25 DE SETEMBRO DE 2013 | POR VAGNER CRUZ
Geddy Lee conversou recentemente com o repórter da revista Rolling Stone Andy Greene, falando sobre os planos futuros do Rush e revelando detalhes curiosos da cerimônia de indução da banda ao Rock and Roll Hall of Fame ocorrida em abril. O baixista também comenta os próximos lançamentos Clockwork Angels Tour (DVD / CD/ Blu-Ray) e Vapor Trails Remixed (CD). Acompanhem a entrevista completa em português, traduzida pelo Rush Fã-Clube Brasil:
Geddy Lee do Rush finalmente fazendo uma pausa da estrada
Por Andy Greene
Pela primeira vez em uma década, o Rush não tem absolutamente nenhuma ideia do que farão a seguir. Eles acabaram de terminar uma longa turnê mundial de apoio ao seu disco Clockwork Angels de 2012 e ainda têm que discutir seriamente o futuro. O empresário deles deseja o lançamento de uma turnê no ano que vem, para comemorar o 40º aniversário desde a chegada do baterista Neil Peart à banda.
"Isso não vai acontecer", diz Geddy Lee à revista Rolling Stone no bar de um hotel de luxo no centro de Nova York. "Minha atitude é a de que eu gostaria de comemorar os 40 anos, porém precisamos mais de uma pausa agora do que uma comemoração. Não vejo nada de errado em comemorarmos 42 anos".
Geddy abriu o jogo sobre o futuro incerto do Rush, a indução da banda ao Rock and Roll Hall of Fame, o próximo CD / DVD Clockwork Angels Tour (que chega às lojas no dia 19 de novembro), o novo remix de Vapor Trails e porque os fãs não devem esperar uma 2112 tour em um futuro próximo.
Vocês terminaram uma longa e ótima turnê. Como escolheram a noite para filmar o próximo DVD?
Às vezes escolher a hora e o lugar para filmar é um esforço muito concentrado, como foi no Rio. Queríamos gravar no Brasil e escolhemos aquele lugar. Quando optamos por Cleveland, havia uma razão muito clara, pois aquela foi a primeira cidade que nos abraçou de verdade. Foi como o fechar de um círculo. Não havíamos feito quaisquer planos prévios para gravar essa turnê, porém após percebermos que nosso trabalho estava valendo à pena e o orgulho que esses shows estavam nos dando, pensamos: "OK, temos que registrar isso".
Tínhamos uma segunda perna prevista para o ano seguinte e, na época, não sabíamos se trocaríamos de músicas ou não. O sentimento era, "A vida é muito imprevisível. Não vamos gravar no ano que vem. Vamos gravar agora porque pelo menos sabemos o show que temos". Então encontramos rapidamente um local que achávamos apropriado, na verdade dois locais, e assim fizemos.
Vocês filmaram noites múltiplas para poder escolher a melhor?
Sim. Filmamos duas noites e realmente havia outras com canções específicas. Assim, mesmo que a maior parte venha de Dallas, há também momentos de outras noites.
A sensação de um show padrão é diferente daqueles que estão sendo filmados?
Sim, definitivamente traz uma sensação diferente. É difícil de ignorar isso e você pode ver as câmeras. Nós temos câmeras todas as noites para capturar imagens para nosso telão, mas elas trazem uma finalidade diferente. Você chega no palco meio cabreiro quando sabe que será filmado.
Algumas bandas dizem que têm dificuldade de oferecer o melhor espetáculo possível sob tais circunstâncias.
Às vezes você toca até melhor. Pode ser uma coisa boa. A pressão faz você tocar com um pouco mais de garra.
Você voltou ao estúdio para gravar overdubs?
Não, não há overdubs. Nós tínhamos duas noites para escolher, então acredito que os caras da mixagem selecionaram os melhores momentos. Portanto tudo que em uma noite não estivesse 100%, poderíamos utilizar da outra.
Isso é ótimo. Odeio quando bandas voltam para o estúdio para limpar os álbuns ao vivo. Você acaba perdendo a sensação de um verdadeiro show.
Fizemos isso no passado para certas canções, onde ocorreram deslizes. Antes de tudo, tivemos tantos álbuns ao vivo que cada um deles nos trouxe uma experiência. O primeiro foi cru, totalmente ao vivo e nos incomodou por anos por não termos corrigido nada. No segundo corrigimos tantas coisas que o fizeram soar um pouco estéril em retrospecto. Dessa forma você acaba aprendendo no que mexer e no que não mexer. Você quer apresentar o melhor espetáculo possível para as pessoas, mas não quer ser tão exigente para não acabar perdendo o que é interessante nas performances ao vivo.
Agora é plano da banda fazer um álbum ao vivo para cada turnê?
Sim, acho muito legal a forma como fazemos as coisas agora.
Isso é muito bom para os fãs. Queremos ouvir como as músicas soam após a banda tocá-las por meses e meses. Elas começam a assumir um novo poder.
Acho que isso é verdade. Elas se soltam também. Você aprende mais sobre elas, assim como tocá-las melhor. Tivemos grande interesse nessa turnê em ter um conjunto de cordas em canções que não traziam esse elemento originalmente, algo que foi bem divertido para nós também. Dessa forma, realmente quisemos colocar tudo isso na fita. Para nós, mais ainda do que somente um álbum, um DVD passa a representar um documento preciso daquele momento em nossas vidas.
