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AVAILABLE LIGHT DREAMLINE BRAVADO
DREAMLINE
He's got a road map of Jupiter
A radar fix on the stars
All along the highway
She's got a liquid-crystal compass
A picture book of the rivers
Under the Sahara
They travel in the time of the prophets
On a desert highway straight to the heart of the sun
Like lovers and hereos, and the restless part of everyone
We're only at home when we're on the run
On the run
He's got a star map of Hollywood
A list of cheap motels
All along the freeway
She's got a sister out in Vegas
The promise of a decent job
Far away from her hometown
They travel on the road to redemption
A highway out of yesterday - that tomorrow will bring
Like lovers and heroes, birds in the last days of spring
We're only at home when we're on the wing
On the wing
WHEN WE ARE YOUNG
WANDERING THE FACE OF THE EARTH
WONDERING WHAT OUR DREAMS MIGHT BE WORTH
LEARNING THAT WE'RE ONLY IMMORTAL -
FOR A LIMITED TIME
Time is a gypsy caravan
Steals away in the night
To leave you stranded in Dreamland
Distance is a long-range filter
Memory a flickering light
Left behind in the heartland
We travel in the dark of the new moon
A starry highway traced on the map of the sky
Like lovers and heroes, lonely as the eagle's cry
We're only at home when we're on the fly
On the fly
We travel on the road to adventure
On a desert highway straight to the heart of the sun
Like lovers and hereos, and the restless part of everyone
We're only at home when we're on the run
On the run...
He's got a road map of Jupiter
A radar fix on the stars
All along the highway
She's got a liquid-crystal compass
A picture book of the rivers
Under the Sahara
They travel in the time of the prophets
On a desert highway straight to the heart of the sun
Like lovers and hereos, and the restless part of everyone
We're only at home when we're on the run
On the run
He's got a star map of Hollywood
A list of cheap motels
All along the freeway
She's got a sister out in Vegas
The promise of a decent job
Far away from her hometown
They travel on the road to redemption
A highway out of yesterday - that tomorrow will bring
Like lovers and heroes, birds in the last days of spring
We're only at home when we're on the wing
On the wing
WHEN WE ARE YOUNG
WANDERING THE FACE OF THE EARTH
WONDERING WHAT OUR DREAMS MIGHT BE WORTH
LEARNING THAT WE'RE ONLY IMMORTAL -
FOR A LIMITED TIME
Time is a gypsy caravan
Steals away in the night
To leave you stranded in Dreamland
Distance is a long-range filter
Memory a flickering light
Left behind in the heartland
We travel in the dark of the new moon
A starry highway traced on the map of the sky
Like lovers and heroes, lonely as the eagle's cry
We're only at home when we're on the fly
On the fly
We travel on the road to adventure
On a desert highway straight to the heart of the sun
Like lovers and hereos, and the restless part of everyone
We're only at home when we're on the run
On the run...
LINHA DE SONHO
Ele tem um roteiro de Júpiter
Um radar fixo nas estrelas
Ao longo da estrada
Ela tem uma bússola de cristal-líquido
Um livro de fotos dos rios
Abaixo do Saara
Eles viajam no tempo dos profetas
Numa estrada deserta direto ao coração do sol
Como amantes e heróis, e o lado inquieto de todos
Só estamos em casa quando estamos correndo
Correndo
Ele tem um mapa das estrelas de Hollywood
Uma lista de motéis baratos
Ao longo da rodovia
Ela tem uma irmã fora em Vegas
A promessa de um emprego digno
Longe de sua cidade natal
Eles viajam no caminho para a redenção
Uma estrada de ontem - que o amanhã trará
Como amantes e heróis, pássaros no fim da primavera
Só estamos em casa quando estamos voando
Voando
QUANDO SOMOS JOVENS
VAGAMOS PELA FACE DA TERRA
QUESTIONAMOS SE NOSSOS SONHOS VALERÃO A PENA
APRENDEMOS QUE SÓ SOMOS IMORTAIS -
POR TEMPO LIMITADO
O tempo é uma caravana cigana
Saindo sorrateira na noite
Para deixá-lo encalhado na Terra dos Sonhos
A distância é um filtro de longo alcance
E a memória uma luz trêmula
Deixada para trás no interior
Viajamos na escuridão da lua nova
Uma estrada de estrelas traçada no mapa dos céus
Como amantes e heróis, solitários como o grito da águia
Só estamos em casa quando estamos em movimento
Em movimento
Viajamos no caminho para a aventura
Numa estrada deserta direto ao coração do sol
Como amantes e heróis, o lado inquieto de todos
Só estamos em casa quando estamos correndo
Correndo...
