GEDDY CONSIDERA GRAVAR UM NOVO ÁLBUM SOLO



08 DE DEZEMBRO DE 2015 | POR VAGNER CRUZ

Geddy Lee foi entrevistado recentemente pela coluna Set List do site A.V. Club, que geralmente traz artistas falando sobre algumas das suas canções mais famosas. Nessa edição, o baixista do Rush comenta faixas como "Headlong Flight", "Time Stand Still", "Working Man" e "YYZ", além de considerar a gravação de um novo álbum solo para suceder My Favorite Headache, lançado em 2000. Acompanhem o material, inteiramente traduzido para o Rush Fã-Clube Brasil.

GEDDY LEE NOS 40 ANOS DO RUSH

A.V. Club / 04 de dezembro de 2015 - Por Becca James

Na seção Set List, conversamos com músicos veteranos sobre algumas das suas canções mais famosas, aprendendo sobre suas vidas, carreiras e talvez ouvindo uma ou duas histórias de bastidores no processo.

O artista: Geddy Lee é famoso como o baixista e vocalista do trio canadense de rock Rush. Em quarenta anos de carreira, a banda tem acumulado uma série de merecidas realizações, incluindo uma estrela na Calçada da Fama em Hollywood e a entrada no Rock And Roll Hall Of Fame. O Rush teve um começo humilde em Toronto, finalmente alcançando o sucesso com o single "Working Man", canção do disco de estreia lançado em 1974, antes de se tornarem alguns dos músicos mais precisos da atualidade.

Recentemente Lee, o guitarrista Alex Lifeson e o baterista Neil Peart finalizaram a turnê R40, comemorando a longevidade da banda e celebrando o lançamento de R40 Live, filmado e gravado ao longo de dois shows de ingressos esgotados no Air Canada Centre, localizado na cidade natal do trio em 17 e 19 de junho. Conversamos com Lee, falando de alguns dos maiores êxitos de uma carreira notável.

"Headlong Flight" (de Clockwork Angels, 2012)

Geddy Lee:
Acho que uma das melhores canções que escrevemos em muito tempo é "Headlong Flight", minha favorita do Clockwork Angels. Ela parece trazer todos os elementos primordiais do Rush, oferecendo ainda um tipo de energia e ferocidade que nem sempre capturamos em uma canção.

The A.V. Club: Que elementos primordiais são esses?

GL:
Ela traz um tipo de musicalidade pirotécnica, riffs blueseiros, alterações de tempo enlouquecedoras, mudanças de cenário imprevisíveis e um solo ardente. Tem todas as coisas que gostamos de fazer.

"The Anarchist" (de Clockwork Angels, 2012)

AVC: Vocês abriram a turnê desse ano com outra faixa do Clockwork Angels, "The Anarchist". É outra favorita?

GL:
Sim, uma das canções mais fortes que compomos em muito tempo.

Ela traz um ritmo e energia que ficam em algum lugar entre o exagero e a descontração. É equilibrada na potência; não compomos nesse andamento com muita frequência. Temos a tendência de trabalhar bem rápido ou de formas mais tranquilas. Essa canção é um pouco mais que um rock mid-tempo, sempre respirando um ar fresco.

Ela nasceu de forma bem interessante em termos de composição, sendo feita com Alex em meu estúdio caseiro. Fiquei muito satisfeito com seus detalhes.

AVC: Que canção mid-tempo dos seus trabalhos anteriores você considera comparável?

GL:
Se você olhar para uma mais antiga como "Roll The Bones", verá ela traz um tipo de mid-tempo. "The Anarchist" é mais rápida - é uma canção diferente, que vem até você. "Roll The Bones" traz um tipo de levada constante. "Big Money" é uma canção mais similar a "The Anarchist".

Power Windows (1985)

AVC: A partir de sua citação sobre "Big Money", fique à vontade para falar de qualquer faixa do Power Windows. Esse álbum é um dos melhores em um catálogo de grandes êxitos.