E ainda, se vocês não documentarem, os fãs vêm com os bootlegs, mas a qualidade não estará lá.
Sim, exatamente, você não pode controlar isso, e que Deus os abençoe. Eles utilizam seus telefones com câmera para terem sua própria memória pessoal, e isso é bom para mim. Mas é bom ter um documento devidamente produzido e registrado para a turnê, para nosso próprio bem e também como uma referência histórica.
Sei de um monte de artistas que se queixam com a quantidade de pessoas que utilizam celulares com câmeras nos shows. Isso incomoda você?
Não me incomoda mesmo. Às vezes haverá um cara segurando um celular gravando uma canção inteira (risos) e você só quer olhar para ele e dizer, "É sério isso"? Mas a maioria só quer mesmo ter algo pessoal para mostrar aos amigos. Não tenho problema com isso.
Sempre fico chocado quando vejo pessoas que pagam ingressos para um show e que passam a maior parte do tempo assistindo através daquela pequena tela, quando poderiam acompanhar com seus próprios olhos.
É a mesma coisa quando estou viajando com minha esposa em férias. Às vezes estamos desfrutando de algumas imagens de animais selvagens ou algo do tipo e eu geralmente me sento para tirar fotos. Ela sempre bate no meu ombro dizendo, "Ged, porque você não fica lá por alguns minutos"? Isso porque você está vendo apenas através do contexto da composição de uma foto, ao invés de ficar lá por alguns momentos.
A seção de cordas foi a primeira vez que tiveram no palco alguém além de vocês três, certo?
Exato.
Isso é muito louco. Sei que no passado pintou rapidamente pela cabeça de vocês a possibilidade de contratar um tecladista, o que obviamente não aconteceu.
Não. Sempre tivemos medo de fazer isso, pois sempre achamos que iria parecer que estávamos amarelando. Portanto, ao invés disso, criamos esse sistema ridículo de pedais transformando-o em um homem da banda.
Há momentos que vejo você no palco e não consigo acreditar que estás fazendo aquilo tudo de uma só vez.
Eu sei. Só falta o macaco de realejo, certo? É uma loucura mental o que fazemos no palco. Eu nunca recomendaria aquilo a ninguém, mas isso se tornou uma coisa nossa. Tornou-se uma coisa que faço e que na qual fiquei viciado pela complexidade que gera no palco. Quando tenho uma música que não traz muitos trabalhos de pedais sinto que não há o suficiente acontecendo. É um verdadeiro desafio aprender e organizar tudo isso. Deve ser muito legal ficar só tocando baixo a noite toda.
Você está curtindo essa parada da banda? Foi uma turnê bem longa.
Sim, com certeza. Foi a primeira turnê que finalizei sem estar pronto para terminar. Acho que é porque estava na melhor condição física da minha vida. Trabalhei duro para estar em forma para essa turnê, antecipando a dificuldade da mesma. Nosso planejamento está um pouco melhor. Nós não tivemos shows consecutivos, e eu passava meus dias de folga da maneira mais chata possível, apenas descansando minha voz. Dessa forma, terminei essa turnê me sentindo bem. Geralmente volto moído para casa no final das turnês, mas dessa vez me senti como, "Eu ainda tenho um mês de shows que ficaram em mim". Mas para Alex já estava no limite e Neil tem uma criança pequena em casa. Ele tinha que ir pra casa. Então foi legal entender que esse era o momento de dar uma segurada.
Você se preocupa com sua voz frequentemente? É uma pergunta óbvia, porém ela é muito mais sobre se você seria capaz de cantar todas as noites durante um longo período.
Me preocupo com minha voz vinte e quatro horas por dia e sete vezes por semana quando estou em turnê. É como o arremessador no beisebol e seu braço. É nisso que minha vida gira em torno. É sobre não ficar doente, não se alimentar direito. Minha dieta, minha alimentação, sempre que estou na estrada rola um pouco mais de estresse pois geralmente estou com medo de contrair um resfriado. E vira um pesadelo quando você adquire um resfriado ou uma inflamação e tem que fazer um show. É um pesadelo maldito. Vivo constantemente com medo disso.
Há coisas que você não pode controlar, como pólipos nas cordas vocais ou algo do tipo.
Bem, eu tive sorte. Nunca tive pólipos ou nódulos nas cordas vocais, mas eu geralmente fico doente nas turnês, em diferentes graus. Às vezes tenho sinusite. Na turnê anterior, tive uma faringite péssima e precisei fazer o show em Hamilton, Ontário. No dia seguinte meus ouvidos ficaram infeccionados, aquilo tudo tinha ido para meus ouvidos e precisei voar para Montreal. Foi um negócio nojento, pois tive que ir a um médico fazer uma punção no local.
Esse procedimento foi realizado no dia que tínhamos um show, e passei os três dias seguintes num inferno absoluto. Venci a apresentação, mas foi um pesadelo. Essas são as minhas piores lembranças em turnês.
Você pensou em cancelar esse show?
