02 DE DEZEMBRO DE 2015 | POR VAGNER CRUZ
Geddy Lee e Alex Lifeson concederam no dia 13 de novembro de 2015 uma grande entrevista nos estúdios da rádio norte-americana SiriusXM em Nova York. O bate-papo, que durou aproximadamente uma hora, foi conduzido pelo cineasta Michael Moore.
Dias antes, a rádio realizou um concurso especial para seus assinantes, a fim de que alguns fossem escolhidos para também participarem do encontro. Assim, o seleto grupo de vinte pessoas poderia direcionar perguntas para Geddy e Alex, além de participarem de um Meet & Greet no final da programação. John Patuto, do ótimo site Cygnus X-1, foi um dos felizardos. "Em décadas seguindo o Rush, nunca tive a sorte de conseguir um Meet & Greet", ele diz. "Dessa forma, a notícia de que eu havia sido um dos vinte escolhidos para o encontro foi simplesmente indescritível".
Visitando temas como a longevidade da banda, amizade, vida familiar, o processo de escolha para o set list da turnê R40 e as inevitáveis indagações sobre o futuro, oferecemos esse ótimo material, inteiramente transcrito e traduzido para o Rush Fã-Clube Brasil.
GEDDY LEE E ALEX LIFESON VISITAM OS ESTÚDIOS DA SIRIUSXM
Nova York, 13 de novembro de 2015
Moderação: Michael Moore
Fotografias: Robin Marchant
Como parte da divulgação do seu novo R40 Live, Geddy Lee e Alex Lifeson foram entrevistados por fãs nos estúdios da rádio norte-americana SiriusXM, em Nova York. A programação foi conduzida e moderada pelo cineasta Michael Moore ("Fahrenheit 9/11", "Capitalism: A Love Story"), enquanto os músicos recebiam e respondiam perguntas em um ambiente descontraído e intimista.
O Rush, naturalmente, possui um grande número de fãs famosos - um vídeo divertido no telão da última turnê durante a canção "Roll The Bones" confirma isso. Paul Rudd e Jason Segel, atores que protagonizaram o filme rushmaníaco "Eu Te Amo, Cara" ("I Love You Man") aparecem, além de Jay Baruchel, Les Claypool, Tom Morello, o Trailer Park Boys e Peter Dinklage (cujo irmão violinista Jonathan se uniu à banda na turnê anterior Clockwork Angels, e em alguns shows da R40). Assim, podemos adicionar o próprio Moore nessa lista especial de admiradores.
Muito além de opiniões sobre seus posicionamentos políticos, o diretor é, de fato, um grande fã do Rush, tendo conduzido a entrevista com grande atuação. Ele fez questão de afirmar que a música da banda foi muito especial em sua juventude, época em que vivia na cidade fabril de Flint, Michigan. Moore falaria sobre o trio por toda programação, citando discos e músicas com notável conhecimento e respeito. Para o diretor, um dos maiores hinos do Rush é "Subdivisions" (faixa inicial do álbum Signals, de 1982) e, talvez, uma das maiores canções do rock de todos os tempos. Ele aponta sua pungência como um retrato da alienação adolescente dos subúrbios. "Acredito que essa canção tenha salvado vidas", ele diz. Assim, temos a sensação que ele mesmo foi um dos salvos.
Perguntados por Moore sobre como o Canadá ajudou a moldar o Rush, Geddy citou a polidez da cultura na qual cresceram como um dos fatores, além do alto nível de humanidade. "O Canadá nos influenciou em vários níveis", ele explica. "No primeiro deles, como jovens músicos, fomos influenciados pelo rock britânico por haver uma conexão, devido o Canadá ser uma nação da Commonwealth. Também tivemos a grande vantagem de estarmos expostos à mídia americana, esta que expunha várias bandas como o Jefferson Airplane e o Grateful Dead. Assim, fomos influenciados por fortes grupos dos anos sessenta e setenta, uma oportunidade única de aprendizagem".
Moore ressalta o quão o Rush é unido como três peças iguais de uma máquina, não conseguindo imaginar a substituição de qualquer um dos integrantes.
"Temos um amor em comum e uma ligação com nossa música que é fundamental, sempre buscando nos tornarmos os melhores músicos que pudermos, estabelecendo padrões altos e trabalhando nisso juntos", diz Alex. "Nosso temperamento tem em comum o senso de humor, e adoramos estar na companhia um do outro - rindo juntos na maior parte do tempo. Esse é o tipo de ligação que criamos, que é parte da nossa identidade canadense, mas há algo que vai além disso, algo que se dá pelo fato de trabalhamos como uma pequena família, uma pequena célula que é mantida bem saudável (apesar de todas as pressões externas que passamos). Nunca somos maus, desagradáveis ou impiedosos um como o outro".
"Acho que essa ligação surgiu quando éramos apenas garotos canadenses em nossa primeira turnê", continua Geddy. "Neil viria apenas duas semanas antes de nos lançarmos na América. Estávamos com os olhos arregalados e éramos inexperientes, tendo que fazer nosso caminho de forma estranha, começando a conhecer Neil e ele começando a nos conhecer. Isso nos ligou de forma praticamente instantânea, pois éramos essa pequena van cheia de estrangeiros tentando descobrir o quão grande e vasto era o Grande Norte Branco - e também o sonho americano, do qual estávamos tentando fazer parte tentando compreendê-lo. Fomos quem fomos tocando e, mesmo assim, nos sentíamos como outsiders por sermos canadenses. Acho que nosso senso de humor se desenvolveu a partir desse ponto. Enquanto nos sentíamos estranhos, as piadas eram ótimas e se tornavam um padrão para nós. Mesmo quando tínhamos reuniões de negócios (que odiávamos) fazíamos piadas, o que se tornou uma ligação que nos manteve".
Para um dos fãs participantes da entrevista, o Rush sempre contribuiu de forma bastante positiva com jovens em todo o mundo. "Acho que, de certa forma, não era nossa intenção quando começamos, mas aprendemos sobre o perigo das mentiras naquilo que fazemos, sempre nos afastando das mesmas e tendo muito orgulho disso", diz Lee. "Por um lado, há a fama e as realizações da música, mas há também uma mensagem aos jovens que estão lá fora, ou para as pessoas que estão atravessando lutas: você pode tentar algo que não acha possível, e ficar com isso".
"É algo maravilhoso poder exercer algum tipo de influência sobre as pessoas", diz Lifeson. "Sempre ouvimos dos nossos fãs que influenciamos positivamente alguns dos momentos mais obscuros de suas vidas. É uma sensação realmente incrível quando você consegue ensinar algo, um grande legado para todos nós".
A principal lembrança de Lifeson sobre a materialização do grande sonho daqueles jovens músicos canadenses foi quando pôde adquirir novos equipamentos. "Foi após assinarmos nosso primeiro contrato, conseguindo um avanço financeiro que para nós era uma fortuna (mas que não era na verdade). A primeira coisa que fizemos foi nos divertirmos com todos aqueles equipamentos, sendo muito emocionante poder comprar uma nova marca de guitarra e um novo amplificador. Lembro-me claramente daquele dia ensolarado, quando olhávamos para todos os instrumentos pendurados na parede da loja dizendo, 'Vou levar esse, vou levar esse também, vou levar aquele...'".
Perguntados se os fãs influenciaram na decisão para o set list da turnê R40, Geddy diz: "Eu diria que sim, pois essa turnê foi feita totalmente para nós e para os fãs. Logo no início, discutimos a reprodução de faixas obscuras e faixas favoritas, chegando à conclusão de que essa seria uma turnê de agradecimento, uma celebração de tudo que passamos e de todo o apoio que as pessoas nos deram. Assim, trabalhamos muito duro para tentar encontrar um equilíbrio entre as músicas que gostamos de tocar e aquelas que os fãs realmente queriam ouvir. Alex foi o grande campeão para faixas que eu não achava que iriam funcionar tão bem, como 'Jacob's Ladder' e 'Losing It'. Ele sabia que essas eram algumas das que nossos fãs realmente gostariam de ouvir".
