CUT TO THE CHASE



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STICK IT OUT  CUT TO THE CHASE  NOBODY'S HERO


CUT TO THE CHASE

It is the fire that lights itself
But it burns with a restless flame
The arrow on a moving target
The archer must be sure of his aim

It is the engine that drives itself
But it chooses the uphill climb
A bearing on magnetic north
Growing farther away all the time
Can't stop - moving
Can't stop - moving
Can't stop -


YOU MAY BE RIGHT
IT'S ALL A WASTE OF TIME
I GUESS THAT'S JUST A CHANCE
I'M PREPARED TO TAKE
A DANGER I'M PREPARED TO FACE
CUT TO THE CHASE

It is the rocket that ignites itself
And launches its way to the stars
Ambition is the fire
A driver on a busy freeway
Racing the oblivious cars
Action is the fire

It's the motor of the western world
Spinning off to every extreme
Pure as a lover's desire
Evil as a murderer's dream

Young enough not to care too much
About the way things used to be
I'm young enough to remember the future -
The past has no claim on me

I'm old enough not to care too much
About what you think of me
But I'm young enough to remember the future
And the way things ought to be


WHAT KIND OF DIFFERENCE
CAN ONE PERSON MAKE?
CUT TO THE CHASE
VÁ AO QUE INTERESSA

É o fogo que se ilumina
Mas que arde com uma chama tensa
A flecha em um alvo em movimento
O arqueiro deve ter certeza do seu objetivo

É o motor que se impulsiona
Mas que escolhe a subida íngreme
Um rumo no norte magnético
Que se torna mais distante o tempo todo
Não pode parar - se mova
Não pode parar - se mova
Não pode parar -


TALVEZ VOCÊ TENHA RAZÃO
É TUDO PERDA DE TEMPO
ACHO QUE É APENAS UMA OPORTUNIDADE
QUE ESTOU PREPARADO PARA TER
UM PERIGO QUE ESTOU PREPARADO PARA ENFRENTAR
VÁ AO QUE INTERESSA

É um foguete que se inflama
E que se lança no caminho das estrelas
Ambição é o fogo
Um motorista em uma rodovia movimentada
Competindo com carros alheios
Ação é o fogo

É o motor do mundo ocidental
Derivando todos os extremos
Pura como o desejo de um amante
Má como o sonho de um assassino

Jovem o bastante para não se importar tanto
Com a forma como as coisas costumavam ser
Sou jovem o bastante para me lembrar do futuro -
O passado não tem qualquer direito sobre mim

Sou velho o bastante para não me importar tanto
Com o que você pensa de mim
Mas sou jovem o bastante para me lembrar do futuro
E com a forma como as coisas deveriam ser


QUE TIPO DE DIFERENÇA
UMA PESSOA PODE FAZER?
VÁ AO QUE INTERESSA


Música por Geddy Lee e Alex Lifeson / Letra por Neil Peart


O equilíbrio entre as duas faces da ambição

"Cut To The Chase" é a terceira faixa de Counterparts. Prosseguindo com o âmago desse trabalho, o Rush explode em mais uma canção com bastante peso do hard rock, mesclando com perícia movimentos mais leves que convertem todo o desfile instrumental e lírico em um verdadeiro vórtice musical. Certamente, outro grande destaque do álbum.

Iniciando como um vaguear marcado por toques sutis de guitarra, "Cut To The Chase" mergulha em um turbilhão de riffs estonteantes que extraem ótimas ações dos três integrantes. A habilidade e o balanço das guitarras de Lifeson emergem com perfeição ao longo de todas as mudanças de andamento oferecidas, assim como as criações de Geddy no executar de suas poderosas linhas de baixo e os toques certeiros e sensíveis de Peart, que novamente se apresenta sob os holofotes com seu instrumento.

Mantendo o impulso oferecido pelas duas primeiras faixas, "Cut To The Chase" é marcada por grooves de terrível intensidade, estes que a definem como uma peça contsinuamente sólida e muito envolvente. Os instrumentos se mesclam perfeitos durante toda a extensão, direcionados principalmente pelas matemáticas linhas de guitarra - como uma volta ao básico, estas retornam como a prioridade na musicalidade do trio, sempre munidas de grandes preocupações melódicas. Aliás, podemos destacar facilmente o desempenho de Lifeson como um dos elementos mais marcantes em "Cut To The Chase", arrematada por um solo mordaz e solitário que explode como um estilhaço dinâmico, nos transportando para longe com seu borbulhar mágico.

"Foi mais um daqueles solos espontâneos", explica o guitarrista. "Eu tinha um solo diferente para essa canção. Daí percebi que, no momento em que tínhamos o retrato de como o álbum e os solos definidos caminhavam, ainda não havia nada bem rápido para apresentar. Dessa forma, pensei em criar algo assim para a música, apenas para contrastar com as outras coisas que já estavam lá".

