Rush Fã-Clube Brasil

ELLIOTT, P. "Everyone Loves Rush". Classic Rock #211. July 2015.
FRETMAN, S. "Geddy Lee On The Art Of Being Rush". Hijinx. January 1992.
BASS PLAYER. "Geddy Lee: The Roll The Bones Interview". June 1992.