"Nunca tocamos 'Losing It' ao vivo por ela trazer um violinista - não tínhamos um na banda. Além disso, ela não tem baixo, apenas sintetizadores e violinos. Dessa forma, foi muito divertido trabalhar nela, pois tive que compor o baixo e, em seguida, tiramos a sorte grande de termos violinistas incrivelmente talentosos para tocar conosco, como Johnny Dinklage e meu bom amigo Ben Mink do Canadá (na estreia da canção). Tivemos também 'Jacob's Ladder', que não tocávamos há muitos anos. Na verdade, eu achava que nunca a havíamos tocado no momento do nosso primeiro show da turnê, anunciando para o público, 'Nós nunca tocamos essa música'. No dia seguinte, a internet gritou comigo [risos]".
Sobre canções antigas que não foram visitadas na R40 Tour (e que são constantemente requisitadas pelos fãs), Geddy diz, "Tentamos satisfazer a maioria dos pedidos nessa turnê, mas há sempre algumas que você esquece. 'A Farewell to Kings', provavelmente, é uma dessas - principalmente por vir de um disco muito popular e também por ser a favorita de várias pessoas. Porém, é uma canção que não posso mais cantar corretamente. Ela está em um tom muito difícil para mim e não gostaria de fazê-la numa versão ruim. É o mesmo com 'Fly By Night'. Falamos sobre ela, tentamos nos ensaios, mas sentimos que não poderíamos mais fazer".
"Há canções que foram direcionadas somente para o estúdio", diz Alex. "Quase sempre temos pelo menos uma canção em todos os discos que realmente designamos como uma peça de estúdio, estas que nem sequer tentamos tocar ao vivo".
Para Lee e Lifeson, os negócios atuais que envolvem a indústria da música são muito muito preocupantes. Os dois exaltaram o quadro da indústria fonográfica da sua época, na qual bandas e gravadoras trabalhavam como uma equipe, com os artistas tendo tempo e espaço para desenvolverem seu som e encontrar seu público.
"É muito muito diferente agora do que era naquela época", diz Lifeson. "Nosso contrato de gravação original era de cinco discos com a Mercury Records. Nesse tempo, fazíamos dois discos por ano, com as gravadoras olhando para as bandas como coisas a serem desenvolvidas. Elas faziam dois discos para observar as vendas, construindo um terceiro para ver se os outros dois restantes seriam realmente um sucesso para todos. Havia uma sensação de esforço como um time, com músicos, gravadoras e as rádios trabalhando juntos. Agora é bem diferente, pois as gravadoras estão imersas em especulação, com o músico geralmente tendo que vir com o disco pronto, feito por ele mesmo".
"Era ótimo na nossa época e tivemos sorte", diz Geddy. "Havia paciência das gravadoras. Elas sabiam que as bandas não eram projetos prontos, mas que precisavam de algum tempo para se desenvolverem. Porém, a coisa financeira acabou explodindo - os músicos realmente não ganham mais dinheiro como antes fazendo discos, precisando encontrar formas diferentes para conseguirem isso. Agora, o músico deve ter seu próprio estúdio em casa para desenvolver seu som, tendo que pedir outros músicos emprestados para tocar com ele, a fim de capturar um momento para ser distribuído pela internet, esperando 'likes' e 'corações' para então ser notado. Acho que é muito difícil começar do zero hoje".
"O que existe agora são vários artistas nas pequenas e nas grandes cidades precisando agir por si próprios, através de crowdsourcing e todas essas formas diferentes de mostrar seu trabalho, sendo muito difícil descobri-los. O sistema era mais direto nos velhos tempos, onde todos ficavam ligados na mesma estação de rádio na qual era dito que iriam tocar certas músicas, a fim de que pudéssemos ouvir as bandas nas quais investiriam dinheiro. Agora requer muito mais iniciativa própria".
"Acho que há também a força da televisão", continua o baixista. "Essa coisa toda da competição, coisas como o American Idol e tudo isso. Coloca-se muita ênfase em um tipo particular de artista: o grande vocalista, ou o tipo de pessoa que chame muita atenção - ficando longe das boas bandas sujas de rock que estão trabalhando nos porões em algum lugar. Acho que precisamos de mais revistas ou emissoras, onde seus sites possam se dedicar a divulgar bandas jovens, jovens talentos. Seria ótimo e esses músicos muito gratos. Acho que as pessoas gostariam de ter um local em que pudessem descobrir alguma nova influência".
Perguntados sobre um trabalho que define o Rush - uma criação que sempre será lembrada sobre a banda - Geddy indicou o álbum 2112, especialmente por este representar um momento crucial para a história do trio, como um divisor de águas. "Bem, há várias possibilidades, mas suponho que, depois de muito tempo, 2112 será considerado provavelmente o álbum do Rush por excelência. Posso dizer que há outros que adoro, como Power Windows, Clockwork Angels - com o qual ainda estou muito orgulhoso - e Moving Pictures. Porém, algo me diz que 2112 foi o disco que nos definiu, tendo um som próprio que talvez será aquele que viajará melhor no tempo".
Novamente, os músicos ressaltam as dificuldades profundas no processo de gravação do álbum Hemispheres, de 1978. Mesmo extraindo o que muitos consideram o melhor das ambições musicais do Rush, Alex diz, "Não tínhamos nenhum material escrito quando fomos para o País de Gales, a fim de utilizarmos o mesmo estúdio do álbum anterior, A Farewell to Kings. Tratava-se do Rockfield, um estúdio residencial localizado na zona rural. Passamos um mês nesse estúdio, que ficava em uma fazenda, no qual montamos todo o equipamento na sala de estar para trabalharmos. Foi muito doloroso aprontá-lo - um esforço muito cansativo conseguir todas as partes e uni-las, enquanto as letras se desenvolviam".
"Conseguimos passar por tudo isso, e me lembro que trabalhamos a noite inteira no último dia, indo até às onze da manhã, quando a equipe já havia embalado quase tudo para sairmos do estúdio. Começamos a gravar à tarde, após cerca de quatro horas de sono. O processo de gravação foi muito difícil - tudo foi difícil. O tom no qual tocamos, as partes que escrevemos e o fato de que queríamos gravar o disco inteiro em takes únicos, o qual acabamos por fazer em sessões. Finalmente, depois de dois meses nesse estúdio, fomos para Londres a fim de fazermos os vocais e a mixagem".
"Sei que soa um pouco vago, mas estávamos muito ambiciosos nesse disco, em termos de alcançarmos as habilidades de compor algo que fosse absurdamente difícil de tocar", explica Geddy. "Aprender a tocar uma canção que está sendo construída aos poucos é uma coisa, mas quando você quer fazer tudo em um único take é algo que se torna muito difícil - estávamos realmente forçando nossas capacidades". Perguntado por Moore sobre a grande emoção da conquista, Lee responde, "Sim, mas você meio que perde o entusiasmo na dor".
"Assim que fomos para Londres para fazer os vocais", ele continua, "quando nós já havíamos trabalhado as canções, fui descobrindo a melodia, que era alta e orgulhosa, para cantá-la, percebendo que o tom não foi muito bom para mim. Era tudo tão alto que eu dizia, 'Oh meu Deus, como vou cantar isso?'. Era mais alta do que minha voz era [risos]. Passei duas semanas sendo torturado por meu co-produtor, Terry Brown, fazendo de novo e de novo, até esticar meu alcance vocal para conseguir fazer".
"Naquela época estávamos mais de quatro meses longe de casa, e tudo foi muito doloroso. Depois, fomos mixar o disco e não estávamos conseguindo encontrar o som correto, precisando mudar de estúdio e ficando ainda mais tempo longe de casa. Finalmente conseguimos terminá-lo. Ficamos orgulhosos, mas foi uma grande provação".