Ele tem um roteiro de Júpiter
Um radar fixo nas estrelas
Ao longo da estrada
Ela tem uma bússola de cristal-líquido
Um livro de fotos dos rios
Abaixo do Saara
Eles viajam no tempo dos profetas
Numa estrada deserta direto ao coração do sol
Como amantes e heróis, e o lado inquieto de todos
Só estamos em casa quando estamos correndo
Correndo
Ele tem um mapa das estrelas de Hollywood
Uma lista de motéis baratos
Ao longo da rodovia
Ela tem uma irmã fora em Vegas
A promessa de um emprego digno
Longe de sua cidade natal
Eles viajam no caminho para a redenção
Uma estrada de ontem - que o amanhã trará
Como amantes e heróis, pássaros no fim da primavera
Só estamos em casa quando estamos voando
Voando
QUANDO SOMOS JOVENS
VAGAMOS PELA FACE DA TERRA
QUESTIONAMOS SE NOSSOS SONHOS VALERÃO A PENA
APRENDEMOS QUE SÓ SOMOS IMORTAIS -
POR TEMPO LIMITADO
O tempo é uma caravana cigana
Saindo sorrateira na noite
Para deixá-lo encalhado na Terra dos Sonhos
A distância é um filtro de longo alcance
E a memória uma luz trêmula
Deixada para trás no interior
Viajamos na escuridão da lua nova
Uma estrada de estrelas traçada no mapa dos céus
Como amantes e heróis, solitários como o grito da águia
Só estamos em casa quando estamos em movimento
Em movimento
Viajamos no caminho para a aventura
Numa estrada deserta direto ao coração do sol
Como amantes e heróis, o lado inquieto de todos
Só estamos em casa quando estamos correndo
Correndo...
As sensações de invulnerabilidade comuns à juventude
O Rush ingressa na década de 1990 com "Dreamline", primeira faixa do álbum Roll The Bones. Os produtivos anos de 1980 passavam, e os canadenses continuavam caminhando com passos firmes na direção do seu já considerado retorno às raízes. Logicamente, não se tratava de uma volta aos marcantes moldes primordialmente progressivos dos primeiros anos, mas uma perseguição que buscava mais ênfase do básico bateria, baixo e guitarra. Como no anterior Presto (1989), os sintetizadores ainda aparecem, porém com destaque diminuto, ocupando apenas alguns detalhes que refletiam o gradual afastamento da fórmula utilizada sem restrições durante a maior parte do período anterior.
"Dreamline" sintetiza o momento vivido pelo próprio trio. O começo, ao som de ondas quebrando na costa, nos convida a mergulhar em uma verdadeira viagem enérgica e cálida, um brinde à intensidade da juventude traduzida na perfeita confluência entre tema e música, algo que continua marcante nas produções da banda. Toda atmosfera rock flui por um riff épico e marcante, além de uma vigorosa e implacável melodia de condução, teclados equilibrados, refrão encantador e um solo de guitarra simplesmente fantástico, que queima como uma paixão veemente. O Rush mostrava que, mesmo depois de 17 anos juntos, ainda tinham muito vigor para dissipar.
Com um desenrolar lírico similar à canções como "Losing It" (de Signals, 1982), "Middletown Dreams" (de Power Windows, 1985) e "War Paint" (do anterior Presto), "Dreamline" se refere à personagens bastante agitados que viajam por variadas estradas, totalmente inseridos em uma atmosfera de aventuras e de possibilidades. Neil Peart, o poderoso sustentáculo percussivo e lírico do trio nos trazia, além de suas mágicas performances no instrumento, pensamentos fascinantes sobre a brevidade da vida, tema que discorreria por todo o disco.
