GEDDY LEE E SUA PAIXÃO POR OBRAS DE ARTE



26 DE NOVEMBRO DE 2015 | POR VAGNER CRUZ

A edição de novembro / 2015 da revista canadense Hoss trouxe uma matéria especial com Geddy Lee, na qual ele fala, basicamente, sobre sua paixão pela arte e por coleções. O baixista mostra um pouco do seu apartamento em Londres, abordando no bate-papo seu plantel de baixos antigos, seu fascínio pelo beisebol e por vinhos e o compromisso com causas humanitárias. Acompanhem essa ótima entrevista, inteiramente traduzida para o Rush Fã-Clube Brasil.

CLOSER TO THE HEART
Em casa com Geddy Lee, vocalista do Rush, conversando sobre beisebol, vinhos e arte


Hoss Magazine / Novembro e Dezembro de 2015 - Por Philip Wilding | Fotografias: Richard Sibbald

Após trinta e cinco shows com ingressos esgotados, a turnê norte-americana R40 está finalmente terminada.

Mesmo que o vocalista icônico da banda, Geddy Lee, não esteja deitado em louros após meses na estrada, qualquer um iria precisar de um pouco de descanso. Com o bis final tocado na última parada da turnê em Los Angeles em agosto passado, Lee se dirigiu para sua casa à beira do lago em Cottage Country, uma região de casas de veraneio em Ontário.

"Precisava me descomprimir após a turnê", ele diz. Porém, não por muito tempo. Mal se aconchegou em sua casa de campo, ele e sua esposa Nancy Young começaram a planejar uma viagem para caminharem ao longo da histórica Muralha de Adriano; uma semana de andanças sobre alguns dos terrenos mais implacáveis (e de tirar o fôlego) do norte da Inglaterra. Em seguida, o casal passaria um tempo em seu apartamento em Londres. Este é o lugar onde o alcanço no começo desse outono, a fim de falarmos sobre arte, sobre suas obras de caridade e a vida fora da estrada.

Coletando paixões

Lee se mantém ocupado de maneiras que podem surpreendê-lo. Enquanto algumas de suas coleções são bem documentadas, nem todos sabem que ele e Nancy possuem uma extensa coleção de arte em suas três casas. O músico também é um ávido colecionador de baixos antigos - ele tocou com 25 diferentes durante o set de três horas da banda nessa última turnê - alguns dos quais estão alinhados na parede do seu estúdio caseiro.


Há um quarto na sua casa em Toronto dedicado exclusivamente à sua coleção de antiguidades do beisebol. (Ele é um fã ardente do Toronto Blue Jays, tendo pisado no campo para fazer o primeiro lançamento cerimonial do jogo de abertura do time em 2013). "Na verdade, sou um colecionador modesto", diz ele, em tom de brincadeira. "É um gene perigoso. Falamos disso o tempo todo aqui. Chamamos de gene de colecionador. Acho existe algo do tipo".

Suas paixões também têm vida além das suas coleções. Tanto vinhos quanto beisebol desempenham um papel importante para ele, interesses que consegue combinar com obras de caridade. Em 2008, ele doou quase 400 bolas de beisebol assinadas da sua coleção pessoal - todas autografadas pelos ex-jogadores da antiga Liga Negra de beisebol (ligas profissionais americanas que eram reservadas aos afro-americanos no fim do século XIX até 1948) - ao Negro Leagues Baseball Museum em Kansas City. Ele também é membro do conselho administrativo da Grapes for Humanity no Canadá, uma organização beneficente que trabalha com a comunidade internacional de vinhos, a fim de arrecadar fundos que beneficiam causas humanitárias em todo o mundo.


Onde o coração está

Quando se trata do lar, o apartamento de Londres que visitei lembra a casa de Lee em Toronto; madeira escura, mobiliário elegante com arte e fotografia decorando as paredes, enquanto a cozinha é inovadora, apresentando cubos de aço inoxidável reluzentes envolvidos por madeira de lei. O Canadá também é representado aqui no Reino Unido, com o imponente retrato do fotógrafo de St. Catharines Edward Burtynsky, que mostra um navio indiano sendo desmantelado pendurado numa parede. De frente para os retratos, uma pintura original do aclamado e jovem artista Stephen Appleby-Barr.