"Nosso primeiro álbum levou alguns dias, pois não tínhamos dinheiro e tivemos que fazê-lo duas vezes - a primeira versão havia ficado uma porcaria. Fly By Night nos levou dez dias, pois só tínhamos dez dias para fazer. Passamos três semanas fazendo Caress of Steel e 2112, o qual achava que seria nosso último álbum por não acreditarmos que alguém fosse gostar. Apenas mandamos tudo para o inferno estourando o prazo dele, pois sabíamos que teríamos que conseguir emprego depois de qualquer maneira. Assim, quando alcançamos um certo sucesso, passamos a assumir prazos maiores".
Por outro lado, Geddy e Alex fizeram questão de ressaltar que foi o inverso com Permanent Waves. Moore definiu "The Spirit of Radio" como uma espécie de hino da banda, que encapsula "a alegria de apenas dirigir pela estrada ouvindo Rush". A qualidade otimista da canção e o caráter simplificado do disco pareciam significar a felicidade dos músicos em deixarem para trás as fortes armadilhas do rock progressivo. "O processo de composição do álbum veio bem rápido, significando uma boa mudança", diz Lee. "Estávamos passando por uma mudança de estilo".
"Acho que estávamos bem mais preparados para esse disco, se não me falha a memória", diz Alex. "Tivemos um pouco mais de tempo para compor antes de fazemos o álbum".
"O processo de composição fluiu rapidamente, sendo uma boa mudança desde Hemispheres", reconhece Geddy. "Decidimos compor perto de casa, o que nos trouxe uma influência positiva. Estávamos vivendo uma mudança de estilo e acho que 'The Spirit of Radio' foi uma das primeiras músicas que retratou isso".
Sobre a longevidade do grupo, Alex diz, "Somos verdadeiramente bons amigos. Geddy e eu somos amigos desde os 13 anos. Nos conhecemos no colégio - éramos dois outsiders que andavam juntos e que adoravam música. Portanto, a forte base do nosso relacionamento de amizade surgiu há muito tempo. Já na banda, temos o senso de humor que compartilhamos e os objetivos em comum, estes que sempre nos uniram. Depois, tivemos alguns problemas externos muito difíceis e emocionais, mas aos quais resistimos como amigos e irmãos, pois nos amamos".
"O essencial é que, como músicos, sempre quisemos fazer o mesmo tipo de som, algo que acaba separando várias bandas quando um quer tocar reggae e o outro rock", diz Geddy. "Coisas como essa sempre acabam por destruir a unidade musical. Por algum motivo, sempre quisemos fazer o mesmo tipo de som, mesmo quando houve influências de fora que levamos para nossa música. Um cara pode dizer que está experimentando uma ideia, mesmo que não seja do rock, mas perguntando se achamos válida ou interessante, e sempre pedimos para observar. Acho que esse pode ser um dos grandes motivos da nossa longevidade".
Perguntados se há ocasiões em que Neil traz as letras precisando explica-las, Geddy diz, "Minha parceria com ele, como vocalista e compositor de letras, foi uma evolução interessante. Nos primeiros dias, ele me traria uma letra e eu não sentiria confiança em criticar, apenas fazendo. Depois, percebi que esse era o meu trabalho - ele escrevia as letras e eu as cantava, e Alex e eu faríamos uma música para ela. Com o passar do tempo, fomos nos conhecendo melhor e comecei a apontar algumas formas de escrita que poderiam tornar mais fáceis o ato de expressar emoção, uma vez que algumas das suas palavras são difíceis de serem colocadas em uma canção rock. Assim, ele acabou se tornando um parceiro e compositor incrivelmente atencioso - passamos a conversar sobre as canções chegando em um ponto no qual eu poderia apenas olhar para letra para saber o que iria funcionar e o que não iria. Nossa parceira evoluiu, tornando-se mais aberta. Eu funciono como uma caixa de ressonância para ele: 'Você canta o que você pode cantar'".
"Alex e eu geralmente passamos muito tempo com resmas de folhas de várias canções em nossa frente, talvez alterando apenas uma das linhas - colocando-a na música e cantando de forma convincente para enfim enviar para Neil. Ele diz, 'Sim, entendi. OK, vou reescrever em torno dessa ideia'. É realmente um prazer trabalhar com alguém que está feliz com o que escreveu, seja aquilo usado ou não. É algo raro, mas tem sido uma evolução e um passo importante para nós. Acho que nossas melodias têm melhorado, com nossas composições assumido um quociente muito mais emocional devido à vontade de Neil em adaptar suas letras ao meu estilo de cantar, algo que me ajuda bastante em cada canção".
"É muito interessante. Em certos momentos, eu pergunto o que ele está tentando dizer, lhe dizendo como aquilo está chegando em mim e se é da mesma forma para ele. Isso porque sou como um ator em certo sentido, tendo que expressar o que outra pessoa escreveu. Assim, quero saber ao certo, ao mesmo tempo que tenho que sentir aquilo. Quando eu era jovem, nem sempre concordava com o que me era dado, apenas agia como um ator. Porém, com o tempo, fui passando a sentir que tinha que concordar, que tinha que acreditar no sentimento daquilo que estou cantando. Se não entendo o que ele me explicou, conversamos sobre como aquilo está ressoando em mim, e ele me dá a sua interpretação".
"Uma letra como a de 'The Garden' por exemplo - você adora a mesma e ela simplesmente funciona, apenas precisando sentar para compor a música que acha que ela merece e ficando muito feliz com a fluência natural daquela sessão. Já em outras, você tem coisas bastante intrincadas e insanas de tocar, precisando tirar pedaços de letra daqui e colocando lá, fazendo uma versão áspera para ver como ele responde. É uma relação de trabalho excelente".
Sobre o período das trágicas perdas familiares de Peart, Geddy diz, "Foi muito difícil vê-lo passando por tudo aquilo. Tentamos ser os melhores amigos que podíamos para ele, estando lá quando precisasse, mas ele precisava fugir, precisava se encontrar - seu mundo havia caído e ele nos alcançava através de cartões postais. Nunca sabíamos onde ele estava e, assim que recebíamos um dos seus cartões com uma pista do seu paradeiro, era algo bom".
Um dos últimos assuntos abordados foram os aspectos sombrios da família de Lee. Permeando com alguns momentos de humor, ele lembrou que seus pais sobreviveram ao Holocausto e que sua mãe, Mary Weinrib, foi prisioneira nos campos de concentração de Auschwitz e Bergen-Belsen. O músico fez questão de expressar orgulho que sente por ela por não ter enterrado tais lembranças.
"Para mim, eu havia nascido em um tipo de família louca, por toda a dor da qual eles tinham escapado. Porém, tive sorte por minha mãe ser uma pessoa incrível, uma mãe típica no sentido de ser uma mestre no uso da culpa como uma lâmina afiada [risos], mas que sempre falou sobre suas experiências na guerra, contando sobre os campos e todas as coisas horríveis que teve que suportar. Ela esteve em Auschwitz e depois em Bergen-Belsen, dois dos lugares mais horríveis da Terra. Ela, sua irmã e sua mãe sobreviveram, em grande parte devido aos esforços da sua mãe em ficarem juntas. Do lado do meu pai quase todos pereceram. Acho que ele tinha seis ou sete irmãos e irmãs, e apenas três sobreviveram. Também perdi meu avós - nunca soube deles".
"Quando me tornei músico, minha mãe ficava perplexa e confusa com a ideia, pois para ela aquilo não era música de fato - era insanidade. Quando você é jovem, tem que fazer o que tem que ser feito. Com o falecimento do meu pai, não havia mais o punho de ferro em casa para me manter na linha. Assim, fiquei livre para andar com Alex, uma terrível influência [risos]. Nos tornamos amigos bem naquele momento, este que foi o começo do fim e o fim do começo. Depois de um tempo, quando conseguimos um pouco de sucesso, comecei a perceber tudo o que fiz minha mãe passar, me sentindo mal com isso. Ela sobreviveu a tudo aquilo e teve que criar os filhos dela, passando por muitos momentos difíceis. Não era justo. Mas agora ela é uma rock star [risos]".
