OUTRA BELA HISTÓRIA DE VIAGEM DE NEIL PEART



29 DE JANEIRO DE 2016 | POR VAGNER CRUZ

Enquanto aguardamos os próximos movimentos do Rush, Neil Peart atualizou na última semana sua página oficial, NeilPeart.net, com o quarto texto da série BubbaGram, na qual disponibiliza algumas fotos de suas viagens e descrições pormenorizadas das mesmas.

Nesse novo artigo, além de confirmar o lançamento do seu novo livro, Far and Wide: Bring That Horizon to Me!, para setembro de 2016, o baterista escreve sobre algumas imagens feitas durante sua estadia no Historic Route 66 Motel em Seligman, Arizona, entre os shows da turnê R40. Ele, ao lado do seu inseparável amigo e parceiro de viagens Michael Mosbach e Sebastien Richard (integrante da equipe de shows da banda, que exerce a função de controlador de treliças de iluminação móveis - sendo também um experiente piloto de drones) realizavam algumas tomadas em vídeo das suas motocicletas utilizando as pequenas naves, no momento em que avistaram um viajante japonês chamado Mine, sobre o qual Peart conta a história.

Durante a gravação do nosso vídeo, Michael e eu notamos um ciclista totalmente carregado, com bagageiros dianteiros e traseiros, empreitando seu caminho solitário através do deserto no acostamento da 66. Durante nossas manobras de moto para o drone, com coridas lentas para os dois sentidos e várias viradas (Michael continuou levando o drone para o alto antes das filmagens longas que eu queria, e eu tinha que gritar a frase de algum filme esquecido, "Ninguém grita 'corta' no meu set!"), víamos aquele piloto curvado algumas vezes. Tendo feito várias viagens de longa distância de bicicleta, sabia bem o que ele sentia. Mencionei o mesmo para Michael no hotel, ele que viajou bastante pelo Sudeste da Ásia. Michael achou que a pequena bandeira atrás do banco do piloto era a da Coreia do Sul.

Ao jantar no Roadkill Café numa visita anterior, decidimos tentar o Lilo's do outro lado da estrada (sem julgamentos - só para variar), convidando nosso novo amigo para se juntar à nós. Seu nome era Mine, "Mi - Né", apelido para Minekazu Ito (ele nos mostrou seu cartão). Era um rapaz de vinte e nove anos, professor do ensino médio de Nagoya (cuja bandeira Michael havia confundido com a sul-coreana), que estava indo de Los Angeles para Nova York de bicicleta.

Apesar de nos dizer que havia estudado inglês (sim, ele pronunciava "ingrês") numa escola no Japão por três meses, ainda tinha bastante dificuldade com o idioma. Fiquei surpreso ao saber que Michael falava japonês razoavelmente, pelo menos o suficiente para compreender Mine (ele morou lá por aproximadamente dois anos nos seus dias de modelo - difícil de imaginar agora, mas adoro lembrá-lo. Enquanto ele atinge seus quarenta e poucos anos, às vezes, quando temos nossas discussões meio de brincadeira, meio sérias, olho dentro dos seus olhos - como se estivesse observando seus pés de galinha - e zombo, "Você precisa arrumar trabalho". Esmagando-o deliciosamente.

Ao longo dos anos, Michael tem ido ao Japão com frequência suficiente para reter uma quantidade significativa de vocabulário - embora talvez não no nível mais refinado. Isso ficou evidente num momento em que Mine riu de alguma coisa que ele disse, quase se sufocando - "palavrão".

Ajudamos Mine a pedir sua refeição - cerveja, sopa de batata e uma grande bisteca. Perguntei sobre o seu percurso, aconselhando-o a fazer alguns desvios se pudesse - para ver locais como o Grand Canyon e Monument Valley. Disse a ele que Williams não ficava muito longe à Leste, e que poderia parar sua bicicleta por lá subindo num trem para o Grand Canyon. "Em uma longa viagem, um dia de folga da bicicleta pode fazer muito bem. E você provavelmente precisa de uma lavanderia, certo?".

Mine riu da realidade dos viajantes, balançando a cabeça em seguida e dizendo, "Não estou acreditando que vocês dois estão sendo legais comigo", dizendo que não esperava isso dos "americanos". Um antigo amigo de Mine de Nagoya fez uma viagem de bicicleta há alguns anos, inspirando sua jornada - e talvez o amigo o tenha avisado sobre pessoas desagradáveis. Muito ruim - mas fico feliz que possamos ter corrigido um pouco disso.

Por todo o tempo, havia apenas me apresentado a Mine como "Bubba" e, quando o mesmo nos perguntou o que fazíamos, disse que andávamos por aí para escrever e fotografar viagens de moto. (É verdade!).

Após o jantar, do lado de fora do restaurante - escuro agora, com os neons coloridos iluminando os poucos comércios ao longo da Old 66 em Seligman - Mine ergueu sua câmera para mim dizendo, "Fotografia de Bubba?". Eu sorri e posei para ele, e agora espero que ele poste a foto em sua rede social e que alguém me reconheça. Bom também se ninguém reconhecer, claro - não porque eu queira ajudá-lo - mas seria uma doce virada se algum dia Mine conhecer o pano de fundo do nosso encontro.

E ele também saberá que foi o único estranho para o qual posei para a câmera voluntariamente - em quase quarenta anos!


* * *

De fato, Mine postou as fotos do seu contato com Peart e Michael em seu diário de viagens online, no qual relata suas aventuras pela Rota 66. O encontro aconteceu no dia 26 de julho de 2015, seu 16º dia nos Estados Unidos (justamente no intervalo entre os shows da R40 em Las Vegas, ocorrido no dia anterior, e Phoenix, que aconteceria no dia seguinte no US Airways Center). Interessante observar que Mine se refere a Peart como 'Baba' na descrição das fotos:

Essa é a moto de Baba. Ambos tinham uma BMW.

"Ele é o amigo de Michael - seu apelido é Baba (na verdade, uma celebridade em todo o mundo).
Ele já viajou de bicicleta antes, e eu quis ouvir muitas de suas histórias de viagens".

"Ele é Michael - sabe das coisas. Obrigado!"

"Essa é uma bisteca. Foi de fato delicioso comer uma dessas pela primeira vez na América".

"Adeus Seligman, e obrigado Michael e Baba".

"Hoje é o 17º dia nos Estados Unidos. Queria deixar o hotel antes, mas não consegui levantar cedo.
Saí às 10 da manhã. Michael e Baba já haviam saído às 6".

Mine no Grand Canyon


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