Para mim, o cancelamento de um show é absolutamente o último recurso. Acho que nós só cancelamos apenas um ou dois shows em toda nossa história devido à doença. Certa vez quebrei o dedo numa tarde e fomos em frente. É claro que eu poderia não fazer o show, mas nós três nos orgulhamos do nosso pacto 'o show deve continuar'. Neil sempre se machuca de uma forma ou de outra, com tendinites, problemas nas mãos e outras coisas do tipo, porém sempre vamos ao batente.
A banda realmente ainda não conversou sobre seu futuro?
Bem, nosso empresário fala o tempo todo sobre nosso futuro, e nesse momento optamos por ignorá-lo. Foi falado sobre uma espécie de turnê de aniversário, que poderá ser a próxima coisa que faremos, mas definitivamente não decidimos se ou quando isso irá acontecer.
Então é possível que nada aconteça até 2015?
Acho que sim, ou algo próximo disso. O plano agora é não fazer planos. Tivemos dez ótimos anos de turnês e álbuns. Sinceramente, posso dizer que nós três nos divertimos muito nessa turnê, mais do que em qualquer outra que fizemos. Fechamos com chave de ouro, mas reconhecemos que precisamos estar mais próximos das nossas famílias e recarregar as baterias. Dessa forma, decidimos que não vamos falar sobre essas coisas durante um tempo.
Como é saber que o calendário de vocês para 2014 está em branco? Isso é algo empolgante ou estranho?
É empolgante para mim, pois quero passar um bom tempo viajando com minha esposa. Adoramos fazer isso. Agora estou oficialmente em um ninho vazio, então temos o tempo em nossas mãos. Temos todo o tipo de viagens planejadas, coisas que queremos fazer há anos, mas que adiamos. Este ano será bem movimentado para nós. Estou muito bem com isso.
Os fãs estão sempre morrendo de vontade de saber sobre como deverá ser a próxima turnê. Deixe-me mencionar algumas ideias para que eu possa ouvir sua reação. Que tal uma turnê de aniversário com vocês tocando as canções em ordem cronológica? Vocês poderiam abrir com Working Man, partindo dela.
Sabe de uma coisa, eu nunca pensei nisso. É uma ideia legal. É óbvio que você tem que considerar um monte de dinâmicas numa banda como a nossa, mas é uma ideia legal de verdade.
Que tal tocarem dois álbuns em uma noite? Talvez 2112 primeiro para, em seguida, um rodízio entre outros dois álbuns no segundo set.
É muito difícil para nós nos comprometermos com o 2112 inteiro. Adoraria poder dizer, "Sim, faremos algo do tipo". Mas existem muitas outras músicas que discutiríamos sobre tocar ou não. Vai ser difícil dedicarmos um show apenas para dois álbuns. Acho que, entre os fãs, alguns adorariam e outros odiariam. Trata-se de encontrar um equilíbrio, e isso fica muito difícil quando você tem muitos álbuns.
Que tal vocês ensaiarem 80 canções e, em seguida, os fãs votariam em suas preferidas antes de cada show? Isso faria o set mudar todas as noites.
Isso seria impossível. É muito complicado, embora tenhamos meio que caminhado mudando o setlist nessa última turnê. Tínhamos quatro versões de set diferentes. Foi mais ou menos o que fizemos, com os shows soando um pouco diferentes.
Além disso precisaríamos nos preparar. Teríamos ensaios enormes. Para essa tour, ensaiamos durante aproximadamente dois meses. Se você tem 80 canções, adeus à sua vida.
Certamente que é compreensível. Você acha que o próximo projeto do Rush será uma turnê ao invés de um álbum?
Não tenho certeza. Na verdade a única coisa que tem sido sugerida é essa turnê de aniversário. Mas podemos nos encontrar em oito meses e dizer, "Ei, vamos compor alguma coisa". Quando você começa a ficar se coçando para compor, só tem que ir até lá e fazer.
Você está feliz com o fim do lance do Rock and Roll Hall of Fame? Isso significa que as pessoas podem finalmente parar de falar sobre isso.
Sim, mas não acho que acabou porque agora recebo perguntas como a sua (risos). Posso dizer que a noite do Hall of Fame, além de qualquer uma de nossas expectativas, foi realmente inesquecível e maravilhosa. Estou muito feliz por ter vivido essa experiência porque havia muito falatório devido a grande intensidade dos nossos fãs.
Havíamos desmerecido isso de uma forma intensa em nossas mentes. Não parávamos de dizer, "Isso não é importante. Isso não é importante". Fiquei muito feliz em perceber durante o próprio evento que aquilo foi um marco e algo bom para saborear. Saí de lá muito feliz, e acho que meus companheiros também.
Sobre aquele discurso "blah blah" do Alex. Ele estava criticando a instituição ou apenas zoando os discursos prolixos?
Eu não tinha ideia do que ele estava fazendo. Registro aqui que ele não nos contou que iria fazer aquilo. Na verdade, eu nem sabia que ele tinha um discurso planejado. Eu e Neil pensamos que ele havia enlouquecido enquanto falava. Você consegue perceber nossos olhares atrás dele enquanto pensávamos, "Mas que diabos ele está fazendo"? É claro que nós não podíamos vê-lo atuando, somente ouvíamos o "blah blah blah blah blah".
Não sei qual era sua verdadeira intenção, porém acho que foi uma pancada em discursos e em todo o processo de indução ao hall da fama.