Mary Weinrib nem sempre apoiou as aspirações rock & roll do filho mas, atualmente, de acordo com Lee, ela é sua maior fã - mais do que feliz em desfrutar das vantagens que chegam por ser uma das mães do Rush. Ela aparecerá, no futuro próximo, em um livro dedicado às mães das estrelas do rock que está sendo escrito pela mãe de Dave Grohl, Virginia Grohl. De acordo com Geddy, as duas mamães se deram muito bem.
"Ela estará em um livro que a mãe de Dave Grohl vem escrevendo sobre as mães do rock - ela veio para entrevistar minha mãe. Foi tudo muito doce, pois se deram muito bem. Minha mãe até cozinhou para ela. Se deram bem como uma casa pegando fogo e continuaram em contato. Assim, quando o Foo Fighters veio para Toronto há pouco tempo, a mãe de Dave disse, 'Estou indo aí pegar Mary para vir para cá'. Assim, mandou um carro buscar ela e minha irmã. Todas foram para o show do Foo Fighters e Dave as colocou no palco para assistirem. Havia duas mamães sentadas no palco durante o show do Foo Fighters - ficaram mostrando as duas no telão e elas acenavam para o público. Inacreditável! [risos] Escrevi uma mensagem de agradecimento para a mãe de Dave, pois significou muito para minha mãe. Ela adorou, adorou a atenção. Vou pagar isso de volta".
Sobre o futuro, Alex diz, "Saímos da turnê em agosto, a qual dedicamos muito esforço e trabalho, e acho que tanto eu quanto Geddy precisávamos de algum tempo para descansar, meio que resolvendo desfrutar de algumas viagens domésticas com a família, fazendo coisas bem agradáveis. Acho que continuaremos assim por enquanto para, no próximo ano, começarmos a pensar seriamente em fazermos algo. Adoraria voltar a escrever com Geddy e acho que ele sente o mesmo".
"Não temos ideia do resultado. Apenas queremos fazer", reforça Geddy.
Ainda sobre os planos futuros do Rush, após a R40 tour (esta que foi anunciada como a última grande turnê da banda), Lee disse: "Bem, é uma pergunta difícil de responder; é sempre emocional. Mas, nesse momento, não somos capazes de chegar a um acordo sobre fazer mais turnês. Então, agora, não parece que seja possível uma outra turnê. Mas eu diria que, sendo uma pessoa otimista e paciente, espero que isso vá mudar. Sei que conversamos sobre mais músicas como o Rush, o que é, certamente, algo possível. Há outras maneiras de apresentar nossa música para o público, mas não discutimos isso desde o fim da turnê".
Ele continua: "O fim dessa turnê foi bastante emocional para nós também. Nós realmente não sabíamos o que isso significava, pensando se voltaríamos para olhar para todos aqueles rostos sorridentes novamente. Eu amo turnês e estarei pronto para continuar em muito breve. Mas a minha vida é mais simples do que a dos meus companheiros. Neil tem uma vida complicada - ele tem uma filha pequena, uma nova família que ele realmente sente dor em deixar, e eu entendo isso. Ele tem problemas físicos, tendo em vista que toca como um monstro por três horas, e o corpo não está cooperando - é bem difícil pra ele. Ele paga um preço. Há momentos em que você o vê no backstage no meio da turnê e ele está realmente sofrendo. Dessa forma, ele não tem certeza de que terá coragem para continuar a tocar assim. Porém, talvez a resposta esteja mais à frente, depois de algum tempo. É por isso que estamos tentando não nos precipitar, apresentando qualquer grandes conclusão. Vamos deixar todos seguirem a fim de encontrarem seu centro, para então ver se podemos nos reunir com alguns planos".
Alex adiciona: "Também vejo exatamente assim. Me senti muito saudável nessa última turnê, após ter alguns problemas nas anteriores. Me senti muito bem, gostei de tocar em todas as noites, adorando cada nota e cada canção. Ainda há algumas coisas que eu gostaria de fazer. Mas, por todas essas razões que Geddy acabou de dizer, precisamos ter um pouco de tempo para nos resolvermos, para ver onde vamos".
Para Geddy e Alex, seria divertido fazer alguns shows com outras bandas. "Absolutamente, acho que seria divertido - uma coisa totalmente diferente", diz Lifeson. "É sempre muito estressante e há muita pressão quando a coisa e sua, seja em estúdio ou em turnê. Porém, para ser apenas um elemento de uma ideia de alguém, seria uma representação de liberdade".
Para uma das fãs presentes, os integrantes do Rush transmitem a ideia de pessoas com equilíbrio e estabilidade. Perguntados ao que eles atribuem esses fatos, Alex diz, "Temos famílias fortes - tanto eu quanto Geddy somos casados com nossas esposas há quarenta anos. Minha esposa tem uma grande parte nisso, me apoiando com força durante todos esses anos, quando saíamos por meses a fio, tendo se empenhado bastante por nós - sendo uma parte chave nisso. Você pode ser um rock star na estrada, mas quando chega em casa a história é diferente".
"O casamento é a coisa mais difícil que você faz na sua vida", diz Geddy. Não importa o trabalho, não importa qualquer outro interesse - é difícil ser casado e todos nós já enfrentamos momentos em que fomos forçados a nos tornar parceiros ausentes. Assim, você espera que seu parceiro seja compreensivo e fortemente independente, com um senso sobre si mesmo sem contar com o outro para que valide quem ele é. Quando você chega em casa, eles podem expressar seu descontentamento com sua ausência de forma bem clara [risos]. Mas você consegue lidar com isso e ainda aprender, tentando ser um esposo melhor, tentando ser um pai presente enquanto está em casa. Você não pode voltar para casa sendo o cara que é na estrada. Quando chego, a primeira coisa que quero fazer é lavar a louça, carregar o lixo, me sentindo como parte da casa - passando um tempo com meus filhos, sendo o melhor pai que posso e ainda assim me sentindo culpado por todas as ausências ao longo dos anos. Acho que isso é, em parte, por ser músico e judeu [risos], mas é sério que é uma tarefa difícil ser casado, não é novidade. Assim, você precisa dedicar-se ao seu parceiro, ouvindo-o e sempre tentando fazer as coisas em parceria".
Conforme comentado várias vezes pelos integrantes do Rush, o futuro do Rush é incerto após a R40. Perto do fim da transmissão, Michael Moore resume perfeitamente a atitude de muitos fãs sobre o estado atual da banda, trazendo uma homenagem comovente. "Sejam vocês, pois amamos vocês. Queremos que vocês sejam felizes e realizados", disse ele para Lee e Lifeson e, implicitamente, para Peart. "Tudo o que vocês decidirem, somos soldados do seu exército".
"É um sentimento impressionante", diz Geddy. "Sei o quão difícil é sentir isso e agradeço a vida que nos foi dada, agradeço por nossos incríveis fãs que sempre nos permitiram sermos os idiotas que somos, tendo por alguma razão fé em nós. Esperamos nunca termos decepcionado. Espero que tenhamos mais oportunidades para continuarmos não decepcionando".
LEIA TAMBÉM:
GEDDY E ALEX EM ENTREVISTA PARA A RÁDIO Q107 DE TORONTO
GEDDY LEE FALA SOBRE "R40 LIVE"
GEDDY E ALEX CONTAM ALGUMAS HISTÓRIAS DE CANÇÕES DO RUSH
LIFESON, PARA A BILLBOARD: "NÃO ACHO QUE SEJA O FIM"
ENTREVISTA COM ALEX LIFESON PARA A REVISTA PROG
LEE E LIFESON NA REVISTA CANADIAN MUSICIAN
ENTREVISTA COM NEIL PEART PARA A MODERN DRUMMER
NOVO ARTIGO DE NEIL PEART PARA A REVISTA DRUM!