GL:
É um dos meus favoritos também. Fiquei particularmente satisfeito quando terminamos esse disco, pois tivemos experimentações e dificuldades, propondo diferentes formas de abordar uma combinação entre o rock e sintetizadores. Encontramos um bom equilíbrio nesse álbum, tendo em vista que a banda conseguiu trazer aquela pegada power rock que amamos e que é essencial para nós. Fomos capazes de trazer todos os tipos de nuances, utilizando sintetizadores mais contemporâneos. Foi a primeira vez que convidamos Andy Richards [tecladista e compositor] para fazer os teclados como um músico extra - uma influência muito interessante. Ele era uma espécie de Trevor Horn [do The Buggles, Yes, etc.], sendo o cara principal dos teclados. Era um deus dos teclados daquele período na Inglaterra.

AVC: Isso deve ter sido poucos anos após o sucesso de "Video Killed The Radio Star" do Buggles, sendo também a época em que Frankie Goes To Hollywood tornava-se popular.

GL:
Sim, foi bem depois de Frankie Goes To Hollywood [uma banda na qual tanto Horn quanto Richards trabalharam] atingiu o sucesso. Mixamos Power Windows no estúdio que Trevor usava o tempo todo. Dessa forma, estava tudo em casa.

"Time Stand Still" (de Hold Your Fire, 1987)

AVC: Vamos falar de uma canção do álbum que veio em seguida, "Time Stand Still" de Hold Your Fire, a única do Rush que inclui vocais convidados - uma cortesia de Aimee Mann.

GL:
Quando compomos essa canção, fiquei obcecado em ter uma voz feminina para adicionar uma nuance diferente. Pensamos em várias vocalistas. Naquele tempo, eu era um grande fã da Kate Bush, e sempre fui fã da Björk. Alguém me sugeriu Aimee Mann, e fui ouvir seu trabalho. A voz dela era absolutamente linda e realmente possuia várias qualidades que percebemos depois. Ela ficou feliz em vir à Toronto emprestar seus talentos para nossa canção, o que acho que elevou a faixa. Ela é uma pessoa incrível e curtimos muito os momentos que passamos com ela.

AVC: No período em que estavam mergulhando na música da Aimee, houve alguma canção em particular que impressionou vocês?

GL:
Bem, desde então, me tornei um grande fã do seu trabalho, especialmente daquilo que fez na trilha do filme Magnolia; um trabalho bem bonito. Mas, naquela época, estávamos de fato atraídos por sua voz. Ela tinha um grande hit naquele momento.

AVC: "Voices Carry", com a banda 'Til Tuesday.

GL:
Sim, "Voices Carry". Assim, ouvimos todo o álbum a fim de nos familiarizarmos com a textura da sua voz. Ficamos muito, muito impressionados.

"Take Off" (faixa de The Great White North, disco da dupla cômica canadense Bob and Doug McKenzie)

AVC: Vamos falar sobre sua aparição na canção "Take Off", de Bob and Doug McKenzie.

GL:
Sim. [Risos]

AVC: Na verdade, foi o single que alcançou a mais alta posição nas paradas em sua carreira.

GL:
Basicamente. Foi bem divertido. Conhecia um dos caras da escola. Rick Moranis [ator que interpretava Bob McKenzie] e eu íamos para a escola juntos quando éramos bem pequenos. Fomos da mesma classe por aproximadamente seis anos. O lance do Bob and Doug começou a fazer bastante sucesso. Eles queriam fazer uma canção e pensaram em mim naturalmente, o que foi bem legal. Fui ao estúdio e trabalhamos por 15 minutos aproximadamente [risos]. Aquilo foi apenas improviso. O produtor disse, "Aqui estão as letras - tentem a sorte. Os caras estarão no estúdio com vocês, poderão seguir com eles. Vamos gravar tudo". Moranis e Dave Thomas estavam vestidos como os personagens, e eu cantei usando uma touca.