"Solos são uma coisa engraçada. Muitos dos que gravei demos acabaram se tornando os definitivos. Tenho uma tendência perfeccionista, mas, geralmente, consigo meus melhores trabalhos quando sou espontâneo. Um solo não ensaiado pode não trazer a sonoridade ou o tempo que se deseja, mas pode possuir uma qualidade emocional latente difícil de capturar novamente. Dessa forma, prefiro conviver com algumas imperfeições técnicas".


Alex também fala sobre sua química com Geddy, seu amigo e parceiro musical de longa data. "A maior parte de nossos materiais surge quando eu e Geddy nos sentamos para tocar juntos. Não importa quanto tempo passamos tocando em nossas casas, a questão é que as coisas acontecem de fato quando estamos juntos".

Em "Cut To The Chase", a banda decidiu trazer um órgão Hammond sutil no fim do segundo verso. "Fizemos algumas escolhas estilísticas conscientes em Counterparts", declara Peart. "Com os teclados, por exemplo, mudamos o foco para que todos trouxessem ótimos sons de piano ou órgão, assumindo uma natureza mais crua - da forma como soa por exemplo um órgão Hammond, natural e orgânico. Instrumentos desse tipo trazem uma mudança muito profunda nas texturas".

"As guitarras são bastante proeminentes nessa canção"
, explica Alex. "Trazem acordes poderosos e, em contrapartida, tentamos gravar os teclados com a maior pureza possível. Queríamos que tudo soasse mais orgânico novamente".

A expressão cut to the chase significa ir ao que interessa, sem perda de tempo. Sua origem remonta o cinema dos anos de 1920, quando os diretores dos filmes mudos da época não sabiam trabalhar com o clímax em suas obras, realizando transições abruptas (cortes) entre cenas românticas e de ação. Como as anteriores "Animate" e "Stick It Out", "Cut To The Chase" continua apresentando pensamentos sobre dualidade, complementaridade e equilíbrio, abordando agora a ambição como tema. De forma recorrente, conforme retratado em outras canções e álbuns do passado, Peart apresenta novamente ponderações poéticas sobre o aproveitamento de chances e a iniciativa para a vida, porém por uma ótica diferenciada.

Na canção, o baterista pensa sobre os dois lados da ambição, esta que pode "ser pura como o desejo de um amante", porém "má como o desejo de um assassino". Aplicando imagens científicas, de esportes e naturais, a peça visita a ideia de possibilidades de mudança e de desenvolvimento na vida dos indivíduos. De forma a explorar novamente o íntimo e os instintos humanos (investida similar àquela conseguida na canção "Lock and Key", do álbum Hold Your Fire de 1987), entendemos que o letrista nos faz pensar sobre a ambição como um grande e sublime desejo de se alcançar sucesso, mas que pode se tornar nociva ao se converter em ganância quando não equilibrada, fato bastante comum nas vidas das pessoas ditas ocidentais.

"Sou fascinado por culturas mais do que qualquer coisa", explica Peart. "Com um pouco de esforço e sofrimento, você pode encontrar lugares tão remotos que continuam sendo como sempre foram: culturas puras, difíceis de encontrar. Isso é muito interessante pra mim. Sou ocidental e tenho todas as fraquezas da ambição, agressividade, meticulosidade e tudo isso, mas, ao mesmo tempo, posso aprender com outros modos de vida, conforme aconteceu durante minha viagem pela China e quando visitei a África. Como um velho clichê, essas coisas abrem nossa mente. 'Cut To The Chase' fala sobre a ambição, esta que coloquei na letra como o motor do mundo ocidental".

Indo além, o tema de "Cut To The Chase" nos remete aos pensamentos do político, filósofo e ensaísta inglês Francis Bacon (1561 - 1626), este que, nos anos de 1597, 1612 e 1625, publicou sua obra fundamental Os Ensaios (Essays), trazendo um grande número de observações retiradas de experiências marcantes de sua vida publica, tratando de vários âmbitos separados por temas. Um deles é Da Ambição, que apresenta um teor semelhante ao apresentado nessa canção do Rush:

"A ambição é como a cólera, humor que torna os homens ardentes, sérios, vivazes e ativos se não forem parados. Mas, se esta for obstruída e não tiver seu curso livre, começa a ser sombria e, portanto, maligna e venenosa. Assim também os homens ambiciosos, se encontrarem caminhos abertos para a sua ascensão, continuarão a progredir e serão mais ocupados do que perigosos. Porém, se forem contrariados nos seus desejos, tornam-se secretamente descontentes, projetando inveja sobre os outros homens e sobre as coisas; alegrando-se apenas quando estas derem errado, o que é a pior condição no servidor de um príncipe ou de uma república".