NEIL PEART FALA SOBRE SEU SOLO NA TURNÊ R40
CLASSIC ROCK MERGULHA NOS ÚLTIMOS SHOWS DA R40 TOUR
LIFESON: 'SEJA O QUE FOR ESSA TURNÊ, NÃO É O FIM DA BANDA'
Dias antes, a rádio realizou um concurso especial para seus assinantes, a fim de que alguns fossem escolhidos para também participarem do encontro. Assim, o seleto grupo de vinte pessoas poderia direcionar perguntas para Geddy e Alex, além de participarem de um Meet & Greet no final da programação. John Patuto, do ótimo site Cygnus X-1, foi um dos felizardos. "Em décadas seguindo o Rush, nunca tive a sorte de conseguir um Meet & Greet", ele diz. "Dessa forma, a notícia de que eu havia sido um dos vinte escolhidos para o encontro foi simplesmente indescritível".
Visitando temas como a longevidade da banda, amizade, vida familiar, o processo de escolha para o set list da turnê R40 e as inevitáveis indagações sobre o futuro, oferecemos esse ótimo material, inteiramente transcrito e traduzido para o Rush Fã-Clube Brasil.
GEDDY LEE E ALEX LIFESON VISITAM OS ESTÚDIOS DA SIRIUSXM
Nova York, 13 de novembro de 2015
Moderação: Michael Moore
Fotografias: Robin Marchant
Como parte da divulgação do seu novo R40 Live, Geddy Lee e Alex Lifeson foram entrevistados por fãs nos estúdios da rádio norte-americana SiriusXM, em Nova York. A programação foi conduzida e moderada pelo cineasta Michael Moore ("Fahrenheit 9/11", "Capitalism: A Love Story"), enquanto os músicos recebiam e respondiam perguntas em um ambiente descontraído e intimista.
O Rush, naturalmente, possui um grande número de fãs famosos - um vídeo divertido no telão da última turnê durante a canção "Roll The Bones" confirma isso. Paul Rudd e Jason Segel, atores que protagonizaram o filme rushmaníaco "Eu Te Amo, Cara" ("I Love You Man") aparecem, além de Jay Baruchel, Les Claypool, Tom Morello, o Trailer Park Boys e Peter Dinklage (cujo irmão violinista Jonathan se uniu à banda na turnê anterior Clockwork Angels, e em alguns shows da R40). Assim, podemos adicionar o próprio Moore nessa lista especial de admiradores.
Muito além de opiniões sobre seus posicionamentos políticos, o diretor é, de fato, um grande fã do Rush, tendo conduzido a entrevista com grande atuação. Ele fez questão de afirmar que a música da banda foi muito especial em sua juventude, época em que vivia na cidade fabril de Flint, Michigan. Moore falaria sobre o trio por toda programação, citando discos e músicas com notável conhecimento e respeito. Para o diretor, um dos maiores hinos do Rush é "Subdivisions" (faixa inicial do álbum Signals, de 1982) e, talvez, uma das maiores canções do rock de todos os tempos. Ele aponta sua pungência como um retrato da alienação adolescente dos subúrbios. "Acredito que essa canção tenha salvado vidas", ele diz. Assim, temos a sensação que ele mesmo foi um dos salvos.
Foto por John Patuto / Cygnus X-1 |
Moore ressalta o quão o Rush é unido como três peças iguais de uma máquina, não conseguindo imaginar a substituição de qualquer um dos integrantes.
"Temos um amor em comum e uma ligação com nossa música que é fundamental, sempre buscando nos tornarmos os melhores músicos que pudermos, estabelecendo padrões altos e trabalhando nisso juntos", diz Alex. "Nosso temperamento tem em comum o senso de humor, e adoramos estar na companhia um do outro - rindo juntos na maior parte do tempo. Esse é o tipo de ligação que criamos, que é parte da nossa identidade canadense, mas há algo que vai além disso, algo que se dá pelo fato de trabalhamos como uma pequena família, uma pequena célula que é mantida bem saudável (apesar de todas as pressões externas que passamos). Nunca somos maus, desagradáveis ou impiedosos um como o outro".
"Acho que essa ligação surgiu quando éramos apenas garotos canadenses em nossa primeira turnê", continua Geddy. "Neil viria apenas duas semanas antes de nos lançarmos na América. Estávamos com os olhos arregalados e éramos inexperientes, tendo que fazer nosso caminho de forma estranha, começando a conhecer Neil e ele começando a nos conhecer. Isso nos ligou de forma praticamente instantânea, pois éramos essa pequena van cheia de estrangeiros tentando descobrir o quão grande e vasto era o Grande Norte Branco - e também o sonho americano, do qual estávamos tentando fazer parte tentando compreendê-lo. Fomos quem fomos tocando e, mesmo assim, nos sentíamos como outsiders por sermos canadenses. Acho que nosso senso de humor se desenvolveu a partir desse ponto. Enquanto nos sentíamos estranhos, as piadas eram ótimas e se tornavam um padrão para nós. Mesmo quando tínhamos reuniões de negócios (que odiávamos) fazíamos piadas, o que se tornou uma ligação que nos manteve".
Para um dos fãs participantes da entrevista, o Rush sempre contribuiu de forma bastante positiva com jovens em todo o mundo. "Acho que, de certa forma, não era nossa intenção quando começamos, mas aprendemos sobre o perigo das mentiras naquilo que fazemos, sempre nos afastando das mesmas e tendo muito orgulho disso", diz Lee. "Por um lado, há a fama e as realizações da música, mas há também uma mensagem aos jovens que estão lá fora, ou para as pessoas que estão atravessando lutas: você pode tentar algo que não acha possível, e ficar com isso".
"É algo maravilhoso poder exercer algum tipo de influência sobre as pessoas", diz Lifeson. "Sempre ouvimos dos nossos fãs que influenciamos positivamente alguns dos momentos mais obscuros de suas vidas. É uma sensação realmente incrível quando você consegue ensinar algo, um grande legado para todos nós".
Foto por John Patuto / Cygnus X-1 |
A principal lembrança de Lifeson sobre a materialização do grande sonho daqueles jovens músicos canadenses foi quando pôde adquirir novos equipamentos. "Foi após assinarmos nosso primeiro contrato, conseguindo um avanço financeiro que para nós era uma fortuna (mas que não era na verdade). A primeira coisa que fizemos foi nos divertirmos com todos aqueles equipamentos, sendo muito emocionante poder comprar uma nova marca de guitarra e um novo amplificador. Lembro-me claramente daquele dia ensolarado, quando olhávamos para todos os instrumentos pendurados na parede da loja dizendo, 'Vou levar esse, vou levar esse também, vou levar aquele...'".
Perguntados se os fãs influenciaram na decisão para o set list da turnê R40, Geddy diz: "Eu diria que sim, pois essa turnê foi feita totalmente para nós e para os fãs. Logo no início, discutimos a reprodução de faixas obscuras e faixas favoritas, chegando à conclusão de que essa seria uma turnê de agradecimento, uma celebração de tudo que passamos e de todo o apoio que as pessoas nos deram. Assim, trabalhamos muito duro para tentar encontrar um equilíbrio entre as músicas que gostamos de tocar e aquelas que os fãs realmente queriam ouvir. Alex foi o grande campeão para faixas que eu não achava que iriam funcionar tão bem, como 'Jacob's Ladder' e 'Losing It'. Ele sabia que essas eram algumas das que nossos fãs realmente gostariam de ouvir".