Pensei que ele havia enlouquecido.
Ele é um doente mental. Ele é de fato uma das pessoas mais engraçadas que você nunca irá encontrar igual na sua vida. Mas eu queria matá-lo por volta dos três minutos. Neil e eu estávamos ameaçando bater na cabeça dele e arrastá-lo para fora do palco.
Foi uma daquelas piadas que começam engraçadas, vão ficando sem graça lentamente e depois voltam a ficar hilárias, como se estivesse seguindo um curso.
Aquilo foi muito Andy Kaufman.
Eu adorei vê-los tocando com o Foo Fighters.
Taylor [Hawkins] e Dave [Grohl] são músicos incríveis. Eles são tidos como caras bons porque são realmente bons. São ótimas pessoas. Achei que foram incrivelmente generosos em irem para lá e terem todo aquele trabalho. Isso tudo veio deles. Foi ideia deles.
As perucas, os kimonos... eles realmente foram lá para isso.
Eles planejaram a coisa toda. Vieram até nós com essa ideia, "Será que vocês ficariam chateados se fizéssemos isso"? Daí dissemos, "Porra, claro que não. Divirtam-se".
Para terminar, fale-me sobre esse remix de Vapor Trails. Ouvi rumores em torno disso a vida inteira. O que fez com que finalmente acontecesse?
É uma história longa, existem alicerces essenciais para levá-lo a um remix. Você tem que voltar no tempo. Havíamos passado por quatro ou cinco anos tristes e obscuros após a família do Neil ter sido tirada dele de forma tão trágica. Quando ele veio até nós dizendo que queria voltar e tentar trabalhar conosco novamente, buscamos fazer com que o ambiente ficasse o mais confortável possível para ele, e com o mínimo de pressão possível.
Naquela época havíamos conversado com vários produtores, e um deles foi David Bottrill. Por fim, Alex e eu nos olhamos e dissemos: "Não achamos que seria justo com Neil trazer um completo estranho para o estúdio, tendo em vista que ele ainda estava em uma fase muito delicada". Dessa forma dissemos, "Vamos pegar o Paul Northfield. Ele não só trabalhou em vários dos nossos álbuns como também é um amigo muito próximo, e Neil ficará confortável sobre irmos buscá-lo".
Neil teve que aprender a tocar bateria novamente para ter sua confiança de volta. Foram muitos passos lentos como os de um bebê para nos levar de volta ao nosso máximo. O processo de composição levou muito tempo. Alex e eu trabalhávamos o dia inteiro na sala de controle enquanto Neil praticava e escrevia as letras. Nós meio que alugamos um estúdio por completo em Toronto e ficamos lá por 14 meses para fazer esse disco. Foi um período longo, emocional e estressante, porque estivemos próximos de terminar e havíamos levado muito tempo naquilo. Ficamos muito próximos do disco.
Se tivéssemos sido sábios, teríamos dito: "OK, vamos fazer uma pausa de dois meses para, em seguida, trazer alguém para mixar com os ouvidos descansados". Pensávamos, "O show tem que continuar. Agora as pessoas estão aguardando esse disco". A gravadora estava esperando e esperando. Então avançamos e conseguimos mixar. Passamos por duas pessoas diferentes na mixagem, pois não estávamos contentes com o resultado. Acreditávamos no álbum, mas no fim estávamos fritos.
Todo mundo seguiu à sua própria maneira. Levei o disco para Nova York para masterizá-lo. Naquele momento tinha duas semanas de folga para ouvi-lo claramente, e percebi que ele havia meio que passado do ponto. As mixagens ficaram realmente ruidosas e chiadas, e o trabalho de masterização áspero e distorcido. Porém já estava fora das minhas mãos.
É um sentimento terrível que, devido à falta de objetividade, você acaba liberando uma obra imperfeita. Mas as músicas são muito fortes e as pessoas realmente responderam ao disco nos acolhendo de volta. Os defeitos sonoros se perderam na empolgação do retorno funcional da banda. Isso sempre girava na minha cabeça. Tivemos várias pessoas tentando remixá-lo e remasterizá-lo ao longo dos anos, mas nunca ficava satisfatório.
Depois de um tempo, foi difícil conseguir pessoas à bordo. "Porque vocês estão obcecados por esse disco? Vocês têm 20 discos. Porque diabos vocês se importam com esse"? Eu apenas sentia que era crucial a necessidade de justiça para aquelas canções. Demos nossa última tacada com Andy da nossa administração sugerindo que David Bottrill deveria estar nisso. Achei meio estranho esse retorno ao ponto de partida com o cara que quase utilizamos e que agora aparece como alguém que tentará salvar o trabalho. Estávamos em turnê e Neil não quis se envolver muito, pois o álbum traz muitas lembranças dolorosas para ele. Dissemos, "Não se preocupe. Vamos deixar com que David siga seus instintos e ele fará isso enquanto estivermos em turnê".
David pegou no disco imediatamente e começou a nos enviar mixagens. Claro que comentamos alguma coisa aqui e ali mas no geral foi ele que entendeu como deveria soar. Fiquei muito satisfeito com o resultado final. Acho que ele finalmente conseguiu trazer a conclusão e justiça para algumas das canções nas quais havíamos colocado muito do nosso coração e alma.