Em "Dreamline", certamente uma das composições mais certeiras da banda, ele escava essa temática desenhando o sentimento sempre onipresente dos prazeres da vida quando se é jovem. O instrumental, viajante e positivo, contribui para o significado Carpe Diem da canção, expressão bastante difundida que provém de um poema de Horácio (poeta romano lírico e satírico), popularmente traduzida como "colha o dia" ou "aproveite o momento" - expressando o apelo de se evitar gastar tempo com coisas inúteis, justificando o prazer imediato e sem medo do futuro. "Dreamline" narra uma estrada que está à frente: a linha dos sonhos dos jovens. A mensagem central exalta que somente seremos verdadeiramente felizes se estivermos nos dirigindo para algum lugar. Indubitavelmente, recebemos o impacto de liberdade automobilística similar ao explorado em "Red Barchetta", famosa canção do álbum Moving Pictures, de 1981.
A inspiração para o título vem do romance sci-fi Lifeline, escrito pelo autor de ficção científica e amigo da banda Kevin J. Anderson. Publicado pela primeira vez em 1990, a história retrata o planeta Terra destruído em um futuro pós-nuclear, onde três colônias espaciais formadas por diferentes nações se encontram, representando a última chance de sobrevivência da humanidade.
"Enviei para Neil uma cópia do meu romance Lifeline, além de Trinity Paradox escrito à mão", lembra Anderson. "Esse último anteriormente se chamava Timeline, antes da editora me fazer mudar. Depois de ler Lifeline e Timeline, Neil se dedicou na composição de 'Dreamline', a primeira canção do album Roll The Bones".
Incrivelmente, "Dreamline" quase foi descartada durante sua concepção. No começo, a canção era apenas um amontoado de ideias confusas, que eram chamadas por Peart de "lixo". "'Dreamline' é a canção de abertura do álbum, sendo a primeira também na qual comecei trabalhar, meses antes de me juntar à banda para prepararmos todo o trabalho", recorda Peart. "Eu não estava acreditando em nada daquilo, mas algo continuava me obrigando a seguir em frente. Sabia que estava tudo perdido naquele imaginário e que não conseguiria aproveitar absolutamente nada daquilo - pra mim era apenas lixo. Assim, nos três primeiros dias de trabalho, parei para me dedicar a ela continuando com minha opinião. Por fim, acabei alcançando algo que foi muito gratificante".
Quem se lembra dos sonhos de criança - aqueles sonhos primordiais que resultavam de uma vontade pura, ainda livre das influências externas? As experiências subsequentes, influenciadas pela família e por outras pessoas ao redor, acabavam por abafar as preciosas aspirações. Entretanto, por volta da puberdade, o futuro se torna visível e novos sonhos fecundam. Estes sonhos crescem, amadurecem, e finalmente explodem, empurrando o jovem em direção ao mundo - até mesmo aqueles que continuam nos arredores da família sonham com essa independência e liberdade de guiar a própria vida. Todos querem amar alguém ou algo além dos próprios pais. Conformista ou rebelde, todo ser humano procura por novas conexões.
Em "Dreamline", Peart expõe a vontade audaz da juventude de explorar o mundo, momentos nos quais imaginamos inconscientemente sermos imortais. Lembrando de composições como "Between the Wheels" (de Grace Under Pressure), "Time Stand Still" e "Turn The Page" (de Hold Your Fire), pensamos na grande peça que a vida nos prega: quando jovens, visamos bastante o futuro, porém, quando mais velhos, acabamos por nos segurar nas memórias, com o presente ficando espremido entre essas duas forças magníficas. Mais tarde, nos contentamos com uma versão do presente geralmente muito distante daquilo que sonhávamos, sendo essa a tragédia essencial do ser humano. Por mais que estejamos sempre entre amigos e entes queridos, no fundo sabemos que estamos sozinhos - não literalmente, mas na essência. Nossos sonhos profundos são solitários ("Like lovers and heroes, lonely as the eagle's cry" - "Como amantes e heróis, solitários como o grito da águia").
"Todos nós experimentamos um momento em que nos sentimos imortais, quando o tempo passa causando a impressão de que nunca iremos morrer", diz Peart. "Mas essa é uma oferta por tempo limitado. O tempo passa e logo a realidade nos pressiona, e aí passamos a nos indagar se estávamos realmente preparados para elas ou não. Isso nos faz levar a vida a sério, algo que podemos chamar de 'volta ao mundo real'".
"Só comecei a pensar no tipo de vida que a maioria das pessoas leva quando são jovens, e para algumas pessoas dura ainda mais tempo, estando suspensos nessa invulnerabilidade. É como se nada pudesse prejudicá-los. Algo ruim poderia acontecer com outras pessoas, mas nunca para eles. Outras pessoas podem enfrentar tragédias, mas suas vidas seriam singularmente abençoadas - não importa o que façam ou o quanto de aplicação exercem nas mesmas".