"Nunca tocamos 'Losing It' ao vivo por ela trazer um violinista - não tínhamos um na banda. Além disso, ela não tem baixo, apenas sintetizadores e violinos. Dessa forma, foi muito divertido trabalhar nela, pois tive que compor o baixo e, em seguida, tiramos a sorte grande de termos violinistas incrivelmente talentosos para tocar conosco, como Johnny Dinklage e meu bom amigo Ben Mink do Canadá (na estreia da canção). Tivemos também 'Jacob's Ladder', que não tocávamos há muitos anos. Na verdade, eu achava que nunca a havíamos tocado no momento do nosso primeiro show da turnê, anunciando para o público, 'Nós nunca tocamos essa música'. No dia seguinte, a internet gritou comigo [risos]".
Sobre canções antigas que não foram visitadas na R40 Tour (e que são constantemente requisitadas pelos fãs), Geddy diz, "Tentamos satisfazer a maioria dos pedidos nessa turnê, mas há sempre algumas que você esquece. 'A Farewell to Kings', provavelmente, é uma dessas - principalmente por vir de um disco muito popular e também por ser a favorita de várias pessoas. Porém, é uma canção que não posso mais cantar corretamente. Ela está em um tom muito difícil para mim e não gostaria de fazê-la numa versão ruim. É o mesmo com 'Fly By Night'. Falamos sobre ela, tentamos nos ensaios, mas sentimos que não poderíamos mais fazer".
"Há canções que foram direcionadas somente para o estúdio", diz Alex. "Quase sempre temos pelo menos uma canção em todos os discos que realmente designamos como uma peça de estúdio, estas que nem sequer tentamos tocar ao vivo".
Para Lee e Lifeson, os negócios atuais que envolvem a indústria da música são muito muito preocupantes. Os dois exaltaram o quadro da indústria fonográfica da sua época, na qual bandas e gravadoras trabalhavam como uma equipe, com os artistas tendo tempo e espaço para desenvolverem seu som e encontrar seu público.
"É muito muito diferente agora do que era naquela época", diz Lifeson. "Nosso contrato de gravação original era de cinco discos com a Mercury Records. Nesse tempo, fazíamos dois discos por ano, com as gravadoras olhando para as bandas como coisas a serem desenvolvidas. Elas faziam dois discos para observar as vendas, construindo um terceiro para ver se os outros dois restantes seriam realmente um sucesso para todos. Havia uma sensação de esforço como um time, com músicos, gravadoras e as rádios trabalhando juntos. Agora é bem diferente, pois as gravadoras estão imersas em especulação, com o músico geralmente tendo que vir com o disco pronto, feito por ele mesmo".
"Era ótimo na nossa época e tivemos sorte", diz Geddy. "Havia paciência das gravadoras. Elas sabiam que as bandas não eram projetos prontos, mas que precisavam de algum tempo para se desenvolverem. Porém, a coisa financeira acabou explodindo - os músicos realmente não ganham mais dinheiro como antes fazendo discos, precisando encontrar formas diferentes para conseguirem isso. Agora, o músico deve ter seu próprio estúdio em casa para desenvolver seu som, tendo que pedir outros músicos emprestados para tocar com ele, a fim de capturar um momento para ser distribuído pela internet, esperando 'likes' e 'corações' para então ser notado. Acho que é muito difícil começar do zero hoje".
"O que existe agora são vários artistas nas pequenas e nas grandes cidades precisando agir por si próprios, através de crowdsourcing e todas essas formas diferentes de mostrar seu trabalho, sendo muito difícil descobri-los. O sistema era mais direto nos velhos tempos, onde todos ficavam ligados na mesma estação de rádio na qual era dito que iriam tocar certas músicas, a fim de que pudéssemos ouvir as bandas nas quais investiriam dinheiro. Agora requer muito mais iniciativa própria".
"Acho que há também a força da televisão", continua o baixista. "Essa coisa toda da competição, coisas como o American Idol e tudo isso. Coloca-se muita ênfase em um tipo particular de artista: o grande vocalista, ou o tipo de pessoa que chame muita atenção - ficando longe das boas bandas sujas de rock que estão trabalhando nos porões em algum lugar. Acho que precisamos de mais revistas ou emissoras, onde seus sites possam se dedicar a divulgar bandas jovens, jovens talentos. Seria ótimo e esses músicos muito gratos. Acho que as pessoas gostariam de ter um local em que pudessem descobrir alguma nova influência".
Perguntados sobre um trabalho que define o Rush - uma criação que sempre será lembrada sobre a banda - Geddy indicou o álbum 2112, especialmente por este representar um momento crucial para a história do trio, como um divisor de águas. "Bem, há várias possibilidades, mas suponho que, depois de muito tempo, 2112 será considerado provavelmente o álbum do Rush por excelência. Posso dizer que há outros que adoro, como Power Windows, Clockwork Angels - com o qual ainda estou muito orgulhoso - e Moving Pictures. Porém, algo me diz que 2112 foi o disco que nos definiu, tendo um som próprio que talvez será aquele que viajará melhor no tempo".
Novamente, os músicos ressaltam as dificuldades profundas no processo de gravação do álbum Hemispheres, de 1978. Mesmo extraindo o que muitos consideram o melhor das ambições musicais do Rush, Alex diz, "Não tínhamos nenhum material escrito quando fomos para o País de Gales, a fim de utilizarmos o mesmo estúdio do álbum anterior, A Farewell to Kings. Tratava-se do Rockfield, um estúdio residencial localizado na zona rural. Passamos um mês nesse estúdio, que ficava em uma fazenda, no qual montamos todo o equipamento na sala de estar para trabalharmos. Foi muito doloroso aprontá-lo - um esforço muito cansativo conseguir todas as partes e uni-las, enquanto as letras se desenvolviam".
"Conseguimos passar por tudo isso, e me lembro que trabalhamos a noite inteira no último dia, indo até às onze da manhã, quando a equipe já havia embalado quase tudo para sairmos do estúdio. Começamos a gravar à tarde, após cerca de quatro horas de sono. O processo de gravação foi muito difícil - tudo foi difícil. O tom no qual tocamos, as partes que escrevemos e o fato de que queríamos gravar o disco inteiro em takes únicos, o qual acabamos por fazer em sessões. Finalmente, depois de dois meses nesse estúdio, fomos para Londres a fim de fazermos os vocais e a mixagem".
"Sei que soa um pouco vago, mas estávamos muito ambiciosos nesse disco, em termos de alcançarmos as habilidades de compor algo que fosse absurdamente difícil de tocar", explica Geddy. "Aprender a tocar uma canção que está sendo construída aos poucos é uma coisa, mas quando você quer fazer tudo em um único take é algo que se torna muito difícil - estávamos realmente forçando nossas capacidades". Perguntado por Moore sobre a grande emoção da conquista, Lee responde, "Sim, mas você meio que perde o entusiasmo na dor".
"Assim que fomos para Londres para fazer os vocais", ele continua, "quando nós já havíamos trabalhado as canções, fui descobrindo a melodia, que era alta e orgulhosa, para cantá-la, percebendo que o tom não foi muito bom para mim. Era tudo tão alto que eu dizia, 'Oh meu Deus, como vou cantar isso?'. Era mais alta do que minha voz era [risos]. Passei duas semanas sendo torturado por meu co-produtor, Terry Brown, fazendo de novo e de novo, até esticar meu alcance vocal para conseguir fazer".
"Naquela época estávamos mais de quatro meses longe de casa, e tudo foi muito doloroso. Depois, fomos mixar o disco e não estávamos conseguindo encontrar o som correto, precisando mudar de estúdio e ficando ainda mais tempo longe de casa. Finalmente conseguimos terminá-lo. Ficamos orgulhosos, mas foi uma grande provação".