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O CD Vapor Trails Remixed tem lançamento previsto para 1º de outubro e o CD / DVD / Blu-Ray Clockwork Angels Tour para o dia 19 de novembro de 2013.
Fonte da matéria: Rolling Stone Music
Tradução: Vagner Cruz - Rush Fã-Clube Brasil © 2013
Geddy Lee em Tinley Park, Illinois |
Por Andy Greene
Pela primeira vez em uma década, o Rush não tem absolutamente nenhuma ideia do que farão a seguir. Eles acabaram de terminar uma longa turnê mundial de apoio ao seu disco Clockwork Angels de 2012 e ainda têm que discutir seriamente o futuro. O empresário deles deseja o lançamento de uma turnê no ano que vem, para comemorar o 40º aniversário desde a chegada do baterista Neil Peart à banda.
"Isso não vai acontecer", diz Geddy Lee à revista Rolling Stone no bar de um hotel de luxo no centro de Nova York. "Minha atitude é a de que eu gostaria de comemorar os 40 anos, porém precisamos mais de uma pausa agora do que uma comemoração. Não vejo nada de errado em comemorarmos 42 anos".
Geddy abriu o jogo sobre o futuro incerto do Rush, a indução da banda ao Rock and Roll Hall of Fame, o próximo CD / DVD Clockwork Angels Tour (que chega às lojas no dia 19 de novembro), o novo remix de Vapor Trails e porque os fãs não devem esperar uma 2112 tour em um futuro próximo.
Vocês terminaram uma longa e ótima turnê. Como escolheram a noite para filmar o próximo DVD?
Às vezes escolher a hora e o lugar para filmar é um esforço muito concentrado, como foi no Rio. Queríamos gravar no Brasil e escolhemos aquele lugar. Quando optamos por Cleveland, havia uma razão muito clara, pois aquela foi a primeira cidade que nos abraçou de verdade. Foi como o fechar de um círculo. Não havíamos feito quaisquer planos prévios para gravar essa turnê, porém após percebermos que nosso trabalho estava valendo à pena e o orgulho que esses shows estavam nos dando, pensamos: "OK, temos que registrar isso".
Tínhamos uma segunda perna prevista para o ano seguinte e, na época, não sabíamos se trocaríamos de músicas ou não. O sentimento era, "A vida é muito imprevisível. Não vamos gravar no ano que vem. Vamos gravar agora porque pelo menos sabemos o show que temos". Então encontramos rapidamente um local que achávamos apropriado, na verdade dois locais, e assim fizemos.
Vocês filmaram noites múltiplas para poder escolher a melhor?
Sim. Filmamos duas noites e realmente havia outras com canções específicas. Assim, mesmo que a maior parte venha de Dallas, há também momentos de outras noites.
A sensação de um show padrão é diferente daqueles que estão sendo filmados?
Sim, definitivamente traz uma sensação diferente. É difícil de ignorar isso e você pode ver as câmeras. Nós temos câmeras todas as noites para capturar imagens para nosso telão, mas elas trazem uma finalidade diferente. Você chega no palco meio cabreiro quando sabe que será filmado.
Algumas bandas dizem que têm dificuldade de oferecer o melhor espetáculo possível sob tais circunstâncias.
Às vezes você toca até melhor. Pode ser uma coisa boa. A pressão faz você tocar com um pouco mais de garra.
Você voltou ao estúdio para gravar overdubs?
Não, não há overdubs. Nós tínhamos duas noites para escolher, então acredito que os caras da mixagem selecionaram os melhores momentos. Portanto tudo que em uma noite não estivesse 100%, poderíamos utilizar da outra.
Isso é ótimo. Odeio quando bandas voltam para o estúdio para limpar os álbuns ao vivo. Você acaba perdendo a sensação de um verdadeiro show.
Fizemos isso no passado para certas canções, onde ocorreram deslizes. Antes de tudo, tivemos tantos álbuns ao vivo que cada um deles nos trouxe uma experiência. O primeiro foi cru, totalmente ao vivo e nos incomodou por anos por não termos corrigido nada. No segundo corrigimos tantas coisas que o fizeram soar um pouco estéril em retrospecto. Dessa forma você acaba aprendendo no que mexer e no que não mexer. Você quer apresentar o melhor espetáculo possível para as pessoas, mas não quer ser tão exigente para não acabar perdendo o que é interessante nas performances ao vivo.
Agora é plano da banda fazer um álbum ao vivo para cada turnê?
Sim, acho muito legal a forma como fazemos as coisas agora.
Isso é muito bom para os fãs. Queremos ouvir como as músicas soam após a banda tocá-las por meses e meses. Elas começam a assumir um novo poder.
Acho que isso é verdade. Elas se soltam também. Você aprende mais sobre elas, assim como tocá-las melhor. Tivemos grande interesse nessa turnê em ter um conjunto de cordas em canções que não traziam esse elemento originalmente, algo que foi bem divertido para nós também. Dessa forma, realmente quisemos colocar tudo isso na fita. Para nós, mais ainda do que somente um álbum, um DVD passa a representar um documento preciso daquele momento em nossas vidas.
E ainda, se vocês não documentarem, os fãs vêm com os bootlegs, mas a qualidade não estará lá.