Lee diz que seus critérios para compra de artes são simples: elas têm que tocar tanto ele quanto Nancy. "Para mim, a arte é prazer. Quando minha esposa e eu encontramos uma peça que ilumine nossas vidas, e que nos faça felizes de alguma forma, compramos".


Imagem perfeita

No início, o interesse de Lee pela arte foi despertado por fotógrafos como Andre Kertesz, Paul Strandand e Alfred Stieglitz. "Houve um tempo que eu estava muito tentado em entrar seriamente na coleção de fotografias", ele diz, "porém, quanto mais encontrei, menos me atraia, pois havia tantas variações de impressão de imagens que aquilo começou a me incomodar".

A bela arte de colecionar

Lee deslocou o olhar para a arte (alimentando o interesse inicial) em uma turnê pelos Estados Unidos com o Rush no fim dos anos 80.

"Não importava em qual cidade eu estava - sempre ia para uma galeria de arte. O que me manteve são naquela época foi aprender sobre arte", ele diz.

"Você pode aprender muito comprando livros e visitando cada galeria de arte que puder, vendo o que eles têm lá - permitindo que seus olhos absorvam tudo".


"Foi assim que me apaixonei pelos pintores expressionistas alemães. Nancy e eu fomos conquistados quando vimos um à venda em um leilão da Christie's. Era uma peça menor de um artista que gosto chamado Alexej von Jawlensky (N. do T.: Jawlensky era um pintor expressionista russo, mas que ganhou notoriedade na Alemanha).

"Ele fazia parte de um grupo chamado Der Blaue Reiter ou Blue Riders, que acho que soa como uma gangue de motoqueiros. Eles usavam cores muito intensas e pinturas muito corajosas, muito emocionais. Fizeram retratos fantásticos. Esse era de natureza-morta - compramos por acharmos o preço bem razoável, e ainda o temos. Assim, percebemos que realmente não tínhamos estômago para esse mundo de preços altos da arte, tendendo a não comprar grandes peças importantes - a menos que uma dessas caísse no nosso colo".


Por amor à arte

Atualmente, ele diz que a reação instintiva do casal é o caminho a ser seguido; colecionar é algo baseado no instinto e na emoção, ao invés de investimentos. Tudo é realmente pela arte. Como exemplo, ele apontou para um impressionante par de retratos de duas cacatuas que ajudam a destacar uma parede do seu apartamento em Londres. São fáceis de se amar.

"São de uma fotógrafa australiana chamada Leila Jeffreys, que vimos quando estávamos de férias em Sydney. Olhamos pela janela e haviam esses pássaros magníficos - sou um observador de pássaros. Por alguma razão, nunca adquirimos. Um amigo me enviou uma fotos deles mais tarde, completamente alheio, e disse, 'Não são adoráveis?'. Assim, descobrimos que Leila Jeffreys tem representação aqui em Londres e compramos dois. Quanto mais você os olha, mais os ama. Eles te fazem ficar feliz".


Feliz e curioso. Em última análise, a arte, como seu amado beisebol, atua como uma janela para outro mundo, às vezes invisível.

"Entrei em coisas efêmeras do beisebol porque adoro o jogo. Assim, achei algo como uma bola assinada de 1917 que me fez querer olhar para a América de 1917. Acho que é o mesmo com a arte. Seja qual for o artista com o qual fique encantado, você acaba absorvendo sua vida e época - a história por traz daquela existência".

"Com isso, eu era uma criança nos anos 50. Assim, tenho um grande respeito por artistas que viveram no início do século 20 e que sobreviveram à guerra. A arte deles também sobreviveu, tornando-se importante. Acho que é por isso que sou, de certa forma, fascinado por esse período da história. Eles e o seu trabalho resistiram. A arte continua nos tocando, e também a nossa história".

E, embora ele nunca diria isso (mesmo depois de uma eletrizante turnê norte-americana de ingressos esgotados e uma vida dedicada na criação e execução de canções), o próprio trabalho de Lee tocou gerações e fez sua própria marca única na história. Assim como a arte que ele ama, sua obra também ainda ecoa através dos tempos.


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