"Nosso primeiro álbum levou alguns dias, pois não tínhamos dinheiro e tivemos que fazê-lo duas vezes - a primeira versão havia ficado uma porcaria. Fly By Night nos levou dez dias, pois só tínhamos dez dias para fazer. Passamos três semanas fazendo Caress of Steel e 2112, o qual achava que seria nosso último álbum por não acreditarmos que alguém fosse gostar. Apenas mandamos tudo para o inferno estourando o prazo dele, pois sabíamos que teríamos que conseguir emprego depois de qualquer maneira. Assim, quando alcançamos um certo sucesso, passamos a assumir prazos maiores".
Por outro lado, Geddy e Alex fizeram questão de ressaltar que foi o inverso com Permanent Waves. Moore definiu "The Spirit of Radio" como uma espécie de hino da banda, que encapsula "a alegria de apenas dirigir pela estrada ouvindo Rush". A qualidade otimista da canção e o caráter simplificado do disco pareciam significar a felicidade dos músicos em deixarem para trás as fortes armadilhas do rock progressivo. "O processo de composição do álbum veio bem rápido, significando uma boa mudança", diz Lee. "Estávamos passando por uma mudança de estilo".
"Acho que estávamos bem mais preparados para esse disco, se não me falha a memória", diz Alex. "Tivemos um pouco mais de tempo para compor antes de fazemos o álbum".
"O processo de composição fluiu rapidamente, sendo uma boa mudança desde Hemispheres", reconhece Geddy. "Decidimos compor perto de casa, o que nos trouxe uma influência positiva. Estávamos vivendo uma mudança de estilo e acho que 'The Spirit of Radio' foi uma das primeiras músicas que retratou isso".
Sobre a longevidade do grupo, Alex diz, "Somos verdadeiramente bons amigos. Geddy e eu somos amigos desde os 13 anos. Nos conhecemos no colégio - éramos dois outsiders que andavam juntos e que adoravam música. Portanto, a forte base do nosso relacionamento de amizade surgiu há muito tempo. Já na banda, temos o senso de humor que compartilhamos e os objetivos em comum, estes que sempre nos uniram. Depois, tivemos alguns problemas externos muito difíceis e emocionais, mas aos quais resistimos como amigos e irmãos, pois nos amamos".
"O essencial é que, como músicos, sempre quisemos fazer o mesmo tipo de som, algo que acaba separando várias bandas quando um quer tocar reggae e o outro rock", diz Geddy. "Coisas como essa sempre acabam por destruir a unidade musical. Por algum motivo, sempre quisemos fazer o mesmo tipo de som, mesmo quando houve influências de fora que levamos para nossa música. Um cara pode dizer que está experimentando uma ideia, mesmo que não seja do rock, mas perguntando se achamos válida ou interessante, e sempre pedimos para observar. Acho que esse pode ser um dos grandes motivos da nossa longevidade".
Perguntados se há ocasiões em que Neil traz as letras precisando explica-las, Geddy diz, "Minha parceria com ele, como vocalista e compositor de letras, foi uma evolução interessante. Nos primeiros dias, ele me traria uma letra e eu não sentiria confiança em criticar, apenas fazendo. Depois, percebi que esse era o meu trabalho - ele escrevia as letras e eu as cantava, e Alex e eu faríamos uma música para ela. Com o passar do tempo, fomos nos conhecendo melhor e comecei a apontar algumas formas de escrita que poderiam tornar mais fáceis o ato de expressar emoção, uma vez que algumas das suas palavras são difíceis de serem colocadas em uma canção rock. Assim, ele acabou se tornando um parceiro e compositor incrivelmente atencioso - passamos a conversar sobre as canções chegando em um ponto no qual eu poderia apenas olhar para letra para saber o que iria funcionar e o que não iria. Nossa parceira evoluiu, tornando-se mais aberta. Eu funciono como uma caixa de ressonância para ele: 'Você canta o que você pode cantar'".
"Alex e eu geralmente passamos muito tempo com resmas de folhas de várias canções em nossa frente, talvez alterando apenas uma das linhas - colocando-a na música e cantando de forma convincente para enfim enviar para Neil. Ele diz, 'Sim, entendi. OK, vou reescrever em torno dessa ideia'. É realmente um prazer trabalhar com alguém que está feliz com o que escreveu, seja aquilo usado ou não. É algo raro, mas tem sido uma evolução e um passo importante para nós. Acho que nossas melodias têm melhorado, com nossas composições assumido um quociente muito mais emocional devido à vontade de Neil em adaptar suas letras ao meu estilo de cantar, algo que me ajuda bastante em cada canção".
"É muito interessante. Em certos momentos, eu pergunto o que ele está tentando dizer, lhe dizendo como aquilo está chegando em mim e se é da mesma forma para ele. Isso porque sou como um ator em certo sentido, tendo que expressar o que outra pessoa escreveu. Assim, quero saber ao certo, ao mesmo tempo que tenho que sentir aquilo. Quando eu era jovem, nem sempre concordava com o que me era dado, apenas agia como um ator. Porém, com o tempo, fui passando a sentir que tinha que concordar, que tinha que acreditar no sentimento daquilo que estou cantando. Se não entendo o que ele me explicou, conversamos sobre como aquilo está ressoando em mim, e ele me dá a sua interpretação".
"Uma letra como a de 'The Garden' por exemplo - você adora a mesma e ela simplesmente funciona, apenas precisando sentar para compor a música que acha que ela merece e ficando muito feliz com a fluência natural daquela sessão. Já em outras, você tem coisas bastante intrincadas e insanas de tocar, precisando tirar pedaços de letra daqui e colocando lá, fazendo uma versão áspera para ver como ele responde. É uma relação de trabalho excelente".
Foto por John Patuto / Cygnus X-1 |
Um dos últimos assuntos abordados foram os aspectos sombrios da família de Lee. Permeando com alguns momentos de humor, ele lembrou que seus pais sobreviveram ao Holocausto e que sua mãe, Mary Weinrib, foi prisioneira nos campos de concentração de Auschwitz e Bergen-Belsen. O músico fez questão de expressar orgulho que sente por ela por não ter enterrado tais lembranças.
"Para mim, eu havia nascido em um tipo de família louca, por toda a dor da qual eles tinham escapado. Porém, tive sorte por minha mãe ser uma pessoa incrível, uma mãe típica no sentido de ser uma mestre no uso da culpa como uma lâmina afiada [risos], mas que sempre falou sobre suas experiências na guerra, contando sobre os campos e todas as coisas horríveis que teve que suportar. Ela esteve em Auschwitz e depois em Bergen-Belsen, dois dos lugares mais horríveis da Terra. Ela, sua irmã e sua mãe sobreviveram, em grande parte devido aos esforços da sua mãe em ficarem juntas. Do lado do meu pai quase todos pereceram. Acho que ele tinha seis ou sete irmãos e irmãs, e apenas três sobreviveram. Também perdi meu avós - nunca soube deles".
"Quando me tornei músico, minha mãe ficava perplexa e confusa com a ideia, pois para ela aquilo não era música de fato - era insanidade. Quando você é jovem, tem que fazer o que tem que ser feito. Com o falecimento do meu pai, não havia mais o punho de ferro em casa para me manter na linha. Assim, fiquei livre para andar com Alex, uma terrível influência [risos]. Nos tornamos amigos bem naquele momento, este que foi o começo do fim e o fim do começo. Depois de um tempo, quando conseguimos um pouco de sucesso, comecei a perceber tudo o que fiz minha mãe passar, me sentindo mal com isso. Ela sobreviveu a tudo aquilo e teve que criar os filhos dela, passando por muitos momentos difíceis. Não era justo. Mas agora ela é uma rock star [risos]".
Mary Weinrib nem sempre apoiou as aspirações rock & roll do filho mas, atualmente, de acordo com Lee, ela é sua maior fã - mais do que feliz em desfrutar das vantagens que chegam por ser uma das mães do Rush. Ela aparecerá, no futuro próximo, em um livro dedicado às mães das estrelas do rock que está sendo escrito pela mãe de Dave Grohl, Virginia Grohl. De acordo com Geddy, as duas mamães se deram muito bem.