Rush (álbum de 1974)

AVC: Falando de improviso, é verdade que você escreveu na hora as letras para o primeiro álbum do Rush, certo?

GL:
Sim, basicamente.

AVC: Como foi isso, para alguém que não é principalmente conhecido por ser um letrista?

GL:
Nosso baterista original, John Rutsey, era o letrista do Rush em nossas primeiras formações, e nós, naquele tempo, tocávamos basicamente em bares noturnos. Fazíamos quatro sets por noite, finalizando por volta de uma da manhã, saindo do bar para gravar no estúdio durante todo o resto da noite e indo para casa dormir por algumas horas, antes de voltarmos ao bar para fazer outro show. Com idas e vindas - foi assim que gravamos nosso primeiro álbum. John não estava ficando feliz com o que escrevia. Minha memória sobre isso é que ficávamos perguntando, "Onde estão as letras? Onde estão as letras?", e ele não apareceu no estúdio em uma determinada noite. Depois, nos disse, "Rasguei e joguei fora. Não gostei delas".

Foi como ok, tínhamos dois dias restantes no estúdio, pois era tudo o que podíamos pagar. Assim, tive que sentar para escrever as letras nesses dois dias e cantá-las assim que estivessem prontas.

AVC: Isso fez com que a canção de abertura, "Finding My Way", tivesse um título bem apropriado.

GL:
Sim, exatamente.

AVC: E sobre "Working Man", que é provavelmente a canção mais conhecida do álbum de estreia?

GL:
"Working Man" é uma das primeiras canções que compomos e para a qual as pessoas começaram a responder. Ela traz muito das nossas primeiras influências - Cream e bandas do tipo. Era uma espécie de jam blueseira - éramos grandes fãs da versão longa de "Spoonful" e similares - uma canção que cai em uma longa jam. Foi apenas nosso tipo de versão dessa ideia, e que acabou resistindo muito bem ao teste do tempo. Nessa última turnê, e especialmente nesse DVD, capturamos uma versão fantástica dela, fechando o show com a mesma em todas as noites. Para mim, é o ponto final sobre o nosso passado musical, e a cronologia reversa que fizemos finalizando com essa música é a materialização de uma grande jam para nós, na qual não nos preocupamos com mais nada - apenas em tocar.

"YYZ" (de Moving Pictures, 1981)

AVC: Outra obra importante do Rush é "YYZ", que é bem conhecida pela linha bateria. Com instrumentais como essa, você e Alex sentam para compor depois que Neil preenche as lacunas ou é uma colaboração completa desde o início?

GL:
Bem, essa canção foi escrita de uma forma bem diferente, pois naquela época costumávamos ir para uma casa de campo para compor nossas canções e para ensaiar antes de cada álbum; achávamos que aquele ambiente era bom para estarmos imersos por algumas semanas, sem termos outras distrações além de tocar e compor. Mas Alex, naquele tempo, estava muito envolvido com aviões de controle remoto, sempre construindo modelos e fazendo-os voar em seu tempo livre. Assim, houve um dia em que ele estava pilotando um dos seus aviões, e eu e Neil decidimos tocar, indo e voltando com algumas ideias para uma canção. Depois de aproximadamente duas horas tocando, havíamos definido a estrutura de "YYZ" juntos e, quando Alex veio e ouviu, adorou, adicionando suas guitarras. Assim, fizemos a assinatura de tempo que abre a música, que traz o ritmo do código Morse para YYZ [o código do Aeroporto Internacional Pearson de Toronto]. A razão de cairmos nisso foi porque estávamos voando de volta para Toronto em um pequeno avião de hélice após as sessões. O rádio estava ligado, e podíamos ouvir o código Morse nele. Ficamos batendo o mesmo com as mãos no avião, como se estivéssemos tocando. Acho que eu ou Neil, um dos dois disse, "Ei, essa deveria ser a abertura da canção'".