"Tenho um fascínio apenas amador pela astronomia e espaço", diz Peart. "'Dreamline' traz uma história interessante de abertura. Durante a última turnê, entre Cincinnati e Columbus, tivemos um dia de folga e decidi seguir de bicicleta, chegando lá depois de cento e sessenta quilômetros totalmente cansado e suado. Sentei para jantar e para assistir a série de TV Nova. Houve um episódio que trazia imagens de satélite sobre as quais eles fizeram um roteiro de Júpiter, além de falarem sobre os rios que foram capazes de mapear abaixo do Saara, que já foi uma floresta tropical no passado. Dessa forma, aquele imaginário me capturou. Acho que tem a ver com a astronomia pelo fato dela lidar com o espaço, que para mim é a fronteira final. Porém, é apenas fascínio. Quando você está no chão e olha para o céu, não consegue deixar de ser levado. 'Mystic Rhythms' foi outra canção que abordou esse sentimento particular de pequenez e, ao mesmo tempo, de grandeza espiritual, tendo em vista que você é uma parte de toda essa maravilha".
Com "Dreamline", concluímos que uma das maiores contradições da sabedoria humana é que só aprendemos e amadurecemos de fato quando estamos preparados para isso. O personagem Eugene Morgan, interpretado pelo ator norte-americano Joseph Cotten (1905 - 1994) no filme Soberba (The Magnificent Ambersons - 1942), de Orson Welles (1915 - 1985), expõe uma frase que ilustra muito bem a ideia ressaltada por Peart: "Aos 20 anos de idade tudo parece imutável e terrível, o que aos 40 torna-se banal e efêmero. Mas a pessoa de 40 anos não consegue convencer a pessoa de 20 anos desse fato. A pessoa de 20 anos só aprende essa lição chegando aos 40".
"Eu amo o espírito de 'Dreamline' e a maneira com que Neil captura o sentimento das viagens e da invulnerabilidade que surgem em um momento particular das nossas vidas", diz Geddy. "Essa canção se relaciona conosco de maneira muito pessoal, além visitar o sentimento universal de quando você está numa certa idade acreditando que pode alcançar tudo o que deseja, além de ser invulnerável. Você acha que pode viver sem dormir e dirigir o quão rápido desejar. E, em certo ponto, passa a perceber o quanto é vulnerável".
"Dreamline" transparece os sonhos da juventude como a essência da vida. A busca por respostas e o espírito aventureiro (atributos que, indiscutivelmente, integram própria a personalidade de Peart) são retratados de forma intensa em toda a extensão da canção. A banda amadurecia nesse momento, enquanto ingressava em uma nova era. Apesar do sutil avançar da idade, os rapazes reativavam toda energia sempre realçada na carreira, mostrando ao mundo que mais uma vez estavam novamente prontos para mudanças e para as novas trilhas a seguir.
O Rush ingressa na década de 1990 com "Dreamline", primeira faixa do álbum Roll The Bones. Os produtivos anos de 1980 passavam, e os canadenses continuavam caminhando com passos firmes na direção do seu já considerado retorno às raízes. Logicamente, não se tratava de uma volta aos marcantes moldes primordialmente progressivos dos primeiros anos, mas uma perseguição que buscava mais ênfase do básico bateria, baixo e guitarra. Como no anterior Presto (1989), os sintetizadores ainda aparecem, porém com destaque diminuto, ocupando apenas alguns detalhes que refletiam o gradual afastamento da fórmula utilizada sem restrições durante a maior parte do período anterior.
"Dreamline" sintetiza o momento vivido pelo próprio trio. O começo, ao som de ondas quebrando na costa, nos convida a mergulhar em uma verdadeira viagem enérgica e cálida, um brinde à intensidade da juventude traduzida na perfeita confluência entre tema e música, algo que continua marcante nas produções da banda. Toda atmosfera rock flui por um riff épico e marcante, além de uma vigorosa e implacável melodia de condução, teclados equilibrados, refrão encantador e um solo de guitarra simplesmente fantástico, que queima como uma paixão veemente. O Rush mostrava que, mesmo depois de 17 anos juntos, ainda tinham muito vigor para dissipar.