"Ela estará em um livro que a mãe de Dave Grohl vem escrevendo sobre as mães do rock - ela veio para entrevistar minha mãe. Foi tudo muito doce, pois se deram muito bem. Minha mãe até cozinhou para ela. Se deram bem como uma casa pegando fogo e continuaram em contato. Assim, quando o Foo Fighters veio para Toronto há pouco tempo, a mãe de Dave disse, 'Estou indo aí pegar Mary para vir para cá'. Assim, mandou um carro buscar ela e minha irmã. Todas foram para o show do Foo Fighters e Dave as colocou no palco para assistirem. Havia duas mamães sentadas no palco durante o show do Foo Fighters - ficaram mostrando as duas no telão e elas acenavam para o público. Inacreditável! [risos] Escrevi uma mensagem de agradecimento para a mãe de Dave, pois significou muito para minha mãe. Ela adorou, adorou a atenção. Vou pagar isso de volta".
Sobre o futuro, Alex diz, "Saímos da turnê em agosto, a qual dedicamos muito esforço e trabalho, e acho que tanto eu quanto Geddy precisávamos de algum tempo para descansar, meio que resolvendo desfrutar de algumas viagens domésticas com a família, fazendo coisas bem agradáveis. Acho que continuaremos assim por enquanto para, no próximo ano, começarmos a pensar seriamente em fazermos algo. Adoraria voltar a escrever com Geddy e acho que ele sente o mesmo".
"Não temos ideia do resultado. Apenas queremos fazer", reforça Geddy.
Ainda sobre os planos futuros do Rush, após a R40 tour (esta que foi anunciada como a última grande turnê da banda), Lee disse: "Bem, é uma pergunta difícil de responder; é sempre emocional. Mas, nesse momento, não somos capazes de chegar a um acordo sobre fazer mais turnês. Então, agora, não parece que seja possível uma outra turnê. Mas eu diria que, sendo uma pessoa otimista e paciente, espero que isso vá mudar. Sei que conversamos sobre mais músicas como o Rush, o que é, certamente, algo possível. Há outras maneiras de apresentar nossa música para o público, mas não discutimos isso desde o fim da turnê".
Ele continua: "O fim dessa turnê foi bastante emocional para nós também. Nós realmente não sabíamos o que isso significava, pensando se voltaríamos para olhar para todos aqueles rostos sorridentes novamente. Eu amo turnês e estarei pronto para continuar em muito breve. Mas a minha vida é mais simples do que a dos meus companheiros. Neil tem uma vida complicada - ele tem uma filha pequena, uma nova família que ele realmente sente dor em deixar, e eu entendo isso. Ele tem problemas físicos, tendo em vista que toca como um monstro por três horas, e o corpo não está cooperando - é bem difícil pra ele. Ele paga um preço. Há momentos em que você o vê no backstage no meio da turnê e ele está realmente sofrendo. Dessa forma, ele não tem certeza de que terá coragem para continuar a tocar assim. Porém, talvez a resposta esteja mais à frente, depois de algum tempo. É por isso que estamos tentando não nos precipitar, apresentando qualquer grandes conclusão. Vamos deixar todos seguirem a fim de encontrarem seu centro, para então ver se podemos nos reunir com alguns planos".
Alex adiciona: "Também vejo exatamente assim. Me senti muito saudável nessa última turnê, após ter alguns problemas nas anteriores. Me senti muito bem, gostei de tocar em todas as noites, adorando cada nota e cada canção. Ainda há algumas coisas que eu gostaria de fazer. Mas, por todas essas razões que Geddy acabou de dizer, precisamos ter um pouco de tempo para nos resolvermos, para ver onde vamos".
Para Geddy e Alex, seria divertido fazer alguns shows com outras bandas. "Absolutamente, acho que seria divertido - uma coisa totalmente diferente", diz Lifeson. "É sempre muito estressante e há muita pressão quando a coisa e sua, seja em estúdio ou em turnê. Porém, para ser apenas um elemento de uma ideia de alguém, seria uma representação de liberdade".
Moore, Lee e Lifeson no Meet & Greet com John Patuto, do site Cygnus X-1 |
Para uma das fãs presentes, os integrantes do Rush transmitem a ideia de pessoas com equilíbrio e estabilidade. Perguntados ao que eles atribuem esses fatos, Alex diz, "Temos famílias fortes - tanto eu quanto Geddy somos casados com nossas esposas há quarenta anos. Minha esposa tem uma grande parte nisso, me apoiando com força durante todos esses anos, quando saíamos por meses a fio, tendo se empenhado bastante por nós - sendo uma parte chave nisso. Você pode ser um rock star na estrada, mas quando chega em casa a história é diferente".
"O casamento é a coisa mais difícil que você faz na sua vida", diz Geddy. Não importa o trabalho, não importa qualquer outro interesse - é difícil ser casado e todos nós já enfrentamos momentos em que fomos forçados a nos tornar parceiros ausentes. Assim, você espera que seu parceiro seja compreensivo e fortemente independente, com um senso sobre si mesmo sem contar com o outro para que valide quem ele é. Quando você chega em casa, eles podem expressar seu descontentamento com sua ausência de forma bem clara [risos]. Mas você consegue lidar com isso e ainda aprender, tentando ser um esposo melhor, tentando ser um pai presente enquanto está em casa. Você não pode voltar para casa sendo o cara que é na estrada. Quando chego, a primeira coisa que quero fazer é lavar a louça, carregar o lixo, me sentindo como parte da casa - passando um tempo com meus filhos, sendo o melhor pai que posso e ainda assim me sentindo culpado por todas as ausências ao longo dos anos. Acho que isso é, em parte, por ser músico e judeu [risos], mas é sério que é uma tarefa difícil ser casado, não é novidade. Assim, você precisa dedicar-se ao seu parceiro, ouvindo-o e sempre tentando fazer as coisas em parceria".
Conforme comentado várias vezes pelos integrantes do Rush, o futuro do Rush é incerto após a R40. Perto do fim da transmissão, Michael Moore resume perfeitamente a atitude de muitos fãs sobre o estado atual da banda, trazendo uma homenagem comovente. "Sejam vocês, pois amamos vocês. Queremos que vocês sejam felizes e realizados", disse ele para Lee e Lifeson e, implicitamente, para Peart. "Tudo o que vocês decidirem, somos soldados do seu exército".
"É um sentimento impressionante", diz Geddy. "Sei o quão difícil é sentir isso e agradeço a vida que nos foi dada, agradeço por nossos incríveis fãs que sempre nos permitiram sermos os idiotas que somos, tendo por alguma razão fé em nós. Esperamos nunca termos decepcionado. Espero que tenhamos mais oportunidades para continuarmos não decepcionando".
LEIA TAMBÉM:
GEDDY E ALEX EM ENTREVISTA PARA A RÁDIO Q107 DE TORONTO
GEDDY LEE FALA SOBRE "R40 LIVE"
GEDDY E ALEX CONTAM ALGUMAS HISTÓRIAS DE CANÇÕES DO RUSH
LIFESON, PARA A BILLBOARD: "NÃO ACHO QUE SEJA O FIM"
ENTREVISTA COM ALEX LIFESON PARA A REVISTA PROG
LEE E LIFESON NA REVISTA CANADIAN MUSICIAN
ENTREVISTA COM NEIL PEART PARA A MODERN DRUMMER
NOVO ARTIGO DE NEIL PEART PARA A REVISTA DRUM!
NEIL PEART FALA SOBRE SEU SOLO NA TURNÊ R40
CLASSIC ROCK MERGULHA NOS ÚLTIMOS SHOWS DA R40 TOUR
LIFESON: 'SEJA O QUE FOR ESSA TURNÊ, NÃO É O FIM DA BANDA'
Os comentários são postados usando scripts do FACEBOOK e logins do FACEBOOK.