Sim, exatamente, você não pode controlar isso, e que Deus os abençoe. Eles utilizam seus telefones com câmera para terem sua própria memória pessoal, e isso é bom para mim. Mas é bom ter um documento devidamente produzido e registrado para a turnê, para nosso próprio bem e também como uma referência histórica.
Sei de um monte de artistas que se queixam com a quantidade de pessoas que utilizam celulares com câmeras nos shows. Isso incomoda você?
Não me incomoda mesmo. Às vezes haverá um cara segurando um celular gravando uma canção inteira (risos) e você só quer olhar para ele e dizer, "É sério isso"? Mas a maioria só quer mesmo ter algo pessoal para mostrar aos amigos. Não tenho problema com isso.
Sempre fico chocado quando vejo pessoas que pagam ingressos para um show e que passam a maior parte do tempo assistindo através daquela pequena tela, quando poderiam acompanhar com seus próprios olhos.
É a mesma coisa quando estou viajando com minha esposa em férias. Às vezes estamos desfrutando de algumas imagens de animais selvagens ou algo do tipo e eu geralmente me sento para tirar fotos. Ela sempre bate no meu ombro dizendo, "Ged, porque você não fica lá por alguns minutos"? Isso porque você está vendo apenas através do contexto da composição de uma foto, ao invés de ficar lá por alguns momentos.
A seção de cordas foi a primeira vez que tiveram no palco alguém além de vocês três, certo?
Exato.
Isso é muito louco. Sei que no passado pintou rapidamente pela cabeça de vocês a possibilidade de contratar um tecladista, o que obviamente não aconteceu.
Não. Sempre tivemos medo de fazer isso, pois sempre achamos que iria parecer que estávamos amarelando. Portanto, ao invés disso, criamos esse sistema ridículo de pedais transformando-o em um homem da banda.
Há momentos que vejo você no palco e não consigo acreditar que estás fazendo aquilo tudo de uma só vez.
Eu sei. Só falta o macaco de realejo, certo? É uma loucura mental o que fazemos no palco. Eu nunca recomendaria aquilo a ninguém, mas isso se tornou uma coisa nossa. Tornou-se uma coisa que faço e que na qual fiquei viciado pela complexidade que gera no palco. Quando tenho uma música que não traz muitos trabalhos de pedais sinto que não há o suficiente acontecendo. É um verdadeiro desafio aprender e organizar tudo isso. Deve ser muito legal ficar só tocando baixo a noite toda.
Você está curtindo essa parada da banda? Foi uma turnê bem longa.
Sim, com certeza. Foi a primeira turnê que finalizei sem estar pronto para terminar. Acho que é porque estava na melhor condição física da minha vida. Trabalhei duro para estar em forma para essa turnê, antecipando a dificuldade da mesma. Nosso planejamento está um pouco melhor. Nós não tivemos shows consecutivos, e eu passava meus dias de folga da maneira mais chata possível, apenas descansando minha voz. Dessa forma, terminei essa turnê me sentindo bem. Geralmente volto moído para casa no final das turnês, mas dessa vez me senti como, "Eu ainda tenho um mês de shows que ficaram em mim". Mas para Alex já estava no limite e Neil tem uma criança pequena em casa. Ele tinha que ir pra casa. Então foi legal entender que esse era o momento de dar uma segurada.
Você se preocupa com sua voz frequentemente? É uma pergunta óbvia, porém ela é muito mais sobre se você seria capaz de cantar todas as noites durante um longo período.
Me preocupo com minha voz vinte e quatro horas por dia e sete vezes por semana quando estou em turnê. É como o arremessador no beisebol e seu braço. É nisso que minha vida gira em torno. É sobre não ficar doente, não se alimentar direito. Minha dieta, minha alimentação, sempre que estou na estrada rola um pouco mais de estresse pois geralmente estou com medo de contrair um resfriado. E vira um pesadelo quando você adquire um resfriado ou uma inflamação e tem que fazer um show. É um pesadelo maldito. Vivo constantemente com medo disso.
Há coisas que você não pode controlar, como pólipos nas cordas vocais ou algo do tipo.
Bem, eu tive sorte. Nunca tive pólipos ou nódulos nas cordas vocais, mas eu geralmente fico doente nas turnês, em diferentes graus. Às vezes tenho sinusite. Na turnê anterior, tive uma faringite péssima e precisei fazer o show em Hamilton, Ontário. No dia seguinte meus ouvidos ficaram infeccionados, aquilo tudo tinha ido para meus ouvidos e precisei voar para Montreal. Foi um negócio nojento, pois tive que ir a um médico fazer uma punção no local.
Esse procedimento foi realizado no dia que tínhamos um show, e passei os três dias seguintes num inferno absoluto. Venci a apresentação, mas foi um pesadelo. Essas são as minhas piores lembranças em turnês.
Você pensou em cancelar esse show?
Para mim, o cancelamento de um show é absolutamente o último recurso. Acho que nós só cancelamos apenas um ou dois shows em toda nossa história devido à doença. Certa vez quebrei o dedo numa tarde e fomos em frente. É claro que eu poderia não fazer o show, mas nós três nos orgulhamos do nosso pacto 'o show deve continuar'. Neil sempre se machuca de uma forma ou de outra, com tendinites, problemas nas mãos e outras coisas do tipo, porém sempre vamos ao batente.