Com um desenrolar lírico similar à canções como "Losing It" (de Signals, 1982), "Middletown Dreams" (de Power Windows, 1985) e "War Paint" (do anterior Presto), "Dreamline" se refere à personagens bastante agitados que viajam por variadas estradas, totalmente inseridos em uma atmosfera de aventuras e de possibilidades. Neil Peart, o poderoso sustentáculo percussivo e lírico do trio nos trazia, além de suas mágicas performances no instrumento, pensamentos fascinantes sobre a brevidade da vida, tema que discorreria por todo o disco.
Em "Dreamline", certamente uma das composições mais certeiras da banda, ele escava essa temática desenhando o sentimento sempre onipresente dos prazeres da vida quando se é jovem. O instrumental, viajante e positivo, contribui para o significado Carpe Diem da canção, expressão bastante difundida que provém de um poema de Horácio (poeta romano lírico e satírico), popularmente traduzida como "colha o dia" ou "aproveite o momento" - expressando o apelo de se evitar gastar tempo com coisas inúteis, justificando o prazer imediato e sem medo do futuro. "Dreamline" narra uma estrada que está à frente: a linha dos sonhos dos jovens. A mensagem central exalta que somente seremos verdadeiramente felizes se estivermos nos dirigindo para algum lugar. Indubitavelmente, recebemos o impacto de liberdade automobilística similar ao explorado em "Red Barchetta", famosa canção do álbum Moving Pictures, de 1981.
A inspiração para o título vem do romance sci-fi Lifeline, escrito pelo autor de ficção científica e amigo da banda Kevin J. Anderson. Publicado pela primeira vez em 1990, a história retrata o planeta Terra destruído em um futuro pós-nuclear, onde três colônias espaciais formadas por diferentes nações se encontram, representando a última chance de sobrevivência da humanidade.
"Enviei para Neil uma cópia do meu romance Lifeline, além de Trinity Paradox escrito à mão", lembra Anderson. "Esse último anteriormente se chamava Timeline, antes da editora me fazer mudar. Depois de ler Lifeline e Timeline, Neil se dedicou na composição de 'Dreamline', a primeira canção do album Roll The Bones".
Incrivelmente, "Dreamline" quase foi descartada durante sua concepção. No começo, a canção era apenas um amontoado de ideias confusas, que eram chamadas por Peart de "lixo". "'Dreamline' é a canção de abertura do álbum, sendo a primeira também na qual comecei trabalhar, meses antes de me juntar à banda para prepararmos todo o trabalho", recorda Peart. "Eu não estava acreditando em nada daquilo, mas algo continuava me obrigando a seguir em frente. Sabia que estava tudo perdido naquele imaginário e que não conseguiria aproveitar absolutamente nada daquilo - pra mim era apenas lixo. Assim, nos três primeiros dias de trabalho, parei para me dedicar a ela continuando com minha opinião. Por fim, acabei alcançando algo que foi muito gratificante".
Quem se lembra dos sonhos de criança - aqueles sonhos primordiais que resultavam de uma vontade pura, ainda livre das influências externas? As experiências subsequentes, influenciadas pela família e por outras pessoas ao redor, acabavam por abafar as preciosas aspirações. Entretanto, por volta da puberdade, o futuro se torna visível e novos sonhos fecundam. Estes sonhos crescem, amadurecem, e finalmente explodem, empurrando o jovem em direção ao mundo - até mesmo aqueles que continuam nos arredores da família sonham com essa independência e liberdade de guiar a própria vida. Todos querem amar alguém ou algo além dos próprios pais. Conformista ou rebelde, todo ser humano procura por novas conexões.
Em "Dreamline", Peart expõe a vontade audaz da juventude de explorar o mundo, momentos nos quais imaginamos inconscientemente sermos imortais. Lembrando de composições como "Between the Wheels" (de Grace Under Pressure), "Time Stand Still" e "Turn The Page" (de Hold Your Fire), pensamos na grande peça que a vida nos prega: quando jovens, visamos bastante o futuro, porém, quando mais velhos, acabamos por nos segurar nas memórias, com o presente ficando espremido entre essas duas forças magníficas. Mais tarde, nos contentamos com uma versão do presente geralmente muito distante daquilo que sonhávamos, sendo essa a tragédia essencial do ser humano. Por mais que estejamos sempre entre amigos e entes queridos, no fundo sabemos que estamos sozinhos - não literalmente, mas na essência. Nossos sonhos profundos são solitários ("Like lovers and heroes, lonely as the eagle's cry" - "Como amantes e heróis, solitários como o grito da águia").