De certa forma, "Cut To The Chase" revista uma das nuances presentes na canção de abertura, "Animate". "'Animate' não é sobre dois indivíduos, e sim sobre um homem conversando com seu anima - seu lado feminino, na definição de Carl Jung", diz Peart. "Nessa dualidade, o que 'um homem deve aprender gentilmente a dominar' é ele mesmo, seu próprio 'traço submisso', enquanto aprende também a dominar gentilmente o animus - a coisa masculina - o outro hormônio impulsionado por palavras como agressividade e ambição. Dominaremos de uma única maneira: não nos submetendo ao instinto bruto, à cólera violenta ou à ambição inescrupulosa".

No primeiro verso após o refrão, "Cut To The Chase" mostra dois sussurros obscuros de Geddy que também auxiliam no entendimento das intenções de Peart. "Ambition is the fire" e "Action is the fire" surgem como verdadeiros lembretes sobre as duas faces da ambição: a benéfica, que nos leva à concretização dos nossos objetivos, e a face negativa, a qual podemos observar perfeitamente nos pensamentos do filósofo alemão Friedrich Nietzsche (1844 - 1900) em sua obra Para Além do Bem e do Mal, escrita em 1886:

"Um homem que aspira grandes coisas considera todo aquele que encontra em seu caminho como meio, retardamento ou impedimento, ou como um leito de repouso passageiro. A sua bondade para com os outros, que o caracteriza e que é superior, só é possível quando ele atinge seu máximo e domina. A impaciência e a sua consciência de, até aqui, estar sempre condenado à comédia - pois mesmo a guerra é uma comédia e encobre como qualquer meio encobre o fim - estraga-lhe todo o convívio: esta espécie de homem conhece a solidão e o que ela tem de mais venenoso".

"As únicas coisas com as quais fico animado são aquelas que ainda não consigo fazer [risos]"
, explica Peart. "Suponho que isso seja uma falha de caráter! Mas sim - como banda, sempre experimentamos coisas que estavam além das nossas habilidades, mas que nos levaram para lugares agradáveis. É verdade que algumas das nossas experimentações foram becos sem saída, e nossos discos, feitos ao longo dos anos, estão cheios de pequenos experimentos tangenciais que não nos levaram a lugar algum. Mas, sem dúvidas, foram as coisas certas a se fazer - feitas com instinto e ambições corretas. (...) A ambição em 'Cut To The Chase' é algo importante - é algo que nos mantém revigorados e revitalizados pelo fato sermos ambiciosos para nós mesmos! Somos ambiciosos por melhorarmos, por nos tornarmos melhores, indo para além dessas experiências sem sucesso ou daquelas menos bem-sucedidas, transformando qualquer insatisfação com o trabalho anterior em algo melhor".

"Acho que, o fato de sairmos em turnê, é um belo exemplo do quão você tende a julgar completamente sua vida a partir do quão bem tocou em uma noite. Uma das coisas mais difíceis nas turnês, uma das coisas mais difíceis para se viver com base no dia-a-dia, é julgar toda sua existência com base na qualidade de algumas horas no palco. A verdade é que você tem chances todas as noites - esse é o lado bom. Você diz para si mesmo, 'Bem, eu estava muito mal na noite passada, mas hoje à noite vou ser perfeito!' [risos]. Assim, você sobe aqueles degraus com sensações de ansiedade, determinação e a ambição de refazer o Universo. O que nos vem, verdadeiramente, é a chance de nos sentimos bem sobre nós mesmos novamente! Sempre há a esperança de redenção, a esperança de se redimir".


"Cut To The Chase" traz, portanto, mais uma dualidade característica dos dias atuais, sendo também outro retrato do retorno do Rush aos elementos primordiais que constituem a essência do rock and roll. Porém, ao mesmo tempo, caracteriza-se como um verdadeiro avanço na arte dos canadenses, estes que buscavam composições revigoradas, mais ardentes e emocionais.

"Counterparts é, para mim, uma reafirmação de alguns elementos do Rush que sentíamos que escapavam das nossas mãos", afirma Geddy. "Entendo este como um disco cheio de paixão - provavelmente o elemento mais importante do álbum".

© 2015 Rush Fã-Clube Brasil

PEART, N. "Reflections In A Wilderness Of Mirrors : The Counterparts Tour Book". 1993.
GILRAY, S. "Face 2 Face With Alex Lifeson". The Spirit Of Rush #27. July 1994.
WIDDERS-ELLIS, A. "Alex Lifeson: Rush Strips Down". Guitar Player. December 1993.
MIERS, J. "The Road Less Traveled - A Conversation With Neil Peart Of Rush". Weekend Music Editor, Buffalo New York's Metro Weekend. October 17 - 23, 1996.
CHAPPELL, J. "Alex Lifeson's Attitude Adjustment". Guitar For The Practicing Musician. February 1994.
GEHRET, U. "To Be Totally Obsessed - That's the Only Way". Aquarian Weekly. March 9, 1994.