A banda realmente ainda não conversou sobre seu futuro?
Bem, nosso empresário fala o tempo todo sobre nosso futuro, e nesse momento optamos por ignorá-lo. Foi falado sobre uma espécie de turnê de aniversário, que poderá ser a próxima coisa que faremos, mas definitivamente não decidimos se ou quando isso irá acontecer.
Então é possível que nada aconteça até 2015?
Acho que sim, ou algo próximo disso. O plano agora é não fazer planos. Tivemos dez ótimos anos de turnês e álbuns. Sinceramente, posso dizer que nós três nos divertimos muito nessa turnê, mais do que em qualquer outra que fizemos. Fechamos com chave de ouro, mas reconhecemos que precisamos estar mais próximos das nossas famílias e recarregar as baterias. Dessa forma, decidimos que não vamos falar sobre essas coisas durante um tempo.
Como é saber que o calendário de vocês para 2014 está em branco? Isso é algo empolgante ou estranho?
É empolgante para mim, pois quero passar um bom tempo viajando com minha esposa. Adoramos fazer isso. Agora estou oficialmente em um ninho vazio, então temos o tempo em nossas mãos. Temos todo o tipo de viagens planejadas, coisas que queremos fazer há anos, mas que adiamos. Este ano será bem movimentado para nós. Estou muito bem com isso.
Os fãs estão sempre morrendo de vontade de saber sobre como deverá ser a próxima turnê. Deixe-me mencionar algumas ideias para que eu possa ouvir sua reação. Que tal uma turnê de aniversário com vocês tocando as canções em ordem cronológica? Vocês poderiam abrir com Working Man, partindo dela.
Sabe de uma coisa, eu nunca pensei nisso. É uma ideia legal. É óbvio que você tem que considerar um monte de dinâmicas numa banda como a nossa, mas é uma ideia legal de verdade.
Que tal tocarem dois álbuns em uma noite? Talvez 2112 primeiro para, em seguida, um rodízio entre outros dois álbuns no segundo set.
É muito difícil para nós nos comprometermos com o 2112 inteiro. Adoraria poder dizer, "Sim, faremos algo do tipo". Mas existem muitas outras músicas que discutiríamos sobre tocar ou não. Vai ser difícil dedicarmos um show apenas para dois álbuns. Acho que, entre os fãs, alguns adorariam e outros odiariam. Trata-se de encontrar um equilíbrio, e isso fica muito difícil quando você tem muitos álbuns.
Que tal vocês ensaiarem 80 canções e, em seguida, os fãs votariam em suas preferidas antes de cada show? Isso faria o set mudar todas as noites.
Isso seria impossível. É muito complicado, embora tenhamos meio que caminhado mudando o setlist nessa última turnê. Tínhamos quatro versões de set diferentes. Foi mais ou menos o que fizemos, com os shows soando um pouco diferentes.
Além disso precisaríamos nos preparar. Teríamos ensaios enormes. Para essa tour, ensaiamos durante aproximadamente dois meses. Se você tem 80 canções, adeus à sua vida.
Certamente que é compreensível. Você acha que o próximo projeto do Rush será uma turnê ao invés de um álbum?
Não tenho certeza. Na verdade a única coisa que tem sido sugerida é essa turnê de aniversário. Mas podemos nos encontrar em oito meses e dizer, "Ei, vamos compor alguma coisa". Quando você começa a ficar se coçando para compor, só tem que ir até lá e fazer.
Você está feliz com o fim do lance do Rock and Roll Hall of Fame? Isso significa que as pessoas podem finalmente parar de falar sobre isso.
Sim, mas não acho que acabou porque agora recebo perguntas como a sua (risos). Posso dizer que a noite do Hall of Fame, além de qualquer uma de nossas expectativas, foi realmente inesquecível e maravilhosa. Estou muito feliz por ter vivido essa experiência porque havia muito falatório devido a grande intensidade dos nossos fãs.
Havíamos desmerecido isso de uma forma intensa em nossas mentes. Não parávamos de dizer, "Isso não é importante. Isso não é importante". Fiquei muito feliz em perceber durante o próprio evento que aquilo foi um marco e algo bom para saborear. Saí de lá muito feliz, e acho que meus companheiros também.
Sobre aquele discurso "blah blah" do Alex. Ele estava criticando a instituição ou apenas zoando os discursos prolixos?
Eu não tinha ideia do que ele estava fazendo. Registro aqui que ele não nos contou que iria fazer aquilo. Na verdade, eu nem sabia que ele tinha um discurso planejado. Eu e Neil pensamos que ele havia enlouquecido enquanto falava. Você consegue perceber nossos olhares atrás dele enquanto pensávamos, "Mas que diabos ele está fazendo"? É claro que nós não podíamos vê-lo atuando, somente ouvíamos o "blah blah blah blah blah".
Não sei qual era sua verdadeira intenção, porém acho que foi uma pancada em discursos e em todo o processo de indução ao hall da fama.
Pensei que ele havia enlouquecido.
Ele é um doente mental. Ele é de fato uma das pessoas mais engraçadas que você nunca irá encontrar igual na sua vida. Mas eu queria matá-lo por volta dos três minutos. Neil e eu estávamos ameaçando bater na cabeça dele e arrastá-lo para fora do palco.