"Todos nós experimentamos um momento em que nos sentimos imortais, quando o tempo passa causando a impressão de que nunca iremos morrer", diz Peart. "Mas essa é uma oferta por tempo limitado. O tempo passa e logo a realidade nos pressiona, e aí passamos a nos indagar se estávamos realmente preparados para elas ou não. Isso nos faz levar a vida a sério, algo que podemos chamar de 'volta ao mundo real'".
"Só comecei a pensar no tipo de vida que a maioria das pessoas leva quando são jovens, e para algumas pessoas dura ainda mais tempo, estando suspensos nessa invulnerabilidade. É como se nada pudesse prejudicá-los. Algo ruim poderia acontecer com outras pessoas, mas nunca para eles. Outras pessoas podem enfrentar tragédias, mas suas vidas seriam singularmente abençoadas - não importa o que façam ou o quanto de aplicação exercem nas mesmas".
"Tenho um fascínio apenas amador pela astronomia e espaço", diz Peart. "'Dreamline' traz uma história interessante de abertura. Durante a última turnê, entre Cincinnati e Columbus, tivemos um dia de folga e decidi seguir de bicicleta, chegando lá depois de cento e sessenta quilômetros totalmente cansado e suado. Sentei para jantar e para assistir a série de TV Nova. Houve um episódio que trazia imagens de satélite sobre as quais eles fizeram um roteiro de Júpiter, além de falarem sobre os rios que foram capazes de mapear abaixo do Saara, que já foi uma floresta tropical no passado. Dessa forma, aquele imaginário me capturou. Acho que tem a ver com a astronomia pelo fato dela lidar com o espaço, que para mim é a fronteira final. Porém, é apenas fascínio. Quando você está no chão e olha para o céu, não consegue deixar de ser levado. 'Mystic Rhythms' foi outra canção que abordou esse sentimento particular de pequenez e, ao mesmo tempo, de grandeza espiritual, tendo em vista que você é uma parte de toda essa maravilha".
Com "Dreamline", concluímos que uma das maiores contradições da sabedoria humana é que só aprendemos e amadurecemos de fato quando estamos preparados para isso. O personagem Eugene Morgan, interpretado pelo ator norte-americano Joseph Cotten (1905 - 1994) no filme Soberba (The Magnificent Ambersons - 1942), de Orson Welles (1915 - 1985), expõe uma frase que ilustra muito bem a ideia ressaltada por Peart: "Aos 20 anos de idade tudo parece imutável e terrível, o que aos 40 torna-se banal e efêmero. Mas a pessoa de 40 anos não consegue convencer a pessoa de 20 anos desse fato. A pessoa de 20 anos só aprende essa lição chegando aos 40".
"Eu amo o espírito de 'Dreamline' e a maneira com que Neil captura o sentimento das viagens e da invulnerabilidade que surgem em um momento particular das nossas vidas", diz Geddy. "Essa canção se relaciona conosco de maneira muito pessoal, além visitar o sentimento universal de quando você está numa certa idade acreditando que pode alcançar tudo o que deseja, além de ser invulnerável. Você acha que pode viver sem dormir e dirigir o quão rápido desejar. E, em certo ponto, passa a perceber o quanto é vulnerável".
"Dreamline" transparece os sonhos da juventude como a essência da vida. A busca por respostas e o espírito aventureiro (atributos que, indiscutivelmente, integram própria a personalidade de Peart) são retratados de forma intensa em toda a extensão da canção. A banda amadurecia nesse momento, enquanto ingressava em uma nova era. Apesar do sutil avançar da idade, os rapazes reativavam toda energia sempre realçada na carreira, mostrando ao mundo que mais uma vez estavam novamente prontos para mudanças e para as novas trilhas a seguir.
© 2015 Rush Fã-Clube Brasil
ANTHEM RECORDS. " Roll The Bones Radio Special / Promo CD". 1991.
COBURN, B. "Neil Peart On Rockline For Roll The Bones". Rockline. December 2, 1991.
DWORKEN, A. "A Show Of Hands, Rock Heavyweight Geddy Lee". Heeb. Spring 2009 (The Music Issue, #20).