"Malignant Narcissism" (de Snakes & Arrows, 2007)

AVC: Como é com uma instrumental mais curta? Por exemplo, "Malignant Narcissism" se destaca como uma das menores canções do Rush. Como ou quando vocês sabiam que ela estava pronta?

GL:
Estávamos fazendo essa no Allaire Studios em Nova York, perto de Woodstock. Era mais um daqueles estúdios residenciais - uma bela casa antiga que havia sido transformada em um fantástico estúdio de gravação. Tínhamos um monte de coisas já feitas para o álbum e continuamos falando sobre o que estava faltando, se havia algo que precisávamos. Nosso produtor nos incentivou a fazermos alguma coisa ao vivo ali mesmo no estúdio, algo que fosse bem espontâneo. Eu havia acabado de receber a entrega de um baixo-tributo a Jaco Pastorius, com a Fender fazendo uma réplica exata do seu fantástico Fretless Jazz Bass. Ele havia acabado de chegar e eu estava morrendo de vontade de tocar com ele. Estava bem agitado nas tomadas vocais e, entre os takes, ficava tocando com meu novo brinquedo. Meu produtor ficou ouvindo o que eu tocava pelo microfone vocal, e passou a gravar aquilo meio que escondido [risos]. Ao terminar os vocais, ele disse, "Ouça só o que você está tocando entre os takes vocais", tocando o riff daquela canção para mim, dizendo, "Porque você não se junta a Neil e vai para o estúdio para ver o que acontece?". Alex novamente não estava por perto por algum motivo, então Neil e eu fomos para o estúdio por conta própria, a fim de começarmos a gravar. Em seguida, Alex acrescentou suas partes, fazendo com que aquilo se tornasse um verdadeiro momento espontâneo de estúdio.

AVC: A título de curiosidade, qual o próximo baixo que você irá comprar? O que está procurando?

GL:
Eu olho para trás, não olho para frente. Sou fascinado e obcecado por baixos antigos. Estou sempre vasculhando o universo dos grandes instrumentos dos anos 50 e do início dos anos 60. Essa é de fato, para mim, a época de ouro dos baixos, quando eles haviam acabado de ser inventados há cerca de 10 anos. Eles estavam começando a aparecer, especialmente os antigos Fender Jazz, Rickenbackers e Gibsons. Estou sempre à procura. É divertido.

"My Favourite Headache" (do álbum solo de Geddy Lee My Favourite Headache, 2000)

AVC: Como foi a experiência de compor sem Neil e Alex?

GL:
Foi um período bem interessante para mim. Foi árduo, pois havia planejado tocar com meu querido amigo Ben Mink, que é um incrível músico, produtor e compositor, além de violinista e guitarrista. Éramos amigos há muito tempo e nunca havíamos trabalhado em um disco juntos, com exceção da sua participação em "Losing It", do álbum Signals. Já havíamos planejado fazer isso há muito tempo, quando a banda estivesse em uma pausa, nos reunindo e começando a compor juntos para ver o que poderia acontecer. Estávamos planejando e, de repente, aconteceu a tragédia na vida de Neil. Sua filha faleceu em um acidente de carro, e tudo se tornou estranho - um período horrível. Assim, decidi depois de alguns meses que essa ideia de trabalhar com Mink poderia ser um verdadeiro tônico para mim, pois não sabia de fato se ainda teríamos um outro álbum do Rush. Eu não fazia ideia; não era algo no qual estávamos focados, e as pessoas atravessam tragédias de diferentes maneiras. Eu estava meio que enlouquecendo, precisando de alguma coisa para me concentrar, de modo que esse projeto era algo que estava no fundo da minha mente. Ben acabou se tornando importantíssimo para ele. Assim, nos dirigimos para meu estúdio caseiro em Toronto e fui para sua casa em Vancouver. Ao longo de vários meses, recolhemos muitos materiais juntos para, em seguida, decidirmos fazer o disco.

AVC: Você consideraria fazer um álbum solo novamente?

GL:
Sim, consideraria. Definitivamente.

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