Foi uma daquelas piadas que começam engraçadas, vão ficando sem graça lentamente e depois voltam a ficar hilárias, como se estivesse seguindo um curso.
Aquilo foi muito Andy Kaufman.
Eu adorei vê-los tocando com o Foo Fighters.
Taylor [Hawkins] e Dave [Grohl] são músicos incríveis. Eles são tidos como caras bons porque são realmente bons. São ótimas pessoas. Achei que foram incrivelmente generosos em irem para lá e terem todo aquele trabalho. Isso tudo veio deles. Foi ideia deles.
As perucas, os kimonos... eles realmente foram lá para isso.
Eles planejaram a coisa toda. Vieram até nós com essa ideia, "Será que vocês ficariam chateados se fizéssemos isso"? Daí dissemos, "Porra, claro que não. Divirtam-se".
Para terminar, fale-me sobre esse remix de Vapor Trails. Ouvi rumores em torno disso a vida inteira. O que fez com que finalmente acontecesse?
É uma história longa, existem alicerces essenciais para levá-lo a um remix. Você tem que voltar no tempo. Havíamos passado por quatro ou cinco anos tristes e obscuros após a família do Neil ter sido tirada dele de forma tão trágica. Quando ele veio até nós dizendo que queria voltar e tentar trabalhar conosco novamente, buscamos fazer com que o ambiente ficasse o mais confortável possível para ele, e com o mínimo de pressão possível.
Naquela época havíamos conversado com vários produtores, e um deles foi David Bottrill. Por fim, Alex e eu nos olhamos e dissemos: "Não achamos que seria justo com Neil trazer um completo estranho para o estúdio, tendo em vista que ele ainda estava em uma fase muito delicada". Dessa forma dissemos, "Vamos pegar o Paul Northfield. Ele não só trabalhou em vários dos nossos álbuns como também é um amigo muito próximo, e Neil ficará confortável sobre irmos buscá-lo".
Neil teve que aprender a tocar bateria novamente para ter sua confiança de volta. Foram muitos passos lentos como os de um bebê para nos levar de volta ao nosso máximo. O processo de composição levou muito tempo. Alex e eu trabalhávamos o dia inteiro na sala de controle enquanto Neil praticava e escrevia as letras. Nós meio que alugamos um estúdio por completo em Toronto e ficamos lá por 14 meses para fazer esse disco. Foi um período longo, emocional e estressante, porque estivemos próximos de terminar e havíamos levado muito tempo naquilo. Ficamos muito próximos do disco.
Se tivéssemos sido sábios, teríamos dito: "OK, vamos fazer uma pausa de dois meses para, em seguida, trazer alguém para mixar com os ouvidos descansados". Pensávamos, "O show tem que continuar. Agora as pessoas estão aguardando esse disco". A gravadora estava esperando e esperando. Então avançamos e conseguimos mixar. Passamos por duas pessoas diferentes na mixagem, pois não estávamos contentes com o resultado. Acreditávamos no álbum, mas no fim estávamos fritos.
Todo mundo seguiu à sua própria maneira. Levei o disco para Nova York para masterizá-lo. Naquele momento tinha duas semanas de folga para ouvi-lo claramente, e percebi que ele havia meio que passado do ponto. As mixagens ficaram realmente ruidosas e chiadas, e o trabalho de masterização áspero e distorcido. Porém já estava fora das minhas mãos.
É um sentimento terrível que, devido à falta de objetividade, você acaba liberando uma obra imperfeita. Mas as músicas são muito fortes e as pessoas realmente responderam ao disco nos acolhendo de volta. Os defeitos sonoros se perderam na empolgação do retorno funcional da banda. Isso sempre girava na minha cabeça. Tivemos várias pessoas tentando remixá-lo e remasterizá-lo ao longo dos anos, mas nunca ficava satisfatório.
Depois de um tempo, foi difícil conseguir pessoas à bordo. "Porque vocês estão obcecados por esse disco? Vocês têm 20 discos. Porque diabos vocês se importam com esse"? Eu apenas sentia que era crucial a necessidade de justiça para aquelas canções. Demos nossa última tacada com Andy da nossa administração sugerindo que David Bottrill deveria estar nisso. Achei meio estranho esse retorno ao ponto de partida com o cara que quase utilizamos e que agora aparece como alguém que tentará salvar o trabalho. Estávamos em turnê e Neil não quis se envolver muito, pois o álbum traz muitas lembranças dolorosas para ele. Dissemos, "Não se preocupe. Vamos deixar com que David siga seus instintos e ele fará isso enquanto estivermos em turnê".
David pegou no disco imediatamente e começou a nos enviar mixagens. Claro que comentamos alguma coisa aqui e ali mas no geral foi ele que entendeu como deveria soar. Fiquei muito satisfeito com o resultado final. Acho que ele finalmente conseguiu trazer a conclusão e justiça para algumas das canções nas quais havíamos colocado muito do nosso coração e alma.
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O CD Vapor Trails Remixed tem lançamento previsto para 1º de outubro e o CD / DVD / Blu-Ray Clockwork Angels Tour para o dia 19 de novembro de 2013.
Fonte da matéria: Rolling Stone Music
Tradução: Vagner Cruz - Rush Fã-Clube Brasil © 2013